quarta-feira, 30 de abril de 2014

Plano de convivência: uma alternativa para a autonomia dos alunos

Alunos da EMEF Francisco Cardona durante assembleia na sala aula, procedimento implantado pela diretora Débora Sacilotto ((Foto: Raoni Maddalena).
Alunos da EMEF Francisco Cardona durante assembleia na sala aula, procedimento implantado pela diretora Débora Sacilotto (Foto: Raoni Maddalena)
Depois de um feriado prolongado, com as energias repostas, voltamos aos nossos afazeres! Em nossos últimos posts, falamos sobre as diferentes manifestações que comprometem a convivência escolar.
É fundamental termos clareza de que nossa postura – tanto frente ao trabalho com o conhecimento, quanto junto aos alunos e aos colegas da equipe – é também responsável pela qualidade do ambiente de nossas aulas. Sendo assim, ao menos dois princípios morais fundamentais devem sustentar nossa prática diária: o do respeito mútuo e o da justiça. Portanto, colocar-se no lugar do outro e considerar as diferentes perspectivas são posturas imprescindíveis ao educador.
Quando compreendemos que as manifestações de desordem e perturbação, tão presentes no contexto escolar, são também manifestações que denunciam algo muitas vezes invisível para o professor, precisamos garantir espaços seguros em nossas aulas para que sejam compartilhados sentimentos, dúvidas e opiniões. Existem estratégias formativas que garantem aos alunos – desde os pequenos da Educação Infantil até os adolescentes dos anos finais do Fundamental e Médio – espaços para falar e pensar sobre si e sobre o outro. São momentos destinados ao diálogo, à escuta, em que o professor garante o direito de todos se posicionarem sem o risco de críticas e constrangimento. No livro A Formação da Personalidade Ética*, a pesquisadora de Psicologia Moral Luciene Tognetta sugere um trabalho valioso para as escolas, contemplando as relações consigo mesmo, com o outro e com a autoridade. Assim, as assembleias de sala, as avaliações do dia, as discussões de dilemas ou de situações de conflitos hipotéticos são algumas práticas em que é dado ao aluno o espaço de reflexão e exercício da criatividade moral, ou seja, oportunidades de pensar em formas construtivas e respeitosas para a resolução de situações conflituosas. Tais práticas, porém, devem ser planejadas e utilizadas sistematicamente e não somente quando o professor sente a necessidade de resolver algum problema específico. Estou falando, então, de garantir no currículo da escola um plano de convivência.
O plano de convivência organiza espaços e tempos destinados ao pleno exercício do diálogo, do respeito, das trocas, enfim, da cidadania. O objetivo principal desse documento é atuar preventivamente quanto às situações de violência, de injustiças e de bullying e seu foco é o protagonismo dos alunos, ou seja, delegar aos estudantes a corresponsabilidade pelos possíveis problemas de convivência. Nessa perspectiva, ao contrário do usual, o professor, autoridade da relação, não é o único responsável pela resolução dos conflitos, mas sim o mediador das situações. Dar protagonismo aos alunos significa confiar que eles são capazes de pensar e agir de maneira respeitosa e construtiva e erradicar a solução de conflitos de forma improvisada e impulsiva.
O primeiro passo, portanto, é dar voz aos estudantes eles. Planejar e garantir espaços de troca entre os pares, por meio de atividades em grupo, elaboração coletiva de regras e de práticas solidárias são alguns exemplos de ações que engajam os alunos, favorecendo o sentimento de pertencimento. Sentir-se pertencente a um grupo, ao processo e à escola é fundamental para uma boa convivência.
No período de 1 a 13 de abril, tive a oportunidade de conhecer algumas escolas da Espanha em que a convivência é considerada conteúdo prioritário do currículo escolar. Nosso grupo constatou o compromisso com o diagnóstico dos maiores problemas e o investimento em estratégias cujo foco principal é a formação integral do aluno. Testemunhamos um trabalho em que não há espaço para o preconceito, o fracasso, o desrespeito, o desprezo. Todos os alunos são importantes e inseridos verdadeiramente no processo.
É fato que há na legislação do país a obrigatoriedade de planejar a convivência, assim como se planejam as diversas áreas de conhecimento. Mas sabemos que somente uma legislação não garante um trabalho efetivo. Tanto é que no Brasil os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) trazem, dentre outros, a ética como tema transversal. Porém, ao considerar a ética como tema a ser abordado transversalmente, ou seja, por todos os profissionais da Educação, o resultado é a inexistência de um trabalho de fato voltado para a orientação ética. O que deveria ser de responsabilidade de todos infelizmente acaba sendo de ninguém.
É determinante para um trabalho construtivo da convivência escolar a mudança de paradigmas: nós, profissionais da Educação, devemos assumir nossas dificuldades como disparadores de uma revisão de nossas práticas, buscando novos estudos e novos caminhos.
E você? Conte como tem trabalhado as questões de convivência com seus alunos. Tem usado estratégias interessantes? Compartilhe conosco.
E antes de me despedir, compartilho meu respeito e reconhecimento pelas inúmeras contribuições dadas pela revista Gestão Escolar, que nessa semana completa 5 anos de existência. Parabéns a toda a equipe que acredita e viabiliza ações para uma educação de qualidade em nosso país.

terça-feira, 29 de abril de 2014

Por que realizar projetos didáticos

Os projetos didáticos têm o objetivo de ensinar um conteúdo específico. Cabe ao coordenador pedagógico estudar com os professores quais serão os materiais utilizados e responder a dúvidas sobre por que e como fazer. Foto: Gabriela Portilho
Os projetos didáticos têm o objetivo de ensinar um conteúdo específico. Cabe ao coordenador pedagógico estudar com os professores quais serão os materiais utilizados e responder a dúvidas sobre por que e como fazer. Foto: Gabriela Portilho
Uma distinção muito importante que os professores devem fazer durante o planejamento é o que são projetos temáticos e o que são projetos didáticos.
Os primeiros costumam envolver toda a escola e, geralmente, estão voltados para um tema específico ou uma data comemorativa. É comum a escola toda trabalhar o ano inteiro com o tema água ou meio ambiente, por exemplo. Os projetos didáticos, por sua vez, são elaborados para trabalhar conteúdos específicos e devem possuir um produto final, isto é, um resultado concreto de uma série de tarefas desenvolvidas ao longo de todo o trabalho.
A meu ver, os projetos didáticos são mais adequados para os propósitos pedagógicos da escola, uma vez que dificilmente perdemos de vista o objetivo de ensinar e aprender um conteúdo específico. No caso dos projetos temáticos, pode acontecer de os professores proporem diversas atividades divertidas, mas que não contribuem para a aprendizagem de algum conteúdo.
Exemplos de projetos didáticos
Aqui na minha escola, trabalhamos com uma série de projetos ligados ao programa Ler e Escrever, da Secretaria da Educação do Estado de São Paulo. Eles são voltados para turmas do 1º ao 5º ano.
Um deles é o “Quem reescreve um conto, aprende um tanto”. O objetivo é ensinar um determinado gênero textual. Entre as atividades que as crianças desenvolvem está ler contos, reescrevê-los para desenvolver o comportamento leitor e pensar nas questões ortográficas e na pontuação. O produto final consiste em cada dupla de aluno montar um livrinho com as reescritas e ilustrá-lo. Os destinatários são os alunos mais novos.
Outro projeto que desenvolvemos é o “Cantigas populares”. Em sala, os alunos cantam as canções junto com a professora, que propõe atividades de reescrita coletiva. A finalidade é fazer com que as crianças reflitam sobre o sistema de escrita, colocando em jogo suas hipóteses. O produto final pode ser um livro com as cantigas favoritas da turma. Seu destino é a biblioteca da escola.
O que eu acho mais importante ressaltar é que os professores devem conhecer todas as etapas dos projetos didáticos antes de colocarem em prática. No entanto, mais que desenvolver o trabalho, os docentes precisam saber o porquê de aquele projeto estar ali naquele semestre e para aquele ano/série. Eles devem ter clareza do que as crianças aprenderão com ele, como administrar o tempo e o espaço para as atividades na rotina da semana.
E qual é o papel do coordenador pedagógico nessa história? Bom, para que tudo isso aconteça, devemos estudar junto com a equipe todo o material durante as Aulas de Trabalho Pedagógico Coletivo (ATPC) e responder a dúvidas sobre o que, por que e como fazer de determinada forma.

