quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Arrume tudo antes de fechar a escola para as férias


Não me considero uma acumuladora, mas confesso que sempre acho bom guardar impressos que ainda não estão digitalizados, exemplares de revistas ligadas à Educação e matérias publicadas em jornais que podem servir de referência para uma formação de professores ou uma reunião com as famílias. Outra mania é juntar caixas, sucatas e acessórios que podem compor um canto de faz de conta ou virar peça de jogos.
É claro que, depois de um ano inteirinho de muito trabalho e investimentos em materiais e planejamentos, é hora de verificar o que, de tudo o que usamos, precisa mesmo ser guardado, o que pode ser reaproveitado no ano que vem depois de passar por reparos e o que deve ser descartado. Por isso, eu já comecei a organizar os impressos e escolher o que deve ou não ficar, tomando cuidado para não descartar cadernos com registros e produções de crianças que mostram diferentes fases da escrita de palavras e números. Esses documentos são uma preciosidade como material a ser utilizado nas formações.
Nas salas de aula também há muito que organizar. Para tanto, haverá um dia não letivo no qual os professores dos dois períodos estarão dedicados somente a fazer isso e os funcionários serão divididos para auxiliar nas classes, retirando cortinas, lavando peças, entre outras atividades. Enfim, tem muito serviço a ser feito.
Para nortear a organização, eu e a equipe docente elaboramos a seguinte lista de tarefas:
  1. Conferir quais jogos estão completos, quais estão faltando peças, mas podem ser juntados com os de outra sala para ficar completo e quais precisam mesmo ser descartados.
  2. Retirar tudo dos armários para ser limpo e listado.
  3. Elaborar uma listagem dos livros que compõem o cantinho da leitura e guardá-los dentro do armário.
  4. Separar cartolinas, papéis laminados, camurça e papel kraft que restaram: as folhas inteiras voltam para o almoxarifado, as outras podem ser recortadas e guardadas para serem utilizadas no canto da colagem no próximo ano.
  5. Lavar todos os acessórios dos cantos de faz de conta e colocá-los em caixas identificadas.
  6. Separar sobras de lápis de cor e canetinhas, tesouras, acessórios de modelagem, pincéis e outros que podem ser reaproveitados.
  7. Separar por cor as sobras de giz de cera e entregar ao funcionário responsável pelo almoxarifado. Ele vai derretê-los e criar outros formatos.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

10 de Dezembro - Dia do Palhaço


"O Rato com queijo
       O Gato bebe leite
             E eu sou palhaço"
Trecho do Filme "O Palhaço"




Dia 10 de Dezembro, comemoramos o Dia do Palhaço, o profissional que alegra crianças, jovens, adultos e idosos, não se importando com raça, cor, religião, política ou qualquer outra coisa, homens e mulheres, meninos e meninas, são agraciados pela graça e pela alegria do palhaço. Os agradecimentos a estes profissionais é a união de risos e sorrisos estampado em cada rosto a cada piada, gesto, música, tombo, etc.

  




O palhaço está na rua
E vem anunciar
Que o Rei Momo já chegou
E é hora de brincar
Este ano vamos ter variedade
Vai ser um barulho na cidade

Hoje tem marmelada?
Tem, sim sinhô.
Hoje tem goiabada?
Tem, sim sinhô
O palhaço, o que é?
É ladrão de mulhé!



O riso aumenta a secreção de endorfina,que 

contrapartida aumenta a oxigenação do 

sangue,relaxa as artérias, acelera o 

coração,baixa a pressão,com efeitos positi

vos para as doenças cardiovasculares e 

respiratórias e aumenta a resposta do sistema

 imunológico

Patch Adams - O Amor é Contagioso




O Palhaço também é professor, nos ensina a viver de maneira saudável, nos ensina a enfrentar os obstáculos da vida com alegria, nos ensina a ter coragem para sorrir sem limites...

FELIZ DIA DO PALHAÇO 


terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Dica de um bom projeto para inciar 2015! "Todos de olho no aquário"




Um aquário malcuidado, nas dependências da EMEB Octávio Edgard de Oliveira, em São Bernardo do Campo, região metropolitana de São Paulo, foi o ponto de partida para a garotada do 4º ano pesquisar sobre seres vivos. "O trabalho não se restringiu à questão de ‘salvar o tanque da escola’. Ele focou no conceito de sistema, com atividades para as crianças pensarem sobre como as coisas estão organizadas para garantir a vida dos peixes", diz Luciana Hubner, consultora pedagógica da Abramundo. Essa abordagem é defendida pela pesquisadora argentina Ana Espinoza no livro Ciências na Escola - Novas Perspectivas para a Formação dos Alunos (168 págs., Ed. Ática, tel. 4003-3061, 31,50 reais). Ela enfatiza que os ecossistemas são compostos de uma rede complexa de relações. "Um sistema não é apenas um conjunto de elementos, mas, sim, uma distribuição particular destes que permite a criação de interações específicas." 

Inicialmente, o professor Roberto Leandro dos Santos propôs a observação do tanque. A garotada o desenhou, além de fazer uma lista dos itens vistos ali: água suja, apenas um peixe, cascalho e alguns objetos de decoração. Depois, as crianças estudaram sobre a água - que consideraram ser a casa natural dos peixes - e seu ciclo por meio de um livro didático e de um vídeo. Todas se surpreenderam ao concluir que a água do planeta é sempre a mesma. 

