quinta-feira, 31 de julho de 2014


“Infância na roça”: partindo das experiências dos alunos, de fato.


Alunos de EJA em noite de autógrafos para o lançamento do livro Infância na Roça, de autoria coletiva
Muito se fala, na EJA, em usar as experiências dos alunos para promover o aprendizado.
No entanto, sabemos o quanto é difícil realmente colocar isso em prática. Nós, professores, temos uma lista de conteúdos que pretendemos que os estudantes aprendam e é muito difícil fazê-la coincidir com as experiências e objetivos deles. Muitas vezes, nos vemos conduzindo atividades que são do nosso interesse, mas não dos alunos; quando isso acontece, na melhor das hipóteses, eles “fazem por fazer”, “fazem porque o professor pede”, mas não porque consideram importante. O resultado são aulas burocráticas, desanimadas e pouco produtivas.
Compartilho aqui uma proposta que valorizou a experiência dos alunos e conseguiu atingir objetivos de aprendizagem muitíssimo relevantes:  o trabalho de Ana Cristina Campos e Paula Takada, educadoras do Projeto Tempo Certo, em São Paulo, SP.
Ana Cristina e Paula partiram das lembranças que os alunos tinham dos brinquedos de sua infância para produzir um livro de histórias. O público-alvo desse livro seriam as crianças da creche que funciona no mesmo espaço em que a turma da EJA. Contar como a sua infância, na zona rural, transcorreu de forma diferente da desses pequenos, moradores da maior cidade do Brasil, foi uma grande motivação e os estudantes se envolveram totalmente.
Por se tratar de uma turma de alfabetização, as professoras tiveram a intenção de desenvolver habilidades de leitura e escrita durante todo o processo. Assim, os alunos leram contos de outros autores, rememoraram suas infâncias juntos em rodas de conversa, escreveram e reescreveram suas histórias. Até o título do livro foi assunto de bastante debate: “Infância na Roça”.
Um ponto que considero muito interessante nesse projeto é a desmistificação da ideia de que ser escritor é um dom, e que os bons escritores produzem sempre textos geniais logo na primeira versão. Ficou claro para os alunos que escrever é um processo trabalhoso, que requer análises, correções, revisões, reescritas, até que se chegue a um texto satisfatório.
Outro aspecto importante: a preocupação com todo o processo e não apenas com o produto. É claro que a perspectiva de fazer um livro motiva e impulsiona os alunos. Mas os professores devem ter a clareza de que o produto é uma consequência do trabalho desenvolvido e, portanto, vale a pena dar sentido para todas as etapas, não apenas para o resultado final. Ana Cristina e Paula enfatizaram bastante esse aspecto, chamando a atenção dos estudantes para os avanços e dificuldades que estavam tendo enquanto produziam o livro.
Acima de tudo, o trabalho “Infância na Roça” reforça que a memória dos alunos pode ser explorada como um grande recurso nas aulas da EJA. A variedade de experiências deles é imensa, o que tornam também imensas as possibilidades de trabalho.

quarta-feira, 30 de julho de 2014


Espaço: a organização também é uma intervenção pedagógica


Na Educação Infantil, a conquista da autonomia é um dos principais objetivos. Por isso, a organização do espaço é determinante na aprendizagem das crianças (Foto: Gabriela Portilho)
Na Educação Infantil, a conquista da autonomia é um dos principais objetivos. Por isso, a organização do espaço é determinante na aprendizagem das crianças (Foto: Gabriela Portilho)
Nas salas de aula da Educação Infantil, a organização do espaço, dos materiais e dos brinquedos é determinante na aprendizagem das crianças. Nessa etapa da escolaridade, a progressiva conquista da autonomia é um dos principais objetivos.
É fundamental sempre reorganizar as salas de aula, com a renovação de cartazes, listas e jogos, o descarte de materiais e brinquedos quebrados ou sem peças, a arrumação do canto da leitura e a troca da temática do canto de faz de conta. Se no semestre passado era uma cozinha, agora pode ser um pet shop, um supermercado ou uma fazendinha. Assim, a turma pode inventar novas brincadeiras.
Para fazer tudo isso, o professor precisa de tempo e do apoio da equipe gestora. Vamos refletir sobre como você pode ajudar?
Formação com foco no espaço
Antes de partir para a organização, é interessante fazer uma formação coletiva sobre a importância do espaço na aprendizagem dos pequenos. A discussão deve tratar, inclusive, sobre a questão estética e a forma como um ambiente “clean” interfere no bem-estar de todos.
Acredito que não há nada melhor que refletir e discutir coletivamente para potencializar o olhar de cada professor.
Uma possibilidade bacana é visitar outra instituição com o olhar na organização do espaço.  É impressionante como existem soluções extraordinárias para os cantos de faz de conta, leitura e prateleiras de arte e jogos. Conheci um canto que era uma churrasqueira muito bacana e toda feita de caixas de papelão com direito a vários acessórios. A criançada curtia muito!
Se não for possível se deslocar, dentro da própria escola já será possível ampliar o olhar do professor se planejarmos uma reunião com esse foco.  Abaixo, compartilho com vocês uma proposta de pauta para esse encontro, que deve ser compartilhada previamente com os professores.
Pauta da formação sobre espaço
  1. Cada professor responde individualmente a questão: “Como a organização do espaço interfere na aprendizagem das crianças?”.
  2. As respostas são socializadas e ampliadas com base na leitura de um trecho do Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil – Volume 1 (cliqueaqui para acessar o documento ) que trata da acessibilidade dos materiais.
 Outro ponto importante a ser ressaltado diz respeito à disposição e organização dos materiais, uma vez que isso pode ser decisivo no uso que as crianças venham a fazer deles. Os brinquedos e demais materiais precisam estar dispostos de forma acessível às crianças, permitindo seu uso autônomo, sua visibilidade, bem como uma organização que possibilite identificar os critérios de ordenação.
É preciso que, em todas as salas, exista mobiliário adequado ao tamanho das crianças para que estas disponham permanentemente de materiais para seu uso espontâneo ou em atividades dirigidas. Este uso frequente ocasiona, inevitavelmente, desgaste em brinquedos, livros, canetas, pincéis, tesouras, jogos etc. Esta situação comum não deve ser pretexto para que os adultos guardem e tranquem os materiais em armários, dificultando seu uso pelas crianças. Usar, usufruir, cuidar e manter os materiais são aprendizagens importantes nessa faixa etária. A manutenção e reposição destes materiais devem fazer parte da rotina das instituições e não acontecer de forma esporádica. (RCNEI, Volume 1 – página 71)
  1. Os professores são convidados a visitar todas as salas de aula e preencher a seguinte tabela, com base na observação.
Número da sala……………….……………….……………….
Boas soluções……………….……………….……………….
Sugestões de melhoria……………….……………….……………….
De volta à sala de reuniões, todos compartilham as anotações.Se houver mais de cinco professores na reunião, é pertinente que preencham os impressos em duplas. Diga a eles que a ideia é poder contar com o olhar de diferentes pessoas e que, coletivamente, podemos potencializar as organizações das diferentes salas.
  1. Por fim, cada professor vai à sua sala para começar o trabalho.
Como é a sala ideal de Educação Infantil
Abaixo, listei alguns detalhes que merecem atenção e que acredito fazer toda a diferença na sala de aula:
  • Salas com muitos enfeites ficam poluídas. Os materiais e brinquedos já são suficientemente coloridos para deixar o ambiente alegre;
  • Cartazes e listas devem ficar ao alcance dos olhos das crianças, afinal, a função é despertar o comportamento leitor, ainda que as crianças pequenas só o imitem no início da escolaridade;
  • O ato de forrar prateleiras com papel deve ser repensado. Em pouco tempo, ele rasga, descola ou desbota, deixando o ambiente mal arrumado;
  • Quando se tem muitos brinquedos ou jogos de encaixe é possível fazer um revezamento, guardando alguns e disponibilizando outros semanalmente;
  • Pintar, encapar e identificar latas para canetas e pincéis e caixas de jogos, para folhas de desenho ou objetos de pintura é uma boa alternativa para facilitar o acesso das crianças.
São muitas as possibilidades de melhoria no espaço e na organização dos materiais, inclusive nos ambientes de responsabilidade do coordenador, como a sala de formação e os materiais de uso coletivo dos professores. Por isso, que tal reservar um tempinho para cuidar dessa arrumação? 

