sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Envolvendo a família na primeira reunião de pais


Preparamos a primeira reunião pedindo aos pais informações antecipadas que norteiam o trabalho da escola. Foto: Gabriela Portilho
Trabalho há muitos anos como diretora e por incrível que pareça o friozinho no estômago e a ansiedade ainda rondam quando preparo uma reunião de pais. E não vão pensar que esse sentimento é só meu! Os professores também sofrem do mesmo mal! Frente aos anseios nos reunimos para preparar esse encontro. Costumo questionar a Equipe Escolar sobre a importância dessa reunião de pais. Que diferença fará no nosso trabalho? O que irá acarretar na vida escolar do aluno? E por que é tão importante a participação da família?
Concluímos que contar com a parceria da família sempre será de muita valia para se desenvolver um bom trabalho. É ela a nossa válvula propulsora para que a educação se estenda além-muro da escola e com o seu envolvimento intensificado o ganho irá triplicar-se, ou seja, antes o que era só da escola passa ser dos pais, alunos e comunidade escolar. E esse ganho será possível? Sim, apostamos e acreditamos nessa possibilidade! Parece com o trabalho de formiguinha e que poderá levar um tempo, mas não é impossível realizá-la, a ponto de desistir! Somos a prova disso na EMEF Profª “Hilda Weiss Trench”, ainda persistimos nessa ação e o resultado nos tem preparado uma participação expressiva dos pais nesses encontros. Portanto, o segredo é preparar a primeira reunião de pais com algumas informações antecipadas que irão nortear o trabalho da escola com a participação de todos.
E como fazer?
Comecem enviando um comunicado sobre a importância da reunião de pais e o quanto irá contribuir para o desenvolvimento do aluno. Aponte que esses encontros acontecerão ao longo do ano, se possível com as datas previstas para que eles possam se programar (estão previstos no calendário escolar – se possível enviem uma cópia para cada pai).
Questione-os sobre:
  • Possibilidade de sua participação nesses encontros: peça que apontem se há ou não a possibilidade em participar dessa reunião; levar em consideração quanto ao dia da semana que a escola disponibilizará para essa realização (aqui realizamos na 2ª feira, dia do nosso HAC ou HTPC);
  • Se não pode participar no dia: agendar um horário no HAC ou HTPC ou se houver horários disponíveis durante o período de aula (utilizamos as aulas de Educação Física para que o professor possa dar atendimento aos pais nesse período);
  • Sugestão de horários: solicitem sugestões e certifiquem-se de que não haverá prejuízos para os alunos; justifiquem as possibilidades após sondagem, explicando que será atendido o que a maioria solicitar;
  • Sugestões de assuntos que poderiam ser abordados: questione o que os pais gostariam de saber sobre a escola, seu funcionamento, sobre os professores, funcionários, as aulas, combinados de sala, desempenho dos alunos e outros;
  • Sugestões de palestras na escola: assuntos que gostariam que fossem abordados e debatidos por palestrantes (poderiam agendar duas palestras para os pais no ano, uma para cada semestre);
  • Comunicá-los que a escola é um espaço de direito de todos: solicitem para que escrevam sobre o que esperam da escola e como eles (pais) poderão contribuir;
  • Aproveitem o momento para divulgar a missão da escola: expressem o propósito que a escola se submeteu para atender a todos.
Solicite aos pais que devolvam esse questionário a tempo de tabular os resultados para que possam mostrá-los já no primeiro encontro.
Posso assegurar-lhes que foi muito significativo pedir sugestões aos pais. Partiu deles uma ideia muito bacana: trazer os alunos para se apresentarem durante a reunião de pais. No nosso último encontro os alunos da Oficina de Música apresentaram uma mostra do Concerto de Flauta Doce. E é claro que os pais gostaram e muito.
O pais apontaram até o meu defeito! Descobri que falava muito nas reuniões, deixando um tempo curto para estarem com o professor de seus filhos. Passei, então, a me planejar melhor nos horários, seguindo o meu protocolo em dar as boas vindas apresentando a pauta da reunião em cartaz ou no data show. Faço questão em deixar claro que planejamos todas as reuniões que realizamos na escola para que se sintam respeitados e a Equipe Escolar também.