segunda-feira, 28 de abril de 2014

Ações para organizar e movimentar a biblioteca escolar

Foto: Gabriela Portilho
Aos poucos, as prateleiras da biblioteca são ocupadas pelos livros e os alunos ganham um espaço adequado para a leitura. Foto: Gabriela Portilho
Migrei da Educação Infantil para o Ensino Fundamental em 2004 e a escola onde estou hoje tem o dobro de tamanho do local em que trabalhei antes. Ao chegar aqui, o primeiro espaço que chamou minha atenção foi a biblioteca, localizada bem na entrada, na ala direita. Quando vi os vários armários (vazios) e as mesas redondas, pensei: “Uau… Que privilégio desses alunos! Só falta dar mais vida, enchendo-a de livros.” E, aos poucos, sonhos, poesias, alegrias, mistérios, dramas e aventuras foram tomando conta do local.
Veja o que já implantamos para atingir esses objetivos:
  • Com reservas de verba do PDDE (Programa Dinheiro Direto na Escola) comprei mais livros, jogos, ventiladores e cortinas para deixar o ambiente adequado para o uso de todos. Quando os computadores do Proinfo (Programa Nacional de Tecnologia Educacional) chegaram, instalei todos nesse espaço de pesquisa. Assim, a internet se tornou mais uma aliada da leitura.
  • Fiz um cronograma para que todos pudessem usar a sala, já que ela também é compartilhada com professores de xadrez e reforço de alfabetização e com o grêmio estudantil. Mesmo com vários cuidados, nem tudo é perfeito! Sempre tem alguém que extrapola os combinados e atrapalha todo o esquema de controle e organização. Mas vamos retomando as regras.
  • Como não há a função de bibliotecário em nossa rede, uma diretora de outra escola me contou que resolveu o problema delegando a organização da biblioteca a uma auxiliar de Educação. Corri conversar com a equipe de auxiliares daqui e passei essa responsabilidade à Daniela.
  • Junto com outra auxiliar, Juliana, Daniela contabilizou, etiquetou e digitou informações sobre todos os itens do acervo para melhor controle. Pretendemos comprar um computador para uso exclusivo da biblioteca e assim abandonar o caderno onde os empréstimos são registrados atualmente.
  • Se a biblioteca vai estar ocupada no horário em que algum professor planejou uma atividade, os livros são retirados antecipadamente pela Daniela e levados na sala de aula para uso do professor e dos alunos.
  • Também implantamos o Projeto Leitura. Os livros são selecionados pelo professor e colocados em pastas que são levadas para casa pelos alunos. Em um caderno, cada família registra como foi a leitura em conjunto. Com o material também vão os combinados sobre a devolução e o cuidado com o livro. A cada semana, cerca de dez alunos levam a pasta para casa.
Tenho que confessar que eu era muito controladora de livros. Por amá-los e por saber a dificuldade de tê-los, ficava em cima dos poucos itens do acervo. Depois de muitos puxões de orelha dos professores tive que aprender a me segurar. Estou bem melhor do que era antes, mas sempre estou por lá “dando uma olhadinha”.
Vejo que, felizmente, os livros não param nas prateleiras!  Nosso próximo projeto é transformar a biblioteca em um ambiente utilizado por toda a comunidade escolar. Queremos que os pais também tenham acesso a ela, retirando livros, lendo-os no local e até mesmo utilizando os computadores para acessar a internet. Assim, eles serão ainda mais nossos parceiros para o trabalho fora da sala de aula.

sexta-feira, 25 de abril de 2014

Já pensou em fazer uma retrospectiva sobre a Aids com sua turma?

A recente premiação do norte-americano Matthew McConaughey com o Oscar de melhor ator por sua atuação no filme Clube de Compras Dallas trouxe à tona um assunto que assombrou a vida de muitos nos anos 1980: a epidemia da Aids.
Aproveitando o sucesso nas telas, uma professora me indagou se trabalhar esse filme era um bom caminho para sensibilizar os alunos sobre a importância da prevenção.
Na minha experiência como educadora sexual, percebo que as conversas com os alunos se tornam muito mais produtivas quando a gente apresenta a história de um fato e abre a discussão para uma análise comparativa com os dias de hoje.
Assistindo ao filme não pude deixar de lembrar de Filadélfia (veja aqui), outro sucesso que marcou época ao tratar do assunto e que também garantiu ao seu protagonista (Tom Hanks) a cobiçada estatueta de melhor ator. E, para completar, ainda tive uma grata surpresa ao me deparar com a nova série lançada pelo grupo humorístico Porta dos Fundos (link aqui), que aborda com humor a visão da Aids nos dias de hoje, mais de 30 anos depois de seu surto inicial, e mostra os avanços no diagnóstico da doença e a perspectiva de os infectados poderem levar a vida com qualidade.
Analisando três obras tão distintas, me dei conta de que os diferentes enfoques e questões levantadas são um valioso material para traçar um panorama do surgimento da doença, sua proliferação, avanços do tratamento até os dias de hoje.
Mas ainda precisamos falar de Aids com nossos alunos?
Muitos de nós vimos toda essa evolução da Aids, mas nossos alunos que estão no Ensino Médio, em plena atividade sexual, não! Atualmente, boa parte dos  jovens encara a Aids de maneira simplificada, subestimando seu alcance e seus efeitos devastadores.
Uma boa forma de promover essa reflexão é fazê-los perceber que, mesmo não sendo tão fatal quanto no passado, a Aids é uma doença que deve ser evitada a todo custo, além de mostrar o quanto ela ainda está presente no cotidiano dos jovens.
Muitos de nossos alunos ainda são surpreendidos com o diagnóstico de HIV, como nas décadas de 1980 ou 90. Das 700 mil pessoas que o Ministério da Saúde estima que têm a doença, mais de 150 mil não têm a menor ideia de que estão contaminadas. Outro dado alarmante é que grande parte dos casos de detecção de HIV em meninas só ocorre durante o pré-natal. E, em alguns casos, o feto já pode estar contaminado. Mas, se a gestante fizer o tratamento e receber todos os cuidados necessários durante a gravidez e o parto,  a chance de o bebê se livrar do vírus é grande.  Segundo o Ministério da Saúde, quando todas as medidas preventivas são adotadas, a chance de transmissão vertical cai para menos de 1% (para mais informações acesse aqui).
Dados como esses deixam claro que o trabalho de prevenção nunca pode ser negligenciado. E mais, é importante que o professor oriente os alunos sexualmente ativos a fazerem periodicamente o teste de DST/Aids.  Ele pode ser feito de forma gratuita e anônima em um Centro de Testagem e Aconselhamento do Ministério da Saúde.