terça-feira, 29 de julho de 2014


É tempo de organizar o que vem pela frente


O segundo semestre letivo é considerado por nós, educadores, e também pelos alunos, como a reta final. Período em que temos a sensação de que o tempo passa ainda mais rápido em relação a todas as questões ainda por serem resolvidas. Sentir certa ansiedade é quase inevitável. Portanto, planejar é preciso.
Pensar em planejamento nos remete a outra necessidade: administrar o tempo que nos resta para a conclusão dos trabalhos do ano letivo. Em outras palavras, diferenciar o que éurgente do que é importante. Nem sempre conseguimos isso. Principalmente na escola, onde todas as demandas parecem ser urgentes. Corremos o tempo todo na tentativa de resolver as urgências do dia a dia – que nem sempre incidem sobre o que de fato é importante. Eleger a pauta importante não é descartar a urgente, principalmente quando uma está atrelada à outra. Mas, sim, ter clareza e consciência dos objetivos que foram traçados e que se deseja alcançar.
Embora cada escola elabore seu planejamento, o objetivo final comum a todas as instituições de ensino é o êxito do aluno. Durante o primeiro semestre, muitos foram os meios utilizados para se atingir o fim planejado. Agora é hora de avaliar o que atendeu aos objetivos e o que necessita de mudança. Claro que esse olhar avaliativo é processual e acompanha nosso trabalho sistematicamente. Entretanto, não estou me referindo aos ajustes pedagógicos e metodológicos necessários e permanentes. Refiro-me ao trabalho focado para o que há de mais importante para a conclusão do ano letivo: a construção do conhecimento e o desenvolvimento do aluno.
Assim, é o momento de centrar todos os esforços e energias para provocar a necessidade do conhecimento – caso ainda haja dúvida quanto a isso. Nesse sentido, de posse dos resultados do primeiro semestre, o próximo passo é, em conjunto com a equipe docente, compreender os diferentes motivos que contribuem para que muitos dos alunos cheguem ao segundo semestre já pendurados em baixos resultadosParece óbvio, mas não é, pelo simples fato de que esse momento de buscar explicações para os resultados atingidos se encerra com respostas repetidas e simplistas, delegando exclusivamente para o aluno a responsabilidade dos resultados alcançados.
Pulemos a parte das falas que apontam como motivos do baixo desempenho a falta de atenção, de responsabilidade, de envolvimento da família… Já sabemos que há uma parcela de alunos que apresentam postura inadequada e negligente quanto aos estudos. Aliás, uma parcela muito significativa. Não discordamos de que realmente sejam motivos quecontribuem para o pouco aproveitamento dos alunos. Contribuem, mas não determinamos resultados. Agora é partir para o ataque. O discurso da lamentação paralisa e imobiliza. E o que precisamos é de ação.
Quais são as reais dificuldades? Leitura e interpretação deficientes? Cálculos matemáticos? Escrita comprometida? Desorganização textual? São essas as urgências importantes. É hora de assumir pra si a responsabilidade de mudar o cenário e fazer o que ainda não foi feito. Na maioria das vezes, as dificuldades que os alunos apresentam estão mais ligadas às lacunas pedagógicas que vão surgindo ao longo da vida escolar, do que propriamente ao conteúdo atual. A organização de grupos de estudos complementares particularmente, eu não gosto e não uso o termo reforço escolar – é um bom começo de semestre. O trabalho com oficinas permite o retorno às raízes das dificuldades, com um tom mais criativo e mais envolvente, além de ser uma ótima oportunidade de interação entre pares, de exercício pleno do respeito mútuo e das regras de convivência.
Entendo que o sentido de oficina é o de mestre e aprendizes trabalhando e produzindo juntos. Oficinas de leitura, de escrita, de Matemática, entre outros, também são boas opções, organizando pequenos grupos, em horários alternados aos das aulas, para um trabalho diferenciado voltado para as especificidades de cada um, com duração de 90 minutos, duas a três vezes por semana.
Dessa forma, planejar o segundo semestre é priorizar o trabalho com o conhecimento. Assim, é importante lembrar que as datas festivas e eventos surpresas não podem subtrair do aluno nem o tempo nem a presença dos professores que, muitas vezes, são convidados a assumirem a organização de projetos caídos de paraquedas na escola. Isso não significa que festas, eventos e projetos devam ser descartados mas, sim, planejados também.

segunda-feira, 28 de julho de 2014


Como transformar a reunião de pais em um momento formativo para toda a comunidade


A reunião de pais é uma grande oportunidade para estreitar a parceria da escola com as famílias. No encontro, os professores e os gestores têm a chance de conhecer mais de perto a realidade dos alunos e compartilhar o que está sendo desenvolvido pela instituição e quais são os resultados.
Porém, é comum a escola ter dificuldade para garantir a participação dos pais e preparar a pauta da discussão. Essas também eram preocupações das gestoras da EMEF Manoel Gomes dos Santos, em Ferraz de Vasconcelos, São Paulo. Apesar dos responsáveis comparecerem, muitos não tinham tempo para permanecer no local. Além disso, as gestoras sentiam falta de trabalhar temas que fossem além da aprendizagem das crianças.
Na visita, Maura Barbosa, consultora pedagógica de GESTÃO ESCOLAR, fala sobre como antecipar o que será discutido na reunião, convidar os familiares e ir além da sala de aula.

sexta-feira, 25 de julho de 2014

   Análise dos cadernos dos alunos, uma ferramenta de trabalho


As anotações feitas pelos alunos revelam as práticas de ensino dos docentes em um determinado tempo e são bons indícios de como andam as aprendizagens dos alunos (Foto: Manuela Novais)
As anotações feitas pelos alunos revelam as práticas de ensino dos docentes em um determinado tempo e são bons indícios de como andam as aprendizagens dos alunos (Foto: Manuela Novais)
Existem muitas formas possíveis de acompanhar o trabalho dos professores na escola, não é mesmo? Eu considero a análise dos cadernos das crianças uma das mais interessantes e reveladoras. As anotações feitas pelos alunos revelam as práticas de ensino dos docentes em um determinado tempo. E mais: são bons indícios de como andam as aprendizagens dos alunos, da estrutura das aulas e das sequências das práticas em sala de aula.
Para definir alguns dos temas que serão trabalhados nos encontros de formação, realizo periodicamente a análise do material das crianças e observo como os conteúdos foram trabalhados. Fazer isso regularmente, pelo menos quatro vezes no bimestre, é importante porque as estratégias pedagógicas utilizadas podem mudar de acordo com o conteúdo trabalhado pelos professores.
É interessante observar como um mesmo docente pode, por exemplo, considerar o uso de diferentes estratégias para uma mesma atividade de Matemática e, outras vezes, apresentar um novo conteúdo através de uma explicação primeiro para depois aplicar várias atividades de fixação. Em Língua Portuguesa, essas diferenças também acontecem. Muitas vezes, os professores conseguem identificar o tipo de habilidades de leitura que devem cobrar e trabalham com textos variados, mas não mantêm uma regularidade de um determinado gênero para que os alunos entendam a linguagem e os recursos que são comumente utilizados.
Como eu acompanho os cadernos?
Reservo datas em meu cronograma que serão dedicadas a essa análise mais aprofundada das anotações das crianças. Como ali existem muitas informações, é possível analisar diferentes aspectos. Para que eu não me perca e faça um trabalho bem focado, organizo uma pauta de observação, na qual escrevo os registros importantes que depois servirão de apoio para o planejamento do plano de intervenção pedagógica.
Não procuro dar conta de todos os aspectos em uma única leitura, por isso, escolho um deles para cada dia. Listei abaixo algumas sugestões de análise, baseada na minha própria experiência:
  • Análise geral do uso do caderno: sequência, cuidado, organização;
  • Análise de aspectos específicos do uso: referências para localização de temas/conteúdos estudados, cronologia, qualidade dos registros, existência de um roteiro diário para organização do dia e facilitar o acompanhamento dos pais;
  • Estratégias e propostas de ensino: se são diversificadas e diferenciadas de acordo com as necessidades de aprendizagens dos alunos;
  • Como são as anotações realizadas pelos alunos? Há registros do que estão aprendendo?
  • Quais e como os conteúdos foram trabalhados pelo professor? Estão de acordo com o planejamento curricular?
  • O caderno possui registro do professor? Como ele registra suas observações a respeito do processo do aluno e faz a devolutiva escrita para eles;
  • Qual é o objeto de ensino do professor? Qual é a concepção de ensino do professor?
  • Quais atividades foram oferecidas e o tempo destinado para desenvolvê-las? As atividades são desafiadoras?
  • Possui propostas de produção de texto?
  • Qual foi a base do planejamento do professor? Foi apenas o livro didático ou ele utiliza outro recurso?
  • O caderno tem uma relação com a rotina do professor?