O educador, então, voltou a atenção da classe para o aquário. O grupo recolheu uma amostra da água e a observou. "Ela era turva, tinha cheiro e provavelmente gosto", diz Santos. Várias hipóteses surgiram: "Essa cor deve ser por causa do xixi do peixe", disse Gabriela Aparecida Fernandes da Cruz, 9 anos. Os alunos lembraram, de acordo com o que viram sobre o ciclo da água, que nos rios e mares ela está em constante movimento, no tanque, não. "Eles concluíram que os peixes produzem sujeira, que na natureza é limpa por outros animais. O aquário deve ser mantido por alguém", diz Santos.



O docente comentou, então, que toda água tem propriedades, como nível de acidez e temperatura, que podem ser medidas. Ele recolheu amostras da água do aquário e da torneira da escola e, com material apropriado (à venda em casas especializadas), checou as duas características, além do nível de amônia e de cloro. Depois, todos pesquisaram na internet sobre o hábitat dos peixes. Descobriram que as características da água determinam as espécies que podem viver nela. "Destaquei que esses indicadores mudam e nem todos os peixes conseguem viver no mar ou no rio, por exemplo." 

Santos levou um aluno de Biologia da Universidade de São Paulo (USP) para conversar com a meninada. O convidado trouxe um peixe já morto para explicar a função de cada parte de seu organismo. Assim, todos observaram que o animal respira embaixo d’água por meio das brânquias. 

As crianças também pesquisaram na internet sobre tipos de aquário. Santos aproveitou esses momentos para ajudá-las a usar as ferramentas de busca, orientando sobre as palavras-chave e a comparação de resultados. Com a prática, elas foram criando uma lista de sites confiáveis.





Depois da investigação, a turma gostou dos peixes de água doce. O professor explicou que era preciso descobrir quais são as condições da água em que vivem, para tentar reproduzi-las. Todos fizeram uma tabela no quadro com as espécies escolhidas e as condições de vida de cada uma delas. Assim, puderam definir as características da água do aquário e selecionar os animais. Os estudantes também adicionaram à lista exemplares que fazem a limpeza desses ambientes. "Essa etapa foi fundamental para que a turma entendesse a importância de conhecer bem o ecossistema e evitar a compra de peixes que poderiam morrer num meio com condições impróprias", explica Santos. O antigo morador do tanque, de uma espécie com caracteríticas incompatíveis com as dos escolhidos, foi doado. 

Para reproduzir o fundo de um rio, os alunos escolheram pedras, plantas e o cascalho de água doce. Surgiram muitas dúvidas: "Qualquer planta pode ser colocada num aquário? Como elas respiram embaixo d’água? Elas têm brânquias, como os peixes?". A classe levantou algumas hipóteses e foi pesquisar mais, pois não sabia como era a respiração e a nutrição dos vegetais. Um dos alunos, então, referiu-se à fotossíntese, e Santos pediu que todos buscassem informações sobre o tema. De volta à classe, tudo foi sistematizado pelo professor. Para ajudar os estudantes a concluir como a planta puxa água do solo, Santos fez duas experiências: colocou rolos de papel mergulhados num copo d’água e crisântemos brancos em vasos com água colorida. 



Todos voltaram ao laboratório de informática para pesquisar as espécies de plantas aquáticas mais adequadas para o ecossistema que estavam criando. O processo se assemelhou ao realizado na hora de escolher os peixes: os resultados foram levados à sala de aula e as informações, registradas em forma de tabela no quadro. "Se a planta precisa de luz para se alimentar e dar oxigênio para os peixes, então o aquário também vai precisar de iluminação", sugeriu Mary Victoria Araújo Evaristo Luna, 9 anos. 

A turma colocou a vegetação e a decoração no aquário e, depois, a água, que foi estabilizada. Por fim, entraram os animais. Paralelamente à pesquisa e à montagem, a garotada produziu fichas informativas sobre as espécie usadas, assim como explicações sobre o aquário. Os textos vinham acompanhados de fotografias das crianças fazendo a linguagem de sinais - um dos estudantes, surdo, tinha intérprete e era acompanhado pelo professor do Atendimento Educacional Especializado (AEE), que antecipava os assuntos que seriam debatidos nas aulas seguintes. 

Ao fim do projeto, com o aquário revitalizado, os estudantes comemoraram: a escola tinha ganho um bonito ambiente e eles tinham aprendido muita coisa sobre ecossistemas.


segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Polícia na escola: sim ou não?