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

O que assegurar nos planejamentos do 1º semestre nas turmas de 4 e 5 anos?

Para não cair na tentação de querer dar todo o conteúdo em apenas um ano, é importante distribuir os planejamentos ao longo dos meses
Para não cair na tentação de querer dar todo o conteúdo em apenas um ano, é importante distribuir os planejamentos ao longo dos meses. Foto: Gabriela Portilho
Terminada a época de diagnóstico dos saberes dos pequenos, é hora de definir as sequências e projetos do primeiro semestre. São inúmeras as possibilidades nos diferentes eixos. Entretanto, é preciso cuidar do foco e ter clareza do que realmente queremos que as crianças aprendam. Neste ponto, vale a máxima: “menos é mais”.
Cabe ao coordenador pedagógico auxiliar os professores a fazer escolhas. Para tanto, acredito ser preciso pensar longitudinalmente, ou seja, em cada um dos eixos ao longo de toda a escolaridade na Educação Infantil. Se conhecermos bem quais são as expectativas de aprendizagem de cada um, poderemos orientar cada grupo, sugerindo as atividades e lembrando o que cabe ao nível anterior ou posterior, já que os professores, muitas vezes, querem dar conta de tudo num mesmo ano.
Sou defensora de fazer uma escala para distribuir os planejamentos ao longo do semestre. Não é preciso desenvolver atividades para todos os eixos concomitantemente, mas é bem pertinente elaborar sequências ou projetos com duração de dois meses ou, então, fazer as atividades do planejamento de movimento três vezes por semana no primeiro mês, para que as crianças aprendam brincadeiras que depois realizam com autonomia no parque e nos outros meses, reservam-se dois momentos de movimento, para que se possa encaixar outro eixo. Veja aqui um exemplo de quadro do primeiro semestre.
A turma de 5 anos e alguns eixos
Geralmente, a maioria das crianças dessa turma já frequentou a escola e são bastante autônomas. O interesse por atividades de Leitura e Escrita é bem grande e elas também são capazes de quantificar e gostam dos jogos de Matemática que envolvem desafios.
Em Arte, estão atentos aos detalhes e dispendem de bastante tempo nas suas produções.
Em Natureza e Sociedade, são inúmeros os temas que podem aguçar sua curiosidade para as pesquisas. Em Movimento, os jogos cooperativos ou de competição podem ser mais elaborados.
Veja aqui o quadro de expectativas de aprendizagem da turma de 5 anos que elaborei com um grupo de professores desse nível.
Abaixo, destaco para vocês algumas possíveis sequências para dois desses eixos.
Leitura e escrita. A primeira sequência nesse eixo deve envolver muitas atividades de leitura e escrita de listas de palavras. O trabalho com textos memorizados como parlendas, poemas ou músicas é mais adequado no segundo semestre.
