sexta-feira, 18 de julho de 2014

Analfabetos na Alemanha

A despeito da convincente vitória alemã no futebol, país ainda perde o jogo para os índices de analfabetismo
Não tem jeito. Nesta semana, o assunto é a Alemanha.
Por causa do bom desempenho na Copa do Mundo, temos lido e ouvido elogios à capacidade alemã de planejamento, de organização e de disciplina que levam, segundo dizem, ao sucesso.
Dando um salto do futebol para a Educação, gostaria de compartilhar neste espaço umamatéria que me surpreendeu. A despeito do sucesso de sua seleção nacional e da goleada que imprimiu ao Brasil, dados mostram que o sistema educacional alemão está “tomando de 7”: segundo pesquisa  divulgada em julho, na Alemanha existem 7,5 milhões de adultos que não sabem ler e escrever.
Ora, o senso comum nos diz que o analfabetismo é uma característica de países subdesenvolvidos, onde existe pouco dinheiro disponível e baixos índices de desenvolvimento humano, certo? Os dados da Alemanha contradizem em certa medida essa noção: 5º maior PIB do mundo, baixíssima vulnerabilidade social (5º maior IDH do mundo), sede de grandes empresas multinacionais, centro de decisões políticas e econômicas da Comunidade Europeia, terra de grandes universidades e de mais de 100 Prêmios Nobel…  A Alemanha tem também 14% da sua força de trabalho incapaz de ler um texto.
Onde o sistema educacional está falhando de maneira tão grave? Ao que parece, o sistema germânico é muito excludente e não favorece quem, por uma razão ou por outra, não consegue se enquadrar nele. Eis a visão de uma professora da EJA divulgada nessa matéria:
“Segundo Urda Thiessen, professora de alfabetização para adultos entre 18 e 64 anos de idade, o sistema alemão favorece os melhores e oferece poucas chances aos mais fracos. Quem termina o primeiro ano escolar sem saber ler ou escrever corre o risco de ficar analfabeto para sempre.
— No sistema de educação regular, não há nenhuma chance de recuperação desse déficit no início do período escolar, provocado muitas vezes por doenças ou crises familiares, como a separação dos pais — diz Thiessen.
São casos como o de Thomas S., de 21 anos. No primeiro ano escolar, ele faltou muito à escola por motivo de doença. Como os pais não tinham dinheiro para pagar aula particular de apoio, Thomas terminou analfabeto.”
Em uma pesquisa rápida, descobri que, embora esses dados sejam novidade para mim, eles não eram para o Ministério da Educação Alemão. Esta outra matéria (em inglês), informa que números semelhantes foram divulgados em 2011, provocando constrangimento no ministério, que anunciou investimento de cerca de 20 milhões de euros na educação de adultos.
Fazendo um cálculo simples, percebemos que o investimento por aluno é baixíssimo: 20 milhões dividido por 7,5 milhões é igual a 2,7 euros. Cerca de R$ 8 por aluno… para fazer com que uma pessoa adulta estude e deixe de ser analfabeta.
Não tenho o objetivo de chegar à conclusão de que a Educação no Brasil é melhor que na Alemanha. Longe disso. Os dados mais recentes do Índice de Alfabetização Funcional (INAF) nos informam que cerca de 27% dos brasileiros de mais de 15 anos são analfabetos funcionais, o que configura quase o dobro do percentual alemão.
No entanto, vejo muitas semelhanças entre as duas situações. Tanto no Brasil como na Alemanha, o problema do analfabetismo de adultos não é desprezível. Ele já foi amplamente divulgado e as autoridades, no discurso, mostram-se constrangidas. Entretanto, as atitudes efetivamente tomadas e o investimento feito, nos dois casos, ainda são pífios para enfrentar seriamente a questão.

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