quarta-feira, 16 de julho de 2014

Escola e família: cada um tem um papel


Os pais não devem interferir no processo de ensino e aprendizagem da escola, assim como a instituição não pode querer ensiná-los como educar os filhos em casa. (Foto: Gabriela Portilho)
Os pais não devem interferir no processo de ensino e aprendizagem da escola, assim como a instituição não pode querer ensiná-los como educar os filhos em casa. (Foto: Gabriela Portilho)
Na semana passada, falei da importância de o coordenador pedagógico conhecer as famílias e sempre manter um diálogo com os pais nos horários de entrada e saída das crianças. Algumas vezes, no entanto, é preciso sentar para conversar pontualmente com alguns familiares.
Acredito que somos nós, educadores, que resolvemos e discutimos os encaminhamentos necessários para lidar com as questões pedagógicas. Cabe à escola apresentar sua proposta no início do ano e mostrar às famílias os resultados da aprendizagem das crianças, ao final de um período. Não é responsabilidade dos pais interferir nesse processo, assim como não cabe à escola querer ensinar a eles como educar os filhos. Entretanto, existem algumas situações em que o diálogo e a parceria com a família são muito bem-vindos.
O que não pode acontecer
Em hipótese alguma, a porta da sala ou os corredores são locais para uma conversa sobre a criança. Por isso, comentários do professor como “Hoje, o Pedro bateu no amigo” ou “Por favor, o senhor poderia conversar com a Marina em casa por que ela não está querendo fazer as atividades na sala?” não podem acontecer!  Primeiramente, porque esse tipo de comentário ou solicitação aos pais não tem nenhum propósito. Depois, porque é preciso respeitar famílias e ter esse tipo de conversa numa sala de reserva, sem outros adultos ou crianças por perto.  Além disso, é papel da escola encontrar formas de lidar com os pequenos.
Aprender a conviver é um desafio e a Educação Infantil é o espaço e o tempo de começar a aprender a fazer isso. Claro que lidar com algumas situações pode não ser nada fácil para o educador. São várias as questões a serem consideradas, discutidas e tematizadas nos encontros de formação de professores para que eles se sintam cada vez mais seguros ao lidar com a turma. Compreender como é o desenvolvimento moral na criança e como o professor pode contribuir é uma delas.
Em que momento é preciso chamar a família
Quando professores, coordenador e diretor já buscaram diferentes alternativas para melhorar o desempenho de uma criança, mas a aprendizagem ainda está prejudicada, a família pode ajudar.
Abaixo, listo três assuntos que achamos melhor chamar os familiares para uma conversa particular:
  • Explicitar o papel da escola. Na Educação Infantil, é comum os pais não terem clareza de que a escola é um lugar de aprendizagem e que os responsáveis por ficar com seus filhos são profissionais. Isso fica claro quando a criança falta demais, quando os pais desqualificam as atividades com comentários inadequados, como “a sua professora pensa que eu não tenho o que fazer, pedindo para eu ler um livro toda semana para você?” ou, ainda, quando querem interferir no dia a dia da sala de aula e em outras situações. Nesses casos, é melhor ter uma conversa pontual para esclarecimentos;
  • Cuidados à saúde da criança. A escola percebe que pode haver algum problema de saúde interferindo na vida escolar da criança, como deficiência visual, auditiva, excesso de sono no período da escola. Já tivemos um caso de anemia gravíssima e outro em que a criança só dormia depois da meia noite e acordava muito cedo para ir à escola.
  • Necessidade de avaliação ou acompanhamento fonoaudiológico ou psicológico. Isso acontece depois de muita observação e troca de impressões entre professor e gestores para chegar à hipótese de necessidade de indicação de algum especialista.
Acima de tudo, é preciso ter muito cuidado para não rotular nem levantar hipóteses sem qualquer fundamento antes de convidar os pais para uma reunião. Esse encontro tem como foco a discussão a respeito da criança e sobre o que pode ser feito para colaborar com a aprendizagem dela.
Por último, lembro que a ética profissional é agendar um horário conveniente a todos, antecipando qual é o motivo de solicitar tal reunião.  Outro cuidado é a forma de abordar o assunto, explicitando todas as observações efetuadas, as hipóteses da escola e qual é a proposta de encaminhamento,. Também é preciso deixar tempo e espaço para as colocações da família.  Todo cuidado é pouco quando vamos tratar de assuntos delicados.

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