quarta-feira, 23 de julho de 2014


Os afazeres de reinício na Educação Infantil


No meio do ano, o coordenador pedagógico já conhece o grupo de professores e sabe quais são os pontos fortes e fracos. (Foto: Gabriela Portilho)
No meio do ano, o coordenador pedagógico já conhece o grupo de professores e sabe quais são os pontos fortes e fracos. (Foto: Gabriela Portilho)
Existem algumas vantagens para o coordenador pedagógico no recomeço do ano letivo. Além de ter um olhar mais focado, ser capaz de fazer reflexões mais pontuais e ter maior clareza sobre as metas a ser atingidas devido ao distanciamento de algumas semanas do dia a dia escolar, ele já conhece o grupo de professores e sabe quais são os pontos fortes e fracos.
Abaixo, listei as ações que considero pertinentes para essa época do ano.
Planejar a reunião de retorno. Acho importante ter clareza do que cada turma deve aprender até o final do ano. É bom, então, retomar as expectativas de aprendizagem de cada eixo e, junto com o grupo de professores, marcar o que já foi assegurado e o que precisa ser alcançado nos próximos meses nos diferentes níveis. Vale a pena preparar o material com base nas análises efetuadas no final do primeiro semestre.
Se fizermos isso envolvendo todos os professores da escola, temos a possibilidade de compartilhar as responsabilidades e de fazer todos se comprometerem coletivamente. Uma coisa é saber da sua turma, outra é você se sentir parte de um projeto pedagógico, compreender que o que os seus alunos aprendem ou precisam aprender estará ancorado no fazer pedagógico de cada professor do nível anterior ou posterior.
Auxiliar a revisão e a adequação dos projetos e sequências. O coordenador é o parceiro mais experiente e tem um olhar longitudinal sobre as aprendizagens. Por isso, ele será o apoiador e orientador dos professores. É na prática e com muito estudo que se aprende a fazer intervenções pertinentes e a ajudar o grupo. Por isso, antes da reunião de retorno, é preciso reler todos os planejamentos, compará-los e retomar conteúdos através de cursos, pesquisas com colegas ou na internet. De qualquer maneira, é necessário estar preparado para poder contribuir com sugestões de encaminhamentos.
Revisar e adequar o planejamento de formação dos professores. Nesta época, em geral, já temos um planejamento em mãos, feito no início do ano. Entretanto, é bom rever o que não foi alcançado no primeiro semestre e ajustar o projeto conforme as necessidades de aprendizagem e aperfeiçoamento dos professores.  É preciso ter um foco claro, definir o que precisa ser aprendido e quais estratégias formativas podem favorecer a reflexão e o impacto na prática pedagógica dos professores. O melhor a fazer sempre será refletir sobre aquilo que está acontecendo na prática da sala de aula, ler sobre o assunto, discutir encaminhamentos, combinar de levar a teoria para a prática e retomar a discussão com base em filmagens. A tematização da prática é o que, de fato, permite ao professor um olhar mais refinado nas didáticas de cada eixo.
Recomeçar bem o ano letivo pode fazer toda diferença para um semestre de muitas conquistas para cada professor e cada criança. Os primeiros passos para isso são oplanejamento e o profissionalismo do coordenador pedagógico.Atendimentos individuais. A essa altura, o coordenador já sabe quais professores precisam de mais ajuda e é por eles que o agendamento de reuniões deve começar. Em geral, é muito difícil conseguir um horário para fazer orientação individual, portanto, é preciso privilegiar os que mais têm dificuldade. A ideia desse encontro é ajudar o docente, discutindo a gestão de sala de aula e os encaminhamentos pontuais com algumas crianças.

terça-feira, 22 de julho de 2014


Quarta poética: a troca literária com a comunidade escolar.

A Quarta Poética é momento de mostrar a forma de brincar com as palavras da linguagem poética. (Foto: arquivo pessoal)
A Quarta Poética é o momento de mostrar a forma de brincar com as palavras da linguagem poética. (Foto: arquivo pessoal)
Uma das mais belas riquezas que compartilhei durante minha vida de educadora e gestora foram os encontros entre alunos e professores para trocar versos e poesias. Nesses momentos, o objetivo é mostrar e ensinar às crianças a bela forma de brincar com as palavras, a linguagem poética, a estrutura textual e a apropriação dos históricos de cada poeta.
Aqui em Itapetininga, o Momento da Poesia foi implantado na rede municipal de ensino por Maura Barbosa, na época diretora do Departamento Pedagógico. Hoje, alguns anos depois, essa atividade passou a ser chamada de Quarta Poética na minha escola e se tornou um dos carros-chefes da troca literária na comunidade.
Como o próprio nome indica, esse momento acontece às quartas-feiras, logo nas primeiras horas de aula. As datas dos encontros, programados nas reuniões de planejamento do início e do meio do ano, ficam expostas no quadro de avisos na entrada da escola para que pais e visitantes possam tomar conhecimento e comparecer. Para garantir a participação de todas as crianças, fazemos um revezamento das turmas ao longo do ano – a cada semana, são duas.
Na semana que antecede cada Quarta Poética, os professores expõem no mural o autor que trabalharão e as poesias escolhidas para que todos possam se preparar. Já vi familiares e visitantes lendo as poesias quando deixam ou buscam as crianças. É muito legal! O material é selecionado de acordo com o conteúdo que está sendo trabalhado em sala de aula e para que todos os alunos e a comunidade enriqueçam os repertórios literários.
No dia do evento, as duas turmas preparam o espaço do refeitório para recepcionar o público. Os professores dão início à atividade com um breve histórico do autor e das obras.  Após isso, eles recitam duas poesias daquelas expostas no mural, dando ênfase à estrutura do texto. Entre as rimas e os versos, as crianças tecem comentários com base em seus conhecimentos poéticos. No final da apresentação, elas avaliam o encontro, dizendo se gostaram e se já conheciam o texto, e trocam as poesias impressas, que são colocados na pasta de leitura, ao lado dos demais trabalhos do ano letivo.

segunda-feira, 21 de julho de 2014


Como lidar com os novos modelos familiares?