Organizar as atividades em torno de possibilidades de ler e escrever listas de frutas, de comidas, de animais ou de personagens, como da turma da Mônica é bem pertinente.  Também é preciso planejar situações para refletirem sobre a linguagem que se escreve, com muita leitura de textos de qualidade. A produção de texto oral com destino escrito pode estar atrelada ao projeto de Natureza e Sociedade, que certamente terá etapas de leitura e produção de textos informativos sobre o tema escolhido.
Matemática. Aqui, o desafio será resolver situações de quantificação para comparar quantidades, identificar e escrever os números. É uma boa situação didática, por exemplo, propor problemas envolvendo soma e subtração para que resolvam oralmente e na roda, explicitando como fizeram.
Os jogos com dados e baralho, o bingo e outros como guerra dos dados também devem estar no planejamento, mas, para isso, é preciso ter um número suficiente deles para que todas as crianças participem.
A turma de 4 anos e alguns eixos
Nessas turmas, geralmente, algumas crianças estão vindo pela primeira vez à escola. Por isso, brincadeiras com músicas e jogos orais são muito bem-vindos.  Na Leitura e Escrita, o foco é a escrita convencional do próprio nome e a leitura dos nomes dos colegas. EmMatemática, muitas brincadeiras envolvendo a série numérica oral convencional e a quantificação. Em Natureza e Sociedade, um projeto para pesquisar um grupo de animais também é bem instigante.
Abaixo, destaco para vocês algumas possíveis sequências para dois desses eixos.
Oralidade e Leitura. Memorizar poemas ou parlendas para apresentar num sarau possibilita atingir os objetivos de oralidade e elaborar inúmeras atividades de leitura, como tentar fazer o ajuste da fala (passando o dedinho) ao escrito, enquanto recita o texto que sabe de cor.
Outra atividade interessante e que estimula as crianças ajustarem o falado ao escrito é quando o professor escreve, na frente dos pequenos, o texto em um cartaz que ficará exposto. Assim, eles terão o professor como modelo e o texto disponível para situações de leitura.
Em relação à escrita, trabalhar com nomes próprios é o ideal.
Veja o quadro de expectativas de leitura e escrita da turma de 4 anos clicando aqui.
Natureza e Sociedade. Os pequenos são pesquisadores natos, curiosos e com muitos “porquês”. Portanto, definir um grupo de animais que possibilite comparações e levantamento de hipóteses, por cerca de dois, no máximo três meses, é ideal. Neste ponto, o cuidado é com a escolha do tema. É sempre mais instigante incentivá-los a pesquisar um tema sob sua própria ótica. Exemplo: em vez de sugerir “mamíferos”, que tal sugerir “animais gigantes”, como eles próprios falariam? Então, nessa pesquisa entrarão elefantes, baleias, emas e ursos.
Além desses eixos que exemplifiquei, ainda existem os outros, como Movimento, Artes Visuais e Música, para desenvolver as sequências, os projetos e as atividades permanentes. Todos eles precisam ser bem planejados, como o momento da roda de conversa e da hora da história, que devem acontecer diariamente na rotina das turmas.