quinta-feira, 24 de abril de 2014

Dica para criar sites de graça

Quer criar um ambiente virtual e disponibilizar arquivos, vídeos e imagens para seus colegas de escola ou para seus alunos? O Google Sites permite que você crie uma página com a estrutura que deseja e de forma gratuita. Não é preciso conhecer linguagem de programação e você pode dividir as áreas do site de acordo temas. É possível ainda inserir planilhas, calendários e slides. A vantagem de ter um ambiente virtual como esse é que todos podem ter acesso ao conteúdo publicado.
Antes de um encontro de formação, por exemplo, é possível criar uma página específica no site e disponibilizar todos os materiais de leitura. Veja um exemplo de site criado por uma professora utilizando essa ferramenta.
 
Confira o nosso tutorial com os primeiros passos para criar sua própria página.

Também é possível criar sites gratuitos utilizando outras ferramentas, como Wix e Yola.

quarta-feira, 23 de abril de 2014

Se a aprendizagem pode ser qualificada, as situações didáticas devem mudar!

Não há razões para insistir em uma situação didática se ele não faz mais sentido para qualificar a aprendizagem das crianças. Foto: Gabriela Portilho
Não há razões para insistir em uma situação didática se ele não faz mais sentido para qualificar a aprendizagem das crianças. Foto: Gabriela Portilho
Uma das coisas bacanas em Educação é que estamos o tempo todo estudando, revendo e reestruturando nossos saberes.  Quando estudamos, tematizamos e refletimos coletivamente sobre nossa prática. Assim, podemos deixar de fazer algumas coisas e incorporar outras, respaldadas nas concepções teóricas e pesquisas da área.
Nas formações sempre acontecem as discussões mais calorosas em relação às práticas e encaminhamentos das situações didáticas. Nada como uma boa reflexão com pessoas comprometidas com seu fazer pedagógico! Sempre costumo deixar claro para os professores que adoro mudar de opinião, desde que haja bons argumentos para essa mudança. Não existe razão para um coordenador pedagógico insistir em querer que algo seja perpetuado se isso não faz mais sentido.
Um exemplo de mudança
Uma das mudanças que fizemos na escola foi na avaliação dos projetos de Natureza e Sociedade do grupo de 5 anos. No primeiro semestre, como parte do projeto “Caminhos do Rio”, as crianças pesquisavam sobre a importância da água, as características do rio Paraíba e o seu percurso pelas cidades do Vale do Paraíba. O projeto era bem bacana, mas as professoras achavam que era muito conteúdo a ser trabalhado nos primeiros seis meses. Nessa época, ainda entram muitas crianças novas, há muitas trocas de período, inúmeras demandas de início de ano, inclusive de adaptação à escola e às atividades de rotina.
Depois de muitas reflexões coletivas, achamos que seria melhor deixar apenas um projeto sobre animais no segundo semestre que atenderiam aos objetivos de Natureza e Sociedade e tiramos o “Caminhos do Rio” do planejamento do primeiro semestre. Alguns conteúdos desse eixo seriam abordados em atividades ocasionais e o foco maior seria nos eixos de Movimento, Leitura e Identidade e Autonomia.  Foi uma boa mudança, pois os argumentos eram em função das aprendizagens das crianças.
O que fazer quando os argumentos não se sustentam?
Uma professora novata na Educação Infantil, mas bem experiente com os anos finais do Ensino Fundamental, assumiu uma turma de 4 anos. Logo que chegou à escola, nos contou que investiu na compra de vários DVDs de filmes da Disney. Ela disse que sabia que as crianças gostavam muito e queria programar duas sessões de cinema semanalmente.
Pedi que ela aguardasse o planejamento dos diferentes eixos e a elaboração do quadro de rotina semanal. Enquanto isso, orientei que utilizasse o mesmo planejamento de suas colegas de nível.
Quando ela participou da elaboração dos planejamentos, ainda tentou encaixar os DVDs, mas logo viu que os objetivos e os conteúdos do que estava sendo programado não contemplavam esse tipo de filme.
Para esclarecer as dúvidas dessa professora, agendei um momento de atendimento individual para conversarmos sobre o papel da escola na Educação Infantil. Trocarmos ideias sobre os conteúdos de aprendizagem das diferentes turmas e o quanto essas crianças, que moram em casas pequenas, sem quintal e em avenidas muito movimentadas, passavam o período contrário à escola em frente da TV. Mostrei-lhe nosso acervo de literatura e o trabalho que fazíamos com os clássicos e falei também sobre a importância de assegurar a hora da história, o reconto e o faz de conta diariamente.
Bem, como é uma professora bem comprometida, hoje ela ri da situação e está compreendendo cada vez mais quantos projetos e sequência bacanas podemos fazer com os pequenos para atender às suas demandas de aprendizagem. Na verdade, temos que eleger apenas alguns já que não há tempo para realizar todos. Atualmente, ela sempre brinca: “Querer fazer só porque as crianças gostam não vale, não é Leninha?”.
Fazer escolhas, eleger conteúdos de aprendizagem mais significativos, definir projetos e sequências considerando o real papel da escola é responsabilidade de toda a equipe. No entanto, cabe ao coordenador mediar essa reflexão. Por isso, estudar e se atualizar sempre é nosso dever, vocês não acham?
Um abraço, Leninha