Ao longo do ano, trouxemos para reflexão temas referentes à violência e aos conflitos vivenciados pela e na escola. Paralelo a essas discussões, surge outra, um tanto polêmica, que merece espaço para ser debatida: Devemos ou não chamar a polícia na escola? Quando fazê-lo?
Muitas equipes gestoras têm recorrido à parceria com a polícia ou a guarda municipal para o trabalho de combate à violência, convidando representantes de tais instituições para palestras e, até mesmo, para rondas sistemáticas durante os recreios e horários de entrada e saída. Pensemos a respeito!
Vamos começar pelas situações em que as rondas são solicitadas. Contar com a presença dos policiais do lado externo da escola, quando o entorno oferece riscos à segurança da comunidade, é essencial. Denota um trabalho em rede cada vez mais indicado e necessário para combater a insegurança. Porém, ao pedir que aconteçam visitas de profissionais fardados durante o horário dos intervalos temos, no mínimo, uma tentativa de intimidar os alunos mais baderneiros. E, como toda regulação externa, a coerção gerada com essa presença pode ter efeito contrário ao que se desejava e, assim, intensificar os atos deliberados de rebeldia, principalmente quando a polícia não está na escola.
E, nessa história, onde ficam os objetivos definidos no projeto político-pedagógico (PPP) de promover a autonomia dos estudantes? Autonomia jamais se vincula à coerção e à intimidação. Inúmeras vezes ouvi de gestores e professores que a presença do palestrante da corporação militar nas escolas trazia tranquilidade para o ambiente. Segundo eles, “as crianças ficam mais calmas”. Que grande equívoco! Acreditar que a mudança de comportamento provocada por uma figura fardada é algo positivo é, realmente, se distanciar do conhecimento sobre desenvolvimento moral. E isso para a Educação é uma lástima!
Quero afirmar que delegar a outras instâncias – Polícia Militar, Guarda Municipal, Promotoria Pública etc. – a responsabilidade de um trabalho orientado para os possíveis conflitos da escola é correr o risco de perder o comando e quase assinar o atestado de incompetência. Você pode pensar que estou defendendo a ideia de que também caberá à equipe gestora lidar com atos infracionais, ou seja, com a violência que fere a lei. De forma nenhuma! Quando há episódios de caráter violento, cujo teor é regulado pelo Código Penal, certamente outras instituições devem ser acionadas para fazer o encaminhamento do caso e garantir a segurança da comunidade interna. Porém, o foco dessa reflexão não são as situações extremas. Quero me concentrar em como está se naturalizando nas escolas esse processo de confiar exclusivamente a outros profissionais a responsabilidade de discutir questões que comprometem e incomodam a convivência em seu próprio espaço, como acontece, por exemplo, com o uso de drogas e de álcool, os furtos e a indisciplina.
É à escola que cabe, sempre que necessário, oferecer aos alunos diferentes perspectivas de um mesmo tema, buscando, assim, desenvolver e aguçar o pensamento crítico deles. Só ela é capaz de agregar todos os equipamentos públicos de seu entorno em benefício de um trabalho coeso e com objetivos comuns. Similar à figura do maestro, a escola deve reger todas as instâncias que possa reunir, para cada vez mais, ampliar o repertório sociocultural de sua comunidade. Mas prestem atenção: é para reger e não passar a batuta.
Outro ponto bem comum sermos surpreendidos por palestras ou apresentações doutrinadoras e ameaçadoras, feitas por profissionais extremamente bem intencionados. Mas, como sempre gosto de lembrar, Educação não se faz só com boas intenções. É importante que os gestores tenham acesso, com antecedência, a todo o material que será trabalhado com os estudantes e que garantam espaços de discussão sobre o teor das explanações independente do tema que elas abordam. Porque, afinal de contas, é nosso papel como educador levar nossos alunos a questionar, a duvidar e a querer constatar (ou não) as verdades defendidas pelos diferentes atores da sociedade.

Na avaliação de fim de ano, reconheça o trabalho dos professores


Quando o final do ano letivo se aproxima, começamos a fazer avaliação de tudo. Queremos saber como está a aprendizagem das crianças, o que deu certo ou errado nos planejamentos de cada eixo, o que funcionou ou precisa ser repensado nos projetos institucionais e por aí vai. E é claro que a avaliação do trabalho desenvolvido pelos professores também faz parte!
Neste momento, no entanto, essa atividade se diferencia de outros períodos do ano, como a do fim do primeiro semestre, quando temos o objetivo de realizar redirecionamento de foco ou aperfeiçoamento de algum aspecto. No final do ano, já não há mais tempo para efetuar mudanças, portanto, a finalidade da avaliação é reconhecer e valorizar o trabalho de cada profissional.
Vou dar um exemplo para ficar mais claro. Se um professor ainda tem muito a aprender e melhorar na prática dele, isso já deveria ter sido trabalhado em alguma reunião de formação ou diretamente com ele, caso contrário, essa questão deve ser registrada pela equipe de direção (o acesso a essas anotações é restrito) para que, no início do ano seguinte, o docente receba suporte pedagógico caso continue na escola.
Agora em dezembro, o que interessa é destacar particularidades do trabalho de cada professor. Todas as pessoas são passíveis de elogio, a depender de seus saberes e esforços. Então, se um profissional teve um desempenho muito bom em sala de aula, ele deve ser elogiado. Se outro não foi tão bom, mas fez um ótimo trabalho de parceria com as famílias, é esse aspecto que deve ser reconhecido. Agora, se um docente ainda tem muito que melhorar, mas se esforçou para participar e contribuir com materiais nos planejamentos, isso pode ser valorizado. O importante é não fazer comparações, mas investir no relacionamento e na autoestima dos profissionais. Afinal, lidamos com seres humanos.
Sugestão de avaliação
Em uma reunião com os professores, distribua um cartão personalizado para os participantes, com o nome de cada um. Esse cartão passará por cada colega, pelo diretor e pelo coordenador para que todos possam escrever uma qualidade da pessoa em questão. No final da atividade, cada profissional recebe o seu, em forma de registro da avaliação de final de ano.
Acredito que essa dinâmica é bem bacana, pois muitas vezes nem imaginamos como cada um é visto no grupo. Todos encontram palavras de elogio e de reconhecimento para os colegas. O compartilhamento da leitura dos cartões é opcional.
Você concorda que final de ano é tempo de reconhecimento? Como garante que isso ocorra aí na sua escola?

quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Como falar sobre pornografia com seus alunos