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Quatro sites para compartilhar arquivos

Você ainda é daqueles que tentam anexar arquivos gigantes nos e-mails? Se a resposta for sim, esse post é dedicado especialmente a você! Afinal, hoje em dia a internet oferece soluções mais rápidas e fáceis para compartilhar arquivos, que podem ser usadas para enviar atividades ou trabalhos de sua escola.
Os chamados sites de compartilhamento são bastante úteis para enviar fotos, vídeos ou documentos muito pesados. É possível tirar proveito disso para combinar com a turma a entrega de trabalhos  ou o envio de materiais em outras mídias, por exemplo.
Preparamos uma lista com quatro bons sites de compartilhamento na rede. Confira!
1) DropboxCertamente um dos mais famosos sites dessa natureza, o Dropbox pode ser uma verdadeira mão na roda para ter acesso a todos os arquivos do seu computador em qualquer lugar do mundo (com acesso à internet, claro!). Para utilizá-lo, você precisa criar uma conta no  site oficial, fazer o download do programa e concluir a instalação em seu computador. O Dropbox  criará uma pasta onde você pode colocar os arquivos que deseja compartilhar. E tem mais uma vantagem: caso você utilize uma máquina em que o Dropbox não esteja instalado, é possível acessar seus arquivos diretamente no site do programa! O Dropbox tem três versões disponíveis, sendo que a de 2 GB é a única gratuita. Para utilizar as outras (de 50 e 100 GB) é preciso pagar uma taxa mensal de 10 e 20 dólares, respectivamente. Clicando aqui você encontrará um bom tutorial de como aproveitar bem o Dropbox.
2) 4 sharedConhecido na web como um bom site para baixar músicas e filmes, o 4shared é fácil e simples de usar. Em apenas alguns minutos, você faz o cadastro e já pode usufruir de suas facilidades. A navegação é bastante simples: basta selecionar os arquivos que você deseja compartilhar e esperar que eles sejam carregados no site. Em seguida, o 4shared gera um link para o download e permite que você adicione o e-mail de quem deseja ter acesso a esses documentos. Na versão gratuita, o usuário tem 15 GB de espaço disponível e pode fazer oupload (isto é, carregar os documentos) de arquivos de até 2048 MB. Essa versão, entretanto, expira após 180 dias de uso. Já na versão paga (77 dólares por ano), você pode subir arquivos com o tamanho máximo de 100 GB até atingir o limite de armazenamento. Se desejar enviar novos documentos, basta excluir os arquivos anteriores.
3) HightailSe a ideia é enviar os arquivos diretamente para alguém, o Hightail pode ser uma excelente opção. Nele é possível subir gratuitamente documentos de até 250 MB de cada vez, e o espaço para armazenamento é de até 2 GB. O Hightail permite que você faça o upload dos arquivos, e logo em seguida os envie para um ou mais e-mails com uma mensagem pessoal, o que pode dinamizar e muito o compartilhamento de seus documentos. O cadastro é automático: ao realizar a ação, logo na página inicial do site, você já insere seu e-mail e uma senha. No mesmo instante, sua conta já foi criada!