terça-feira, 22 de abril de 2014

Vídeos misturam poesia de Shakespeare e cenas do cotidiano

“Ser ou não ser, eis a questão”. Você com certeza já ouviu essa frase, não é mesmo? O trecho em que Hamlet – protagonista da peça de teatro homônima – questiona a si mesmo sobre as escolhas que deve fazer em sua vida comprova o alcance da obra do poeta e dramaturgo Wiliam Shakespeare. Em 26 de abril, sua morte completa 450 anos, mas sua importância e sua arte continuam repercutindo mundo afora.
Inspirado pela atualidade da obra, o diretor teatral americano Ross Williams resolveu misturar arte e tecnologia para criar o The Sonnet Project – New York Shakespeare Exchange. Em 154 diferentes lugares da cidade de Nova York, 154 atores leem 154 diferentes sonetos do poeta. O projeto começou em 2013, mas ainda está no ar, reprisando os vídeos que foram gravados ao longo do ano passado.
A ideia, nas palavras do próprio Ross, é evocar a presença do dramaturgo inglês em lugares e atividades cotidianas, deixando de lado o aspecto icônico que envolve a obra de Shakespeare. “Shakespeare era um artista e, como todos os outros, ele estava tentando encontrar sua própria voz. Para nós, não é bom que ele esteja em um pedestal. Se pudermos desmistificar seu trabalho e conectá-lo com nossa cultura, conseguiremos então atingir o que é central em sua obra, aquilo que ele pode revelar para nós e sobre nós”, comenta o diretor no site do The Sonnet Project.
O projeto é uma boa pedida para trabalhar o tema nas aulas de Língua Estrangeira. Apesar dos poemas estarem escritos em inglês arcaico, os vídeos são curtos e a interpretação dos atores contribui para a compreensão do conteúdo. É possível ainda aproveitar as estruturas gramaticais para indicar a evolução da língua inglesa da época do dramaturgo até os dias de hoje – a presença de pronomes como “Thou” e “Ye”, por exemplo, caíram completamente em desuso, mas evocam a formalidade ainda tão presente no Inglês britânico.


Os desafios de organizar as visitas de campo na Educação Infantil.

Diante da insistência dos pais em acompanhar seus filhos nas pesquisas de campo, a escola teve que criar regras para organizar a logística do passeio e garantir os objetivos pedagógicos. Foto: Gabriela Portilho
Diante da insistência dos pais em acompanhar seus filhos nas pesquisas de campo, a escola teve que criar regras para organizar a logística do passeio e garantir os objetivos pedagógicos. Foto: Arquivo pessoal/Leninha Ruiz
Quem não se lembra dos passeios que fez quando era criança? A ida ao zoológico, a museus, a exposições culturais… Em geral, boa parte das pessoas só visita esses lugares quando a escola leva. Mas é claro que esse não é o único argumento que nos faz colocar essas atividades no planejamento do ano letivo.
As saídas da escola precisam, antes de tudo, ser significativas. É importante que as crianças aprendam com a experiência de ver “in loco” o que está sendo objeto de pesquisa, por exemplo, nas aulas do eixo de Natureza e Sociedade. Nada como se impactar com o real tamanho da girafa, ver o elefante se alimentando e as brincadeiras dos macacos num passeio ao zoológico, não é mesmo?
Nos últimos anos, no entanto, organizar esses passeios foi ficando cada vez mais complicado, porque os familiares têm se sentido mais inseguros em deixar seus filhos participarem. Muitos ainda enxergam suas crianças como bebês que ainda não devem sair sem eles e temem os perigos das estradas cheias de carros, ônibus e caminhões e aumento da violência das cidades.
As tentativas de atender às famílias e aos objetivos pedagógicos
Durante algum tempo, apesar da insistência dos professores e da minha em realizar o passeio apenas com os pequenos, visto que tínhamos objetivos pedagógicos específicos, alguns pais continuavam pedindo para acompanhar seus filhos, pois, segundo eles, além de ser uma oportunidade de passear, ficariam mais tranquilos. Com nossa constante negação, vimos que foi caindo o número de crianças que participavam. Por isso, decidimos organizar passeios que permitissem a ida dos responsáveis.
Foram várias as tentativas de organização. Uma delas foi agendar o passeio em um sábado, assim a família toda poderia participar. No entanto, isso entrava em conflito com o foco da nossa pesquisa de campo, porque muitos iam com o objetivo de apenas ter um momento de lazer. Além disso, ainda tínhamos muita dificuldade de organizar toda a logística para atender um número tão grande de participantes e acontecia de famílias não voltarem no horário combinado, irem para a lanchonete ou desviar a rota para fugir de um chuvisco.
Por essas razões, voltamos a planejar o passeio para um dia de semana e limitamos a um acompanhante adulto por criança. Dessa forma, cada professor conseguiria acompanhar sua turma e fazer as intervenções planejadas para a pesquisa de campo. Essa ação facilitou muito, porém, as reclamações não pararam. As famílias continuaram insistindo que gostariam de levar irmãos, avós, tias, mesmo sendo durante a semana.
Estabelecendo novas regras para os passeios
Como queríamos assegurar o maior número de alunos nas visitas, consideramos as solicitações das famílias e retomamos o assunto na escola.
Depois de muitas trocas de ideias com os professores, com a diretora da escola e alguns familiares, resolvemos contratar uma empresa especializada em excursões e que conta com monitores que organizam não só as crianças, mas também os pais, utilizando apitos, coletes de identificação e técnicas de agrupamento. Assim, não tivemos mais problemas com famílias que se desgarravam do grupo e só retornavam bem depois do horário combinado para a saída.
É claro que precisamos levar em consideração que o preço do passeio aumentou depois dessa decisão. No entanto, a segurança oferecida pela empresa e o profissionalismo na organização do passeio convenceu as famílias a aceitar. Aliás, nenhuma criança nunca deixou de participar por não ter como pagar, pois sempre reservamos parte do lucro das festas e outras arrecadações da escola para custear os pequenos que não poderiam pagar.
Para assegurar os propósitos didáticos, cada professor se comprometeu em sempre fazer uma reunião com os pais ou responsáveis que participarão antes do passeio. Nesse encontro, ele passa toda a orientação do que precisa ser observado em campo, entrega umroteiro para cada um juntamente com um bloquinho para que anotem alguns dados sobre as características dos animais. Essas informações serão utilizadas para a roda de conversa e para a elaboração dos textos informativos em sala de aula.

terça-feira, 15 de abril de 2014

Os alunos não estudam para as provas. O que fazer?

Antes de qualquer coisa, é necessário abandonar a lógica de que o estudo só tem lugar na véspera de avaliações. Ele tem de ser parte de uma rotina permanente. Estudar é um trabalho ativo de construção de significados que requer disciplina, esforço e apropriação de condutas vinculadas à vida acadêmica, na qual a leitura e a escrita figuram como ferramentas para o aprendizado de novos conhecimentos sobre o mundo social e natural. A escola deve assumir essa prática como conteúdo curricular e ensiná-la às crianças, investindo no fortalecimento do sentido das tarefas escolares, de modo que possam realizá-las no âmbito de um projeto pessoal de aprendizagem. Fazer pesquisas, tomar notas de elementos importantes de um texto escrito ou oral, elaborar esquemas e sínteses com os principais dados de um tema, ter o caderno como um instrumento de revisão e registrar e compartilhar saberes, entre outros comportamentos de estudante, precisam ser garantidos no Ensino Fundamental. Alternando mediações didáticas em situações coletivas, colaborativas e individuais, você deve destinar aulas para o ensino e a aprendizagem de tais práticas de linguagem de modo que os educandos conquistem a autonomia de maneira progressiva. Dessa forma, no período das provas, eles podem revisar os conteúdos com base em registros pessoais, sínteses e apontamentos feitos no decorrer do processo. O suíço Philippe Perrenoud tematiza questões sobre o sentido do trabalho escolar para o estudante no livro Ofício do Aluno e Sentido do Trabalho Escolar (240 págs., Ed. Porto, 16,65 euros).