A pornografia não é uma questão nova. Quando estudei no antigo ginásio e científico, bedéis e professores já tinham que lidar com o acesso dos alunos a esse material. As cartilhas pornográficas do “Dr. Buçu”, desenhadas à mão, com uma impressão de má qualidade e em papel muito simples, entravam clandestinamente na escola escondidas entre páginas de livros e cadernos e provocavam euforia e muita curiosidade durante os intervalos das aulas da Escola Estadual Moreira e Silva, em Maceió.
O que mudou recentemente é a facilidade de acesso a esse material, principalmente a partir da internet: crianças e jovens ficam a um clique de imagens e vídeos. Na União Europeia (UE), por exemplo, um estudo concluiu que 25% dos jovens com idade entre 9 e 16 anos já tinham visto imagens de cunho sexual. Em 2010, uma pesquisa na Grã-Bretanha revelou que quase um terço dos jovens com idade entre 16 e 18 anos havia visto fotos de natureza sexual em celulares, na escola, mais de uma vez por mês.
E aqui no Brasil, será que é muito diferente? Não consegui localizar nenhuma pesquisa brasileira nesse sentido, mas podemos inferir que o acesso a internet é muito fácil para grande parte de crianças e jovens brasileiros. E para compartilhar essas descobertas com um amigo, é só um clique e pronto! Já está na mão do outro e assim por diante…
As crianças estão crescendo em um mundo sexual totalmente livre e isso inclui acesso fácil à pornografia na internet. Nós educadores temos a obrigação de promover os recursos necessários para que elas aprendam a lidar com isso de forma saudável.
O papel da escola
De clique em clique os jovens vão acessando o mundo da pornografia, saciam suas curiosidades e aprendem até mesmo a fazer sexo. Há jovens, aliás, que usam a pornografia como uma referência para iniciar a vida sexual, como foi o caso de alguns usuários do SOSex, plantão de dúvidas que atendi no Instituto Kaplan.
O problema é que em vez de ensinar, a pornografia pode causar insegurança, ansiedade e ainda distorcer as ideias dos jovens sobre as relações e as práticas sexuais: os pênis são sempre enormes e dispostos ao sexo sem nunca perder a dureza, as mulheres são submissas a qualquer experiência sexual, a aparente preferência de posições e práticas sexuais como a de cachorrinho e o sexo anal, sem contar os absurdos de pedofilia, zoofilia e a impressão de naturalidade e aceitação dos casais em relação ao sexo grupal.
Numa única navegada um jovem pode descobrir coisas e entrar em contato com cenas sexuais que nem poderiam imaginar que existiam ou que seriam possíveis de existir, ou, pior, de se admitir. Esse é o perigo da pornografia: um sexo virtual que pode está bem longe da realidade.
Nós, especialistas em Educação Sexual, acreditamos que um bom trabalho de Educação Sexual na escola pode diminuir a curiosidade sexual de crianças e adolescentes e esvaziar a busca por sites de pornografia, além, é claro, de melhorar a qualidade de vida sexual de nossos jovens.
Minha experiência me faz acreditar muito nisso, mas o trabalho de Educação Sexual precisa ir além dos aspectos fisiológicos reprodutivos e das Doenças Sexualmente Transmissíveis: precisamos falar sobre as curiosidades e mitos que estimulam as buscas na internet. Já tratamos de alguns desses temas neste blog: resposta sexual, práticas e dificuldades sexuais, valores e expectativas no relacionamento afetivo e sexual, dentro muitos outros.
Nosso papel como educadores, além de trabalhar temas que deem respostas às dúvidas sexuais dos jovens, e alertar para os riscos dos sites pornográficos, é também ajudar nossos alunos a perceber que na pornografia, nem tudo é real e que há muitos truques para chamar a atenção dos consumidores. Os empresários do sexo pornô apelam para situações e ações extremamente raras ou fictícias, usando, inclusive, recursos fotográficos como a montagem.
Uma boa forma de discutir o tema é a metodologia da problematização, que, vocês, professores, dominam muito bem. Abra uma roda de conversa sobre pornografia e internet e vocês se surpreenderão com a quantidade de informação que os alunos podem nos dar. Em seguida, peça para que escrevam de forma anônima uma situação que visualizaram ou ouviram de amigos e que geraram dúvidas. Pegue todas as dúvidas e coloque num saco ou caixa e vá lendo uma por uma. Após cada leitura, faça a problematização da situação para eles e peça que lhes ajudem a desvendar a resposta.  Acho que pode ser uma experiência e tanto!!!

quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

03 de Dezembro — Dia Internacional das Pessoas com Deficiência



De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), aproximadamente 10% da população mundial possui algum tipo de deficiência. Na maioria das vezes, esses problemas são tratados pelo restante da população como um motivo para a discriminação, o que dificulta uma vida de qualidade e digna para as pessoas com algum tipo de deficiência.

Segundo o Decreto Nº 3.298, de 20 de dezembro de 1999, a deficiência pode ser definida como “toda perda ou anormalidade de uma estrutura ou função psicológica, fisiológica ou anatômica que gere incapacidade para o desempenho de atividade, dentro do padrão considerado normal para o ser humano”. A deficiência pode ser classificada em física, auditiva, visual, mental ou múltipla, quando duas ou mais deficiências estão associadas.



Uma pessoa com deficiência física é aquela que possui alterações que comprometem a realização de determinada atividade física. Essas alterações podem existir desde o nascimento ou serem adquiridas durante a vida. Nesse último caso, a violência e acidentes são fatores bastante relacionados com o aumento do número de deficientes físicos a cada ano.

deficiência auditiva é aquela que se caracteriza pela perda bilateral, parcial ou total da audição. Ela pode ser ocasionada por má-formação ou lesões nas estruturas que fazem parte da composição do aparelho auditivo.