4) BoxO Box é uma excelente opção não só para compartilhar como também para editar arquivos online. Ao se inscrever, você tem automaticamente (e de graça!) 10 GB de espaço livre para usufruir. Ele ainda oferece três opções de compartilhamento os arquivos: você pode enviar para  alguém o link de acesso para fazer o download; criar uma pasta e compartilhar o acesso com outras pessoas, ou ainda disponibilizar o arquivo diretamente em um site ou rede social. Além disso, é possível criar e editar arquivos online, no mesmo estilo do Google Drive (veja o post que fizemos sobre esse assunto).  Existe ainda uma versão para empresas (que pode ser perfeitamente usado pela escola toda, por exemplo). Nessa versão, pagando 15 dólares por mês, o usuário tem 1000 GB de memória disponíveis. Esta pode ser uma boa opção caso a iniciativa de usar essa ferramenta seja adotada pela escola.

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Que tal criar um aplicativo com seus alunos?

Aplicativo “Ditadura na Memória”, criado pelos alunos do 9º ano do Colégio I. L. Peretz, em São Paulo
Você já pensou em criar um aplicativo para celular? Este pode ser um recurso para transformar as pesquisas dos alunos em um produto que pode ser baixado por qualquer pessoa que tenha um smartphone ou tablet.
O mais interessante é que ninguém precisa ser nenhum hacker para produzir um aplicativo (ou app, como também chamado). O site Fábrica de Aplicativos permite criá-los sem ter conhecimentos de programação. Também não é preciso baixar nada no computador ou pagar taxas.
É possível incluir uma lista bem grande de itens nos aplicativos: textos, fotos, vídeos, posts do facebook, listas, entre outros. Também pode-se personalizar cor e selecionar as imagens para abertura e ícones. Se o usuário desejar pagar, pode obter alguns recursos extras, como o mural de recados. Depois de prontos, os aplicativos ficam disponíveis na Galeria da Fábrica de Aplicativos para quem quiser baixá-los.
E, o melhor de tudo, o site é bem fácil de usar: a cada passo, são exibidas as opções disponíveis. Se cometer algum erro durante a construção, basta voltar alguns passos e consertar o app.
Mas como usar a construção de aplicativos em aula?
Uma das experiências disponíveis no site é o aplicativo Ditadura na memória, criado pelos estudantes do 9º ano do colégio I. L. Peretz, em São Paulo. A ideia foi colocar no app o resultado das pesquisas desenvolvidas por eles sobre o período da ditadura. Divididos em 11 grupos, os alunos investigaram e escreveram sobre temas como histórias de desaparecidos políticos, canções e obras de arte produzidas no período. O projeto durou alguns meses e envolveu aulas e pesquisas em quatro disciplinas: História, Geografia, Arte e Língua e Literatura Brasileira.
Os alunos também colocaram no aplicativo links para jogos e outras atividades para testar os conhecimentos dos usuários. Além disso, incluíram recursos como a Rota da Memória – um mapa feito no Google Maps que aponta locais da cidade de São Paulo significativos para entender a história dos anos de chumbo.
Veja outros aplicativos produzidos neste site:
Física InterativaTraz aulas, vídeos e exercícios resolvidos para os alunos.
TGA Fecap 
Manda para o celular planos de aulas, vídeos e fotos das atividades realizadas com a turma de Teoria Geral da Administração, da Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado.
Primeiros Socorros 
Criado pelo Corpo de Bombeiros de Pernambuco, ensina sobre como proceder em caso de queimaduras, engasgos, paradas cardíacas e outros acidentes.
Ajuda Salesiana
Criado por uma escola, o aplicativo avisa a turma sobre as próximas atividades.
Você já experimentou criar um aplicativo? Conhece outras dicas sobre esse assunto? Compartilhe com a gente nos comentários!