segunda-feira, 14 de abril de 2014

Pesquisa combate mito das famílias desestruturadas

Professor da Universidade Federal de Minas Gerais Cláudio Nogueira afirma que relação entre pobreza e fracasso escolar é falsa. E mais: aumentam os casos de depredação de escolas

sexta-feira, 11 de abril de 2014

Por que assegurar práticas sociais nas situações didáticas

Na escola, é preciso deixar claro que ainda existem práticas que não estão de acordo com a realidade das nossas vidas, como não poder conversar na hora do lanche. Foto: Gabriela Portilho
Na escola, é preciso deixar claro que ainda existem práticas que não estão de acordo com a realidade das nossas vidas, como não poder conversar na hora do lanche. Foto: Gabriela Portilho
Depois de um encontro de formação, um professor veio me procurar com uma dúvida. Ele não estava entendendo porque eu insisti na importância de assegurarmos a prática social nas diferentes situações didáticas na sala de aula. Na visão dele, tudo o que a escola faz já é uma prática desse tipo, uma vez que a maioria das situações acontece da mesma maneira há séculos. Por que, então, eu martelava para que aquele grupo de professores planejasse minuciosamente as atividades de aprendizagem com esse propósito, se já era um caminho natural?
A pergunta que ele me fez veio muito a calhar, pois só assim pude me dar conta da confusão que um conceito mal definido estava causando naquele grupo de profissionais. Depois desse questionamento, achei importante deixar claro alguns pontos.
O que é prática social?
É o conjunto de ações, de encaminhamentos e de modo de ser e viver que rege nossa vida. Dentro da escola, queremos que as atividades de aprendizagem estejam o mais próximas possível de como é na realidade. Exemplificando: no dia a dia, fazemos cálculos diversos para administrar nosso dinheiro, para saber quanto tempo cada compromisso vai durar no planejamento da semana ou para estimar o quanto de pães e bebidas precisaremos comprar para o café da manhã. Ou seja, realizamos cálculos porque temos problemas a resolver e decisões a tomar.
É claro que, na Educação Infantil, não podemos começar propondo contas para saber quanto de dinheiro vai sobrar no final do mês. Isso não faria sentido para os pequenos. Nessa faixa etária, a prática social que deve permear a maioria das atividades é a brincadeira, porque a linguagem da criança por excelência é o faz de conta. Sabendo disso, podemos propor todos os tipos de situações didáticas se ajustamos os momentos de aprendizagem utilizando jogos e desafios. Dessa forma, conseguimos assegurar que a criança vai mobilizar todos os seus esquemas para participar da atividade.
Existem coisas que só a escola faz
Acho que foi essencial deixar claro que ainda permanecem algumas falsas ideias e práticas na escola que não fazem parte das práticas sociais.
Dizer que na hora do lanche não pode conversar porque é hora de comer. Isso é falso, pois nada é mais social do que se reunir para almoçar, jantar ou tomar café. Nessas horas, é muito comum papear ou tomar decisões importantes do trabalho. Nesse caso, o que podemos orientar os pequenos a fazer é conversar à vontade enquanto estão sentados se alimentando, desde que mastiguem com a boca fechada.
Pedir para as crianças andarem em fila quando precisam ir de um lugar para o outro.  Todas as vezes que levo os alunos ao zoológico fico perplexa de ver várias escolas fazendo os pequenos andarem por todas as ruas (daquele espaço enorme!) em fila e com as mãozinhas uns nos ombros do outro.  É tão mais fácil pedir para que deem as mãos de três em três, enquanto o professor anda ao lado para acompanhá-los. Isso é prática social, porque é assim que andamos com nossos filhos pelas ruas, de mãos dadas e do lado deles.
Dividir a turma em vários grupos para elaborar cartazes de um tema e colocar todos no mesmo mural. Quantas vezes já vimos propostas assim: todos pesquisam sobre um determinado assunto e a tarefa é fazer um cartaz, por exemplo, sobre a dengue. Depois do final da atividade, o professor expõe tudo o que foi feito no mesmo lugar, como o mural da sala. Mas se a ideia de elaborar esse material é informar a comunidade sobre os perigos da doença, qual é o sentido de não espalhá-los por toda a escola e pedir para as famílias fixá-los em alguns pontos de comércio do bairro?
Acredito que o nosso desafio como educadores é sempre pensar numa maneira de configurar a situação didática como uma brincadeira ou como seria na vida real, sem subestimar as crianças. Um bom exemplo são as pesquisas que fazemos no eixo Natureza e Sociedade, porque as crianças se interessam muito por detalhes da vida de um grupo de animais.  Nesse caso, é possível registrar, fazer um portfólio, elaborar um mural com diferentes produtos informativos (desenhos, fotos, textos, etc.) ou organizar um seminário oral para apresentar para interlocutores reais, como os colegas e as famílias.
Certamente os pequenos vão se envolver muito mais nas propostas didáticas se o propósito está claro para elas, seja ele lúdico ou que mobilize sua curiosidade.
Bom, voltando ao professor do início… Depois que conversamos, ele riu e disse que concordava com os pontos que levantei. No outro encontro, ele nos brindou com várias histórias e “causos” do que ele próprio já fez ou fizeram com ele que só acontece na escola.

quinta-feira, 10 de abril de 2014


Como funciona uma lousa digital?

Alunos do colégio Miguel de Cervantes observam uma lousa digital, que recebe informações de um computador, controlado pelo professor, e exibe imagens em 3D com som estéreo. Foto: Fernando Moraes
Alunos do colégio Miguel de Cervantesobservam uma lousa digital, que recebeinformações de um computador, controlado pelo professor, e exibe imagens em 3D com som estéreo.  Foto: Fernando Moraes
A lousa digital é como uma tela imensa de um computador, porém mais inteligente, pois é sensível ao toque. Desta forma, tudo o que se pensar em termos de recursos de um computador, de multimídia, simulação de imagens e navegação na internet é possível com ela. Ou seja, funciona como um computador, mas com uma tela melhor e maior.
O professor pode preparar apresentações em programas comuns de computador, como Power Point, por exemplo, e complementar com links de sites. Durante a aula, é possível, enquanto apresenta o conteúdo programado, navegar na internet com os estudantes. Pode ainda criar ou utilizar jogos e atividades interativas, contando com a participação dos alunos, que vão até a lousa e escrevem nela por meio de um teclado virtual - como aqueles de páginas de banco na internet - ou por meio de uma caneta especial ou com o dedo, já que a lousa lê ambas as formas.
O ensino conta com novos recursos, pois é possível, por exemplo, fazer apresentações em três dimensões para apresentar o corpo humano, e estudar geografia com a ajuda de mapas feitos por satélite e disponíveis em sites como o Google Maps ou Google Earth. "Na lousa digital, a criatividade é o limite", comenta André Asquenazi, professor de tecnologia da escola Lumiar Lageado, de Santo Antonio do Pinhal, a 173 km da capital paulista.
Nada do que é feito na lousa digital se perde, pois se o professor quiser, é possível salvar a aula etapa por etapa, a cada contribuição sua ou dos alunos. Assim as aulas podem ser guardadas para sempre e até compartilhada com os estudantes, via e-mail.
Na Lumiar Lageado, os professores ainda estão se adaptando à nova tecnologia e recebendo treinamento. "Mas as crianças já dominam e o interesse delas pelas aulas que utilizam essa novidade é muito superior àquelas sem ela", diz o professor Asquenazi.
A lousa digital, segundo o professor, tem permitido com que os alunos do Ensino Fundamental façam uma horta. De início, a turma desenvolve uma horta virtual na lousa, planejando os canteiros, a medida da área de cada plantio antes de partir para a ação. "Depois, vamos pegar o desenho virtual e fazê-lo real na nossa área de terra", conta o professor. "O mais empolgante nisso é que a criação será coletiva, no virtual e no real", afirma.
Mas ainda fica uma pergunta no ar: qual é a diferença, no aprendizado das crianças, em usar a lousa digital ou os computadores? Este será um grande desafio para o futuro.