Uma pessoa com deficiência visual, por sua vez, é aquela que apresenta cegueira ou baixa visão. No primeiro caso, o portador não consegue perceber imagens e nem mesmo a luz. O paciente com baixa visão, entretanto, consegue perceber algumas imagens, porém, necessita da ajuda de alguns instrumentos, como lupas ou então a ampliação de materiais. Pessoas que apresentam problemas como miopia, astigmatismo ou hipermetropia não podem ser consideradas deficientes visuais.

Por fim, temos a deficiência mental. Ela afeta o funcionamento intelectual do paciente, que é relativamente menor que o da média dos outros indivíduos. Nesse caso, o problema aparece antes dos 18 anos de idade.



De uma maneira geral, pessoas com deficiência precisam de uma maior atenção por parte dos governantes, principalmente no que diz respeito à acessibilidade e inclusão na sociedade. Segundo a ONU, pessoas com deficiência são mais vulneráveis a abusos e normalmente não frequentam a escola.
Também é importante destacar que a maioria dos deficientes não consegue entrar no mercado de trabalho principalmente porque alguns empregadores acreditam que essas pessoas não são capazes de realizar o trabalho com eficiência, além de acharem que a construção de um ambiente acessível é bastante cara. Sendo assim, está claro que é fundamental que se criem políticas que acolham melhor essa parcela da população.

Diante disso, em 1992, a ONU instituiu o Dia Internacional das Pessoas com Deficiência, que passou a ser comemorado todo dia 03 de dezembro. Com a criação dessa data, a ONU tinha como objetivo principal conscientizar a população a respeito da importância de assegurar uma melhor qualidade de vida a todos os deficientes ao redor do planeta. É importante, no entanto, que todos tenham em mente que as pessoas com deficiência não são menos capacitadas e, assim como todas as outras, possuem direitos e deveres assegurados.

Natal



A comemoração natalina é uma antiga tradição que se espalhou pelo mundo, é marcada pelo sentimento de paz, amor, fraternidade e esperança. Dia 25 de dezembro é a data simbólica do nascimento de Jesus Cristo, é por isso que no Natal as pessoas voltam seus espíritos para as coisas boas, refletindo sobre tudo de bom que viveu e compartilhou com as pessoas amadas, tendem a se mostrar mais solidárias e respeitadoras aos mandamentos divinos. 

Nesse período se faz muitas referências às passagens bíblicas como, por exemplo; “Amarás o teu próximo, como a ti mesmo” (Mateus 22:39), essa retrata o respeito e o amor que devemos ter pelos nossos semelhantes. Além da parte espiritual, o Natal também aquece o mercado de produtos e consumo.

O Natal, assim como outras comemorações, acaba tornando-se uma data comercial, onde o número de vendas de diversos artigos e produtos aumenta, alavancando a economia do país nesse período. A seguir você encontrará todas as informações sobre o Natal, desde sua origem até dicas de presentes.

Apresentações orais, provas e trabalhos: situações que estressam os alunos da EJA

A maioria dos meus alunos tem grande apreço pela escola e gosta de frequentá-la. Muitos se empolgam com os novos aprendizados e valorizam não só as aulas, como também os eventos culturais e o fato de a instituição ser um espaço de socialização. Alguns deles, por exemplo, não têm oportunidade de conversar com a família ou com pessoas no trabalho, portanto os colegas de sala acabam sendo os únicos amigos. Contudo, apesar de prazerosa, a escola pode ser também estressante em determinados momentos.
Tradicionalmente, o final do semestre é um tempo de avaliações, finalização de tarefas e apresentações de fim de curso em grande parte das escolas. E há vários estudantes que não lidam bem com essas situações na Educação de Jovens e Adultos. Já vi casos de pessoas que ficam extremamente nervosas em dias de prova ou de apresentações de trabalhos. Particularmente, quando eu era estudante, não me sentia à vontade em participar de seminários, mas acabava encarando a dificuldade, como todos os meus colegas. Na EJA, no entanto, por se tratar de adultos, essas circunstâncias podem tornar-se muito delicadas.
Mencionei as apresentações orais em outro post e como elas são um grande desafio para as classes da EJA. Desde que comecei a lecionar nesse segmento, fiz esse tipo de proposta e, rapidamente, percebi que eram difíceis para alguns alunos. Apesar disso, sempre as mantive por considerar que os aprendizados eram maiores que os desconfortos. Até hoje, penso que os ganhos são, de fato, significativos, mas aprendi a ter mais cuidado com os receios, as vergonhas e até o pânico que acometem os estudantes.
Vivi muitas situações que evidenciaram esse receio por parte da turma, como alunos que faltavam em dia de apresentações ou de trabalho em grupo e que ficavam absolutamente travados ao fazer provas. Os dias que antecedem a explanação oral estão entre os mais estressantes para eles. Na véspera do seminário, aparecem alergias na pele, crises de pressão alta, dores de barriga, infecções urinárias, nervosismo excessivo, entre outros sintomas. É normal ficar doente de vez em quando, mas metade da classe adoecer na mesma semana supera toda a chance de acaso estatístico.

Preocupado com o efeito que essas atividades têm nos alunos, há alguns anos tenho tomado cada vez mais cuidado (leia aqui sobre a sensibilidade de alguns estudantes da EJA). Busco discutir com eles se vale a pena realizar essas tarefas. Será que os ganhos superam todo o estresse que aparece? A quase totalidade dos alunos diz que sim. Mesmo aqueles mais retraídos e que passam por mais obstáculos afirmam que o percurso é cheio de aprendizados.
Entretanto, já me deparei com alunos que desistem da escola por não suportarem tarefas em grupo e apresentações em público. Aparentemente, tomar a palavra pode ser penoso demais para algumas pessoas, que estão dispostas a jogar para o alto todos os benefícios da escola por conta dessas dificuldades. Há consequências ainda piores que a evasão. Recentemente, soube de um estudante que tentava abandonar o alcoolismo, mas teve recaídas justamente nos momentos em que tinha de falar em público na escola.
Por conta de episódios como esses, temos uma noção do tamanho da nossa responsabilidade ao propor atividades na EJA. Acredito que não se trata, obviamente, de abandonar um trabalho que é importante para a maioria dos alunos. Porém, é preciso traçar um caminho que seja menos árduo, com mais etapas intermediárias e mais acompanhamento para esses casos.
Você já vivenciou algo parecido em suas turmas? O que fazer?