Neste fim de semana surgiu, numa conversa com amigos, o tema das configurações familiares. A filha de uma amiga, de cinco anos, contou que um de seus coleguinhas tinha dois pais. Imediatamente, um dos presentes fez o seguinte comentário:
Deve ser muito ruim ser filho de um casal gay! Comigo, que sou filho de pais heterossexuais, mas que não se casaram e nem moraram juntos, já foi complicado de lidar com o preconceito e a ignorância das pessoas.
Esse é o ponto: o preconceito.  Ainda há pessoas com grande dificuldade em aceitar as novas configurações familiares, como se com isso pudessem eliminar da sociedade o que é diferente do socialmente aceito por eles. Mas o caminho não é esse.
Segundo dados do último censo do IBGE, de 2010, já são mais de 60 mil os casais gays que moram juntos. Porém, as relações homo-afetivas são apenas mais um exemplo dos novos arranjos familiares no Brasil. O modelo de casal heterossexual com seus próprios filhos deixou de ser dominante no país. Pela primeira vez, o levantamento demográfico identificou 19 tipos de laços de parentesco, indicando que os outros tipos de arranjos familiares estão em 50,1% dos lares, entre eles: casais sem filhos, pessoas morando sozinhas, três gerações sob o mesmo teto, casais gays, mães ou pais sozinhos com filhos, amigos morando juntos, netos com avós, irmãos e irmãs, e ainda a nova e famosa família “mosaico”, compostas por pais divorciados que voltam a se casar e vivem com os filhos do antigo casamento na mesma casa. Dados como esse mostram como o conceito de família hoje é muito abrangente. Ficar discutindo com base em conceitos antigos não é apenas improdutivo, é um retrocesso.
Qual é o papel da escola nessa discussão?A escola pode ajudar muito os alunos e pais a lidar com a diversidade das relações familiares e, principalmente, dar apoio para famílias com uma conformação diferente. Para isso, é fundamental que professores e funcionários estejam convencidos de que todas as relações amorosas são válidas e que qualquer criança quando é amada e cuidada pode ser feliz e saudável, independentemente do tipo de arranjo familiar que ela tenha.
Reações de rejeição e preconceito em virtude de um arranjo familiar pouco convencional pode causar isolamento social, revolta, agressividade e desatenção no aluno. Esses comportamentos dificultam a concentração e a aprendizagem e podem ser considerados um aviso para o professor intervir junto à turma, ou mesmo orientar os pais a buscar apoio especializado.
Para lidar com esse tema com os pais e alunos é preciso que professores e funcionários saibam como tratar a questão. É possível lançar um desafio pedagógico em que os diferentes tipos de família conhecidos pelos professores e funcionários sejam listados e solicitar que eles expliquem, em termos de configuração e modo de agir, o que há de diferente no comportamento dessa família. Essa é uma boa forma de desmistificar os tabus e mostrar que, se bem estruturado, qualquer um dos arranjos familiares apresentados pode contribuir para o desenvolvimento da criança ou jovem. Essa atividade também pode ser proposta para os alunos adolescentes, focando na apresentação das pesquisas realizadas e na valorização do que identificam como importante na convivência em casa, deixando claro que o apoio da família pode existir independentemente da forma como elas se configuram.
Para o trabalho com os familiares, sugiro que, após esse desafio com os professores, a escola faça uma palestra para falar sobre os novos arranjos familiares e fazer uma roda de conversa sobre o assunto, aproveitando, se o clima da conversa for de respeito à diversidade, para mostrar os tipos de família que existem na escola.
Já com os alunos pequenos, a melhor maneira é apresentar o assunto de forma natural e sem muitos detalhes. A criança consegue compreender que ele tem um pai e uma mãe, seu amigo tem dois pais, sua amiga duas mães, o outro coleguinha é criado pela vó, compreendendo que existem outras formas de família além da que ela participa.
Muitas escolas já incluem o tema “família” dentro de suas grades curriculares. Nesse caso, é só buscar uma forma dinâmica de conversar com os alunos: colagem de fotografias ou desenhos dos familiares para montar a árvore da família, além de outras formas de expressão em que as famílias sejam apresentadas e os alunos possam mostrar o que mais gostam na convivência familiar.
Gostei muito de um caso que encontrei na internet, em que a escola sugeriu a um aluno filho de pais gays que ele convidasse amiguinhos para frequentarem sua casa com o intuito de notarem que não existia diferença, a não ser o fato de que ele tinha dois pais. Para isso, a escola teve o cuidado de indicar uma família mais flexível e que lidava de forma aberta com o assunto. A conclusão da coordenadora pedagógica que trouxe a proposta foi de que, apesar de não ser uma questão fácil de ser trabalhada, é possível a escola ajudar a desenvolvê-la.

sexta-feira, 18 de julho de 2014

Analfabetos na Alemanha

A despeito da convincente vitória alemã no futebol, país ainda perde o jogo para os índices de analfabetismo
Não tem jeito. Nesta semana, o assunto é a Alemanha.
Por causa do bom desempenho na Copa do Mundo, temos lido e ouvido elogios à capacidade alemã de planejamento, de organização e de disciplina que levam, segundo dizem, ao sucesso.
Dando um salto do futebol para a Educação, gostaria de compartilhar neste espaço umamatéria que me surpreendeu. A despeito do sucesso de sua seleção nacional e da goleada que imprimiu ao Brasil, dados mostram que o sistema educacional alemão está “tomando de 7”: segundo pesquisa  divulgada em julho, na Alemanha existem 7,5 milhões de adultos que não sabem ler e escrever.
Ora, o senso comum nos diz que o analfabetismo é uma característica de países subdesenvolvidos, onde existe pouco dinheiro disponível e baixos índices de desenvolvimento humano, certo? Os dados da Alemanha contradizem em certa medida essa noção: 5º maior PIB do mundo, baixíssima vulnerabilidade social (5º maior IDH do mundo), sede de grandes empresas multinacionais, centro de decisões políticas e econômicas da Comunidade Europeia, terra de grandes universidades e de mais de 100 Prêmios Nobel…  A Alemanha tem também 14% da sua força de trabalho incapaz de ler um texto.
Onde o sistema educacional está falhando de maneira tão grave? Ao que parece, o sistema germânico é muito excludente e não favorece quem, por uma razão ou por outra, não consegue se enquadrar nele. Eis a visão de uma professora da EJA divulgada nessa matéria:
“Segundo Urda Thiessen, professora de alfabetização para adultos entre 18 e 64 anos de idade, o sistema alemão favorece os melhores e oferece poucas chances aos mais fracos. Quem termina o primeiro ano escolar sem saber ler ou escrever corre o risco de ficar analfabeto para sempre.
— No sistema de educação regular, não há nenhuma chance de recuperação desse déficit no início do período escolar, provocado muitas vezes por doenças ou crises familiares, como a separação dos pais — diz Thiessen.
São casos como o de Thomas S., de 21 anos. No primeiro ano escolar, ele faltou muito à escola por motivo de doença. Como os pais não tinham dinheiro para pagar aula particular de apoio, Thomas terminou analfabeto.”
Em uma pesquisa rápida, descobri que, embora esses dados sejam novidade para mim, eles não eram para o Ministério da Educação Alemão. Esta outra matéria (em inglês), informa que números semelhantes foram divulgados em 2011, provocando constrangimento no ministério, que anunciou investimento de cerca de 20 milhões de euros na educação de adultos.
Fazendo um cálculo simples, percebemos que o investimento por aluno é baixíssimo: 20 milhões dividido por 7,5 milhões é igual a 2,7 euros. Cerca de R$ 8 por aluno… para fazer com que uma pessoa adulta estude e deixe de ser analfabeta.
Não tenho o objetivo de chegar à conclusão de que a Educação no Brasil é melhor que na Alemanha. Longe disso. Os dados mais recentes do Índice de Alfabetização Funcional (INAF) nos informam que cerca de 27% dos brasileiros de mais de 15 anos são analfabetos funcionais, o que configura quase o dobro do percentual alemão.
No entanto, vejo muitas semelhanças entre as duas situações. Tanto no Brasil como na Alemanha, o problema do analfabetismo de adultos não é desprezível. Ele já foi amplamente divulgado e as autoridades, no discurso, mostram-se constrangidas. Entretanto, as atitudes efetivamente tomadas e o investimento feito, nos dois casos, ainda são pífios para enfrentar seriamente a questão.