quarta-feira, 9 de abril de 2014

Uma conversa com os professores sobre a observação de aulas

A observação das práticas docentes em aula é um trabalho de parceria para contribuir para o avanço das aprendizagens das crianças. Foto: Gabriela Portilho
A observação das práticas docentes em aula é um trabalho de parceria para contribuir para o avanço da aprendizagem das crianças. Foto: Gabriela Portilho
Uma das funções do coordenador pedagógico é acompanhar e avaliar o ensino e o processo de aprendizagem. Esse acompanhamento pode acontecer de várias formas, por exemplo, por meio da análise dos portfólios das turmas e dos cadernos dos alunos e também observando as aulas dos professores.
Este ano, recebi alguns professores novos e aproveitei para falar com todos sobre esse assunto na reunião de planejamento que aconteceu no início de março. Deixei claro que o principal objetivo da observação não é vigiar o trabalho deles, mas criar uma cumplicidade entre a prática docente, minhas orientações e o avanço da aprendizagem das crianças.
Ou seja, trata-se de parceria, no sentido de que o coordenador deve saber orientar os professores quantos às suas práticas ao mesmo tempo em que respeita seus saberes. Em contrapartida, os docentes devem estar abertos para ouvir as orientações do coordenador, se dispondo a dialogar, negociar e fazer com que sempre prevaleça o que é melhor para as crianças.
Nesse sentido, as observações de aulas tornam-se estratégias de formação dos professores, pois com elas é possível levantar temas para as Aulas de Trabalho Pedagógico Coletivo (ATPC), além de contribuir para o desenvolvimento profissional docente.
Como organizo as observações das aulas
Foco: sempre recorro à rotina semanal de trabalho dos professores para planejar quais aulas vou observar. Isso me possibilita criar um foco nas observações, até porque não é possível observar tudo a todo o momento. Por exemplo, vou assistir a um professor fazendo uma atividade de revisão de texto coletiva. Então, concentro minhas atenções no aspecto que permite às crianças refletirem sobre o sistema de escrita.
 Procedimento: para assistir a uma aula, sempre levo alguns materiais, por exemplo, o Guia de Planejamento e Orientações Didáticas do professor, da Secretaria de Educação do Estado de São Paulo, as expectativas de aprendizagem, a rotina do professor e uma folha para os registros.
Registro: registrar é imprescindível, pois é a partir das minhas anotações que faço a devolutiva da aula para o professor. Tenho um roteiro de observação e, no verso, escrevo as orientações e sugestões para o docente.
Devolutiva: depois de acompanhar a aula, sento com o professor para dar uma devolutiva. Ela consiste em uma conversa sobre o que observei, sempre apoiada em meus registros. Faço algumas perguntas aos professores, como: “Qual o objetivo da atividade que você aplicou?” e “O que as crianças aprenderam com ela?”. Pensar nessas questões faz que o professor reflita sobre sua prática. A partir dessa discussão, faço sugestões e orientações para ele. Assim, esse momento também se torna de formação.
Após a conversa, peço para o docente ler o que registrei e assinar. A diretora da escola também toma ciência desses registros. Depois disso, arquivo no meu portfólio.
Como vocês podem verificar esse não é um trabalho simples e rápido. Penso que a observação de sala de aula só tem sentido para o coordenador se ela tem um foco, procedimentos adequados, registro e, principalmente, devolutiva para o docente.

terça-feira, 8 de abril de 2014

Confira nosso tutorial e aprenda a criar apresentações no Prezi

Neste novo vídeo, mostramos como usar o Prezi. A ferramenta pode ser útil para deixar as apresentações que você usa em classe mais dinâmicas. Basta eleger o modelo, inserir as informações e depois salvá-las. Depois de assistir, conte se as dicas foram úteis para você!