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Qual é a cor da cor da pele?


Ao iniciar um trabalho com retratos nas aulas de Arte, o professor Anderson Pinheiro Santos deu a seguinte orientação para os alunos do 4º ano da Escola Conviver, em Jaboatão dos Guararapes, região metropolitana do Recife: “Lembrem-se de alguém de que gostam. Como é o formato dos olhos? E da boca? Como é a pele? Agora, desenhem”. Durante a dinâmica, eles se depararam com um problema: de que cor pintar o rosto, já que o tom de cada pessoa era bem diferente do disponível nos potes de tinta ou nas caixas de lápis de cor, que geralmente têm um intitulado rosa-pele, por exemplo? 

Diante desse cenário, Santos explorou as cores em uma sequência didática que tratou da diversidade racial. “Alguns materiais industrializados reproduzem estereótipos de raça nomeando como cor de pele a branca e europeia”, afirma Eliana Gomes Pereira Pougy, especialista em Linguagens da Arte pelo Centro Universitário Maria Antonia (Ceuma) e mestre em Educação pela Universidade de São Paulo (USP). 

Para ampliar a percepção dos estudantes sobre a diversidade e as várias possibilidades de reprodução de cores e formatos de orelha, olho, boca e cabelo, por exemplo, o professor leu para eles a obra O Livro das Caras (Claire Didier, 72 págs., Ed. Vergara e Riba, tel. 11/4612-2466, 54,90 reais) e mostrou as ilustrações de gente de diversos tipos e tons que compunham as páginas.



Os alunos comentaram sobre a variedade de rostos existente e cada um comparou o que viu no livro com o seu e o dos colegas. Em seguida, discutiram sobre as características que fazem com que cada pessoa seja singular. Santos propôs que eles se lembrassem do que distinguia dois gêmeos idênticos que frequentavam a escola. 

Organizados em duplas, os estudantes escolheram uma personalidade conhecida para desenhar de memória. Na sequência, trocaram os trabalhos e outro aluno tinha de fazer uma cópia do desenho recebido do colega. “Ao verem as diferenças de resultado entre as produções, perceberam que, por mais que se esforçassem para que ficassem iguais, era possível notar as singularidades de cada uma das imagens. O mesmo ocorre entre pessoas aparentemente iguais, como gêmeos”, explica o docente. 

O passo seguinte foi abordar as expressões faciais que indicam sentimentos, como dor, alegria e raiva. As crianças retomaram as referências vistas no livro e dramatizaram essas emoções com o rosto, para depois retratá-las no papel.


Com a percepção apurada sobre as diferenças, foi o momento de mergulhar na análise das questões raciais envolvidas nos desenhos, a fim de que as crianças pudessem refletir sobre elas e fazer suas produções sem submetê-las a padrões predeterminados. Para isso, Santos indagou a turma sobre o que era preconceito e em que ele se baseava. Os alunos debateram sobre o problema de classificar as pessoas com base em características físicas, já que cada uma era única. 

Nesse momento, vale retomar a questão dos materiais de pintura e como o racismo se manifesta neles e nas representações. De acordo com Laila Sala, coordenadora de projetos educativos do Centro de Convivência Educativa e Cultural de Heliópolis, o preconceito tem raízes nos tempos da escravidão, mas ainda é um problema grave na sociedade brasileira. “Ao observar as relações na escola, é possível identificar a existência dessa mentalidade, que leva as pessoas a ser discriminadas pela cor da pele. Por isso, cabe à Educação provocar esse debate”, diz. 

Para aprofundar o assunto, Santos apresentou à turma artistas que trabalham com a questão racial, como a fotógrafa Angelica Dass, que desenvolveu o projeto Humanae. Por meio dos pixels da foto digital, ela identificou a tonalidade da escala Pantone (sistema numérico de classificação de cores) correspondente à cor de pessoas fotografadas em diversos países. Impressões dessas imagens foram distribuídas pelo docente para os estudantes. Com isso, eles identificaram a grande variedade de tons de pele: mais amarelados, rosados e amarronzados, por exemplo. 

As crianças também foram apresentadas ao projeto Polvo Portraits, da artista plástica Adriana Varejão. Com base nos dados do Censo de 1976, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), sobre o que os brasileiros responderam sobre a cor de sua pele, Adriana criou tintas, que usou para pintar retratos feitos por ela. Segundo Laila, a ideia de inserir esse tema nas aulas de Arte é essencial, já que a produção artística se relaciona com as questões sociais de seu tempo e local de origem. “A arte não está descolada do contexto no qual está inserida. Ela lida com o plano simbólico desenvolvendo uma linguagem própria para isso”, analisa. 

Após a apreciação das obras, as crianças deram início ao próprio percurso investigativo, em que fizeram misturas de tintas para produzir tonalidades de pele e fazer retratos e autorretratos usando a nova paleta. Em um papel, eles pincelavam as cores originais e o tom final, nomeando cada um deles para que pudessem identificá-los depois. “Esse estudo permite ao aluno se apropriar das características expressivas das cores e ser capaz de manifestar ideias, desejos e sentimentos por meio da linguagem visual”, diz Eliana. 