quarta-feira, 16 de julho de 2014

Escola e família: cada um tem um papel


Os pais não devem interferir no processo de ensino e aprendizagem da escola, assim como a instituição não pode querer ensiná-los como educar os filhos em casa. (Foto: Gabriela Portilho)
Os pais não devem interferir no processo de ensino e aprendizagem da escola, assim como a instituição não pode querer ensiná-los como educar os filhos em casa. (Foto: Gabriela Portilho)
Na semana passada, falei da importância de o coordenador pedagógico conhecer as famílias e sempre manter um diálogo com os pais nos horários de entrada e saída das crianças. Algumas vezes, no entanto, é preciso sentar para conversar pontualmente com alguns familiares.
Acredito que somos nós, educadores, que resolvemos e discutimos os encaminhamentos necessários para lidar com as questões pedagógicas. Cabe à escola apresentar sua proposta no início do ano e mostrar às famílias os resultados da aprendizagem das crianças, ao final de um período. Não é responsabilidade dos pais interferir nesse processo, assim como não cabe à escola querer ensinar a eles como educar os filhos. Entretanto, existem algumas situações em que o diálogo e a parceria com a família são muito bem-vindos.
O que não pode acontecer
Em hipótese alguma, a porta da sala ou os corredores são locais para uma conversa sobre a criança. Por isso, comentários do professor como “Hoje, o Pedro bateu no amigo” ou “Por favor, o senhor poderia conversar com a Marina em casa por que ela não está querendo fazer as atividades na sala?” não podem acontecer!  Primeiramente, porque esse tipo de comentário ou solicitação aos pais não tem nenhum propósito. Depois, porque é preciso respeitar famílias e ter esse tipo de conversa numa sala de reserva, sem outros adultos ou crianças por perto.  Além disso, é papel da escola encontrar formas de lidar com os pequenos.
Aprender a conviver é um desafio e a Educação Infantil é o espaço e o tempo de começar a aprender a fazer isso. Claro que lidar com algumas situações pode não ser nada fácil para o educador. São várias as questões a serem consideradas, discutidas e tematizadas nos encontros de formação de professores para que eles se sintam cada vez mais seguros ao lidar com a turma. Compreender como é o desenvolvimento moral na criança e como o professor pode contribuir é uma delas.
Em que momento é preciso chamar a família
Quando professores, coordenador e diretor já buscaram diferentes alternativas para melhorar o desempenho de uma criança, mas a aprendizagem ainda está prejudicada, a família pode ajudar.
Abaixo, listo três assuntos que achamos melhor chamar os familiares para uma conversa particular:
  • Explicitar o papel da escola. Na Educação Infantil, é comum os pais não terem clareza de que a escola é um lugar de aprendizagem e que os responsáveis por ficar com seus filhos são profissionais. Isso fica claro quando a criança falta demais, quando os pais desqualificam as atividades com comentários inadequados, como “a sua professora pensa que eu não tenho o que fazer, pedindo para eu ler um livro toda semana para você?” ou, ainda, quando querem interferir no dia a dia da sala de aula e em outras situações. Nesses casos, é melhor ter uma conversa pontual para esclarecimentos;
  • Cuidados à saúde da criança. A escola percebe que pode haver algum problema de saúde interferindo na vida escolar da criança, como deficiência visual, auditiva, excesso de sono no período da escola. Já tivemos um caso de anemia gravíssima e outro em que a criança só dormia depois da meia noite e acordava muito cedo para ir à escola.
  • Necessidade de avaliação ou acompanhamento fonoaudiológico ou psicológico. Isso acontece depois de muita observação e troca de impressões entre professor e gestores para chegar à hipótese de necessidade de indicação de algum especialista.
Acima de tudo, é preciso ter muito cuidado para não rotular nem levantar hipóteses sem qualquer fundamento antes de convidar os pais para uma reunião. Esse encontro tem como foco a discussão a respeito da criança e sobre o que pode ser feito para colaborar com a aprendizagem dela.
Por último, lembro que a ética profissional é agendar um horário conveniente a todos, antecipando qual é o motivo de solicitar tal reunião.  Outro cuidado é a forma de abordar o assunto, explicitando todas as observações efetuadas, as hipóteses da escola e qual é a proposta de encaminhamento,. Também é preciso deixar tempo e espaço para as colocações da família.  Todo cuidado é pouco quando vamos tratar de assuntos delicados.

terça-feira, 15 de julho de 2014

Merenda balanceada, saborosa e sem 

desperdício.

Foto: Gabriela Portilho
Com balcão de self-service, todos aprendem a se servir e a refletir sobre as escolhas
Em épocas não muito remotas, a merenda escolar era sinônimo de sopa com proteína texturizada de soja (PTS). O sacrifício que fazíamos para que as crianças comessem era desgastante! Vivíamos incrementando com legumes, verduras e pedacinhos de carne, sem muito sucesso.
Com a rejeição exacerbada nas escolas públicas do estado de São Paulo, nutricionistas foram contratados para contribuir e elaborar um cardápio que viesse ao encontro das necessidades diárias dos alunos e de uma alimentação saudável. A iniciativa chegou aqui em Itapetininga e a equipe atualmente é composta por Luciana Rosa (técnica responsável), Cristina Muguiuda, Silmara Amaral e Tatiana Olivato. Elas são responsáveis pelo planejamento dos cardápios e pela supervisão, avaliação e coordenação do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE).
O setor de alimentação escolar do município faz parte da Secretaria Municipal de Educação e atende as escolas municipais e estaduais, os Centros de Educação Complementar (CEC) e as entidades socioeducativas. Contamos com um depósito central para armazenamento de gêneros alimentícios (arroz, feijão, macarrão, fubá, farinha de milho, sal, bolachas, etc.) que são entregues mensalmente às instituições atendidas. Em média, 31 mil alunos consomem um total de 73 mil refeições diárias.
Semanalmente, recebemos pão, carnes e produtos de hortifrúti para oferecer uma alimentação saudável. A cada 15 dias, as nutricionistas visitam e orientam nossas merendeiras para averiguar o que está sendo consumido pelos alunos e como estão sendo realizados o preparo e a higienização dos alimentos e utensílios.
O cardápio é elaborado pela equipe de nutricionistas semanalmente (veja um exemplo aqui) e enviado às unidades escolares. Ele é planejado para cada faixa etária com o objetivo de atender as necessidades nutricionais estabelecidas pela resolução nº 26 de 17/06/2013, do FNDE. São priorizadas frutas e hortaliças da época (parte adquirida da agricultura familiar) e alimentos benéficos à saúde, como peixe, soja e lentilha.
A maior parte das escolas de Ensino Fundamental do município conta com balcões térmicos tipo self-service para as principais refeições (almoço e jantar). Entre as vantagens desse sistema estão a segurança alimentar (os alimentos são mantidos em temperatura adequada durante o período de distribuição) e maior autonomia para o aluno tornando-o capaz de se servir sozinho e fazer suas escolhas. Em sala de aula, os professores trabalham a importância de experimentar um pouco de tudo e de colocar quantidades suficientes para que não haja desperdício e a mesma orientação é reforçada pelas merendeiras.
Quando recebemos o balcão, a equipe de nutricionistas promoveu na escola a Semana da Alimentação Saudável que foi muito esclarecedora. Elas realizaram palestras sobre o consumo e as propriedades dos alimentos, falaram sobre como comer sem desperdiçar, deram aulas práticas sobre os ingredientes e o preparo deles e finalizaram com a entrega de uma cartilha com informações para seguir em casa também. Após o início do uso do balcão, o desperdício foi reduzido para 90%!

segunda-feira, 14 de julho de 2014


Início do semestre: hora de planejar e fazer o cronograma das ações de formação dos professores.