segunda-feira, 7 de abril de 2014

O bullying e os atos violentos presentes na escola

Cena do documentário "Bully" (2012), do diretor Lee Hirsch. O documentário acompanha o cotidiano de jovens vítimas de bullying em escolas públicas nos Estados Unidos
Cena do filme “Bully” (2012), do diretor Lee Hirsch. O documentário acompanha o cotidiano de jovens vítimas de bullying em escolas públicas nos Estados Unidos
Nesta segunda-feira, celebra-se o Dia Nacional de Combate ao Bullying. Esse que é nosso tema da semana tem tomado significativo espaço nas mais diversas mídias. Entretanto, o que verificamos é ainda enorme desinformação acerca do que realmente caracteriza tal fenômeno. Frequentemente testemunhamos visões reducionistas que colocam no mesmo balaio ou consideram similares as situações de indisciplina, de falta de polidez e os atos de violência, como o bullying.
Se no senso comum essa confusão acontece, entre nós, educadores, ela precisa ser abolida. Portanto, é preciso fazer algumas importantes distinções entre os problemas mais recorrentes de convivência no contexto escolar, buscando compreender as características e possíveis consequências desses tipos de violência.
Primeiramente, é necessário reconhecer no ambiente escolar a existência de dois grandes grupos de manifestações que geralmente causam inúmeros problemas de convivência: asperturbadoras – ou indisciplinadas – e as de caráter violento.
Manifestações perturbadoras
O primeiro grupo refere-se aos confrontos existentes entre pares ou entre aluno e professor, em que muitas vezes há a violação de normas consideradas como justas e necessárias. Refere-se, também, ao desrespeito às regras elaboradas coletivamente, às atitudes de desordem e aos comportamentos irritantes, como o enfrentamento, o desinteresse, a desmotivação e a apatia. São exemplos típicos: a conversa durante a explicação, a falta de pontualidade, o envolvimento com objetos impróprios à atividade do momento, andar pela sala, incomodar os outros, ter atitudes indelicadas, fazer barulho, dar apelidos, fazer fofoca, demonstrar indiferença, interromper frequentemente, faltar sem justificar, usar o celular fora do contexto pedagógico, cabular aula, se atrasar e recusar-se a participar das propostas.
Essas são situações em que há uma visível ruptura do contrato social da aprendizagem, tanto dos conteúdos curriculares como também da boa Educação. Embora se tratem de microviolências cotidianas, essas situações, em que é violado o respeito ao outro, diferenciam-se de condutas criminosas ou delinquentes. As manifestações indisciplinadas causam mais incômodo pela frequência com que ocorrem do que propriamente pelagravidade dos atos. São feridas as regras de boa convivência e não a lei ou o regimento interno do estabelecimento. Portanto, há uma decepção quanto às expectativas do que se espera como boa conduta social.
O bullying e as manifestações violentas
Já nas manifestações de caráter violento, o que impera é uma relação de imposição em que se contrastam dois lados: o da dominação e o da submissão. Nesse caso, são frequentes os danos à dignidade pessoal, com visível atentado à integridade física, moral e psicológica dos sujeitos. São exemplos dessas manifestações: lesões, extorsão, tráfico de drogas na escola, agressões físicas, furto, depredação, porte de arma, abuso sexual e atos que visam humilhar – como apelidos pejorativos, difamação, ameaças e exclusão. Há nesse grupo claro propósito em atingir diretamente a instituição ou as pessoas que fazem parte dela ou, ainda, que a representam. As principais características são os atos agressivos e intencionais que supõem força, coerção, provocando danos e destruição. Tais manifestações são reguladas pelo Código Penal por se tratarem de ações que atacam a lei com ou sem o uso da força física. Nesse grupo, portanto, estão incluídos eventos em que há diferença na intensidade da violência, manifestada em ações reativas ou não (em que houve ou não algum motivo disparador)
E é nesse domínio, de caráter violento, que se enquadra o bullying escolarTrata-se de um fenômeno multicausal e, portanto, não é legítimo considerar que problemas familiares, por exemplo, sejam causas exclusivas de tal violência.
bullying possui seis características principais: só ocorre entre pares, havendo, assim, simetria de poder; a agressão é intencional e sem motivo aparente; há uma recorrêncianos atos; a preferência é por uma vítima frágil; há visível desigualdade de poder físico ou psicológico; e, finalmente, demanda a presença de um público (espectadores).
Os prejuízos às vítimas de bullying – também chamadas de “alvos” – são enormes e comprometem desde a sua vida escolar até a sua saúde mental. Como apresentam uma fragilidade psicológica acentuada, tendem a pensar que são merecedores de toda a crueldade impingida por seu “algoz” – o agressor ou autor.  Sendo assim, sofrem em silêncio. Geralmente não buscam ajuda nem compartilham os episódios constantes de horror pelos quais passam com ninguém. Como consequência, costumam manifestar sintomas que podem servir de pistas: queda no desempenho escolar, mal-estar antes de ir para a escola, desejo sistemático de faltar às aulas, marcas no corpo, sumiço recorrente de objetos ou dinheiro. É necessário que os adultos – pais e professores – estejam atentos e não menosprezem essas pistas. As cicatrizes físicas deixadas pelos atos violentos de bullying podem até desaparecer com o tempo. Porém, cicatrizes morais e psicológicas são indeléveis da alma.

sexta-feira, 4 de abril de 2014

Um banco de atividades para o substituto deixar de ser um “tapa-buraco”

Professora apresenta atividade para a turma. Foto Gabriela Portilho
Professora apresenta atividade para a turma. Foto Gabriela Portilho
Quando atuei como professora substituta vi esta situação muitas vezes: você é chamado de última hora e tem de passar pelo embaraço de chegar à sala de aula de mãos abanando, sem orientação e sem material de apoio. Na época, um livro didático doado por uma professora aposentada virou meu melhor amigo. Mas, mesmo com muito esforço, fiquei sabendo que docentes efetivos comentavam “essa professora não deu nada para a turma!” após a minha saída.
Compartilhei essa experiência com os docentes que trabalham comigo e muitos disseram que haviam passado pela mesma situação e já ouviram várias vezes que o substituto ou eventual é um “tapa-buraco”. Essa expressão forte é infelizmente proferida por quem ensina e por quem aprende (os alunos).
Pensando no significado mais simples de “tapar um buraco”, lembramos que essa ação requer um nível de conhecimento sobre a quantidade e a qualidade de material a ser utilizado para ser bem-sucedido. Enfrentar uma sala sem ter referências é o mesmo que tentar “tapar um buraco” com terra numa rua de asfalto em dia de chuva. Sabemos que não vai dar certo, não é mesmo?
Refletindo sobre essa comparação, resolvemos formar um banco de atividades e um kit de materiais para garantir que o professor substituto tenha as ferramentas necessárias para atuar. Consideramos que isso é o mínimo a fazer diante dessa situação e, assim, buscamos também garantir que os alunos recebam a formação que lhes é assegurada como direito ao vir para a escola.
Veja como organizamos:
- Os professores efetivos receberam uma pasta para cada série e colocaram nela sugestões de atividades nas áreas de Matemática, Língua Portuguesa e Arte para o substituto. Nessa sugestão, o docente indica como um conteúdo pode ser abordado para, por exemplo, retomar um assunto que a classe já viu de outra maneira. Isso é constantemente atualizado.
- Para as aulas de História, Geografia e Ciências, que pedem estratégias mais elaboradas já que as aulas substituídas se encaixam dentro de uma sequência mais longa, com conteúdos investigativos, optamos por não contemplar propostas. Como trabalhamos do 1º ao 5º ano e os docentes são polivalentes, essas disciplinas são contempladas pelo efetivo da turma.
- Montamos um kit para o professor substituto em uma caixa plástica transparente. Ali, colocamos lápis preto, borrachas, lápis de cor, giz de lousa, apagador, folhas de papel almaço e papel sulfite, apontadores, cola branca, tesouras, réguas e fita crepe nas quantidades necessárias para atender uma classe de 30 alunos. Ao final do trabalho, a caixa é entregue para nossa auxiliar de Educação, responsável pelo almoxarifado, que averigua o que foi utilizado e reabastece o que for necessário.
- O professor eventual também recebe um formulário impresso onde deve registrar os nomes dos alunos presentes e as áreas de conhecimento e as atividades trabalhadas no dia que será entregue no final da aula.
Nossas atitudes colaboraram para que o trabalho dos eventuais ficasse muito mais tranquilo, mesmo quando são chamados em cima da hora. Todos avaliaram como um facilitador para poder dar uma aula que realmente contribua para o aprendizado no dia da substituição. Os alunos se mostraram bem mais seguros e passaram a respeitar mais os substitutos. Até os pais deixaram de reclamar da quantidade de faltas.