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

A Educação está ameaçada de virar mercadoria?

Em entrevista ao Jornal da Educação, professor da Universidade de Londres diz que Educação está ameaçada de virar mercadoria. MEC oferece 30 mil vagas para formação de conselheiros escolares. E mais: Até 2016, Brasil terá que colocar 1 milhão de crianças na pré-escola.


sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Não basta informar sobre a Aids. É preciso motivar os alunos a se proteger!

A cada dia de 2012, cerca de 2 mil jovens de 10 a 24 anos se infectaram com o vírus da Aids no mundo todo, segundo a Organização Mundial da Saúde. Estima-se que 5,4 milhões de rapazes e moças dessa faixa etária vivam com a doença. A maioria ainda não descobriu: depois que o HIV infecta uma pessoa, o corpo ainda leva 10 anos para manifestar os primeiros sintomas da síndrome.
Por isso, é muito difícil encontrar um jovem sofrendo com a Aids. E por conta dessa invisibilidade, muitos adolescentes estão se descuidando. Isso fica evidente quando converso com os jovens. A grande maioria me diz que só usa a camisinha caso haja risco de gravidez. “Eu nunca soube de um adolescente que tenha ficado doente de Aids. Mas amigas grávidas… isso eu vejo muito!”, comentam.
A Aids é uma das doenças mais estudadas no mundo. Desde que foi descrita, em 1981, cientistas já sequenciaram o DNA do vírus HIV, descreveram sua atuação no organismo, criaram coquetéis para melhorar a qualidade de vida de doentes e tentaram vacinas contra a infecção. Há até uma vacina brasileira bem próxima de ser testada em humanos.
A Aids ainda não tem cura!
Por isso, precisamos motivar os alunos a se proteger da doença. Eu sei que esta não é uma tarefa fácil. Prevenir-se é um comportamento que deve ser aprendido. E só existem dois caminhos para aprender: o medo ou a admiração/reconhecimento, como disse um dia meu querido professor, o Dr. Cornélio Rosemburg.
O HIV não aterroriza mais. Sobrou o reconhecimento. Devemos levar os alunos a reconhecer a importância da prevenção. É esta consciência que irá gerar neles uma motivação pessoal.
A camisinha ainda é o único meio eficaz de proteger as pessoas da Aids. Mas muitos jovens e adultos adorariam que esse item ficasse fora de suas vidas sexuais. Usar preservativo exigemotivação intelectual – ou seja, demanda um pensamento elaborado e convicção suficiente para vencer o impulso de fazer sexo sem camisinha. Já o sexo desprotegido tem motivações mais fáceis e simples: de ordem prazerosa (exige apenas um pensamento simples) einstintiva (relacionada à necessidade de sobreviver). É duro para mim, uma educadora sexual, dizer isso. Mas é assim que trabalho, sem negar os fatos.
Como motivar os alunos a usar camisinha
Você pode trabalhar este tema de maneira a informar e motivar os alunos. Aqui vai uma sugestão de aula, que exige apenas papel, caneta e preservativos.
Comece solicitando que os alunos listem as dificuldades, medos e tabus relacionados ao uso da camisinha. Depois, divida-os em quatro grupos e peça que contem uns para os outros o que escreveram. Em seguida, solicite que os grupos listem as dificuldades mais comuns, ou seja, as que todos os membros disseram ter. Os estudantes devem guardar essa lista para usar mais adiante.
Em seguida, faça o Jogo da Assinatura, uma dinâmica que revela a cadeia de transmissão do HIV. Essa brincadeira, de domínio público, está descrita na página 40 do Manual de Prevenção das DST/HIV/Aids em Comunidades Populares, do Ministério da Saúdedisponível na internet.Depois do jogo, explique a importância da camisinha na proteção à saúde.
Finalize pedindo para os grupos se acomodarem e apresentarem suas listas. Ao final de cada apresentação, dê as informações necessárias para desmistificar os assuntos sobre os quais os alunos têm dúvida. Pode haver dúvidas sobre a resistência da camisinha, sua colocação e os efeitos que o preservativo traz à sensibilidade dos órgãos sexuais. Nesse caso, peça para os alunos colocarem a camisinha em uma mão e fazerem testes para que eles mesmos encontrem as respostas.
Essa aula costumar impactar positivamente os alunos. Eles conseguem perceber os reais riscos de contrair a doença, mesmo que no “faz de conta”. Um comentário comum entre os jovens é: “Eu não sabia que era assim… nunca mais transo sem camisinha!”. A atividade também desfaz alguns preconceitos sobre a resistência do preservativo.
Um convite para o fim de semana
Eu e minha equipe do Instituto Kaplan desenvolvemos uma camisinha gigante inflável para trabalhar a importância do uso do preservativo. A exposição Por dentro da Camisinha estará na Escola Estadual Pimentas VII (Av.: Marginal Sul, 87 , Bairro Pimentas), em Guarulhos (SP), entre os dias 21 e 23 de fevereiro.
A exposição está aberta a visitas de escolas a partir do dia 21 de fevereiro, à tarde. Mais informações com a Diretoria de Ensino Guarulhos Sul (Contatos: (11) 2442-2275 / 2276 e (11) 97127-8305; hederval@ig.com.br e guarulhos_sul@yahoo.com.br).  O evento é uma iniciativa da Fundação para o Desenvolvimento da Educação  (FDE) e do Programa Escola da Família.