Antes do início do semestre, seleciono os conteúdos e elaboro um cronograma para as reuniões de formação dos professores (Foto: Manuela Novais)
Antes do início do semestre, seleciono os conteúdos e elaboro um cronograma para as reuniões de formação dos professores.
O fim das férias está próximo. Por isso, é hora de envolver os professores na volta às aulas e organizar as ações pedagógicas. Para o início deste semestre, tenho em mente a realização das seguintes ações: analisar os dados da escola e das turmas, elaborar um plano de intervenção pedagógica e levantar os conteúdos de aprendizagem dos alunos e de ensino dos professores.
Hoje, vou compartilhar com vocês como costumo estabelecer as minhas ações pedagógicas em relação à formação dos docentes na escola.
Uma das primeiras estratégias de organização é definir quais serão os conteúdos que nortearão os estudos e reflexões que realizarei com eles. Depois disso, planejo o cronograma de execução deste plano que estará aliado à minha rotina diária.
Seleção dos conteúdos
Os conteúdos que farão parte do plano de formação não são selecionados de forma aleatória. Eles são definidos com base em:
  • Observações e registros realizados durante o primeiro semestre em sala de aula
  • Dúvidas e inquietações apresentadas pelos professores depois de trabalhar um aspecto com os alunos
  • Análise dos cadernos das crianças
  • Expectativas de aprendizagens do bimestre/semestre em questão
  • Análise das produções dos alunos
  • Resultados das avaliações externas e internas
  • Metas estipuladas pelos professores no início do ano e durante a elaboração do  plano de intervenção pedagógica  após replanejamento
Com esses dados em mãos, defino quais serão as prioridades.
Como definir as estratégias pedagógicas
Selecionados os conteúdos, analiso quais devem ser colocados em discussão com todos os professores reunidos e quais devem ser tratados de forma mais específica e individual nasreuniões de planejamento semanal. Por exemplo, se o conteúdo for análise de resultado de avaliação externa, prefiro discutir de forma coletiva, mas, se for a devolutiva de uma observação em sala de aula, prefiro que seja de forma individual nas reuniões de planejamento.
Esse plano com detalhes e especificações do que gostaria de focar é compartilhado apenas com a gestão da escolar e não com todos os docentes.
Aplicação do plano de formação
Outra estratégia que realizo depois de definidos os conteúdos é a elaboração de um cronograma para aplicação do plano, sempre levando em consideração o que será individual e o que será coletivo. Faço também uma antecipação de quais condições didáticas serão necessárias para que a reunião de formação aconteça.
Nesse documento, defino o papel de cada um dos envolvidos, as datas dos encontros (elas são definidas com base no calendário letivo), os conteúdos que serão trabalhados, as estratégias pedagógicas que adotarei e quais atividades os professores precisam desenvolver para fazermos alguma reflexão. Ele me ajuda a organizar meu dia a dia e concentrar os meus esforços  na minha função na escola, que é melhorar a prática dos professores.
Com essas duas ações, consigo enxergar como conduzirei o meu trabalho pedagógico e, dessa forma, atingir as metas previstas. 

sexta-feira, 11 de julho de 2014


Transição do Fundamental 1 para o 2: como ajudar os alunos?

É importante promover uma conversa com os alunos para explicar as mudanças que ocorrem com a passagem de ciclo. (Foto: Marcos Rosa)
Já ouvi relatos de alunos da EJA contando que têm receio de “passar de ano”. Reparei que isso é mais frequente entre os alunos que logo farão a transição entre etapas: do Fundamental 1 para o 2 , ou mesmo do Fundamental 2 para o Ensino Médio. Muito dessa hesitação pode ser encarada como receio das mudanças que acontecem nessas transições.
Muitas transformações ocorrem nessa passagem do Fundamental 1 para o 2. A principal, sem dúvida, é o aumento do número de professores: em vez de um professor de sala, que ocupa a maior parte do tempo, passam a ter vários professores, que dividem os horários na turma.
Do ponto de vista do aluno, aquele professor que era a referência, para quem ele poderia dirigir todas as perguntas, procurar orientações para suas dúvidas (muitas vezes até relativas a questões de fora da escola), não existe mais. Em geral, os alunos buscam substituir essa referência por outra, mas esse processo pode ser demorado e imprevisível, já que cada aluno pode escolher uma pessoa diferente da equipe.
Essa é uma questão sobretudo afetiva e muito importante. Por se tratar de jovens e adultos pode-se pensar que os alunos seriam capazes de se encaixar naturalmente na nova realidade. Isso muitas vezes não acontece e a equipe de profissionais da escola precisa estar atenta. Nesse sentido, professores, coordenadores e diretores que atuam nessas etapas de transição devem colocar-se à disposição para conversar com os alunos sobre suas dificuldades e estranhamentos em relação à nova etapa.
Do ponto de vista dos procedimentos, o maior problema está na organização. No Fundamental 2 aparecem as matérias de Geografia, História e Ciências, que já existiam antes, mas que agora estão separadas formalmente. Alguns alunos podem demorar a se adaptar a essas divisões. É muito comum, por exemplo, que os estudantes façam anotações no caderno sem dividi-las por disciplina, anotando na sequência a que assistem em determinado dia: se têm aulas de Ciências e depois uma de História, essa é a sequência em que anotam no caderno; não separam por matérias (o que é de Ciências no caderno de Ciências; o que é de História, na parte de História).
É preciso orientá-los quanto a esse aspecto e verificar se, de fato, seus cadernos estão refletindo a divisão das matérias e as sequências das aulas. O mesmo vale para a organização de folhas avulsas, de separação de material em casa para vir à escola (checando quais são as aulas de cada dia no horário) etc. Para muitos alunos, em especial aqueles que chegaram recentemente à escola, nada disso é trivial. Portanto, é importante que um dos focos do trabalho do 5º ano esteja sobre esse tipo de procedimento: organizar os cadernos e o material avulso, organizar-se em relação ao horário.
Outra estratégia para tornar essas transições mais tranquilas é promover atividades que reúnam duas turmas de níveis diferentes (por exemplo, turmas do Fundamental 1 e 2). Os alunos, ao verem as produções e o desempenho dos colegas de séries mais adiantadas geralmente se tranquilizam por terem uma ideia do que vem adiante. Percebem que os trabalhos não são absolutamente perfeitos, que os que já avançaram para a próxima etapa também tiveram que enfrentar desafios… E notam que os colegas não são tão diferentes e sabidos como eles pensavam. Perceber essa semelhança ajuda a tirar o receio dos alunos!

quinta-feira, 10 de julho de 2014


O coordenador pedagógico e os pais dos 

alunos: uma relação interativa e profissional


Mesmo na correria do dia a dia, é importante estabelecer contato com as famílias (Foto: Gabriela Portilho)
Mesmo na correria do dia a dia, é importante estabelecer contato com as famílias (Foto: Gabriela Portilho)
Ser educado e atencioso em qualquer profissão é essencial, mas, quando se trata de crianças pequenas, como as que atendemos na Educação Infantil, sempre nos envolvemos um pouco mais, não é verdade? Acompanhar as aprendizagens e conquistas diárias, se encantar com as descobertas e rir das traquinagens é uma delícia.
Todos os dias, procuro ficar no pátio nos momentos de entrada e saída para ver os pequenos chegando ou indo embora com os responsáveis. Aí, aproveito para estabelecer contato com as famílias. Alguns pais são mais acessíveis e costumam parar para conversar ou perguntar alguma coisa, mas outros são mais arredios ou estão sempre com pressa. Esses são o meu desafio!
Por que manter o contato com os pais
É impressionante como fazer comentários positivos sobre as crianças e ter um bom relacionamento com os familiares abre um bom canal de comunicação para um trabalho conjunto entre escola e família. Em geral, isso termina impactando também na aprendizagem dos pequenos.
No portão, faço questão de fazer comentários do tipo: “Pedro, você contou para sua mãe sobre o texto bacana que a turma do infantil 2 fez porque você soube recontar algumas partes muito importantes da história?” ou “O senhor sabia que, ontem, o Cauã ensinou para outras crianças como se joga guerra de dados por que ele está muito sabido na Matemática?”. Esses comentários são dirigidos, principalmente, às famílias das crianças mais tímidas ou que demonstram pouco interesse em participar das atividades.
Quando os pais sentem o quanto valorizamos as conquistas dos filhos, eles também passam a fazê-lo.
Cuidados necessários
Um princípio que considero importantíssimo é nunca reclamar da criança para a família, mesmo que ela tenha tido um comportamento muito difícil. Por outro lado, se um aluno que, na maioria das vezes é difícil de lidar, faz qualquer atividade ou tem um comportamento mais colaborativo, faço questão de elogiar.
Muitas vezes, alguns pais querem ficar relatando causos e mais causos quando encontram alguém que se interessa pela criança ou é um pouco mais atencioso. Nessas situações, procuro pedir licença para ir tomar alguma providência. É preciso cuidar para que os familiares não confundam o acompanhamento pedagógico que fazemos dos filhos com consultório terapêutico para toda a família.
Na próxima semana, continuarei falando sobre o relacionamento com os familiares, mas sob o enfoque de encontrar encaminhamentos em conjunto – só depois de a escola já ter tentado diversas alternativas, é claro.