quinta-feira, 3 de abril de 2014

Uma conversa com os professores sobre a observação de aulas

A observação das práticas docentes em aula é um trabalho de parceria para contribuir para o avanço das aprendizagens das crianças. Foto: Gabriela Portilho
A observação das práticas docentes em aula é um trabalho de parceria para contribuir para o avanço da aprendizagem das crianças. Foto: Gabriela Portilho
Uma das funções do coordenador pedagógico é acompanhar e avaliar o ensino e o processo de aprendizagem. Esse acompanhamento pode acontecer de várias formas, por exemplo, por meio da análise dos portfólios das turmas e dos cadernos dos alunos e também observando as aulas dos professores.
Este ano, recebi alguns professores novos e aproveitei para falar com todos sobre esse assunto na reunião de planejamento que aconteceu no início de março. Deixei claro que o principal objetivo da observação não é vigiar o trabalho deles, mas criar uma cumplicidade entre a prática docente, minhas orientações e o avanço da aprendizagem das crianças.
Ou seja, trata-se de parceria, no sentido de que o coordenador deve saber orientar os professores quantos às suas práticas ao mesmo tempo em que respeita seus saberes. Em contrapartida, os docentes devem estar abertos para ouvir as orientações do coordenador, se dispondo a dialogar, negociar e fazer com que sempre prevaleça o que é melhor para as crianças.
Nesse sentido, as observações de aulas tornam-se estratégias de formação dos professores, pois com elas é possível levantar temas para as Aulas de Trabalho Pedagógico Coletivo (ATPC), além de contribuir para o desenvolvimento profissional docente.
Como organizo as observações das aulas
Foco: sempre recorro à rotina semanal de trabalho dos professores para planejar quais aulas vou observar. Isso me possibilita criar um foco nas observações, até porque não é possível observar tudo a todo o momento. Por exemplo, vou assistir a um professor fazendo uma atividade de revisão de texto coletiva. Então, concentro minhas atenções no aspecto que permite às crianças refletirem sobre o sistema de escrita.
 Procedimento: para assistir a uma aula, sempre levo alguns materiais, por exemplo, o Guia de Planejamento e Orientações Didáticas do professor, da Secretaria de Educação do Estado de São Paulo, as expectativas de aprendizagem, a rotina do professor e uma folha para os registros.
Registro: registrar é imprescindível, pois é a partir das minhas anotações que faço a devolutiva da aula para o professor. Tenho um roteiro de observação e, no verso, escrevo as orientações e sugestões para o docente.
Devolutiva: depois de acompanhar a aula, sento com o professor para dar uma devolutiva. Ela consiste em uma conversa sobre o que observei, sempre apoiada em meus registros. Faço algumas perguntas aos professores, como: “Qual o objetivo da atividade que você aplicou?” e “O que as crianças aprenderam com ela?”. Pensar nessas questões faz que o professor reflita sobre sua prática. A partir dessa discussão, faço sugestões e orientações para ele. Assim, esse momento também se torna de formação.
Após a conversa, peço para o docente ler o que registrei e assinar. A diretora da escola também toma ciência desses registros. Depois disso, arquivo no meu portfólio.
Como vocês podem verificar esse não é um trabalho simples e rápido. Penso que a observação de sala de aula só tem sentido para o coordenador se ela tem um foco, procedimentos adequados, registro e, principalmente, devolutiva para o docente.

quarta-feira, 2 de abril de 2014

Dicas para inscrever um projeto nota 10 no Prêmio Victor Civita

Nas aulas de Ciências, os estudantes ampliaram seus conhecimentos sobre a Lua
Quero compartilhar o que aprendi quando preparei meu projeto para inscrevê-lo no Prêmio Victor Civita Educador Nota 10. Torço para que muitos trabalhos de EJA sejam selecionados, neste e nos próximos anos, e espero que estas dicas sirvam de estímulo para vocês!
No post anterior, contei como surgiu a inspiração para enviar meu trabalho de Educação de Jovens e Adultos. A ideia surgiu quando conheci a experiência da professora Flávia Lima, de Goiânia. Na época, procurei encontrar, no meu próprio trabalho, sequências didáticas que atingissem o mesmo objetivo que o projeto da Flávia: fazer com que os alunos vivenciassem o processo de construção do saber científico. Em minha opinião, qualquer bom projeto de ensino de Ciências deve, de alguma maneira, tocar nesse ponto.
Além disso, achei que seria interessante inscrever um trabalho que explicitasse uma das particularidades da Educação de Jovens e Adultos: o choque entre cultura letrada e cultura popular. Como os alunos da EJA já trazem muitos conhecimentos de fora da escola, é comum que façam comparações e tentem acomodar em seus raciocínios os saberes populares.
Foi pensando nisso que escolhi apresentar o trabalho de pesquisa de meus alunos sobre a Lua.
Comecei a desenvolver esse trabalho em 2009, quando se comemorou o Ano Internacional da Astronomia, e resolvi abordar conteúdos ligados ao céu. Por ser biólogo e apenas um iniciante na Astronomia, precisei estudar bastante para dominar os assuntos que pretendia tratar em aula. Ao longo dos semestres, fui repensando as atividades e cheguei ao projeto que inscrevi em 2012. Ou seja, o relato que inscrevi foi a sétima versão, fruto de muita reflexão e transformação!
Antes de enviar, busquei orientações. No site do prêmio, encontrei um vídeo em que a Luciana Hubner, que é selecionadora da área de Ciências, explicava os principais problemas encontrados nos trabalhos recebidos em 2011 (clique aqui para ver o vídeo com os comentários da Luciana sobre os trabalhos de 2012 e o relatório).
De acordo com as dicas dela, notei que o trabalho deveria explicar claramente os conteúdos de Ciências abordados (tanto conceitos como procedimentos e atitudes). Segundo Luciana, muitos trabalhos pecam por não deixar claro quais assuntos o professor pretende ensinar ou por tratarem somente de conteúdos gerais, que não são exclusivos de Ciências (por exemplo: leitura ou conscientização ambiental).
Em segundo lugar, ela conta que o foco do relato deve estar no processo que os alunos viveram. A Luciana relata que muitos trabalhos enfatizam demais o produto final (uma feira de Ciências ou um estudo do meio, por exemplo), mas não explicam como foi o crescimento dos alunos ao longo das atividades até gerarem esse produto.
Percebi que seria necessário fazer um registro detalhado de tudo o que eu fazia. Guardei tudo: fichas que distribuí à turma, produções dos alunos, anotações de tudo o que disseram, entre outros. Cheguei a fotografar a lousa onde eu havia anotado os depoimentos deles. Tudo isso foi importante para demonstrar como os alunos foram modificando suas ideias. Dica importante: leve caderno na mão e máquina fotográfica no bolso para todas as aulas!
Um dos pontos a que dei especial atenção foi a coerência entre o que eu pretendia ensinar e o que de fato eu fazia. Será que essa atividade que estou promovendo agora contribui para atingir o objetivo que pensei lá atrás? Eu me fiz (e faço ainda hoje) essa pergunta muitas vezes.
Última dica: pense no que a sua realidade tem de especial e que merece ser mostrado. O que será que seus alunos pensam, o que há de diferente na sua escola? Isso requer certa habilidade para olhar a sua realidade com novos olhos.