A garotada também teve de pesquisar para criar cartelas com desenhos de diferentes tipos de olho, boca, nariz, orelha e cabelo, para que pudessem inserir nos rostos feitos. Os produtos finais fizeram parte de uma exposição organizada na escola. Com o projeto, as crianças concluíram que usar o bege ou o rosa como cor de pele é uma convenção e não representa a diversidade encontrada na sociedade. Também aprenderam que por trás desse tipo de padrão existe uma série de questões sociais e culturais envolvidas, que precisam ser debatidas para que preconceitos e estereótipos não sejam perpetuados. Dessa forma, chegaram à resposta para a pergunta-título desta reportagem: a cor da cor da pele é a cor que a pele de cada um tem.


Você sabe o que é Arte Contemporânea?

Faltam poucos dias para o fim da Bienal de Arte de 2014, em São Paulo, mas ainda dá tempo de conferir as criações de cerca de 100 artistas participantes. A exposição ocorre até o dia 7 de dezembro. É uma oportunidade de levar os alunos para apreciar de perto as mais de 250 obras contemporâneas, com técnicas e linguagens diversas – como fotografia, instalação, performance e vídeo –, e ampliar os saberes deles sobre esse movimento artístico. Para ajudá-los a entender um pouco mais sobre esse tipo de arte, assista ao vídeo acima e mostre aos estudantes. Nele, especialistas do setor educativo da Bienal contam o que é Arte Contemporânea e apresentam alguns exemplos.

31ª Bienal de São Paulo
Endereço: Av. Pedro Álvares Cabral, s.n. - Parque Ibirapuera, Portão 3 (Pavilhão da Bienal)
Período: de 6 de setembro a 7 de dezembro de 2014
Horários de visitação: terças, quintas, sextas, domingos e feriados: das 9h às 19h. Quartas e sábados: das 9h às 22h. Fechado às segundas
Custo: Entrada gratuita

Confira: O que é Arte Contemporânea? O Exemplo da Bienal 2014

Para esclarecimento de como acontece, quem promove e conhecer mais os projetos envolvendo a arte contemporânea, você deve conhecer a CONAE - Conferência Nacional de Educação:



sexta-feira, 28 de novembro de 2014

Os negros na história do Brasil



Por muito tempo, as pinturas do francês Jean-Baptiste Debret (1768 - 1848) e do alemão Johann Moritz Rugendas (1802 - 1858) eram a única representação dos negros nos livros didáticos. Nelas, eles aparecem quase sempre em situações de trabalho forçado ou castigo (veja exemplos abaixo).



Apesar de serem um importante registro histórico, elas não são suficientes para representar a vida dos escravizados e, muito menos, o papel deles e de seus descendentes na construção da história nacional. Durante a existência da escravidão, antes e depois dela, eles tiveram um papel ativo nas lutas pela independência do país, pela liberdade de seu povo, pela democracia e pelo direito à igualdade.
Abordar a participação dos negros em diversos episódios da história nacional é, portanto, imprescindível. Para fazê-lo, o professor precisa se aprofundar na pesquisa sobre o tema. "Tanto a escola quanto os cursos de licenciatura no país ainda têm dificuldades em oferecer uma formação continuada e adequada a professores da rede e graduandos", explica Juliano Custódio Sobrinho, pesquisador da área e professor da Universidade Nove de Julho (Uninove).
A cada conteúdo, o docente deve se perguntar: será que não houve nenhum personagem ou entidade negra envolvidos nesse episódio? Em sala, nas atividades organizadas com a turma, ele deve destacar essa presença. Movimentos organizados foram importantes na luta pela redemocratização após a ditadura militar (1964 - 1985) e em algumas revoltas pela independência do país. Caso o professor queira também desenvolver um trabalho focado no assunto, ele pode realizar uma sequência didática em que os alunos pesquisem sobre alguns episódios em que os afro-brasileiros se destacaram. Veja uma proposta no plano de aula Mobilização negra e cidadania, no passado e no presente.

Cultura afro-brasileira


No passado e no presente, as manifestações culturais representam uma forma de resistência. Para os escravizados, preservar a língua, as músicas, as histórias e a religião trazidas da África significava não aceitar passivamente sua condição. Hoje, os movimentos negros utilizam a cultura também como uma demarcação de sua identidade e, por consequência, de sua luta. Apesar disso, muitas de suas manifestações não são conhecidas da maior parte da população. Por isso, é importante apresentá-las à turma.
A ideia do Brasil como um país miscigenado, que predominou durante boa parte do século 20, teve consequências também na negação da participação negra no que se convencionou chamar cultura brasileira. Diversas manifestações típicas dos descendentes de africanos, como o samba, foram incorporadas à perspectiva nacional e não são reconhecidas mais como originadas em grupos específicos. “A partir da década de 1930 no Brasil, houve um processo de clareamento de uma série de elementos culturais identificados com o protagonismo negro. Assim, o batuque e a feijoada deixaram de ser coisas de escravos e se tornaram símbolos nacionais, da mesma forma a capoeira, que não mais foi reprimida pela polícia, sendo considerada modalidade esportiva nacional”, explica Juliano Custódio Sobrinho, professor da Universidade Nove de Julho (Uninove).
Até hoje, discute-se a existência ou não de uma cultura negra. “A cultura não tem cor, mas é importante discutir quem produz e também o contexto em que ela é feita”, explica Martha Abreu, docente da Universidade Federal Fluminense (UFF). Portanto, o material selecionado para trabalhar esse tema com as turmas deve ser aquele produzido por artistas e intelectuais negros. 
Os hábitos dos próprios alunos podem ser o ponto de partida do trabalho. “Muito do que eles consomem – e até produzem – tem influência negra, como o funk e o rap”, explica Paola Prandini, fundadora da Afroeducação. A partir do que eles gostam, é possível discutir e ampliar o repertório dos alunos, apresentando outros artistas.
Ao lidar com músicas, textos ou filmes produzidos por negros ou que tratem da questão racial, a turma precisa refletir sobre alguns tópicos: quem produziu determinado conteúdo, em que contexto e com qual finalidade. Nesse momento, podem surgir aspectos importantes da história do país e dos afro-brasileiros. Por exemplo: na cançãoHaiti, Caetano Veloso faz um retrato de como ele enxerga o tratamento dado aos negros e sua posição na sociedade. Já em Que Bloco É Esse?, do bloco Ilê Aiyê, a valorização da cultura negra pode ser discutida, principalmente com base nos versos: “Branco, se você soubesse o valor que o preto tem/Tu tomavas banho de piche, branco, e ficava negrão também”.