terça-feira, 8 de julho de 2014


Aids: formação e orientação para barrar o preconceito e o medo


Ilustração: Shutterstock
O tempo ainda não conseguiu romper o preconceito e o medo quando se trata da Aids. Para uma boa parte da população brasileira, ainda persiste a falta de informação e de conhecimento. E também entre nós, educadores, há sentimentos enraizados que podem provocar uma discriminação involuntária. Essa minha convicção nasceu quando matriculei uma garotinha de 3 anos na creche onde trabalhei.
Na época, eu tinha poucas referências sobre o assunto e lembro-me, vividamente, quando a mãe veio falar comigo, contou da adoção da menina e me mostrou o relatório médico com orientações do setor de epidemiologia. As informações foram esclarecedoras e mostraram, por exemplo, que o sigilo precisava ser garantido.
Fiquei preocupada ao lembrar dos auxiliares de Educação, que permanecem oito horas diárias com os alunos e não tinham preparo para lidar com essa situação. Procurei mais orientações com a Vigilância Sanitária e Epidemiológica do município para poder orientar a equipe.
Solidários à minha preocupação, me disseram para atender essa menina como as demais, promovendo na escola orientações sobre acidentes que podem machucar seriamente qualquer criança. Como a garota passaria a frequentar as aulas na semana seguinte, reuni os auxiliares de Educação e os professores. Mostrei dados sobre os acidentes dentro da escola e, mantendo o sigilo, aproveitei para dar ênfase à nova matrícula e lembrar que a criança tinha uma saúde debilitada e não poderia ter machucados sérios. Conjuntamente traçamos algumas metas para evitar os acidentes e iniciamos o nosso trabalho.
Passados alguns meses, a Secretaria Municipal de Educação notou o número crescente de crianças com HIV na rede e promoveu uma formação em parceria com a Secretaria Municipal de Saúde. Médicos, enfermeiros e agentes de saúde especialistas no assunto participaram e explicaram sobre o vírus e os cuidados necessários. Promotores públicos expuseram a legislação que ampara o portador de HIV e a sanção aplicada para quem promover discriminação.
Passamos a receber luvas descartáveis para dar os primeiros atendimentos na escola, tudo sem expor a condição da aluna. Parece que tudo ficou acertado, não é mesmo? Tenho consciência de que resolvemos uma pequena parte e ainda há profissionais cheios de dúvidas que pensam, por exemplo, que um beijo no rosto seria suficiente para se contaminar.
Por isso, o assunto continua presente no nosso planejamento. Na escola em que trabalho agora, estamos sempre atentos e marcamos para o início de agosto mais uma palestra para pais, professores, alunos e funcionários sobre o assunto. Assim, compartilhamos nossas dúvidas e buscamos resolvê-las.

segunda-feira, 7 de julho de 2014


Replanejamento: momento de pensar as ações pedagógicas do segundo semestre


O replanejamento é fonte de aprendizagem, de ensino e de revisão das práticas pedagógicas (Foto: Manuela Novais)
O replanejamento é fonte de aprendizagem, de ensino e de revisão das práticas pedagógicas (Foto: Manuela Novais)
Em breve, daremos início a mais um semestre letivo. Antes, no entanto, precisamos avaliar como foram os primeiros seis meses em relação às metas previstas, à evolução da aprendizagem das crianças e aos resultados alcançados. Também precisamos considerar quais foram as condições de ensino e definir o que ainda precisa ser realizado para atingir o que foi proposto para 2014 e quais são os encaminhamentos que devemos dar à formação dos professores.
Para mim, o replanejamento das ações é fonte de aprendizagem, de ensino e de revisão das práticas pedagógicas. É uma forma participativa em que todos os que lidam direta ou indiretamente com o processo de ensino e aprendizagem estão mobilizados para analisar, debater e ajustar as estratégias de atuação para, coletivamente, chegar à solução dos problemas e ao atendimento das demandas da escola.
Como me preparo para o replanejamento
Para realizá-lo, costumo organizar uma ou duas reuniões com todos os professores no início do segundo semestre. Antes do encontro,analiso previamente os dados da instituição. Meu foco é nos seguintes aspectos:
  • O que está por trás dos dados das avaliações externas e internas. Faço uma análise quantitativa e qualitativa;
  • Os avanços e as necessidades de aprendizagem da escola e de cada ano/turma;
  • Os conteúdos previstos para o segundo semestre e os conteúdos trabalhados em sala até o final do primeiro semestre;
  • O que os alunos sabem e pensam sobre a escrita;
  • As análises das práticas pedagógicas organizadas pela escola (metodologias, projetos, momentos de recuperação, grupos de apoio, avaliações e plano de adaptação curricular aos alunos com deficiências);
Com esses aspectos levantados, organizo a pauta de reunião para colocá-los em discussão com os professores. Será a partir deles que elaboraremos um plano de intervenção em busca das metas estipuladas no início do ano e do atendimento às necessidades de aprendizagem.
O que priorizar no dia da reunião
Organizar metas e pensar em possíveis intervenções pedagógicas não é fácil e, em geral, o tempo que tenho com os professores não é suficiente para dar conta de tudo. Portanto, priorizo alguns aspectos em relação aos dados que analisei previamente e depois elejo quais merecem mais atenção. A partir daí defino como as informações serão analisadas com todo o grupo e quais  questões precisam  de atenção específica de cada docente.
Geralmente, costumo utilizar duas estratégias, a depender do perfil do grupo de professores e do tempo destinado para a reunião. A primeira é enviar, antes da reunião, um documento para os docentes com questões norteadoras para a reflexão sobre alguns aspectos, como resultado da avaliação externa da escola e resultado de uma avaliação aplicada na turma . No momento do encontro, eles socializam as observações e a partir delas vamos montando o plano de intervenção.  A segunda é dividir a discussão em dois dias e fazer todas as análises com o grupo.
Acredito que, adotando uma dessas estratégias, é possível fazer os professores pensar nas aprendizagens dos alunos e levantar intervenções possíveis de realizar. Caso contrário, a reunião vira uma ação impossível.

sexta-feira, 4 de julho de 2014

Receita para relaxar e renovar as energias: boas leituras!

A partir desta semana, e durante todo o mês de julho, usarei nosso espaço para sugerir leituras que ajudam a aproveitar o descanso merecido do recesso e também podem enriquecer nossa prática profissional, uma vez que não se distanciam de nossa área de atuação: a Educação.
Pensando em alinhavar os temas que discutimos durante esse primeiro semestre, minha intenção é envolvê-los ainda mais na busca constante pelo aprimoramento e o conhecimento. Sendo assim, escolhi o olhar de brilhantes autores para nos guiar nessa proposta.
Como primeira sugestão, para quem ainda não leu ou para quem deseja revisitar aquelas deliciosas páginas, fica a dica: “Ética para meus pais” (*).
Nesse livro, Yves de La Taille, servindo-se do personagem Tomás e de sua família, aborda os seguintes temas: ética, valores e contemporaneidade. O autor premia o leitor com um humor extremamente refinado, levando-nos a refletir sobre situações da vida cotidiana em que pais e professores, mesmo de forma não intencional, assumem prioritariamente valores não morais em detrimento daqueles que deveriam sempre orientar nossas atitudes.
É interessante perceber o compromisso de La Taille, autor e pesquisador da Psicologia Moral, em dar clareza a conceitos complexos da moralidade e relacioná-los ao processo de desenvolvimento humano. Se nas brilhantes publicações anteriores La Taille conversa especificamente com envolvidos em estudos sobre as questões da moral, em “Ética para meus pais” o objetivo principal e certamente alcançado pelo autor foi de atingir, além dos estudiosos do tema, os educadores e os pais.
São relatadas situações familiares e educacionais em que estão presentes temas que já discutimos e que, certamente, continuarão presentes nas cenas cotidianas de nossa profissão: regras morais e convencionais; autoridade e autoritarismo;valores morais e não morais e a lógica da pós-modernidade.
Acreditem: vale a pena conferir! Uma leitura leve e ao mesmo tempo profunda nas reflexões que provoca. Um presente para o período de recesso escolar!

quinta-feira, 3 de julho de 2014


Filmes para estimular debates com jovens e adultos


Aproveito a chegada desse mês de julho, em que muitos de nós estamos em recesso ou férias, para indicar alguns filmes nacionais que podem gerar discussões interessantes com os alunos. A seguir, algumas sugestões de filmes que já usei em sala de aula e acho bem adequados para a EJA:
Tapete Vermelho (Direção: Luiz Alberto Pereira | 2006 | 102 minutos | Brasil): É a história divertida de um caipira paulista que resolve, nos dias atuais, levar o filho para assistir a um filme do grande comediante Mazzaroppi no cinema. As aventuras e desventuras dessa família que sai do isolamento da roça em busca do cinema na cidade são emocionantes e engraçadas. É um bom filme para discutir as diferenças de costumes no meio rural e urbano, o choque cultural que os migrantes sofrem e as dificuldades na vida na cidade. Um aspecto que rendeu bastante discussão com meus alunos foi o papel que as curandeiras têm no mundo rural, em contraposição aos remédios industrializados do mundo urbano.
Besouro (Direção: João Daniel Tikhomiroff | 2009 | 95 minutos | Brasil): Narra os feitos do lendário capoeirista Besouro Mangangá, na Bahia do início do século 20. O filme expõe a triste realidade dos negros que continuavam sendo tratados como escravos mesmo após a abolição. É uma ótima maneira para iniciar discussões sobre a situação do negro no passado e no presente, além de alguns aspectos da cultura afro-brasileira, como a religião e a própria capoeira. O aspecto religioso foi um ponto de muita discussão entre meus alunos, o que acabou revelando preconceitos sobre as religiões de matriz africana, mesmo entre estudantes negros. O filme também abre possibilidades para conversar sobre a produção de açúcar, que até hoje é uma atividade econômica importante no Brasil.
Lixo extraordinário (Direção:  Lucy Walker e outros | 2010 | 99 minutos | Brasil): Documentário sobre a intervenção que o artista Vik Muniz, reconhecido internacionalmente, fez juntamente com os catadores de material reciclável no aterro do Jardim Gramacho (RJ), um dos maiores do mundo. O artista propõe a realização de obras em conjunto com os catadores, que não conhecem nada do mundo artístico. O filme abre portas para várias discussões interessantes: o consumo exagerado que dá origem ao imenso acúmulo de lixo que se vê no Jardim Gramacho; as discrepâncias entre dois mundos, o do artista e o dos catadores; o cotidiano e a organização dos catadores em uma associação profissional; o preconceito com o trabalho dos catadores; a questão do descarte de lixo e da reciclagem de materiais; a transformação na visão de mundo das pessoas por conta do contato com a arte. Há vários trechos em inglês, com legendas, o que pode requerer alguma mediação do professor.
Anjos do sol (Direção: Rudi Lagemann | 2006 | 92 minutos | Brasil): Conta a história de uma garota do interior do Brasil que é vendida pelos pais para um agenciador de prostitutas. É um filme que trata de temáticas delicadas e com enredo triste.  É um bom iniciador de discussões sobre gênero e sexualidade e pode ser usado para abordar questões como gravidez indesejada, exploração sexual infantil, tráfico de pessoas e violência contra as mulheres. Também trata das condições precárias de vida em certos locais do país, como nos garimpos. Apesar de gostarem do filme, meus alunos sentiram-se chocados e muitos se emocionaram; não é um filme que deixa as pessoas alegres. Não podemos esquecer que as várias situações de violência retratadas são comuns na vida de muitos brasileiros.

quarta-feira, 2 de julho de 2014


Como ajudar o professor quando surgem questionamentos na reunião de pais.


Quando surge algum questionamento na reunião de pais, temos que deixar claro que existe um planejamento e um acompanhamento de cada professor e de cada criança (Foto: Gabriela Portilho)
Quando surge algum questionamento na reunião de pais, temos que deixar claro que existe um planejamento e um acompanhamento de cada professor e de cada criança (Foto: Gabriela Portilho)
Final de semestre é momento de apresentar às famílias o resultado do trabalho realizado e explicitar as aprendizagens das crianças, certo? Essa pauta é comum em todas as escolas e costuma ser bastante esperada pelos pais.
Num desses encontros com os responsáveis da turma de 5 anos, no entanto, aconteceu uma situação bem complicada com uma das professoras, a Ana.
A pauta estava preparada e escrita na lousa, o portfólio e as pastas de produções de cada criança estavam cuidadosamente organizados nas mesas e os murais com as pesquisas coletivas publicadas em diferentes tipos de textos informativos também estavam expostos. Tudo estava indo bem, até chegar o momento de apresentar o gráfico das aprendizagens em relação ao sistema de escrita e explicar o quanto a turma avançou.
Nesse momento, a avó de um aluno, aposentada com muita experiência em alfabetização, questionou: “Professora, a senhora poderia me explicar por que não corrige as palavras escritas erradas e que têm letras faltando nas atividades do meu neto e de muitos outros alunos? Onde já se viu uma escola deixar fixar esses erros!”.
Ana já havia percebido que a avó tinha conversado com outros pais, olhando os portfólios das pessoas que estavam próximas a ela. Nessa hora, um pai falou que também não compreendia porque o filho escrevia daquela maneira na escola, pois, quando ele fazia atividades em casa a seu lado, ele escrevia todas as palavras corretamente.
Educadamente, a professora falou que, na reunião de começo do ano, havia explicitado o processo que todas as crianças percorrem na construção dos seus saberes e que tais erros só mostram como cada uma está refletindo sobre o sistema de escrita.
A avó não se convenceu e continuou falando da falta de exercícios de coordenação motora, de cópia e de outras atividades que foram muito usadas antigamente, quando ainda não compreendíamos como as crianças aprendem.

A essa altura, alguns pais já estavam impacientes. Por isso, Ana falou que concluiria a reunião apresentando as avaliações dos outros eixos (ainda faltava falar de Arte, Movimento e Matemática), mas que, ao final, poderia explicar melhor o processo de alfabetização para quem ainda tinha dúvidas.A professora tentou explicar colocando alguns exemplos de escrita na lousa. Alguns pais contribuíram com a explanação, relatando suas experiências com outros filhos que já haviam frequentado a escola e estavam alfabetizados. Apesar dos esforços, nada convencia a avó de que havia um planejamento  por trás do processo adotado pela escola e muitas pesquisas que avalizavam o que estava ocorrendo com seu neto e os colegas.
Alguns familiares já haviam me alertado sobre o que havia ocorrido e sugerido que eu fosse auxiliar a professora no final da reunião. Rapidamente, peguei meu computador com o material do Programa de Formação de Professores Alfabetizadores e um cartaz que tenho com amostras de escritas das diferentes fases e fui para a sala da Ana.
Como o coordenador pedagógico pode intervir nessa situação
Pedi licença para a professora para que eu conduzisse a reunião com os pais que tinham dúvidas sobre o processo de alfabetização. Disse a ela que ela poderia continuar dando atenção aos demais que queriam saber sobre outros aspectos.
Convidei o grupo para sentar num canto da sala e passei trechos do vídeo Construção da escrita – primeiros passos, que explicita como as crianças constroem hipóteses sobre a escrita, fazendo questão de mostrar todo o percurso.
Fiz questão de deixar claro que sabíamos o que estávamos fazendo e que existe um planejamento e um acompanhamento de cada professor e de cada criança. Ainda mostrei os gráficos do ano anterior e me coloquei à disposição para outras dúvidas.
Os pais gostaram de compreender melhor e fizeram muitas perguntas. A avó também foi respeitosa e ficou surpresa por toda atenção e material que apoiava nossa prática, mas, sinceramente, acho que, mesmo assim, não consegui convencê-la. Com muito jeito, pedi a ela que agendasse um horário particular para falar mais sobre o assunto, pois a pauta de cada reunião era elaborada considerando o que já foi abordado nos encontros anteriores e esse assunto já havia sido discutido no início do ano