Intelectualidade e ciência

Diversos cientistas, intelectuais e pensadores importantes na história do país também são negros. Apresentá-los, assim como suas produções, também pode ser uma boa maneira de mostrar a presença desse segmento da sociedade em diversos campos de atuação. Alguns exemplos: Manuel Querino (historiador), Antonio e André Rebouças(engenheiros), Milton Santos (geógrafo) e Juliano Moreira (médico e psiquiatra). Conheça outros no site do Instituto Geledés.

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Identidade negra e racismo


No Brasil, a cor ou raça é autodeclarada: ao responder ao Censo Demográfico ou outras pesquisas, cada um diz se é preto, pardo, branco, amarelo ou indígena. Essa identidade normalmente se relaciona à cor da pele e a outras características físicas, não à ancestralidade. É comum, por exemplo, que um filho de pai ou mãe negra, mas que tem a pele mais clara, se declare branco. Em outros contextos, que não o da pesquisa, assumir a negritude é um ato político: trata-se de tomar para si a história e cultura do grupo, suas raízes, suas lutas.
A escola precisa colocar os alunos em contato com os elementos que formam cada grupo étnico brasileiro, para que eles sejam capazes de compreender a complexidade dessas identidades e, assim, se afirmar não apenas pela cor da pele ou do cabelo, mas também por outros elementos. Apesar de os conteúdos das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana contemplarem esse esforço, ações específicas sobre a afirmação de cada identidade devem ser empreendidas nas escolas.
O primeiro passo é valorizar os agentes de todas as etnias, apresentando bons modelos de representações afirmativas. “Não se trata de vitimizar o negro ou tratá-lo como mocinho enquanto o branco seria o vilão. O papel da escola é mostrar essa identidade racial de maneira afirmativa, desligando-a das imagens que predominam nos meios de comunicação”, defende Paola Prandini, fundadora da Afroeducação. Essas imagens são comuns em livros didáticos, que mostram africanos escravizados em situações de constrangimento e humilhação, e as representações de filmes e novelas, em que negros ainda não assumem papéis de destaque.
O professor precisa valorizar personagens negros em diferentes funções sociais, incorporando artistas, escritores e cientistas africanos e afrodescendentes no planejamento das aulas. Por meio desse contato, os alunos de diferentes raças passam a considerar natural a presença de afro-brasileiros em cargos de chefia ou como importantes pensadores. “Os próprios alunos podem se identificar com essas pessoas e reconhecer que é possível alcançar o sucesso”, defende Martha Abreu, docente da Universidade Federal Fluminense (UFF).

Racismo em discussão

Durante o século 20, a ideia de que o Brasil era uma nação miscigenada e de que aqui não existia racismo foi amplamente divulgada. É o famoso mito da democracia racial, como explica a socióloga Lilia Schwarcz no livro O Espetáculo das Raças. Ainda que muito presente na sociedade, diversas pesquisas e estatísticas já comprovaram as diferenças sociais profundas entre negros e brancos no país. Uma das pesquisas mais célebres sobre o assunto, conduzida por Lilia em 1988, mostrou que, apesar de 97% dos entrevistados dizerem não ser racistas, 98% afirmaram conhecer alguém que fosse. O resultado representa como a sociedade se comporta em relação ao racismo hoje: apesar de reconhecer sua existência, não o considera seu problema.
Na escola, a inclusão no currículo de conteúdos que tratam da história e cultura africana e afro-brasileira é um dos passos para o combate ao racismo, mas essa não pode ser a única ação. Os alunos e o restante da comunidade escolar precisam ser sensibilizados para o tema, de maneira que possam reconhecer o racismo em suas próprias atitudes e mudá-las.
“Devemos ser cuidadosos para não naturalizar ações que podem ser racistas e tratá-las apenas como brincadeira ou desentendimentos naturais”, alerta Martha. Trocas de ofensas, brigas e bullying devem ser tratados com cuidado especial quando envolvem grupos historicamente discriminados, e isso deve estar claro no regimento escolar.
Mais do que lidar com casos isolados ou abordar o tema apenas em datas comemorativas, a rotina da escola deve ter momentos de reflexão sobre o tema. Algumas atividades para esse fim são sugeridas no Guia Metodológico para a Educação das Relações Raciais, organizado pela ONG Ação Educativa. Outra possibilidade é o uso de filmes para organizar as conversas com a comunidade escolar.