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Dicas para um professor novato na EJA

Aula de alfabetização de jovens e adultos no Centro Municipal de Educação do Trabalhador Paulo Freire
Para a maioria dos professores, dar aulas na Educação de Jovens e Adultos acontece “meio sem querer” na carreira. No período de atribuições de aulas, é comum que alguns professores não consigam completar a carga horária, como dizemos no jargão das escolas. E aí, aparecem as aulas de EJA para fechar melhor o horário do professor.
Foi esse o seu caso? Para mim, foi uma opção, mas conheço professores que iniciaram “meio sem querer” e depois se tornaram excelentes docentes da EJA.
Muitas vezes, o professor novato nessa modalidade de ensino costuma se preparar da mesma maneira como faz para o ensino regular. E então podem aparecer muitas surpresas.
Como contei a vocês no post anterior, minha experiência no primeiro dia de aula foi marcante e apontou como esse trabalho seria interessante e cheio de desafios! O que quero enfatizar é o seguinte: a EJA tem peculiaridades que não podem ser esquecidas.
Pensando nisso, preparei esta lista com dicas que podem ser úteis para um iniciante na EJA:
Reserve bastante tempo para explicar a proposta de cada aula. Na EJA, você pode encontrar alunos retornando à escola depois de muito tempo ou que estejam pela primeira vez em uma sala de aula. Portanto, embora algumas atividades sejam muito frequentes no cotidiano escolar, os alunos da EJA podem não conhecê-las. A atividade que pede ao aluno para “preencher as lacunas”, por exemplo, é velha conhecida dos estudantes regulares, pois aparece desde as primeiras séries do Fundamental, mas é possível que alunos da EJA ainda não tenham tido contato com ela. Nesse caso, mesmo o vocabulário do enunciado precisa ser esclarecido. Outro exemplo de tarefa que precisa ser bem explicada é o ato de resolver questões em uma folha e passar as respostas para um gabarito.
Preocupe-se com os procedimentos escolares. Esta dica complementa o item anterior. Como vários alunos não têm familiaridade com esses afazeres, ensine aqueles que você julga importante. Isso é mais natural para os professores polivalentes do Fundamental 1, mas poucos professores especialistas dão importância a esse aspecto (aliás, isso vale também para o ensino regular). Alguns exemplos do que pode ser necessário explicar aos alunos: buscar palavras no dicionário, organizar uma tabela, copiar esquemas da lousa etc.
Preste atenção ao ritmo da turma. Se você já tem experiência com sala de aula, quaisquer que sejam os alunos, já sabe que cada turma tem o seu ritmo. Acho que um bom começo é imaginar que uma atividade para EJA costuma tomar mais tempo que no ensino regular, justamente porque muitos alunos não estão familiarizados com os procedimentos escolares e, por isso, podem demorar para encontrar uma página no livro, copiar uma questão da lousa ou construir uma tabela. Nas primeiras atividades que propuser, fique atento ao tempo de duração de cada atividade para ajustar o planejamento das aulas seguintes.
Prepare-se para os alunos rápidos. É muito grande a chance de que você tenha alunos com ritmos variados. Se por um lado é preciso garantir que todos tenham tempo suficiente para realizar as tarefas, por outro é necessário propor outros desafios para que os que já têm desenvoltura avancem mais. Comece verificando se esse aluno mais rápido executa a tarefa com qualidade. Se não for o caso, peça que ele melhore os detalhes da tarefa, como ortografia ou acabamento. Se for, tenha sempre uma atividade extra, relacionada ao assunto, já preparada para os alunos mais rápidos.
Cuidado com a infantilidade. Tenha em mente que algumas atividades que se encaixam bem no ensino regular soam infantis para a EJA. Especialmente no Ensino Fundamental, várias propostas são adequadas para crianças e adolescentes, mas não para adultos. Esse é o caso de muitos jogos, por exemplo.

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

O que fazer para que as conversas paralelas não atrapalhem a aula?

Inicialmente, é preciso analisar se a escola não está valorizando o silêncio como se fosse pré-requisito para a aprendizagem. Quando isso acontece, o diálogo é inibido, as atividades são individuais, as carteiras ficam fixas em fileiras e o professor está sempre atento aos ruídos, pedindo que a turma não fale para não se distrair. Estudos indicam que a interação social entre pares é necessária tanto para o desenvolvimento intelectual quanto para o moral. Nas escolas em que ela tem grande importância, não há lugar marcado, a posição das carteiras muda de acordo com a atividade e o barulho, a agitação e as discussões estão sempre presentes. A troca entre os alunos ocorre tanto nos trabalhos em grupo quanto nos individuais. Isso não significa ausência de limites ou bagunça. Há regras elaboradas pelo grupo visando a organização, as boas condições de aprendizagem e a convivência respeitosa - de forma que todos possam cobrar os acordos feitos. A ideia é definir parâmetros para uma convivência produtiva, sem que o controle do comportamento venha só do professor. Se, mesmo assim, houver excessos nos momentos em que as conversas paralelas não devem ocorrer, chame em particular os envolvidos e descreva a situação. Questione-os sobre o regulamento, cobre os combinados e peça sugestões de como resolver a questão. Caso após a intervenção o problema persista, com voz tranquila e firme, pergunte aos estudantes se querem permanecer na sala seguindo as regras ou se preferem sair, retornando quando acharem que conseguem participar dentro do que foi combinado. É importante que eles decidam quando voltar.

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Tenho alunos de 6º e 7º anos que não sabem ler e escrever. Como ajudá-los?

Esses alunos precisam receber uma ajuda pedagógica diferenciada, que reúna professores, coordenador pedagógico, diretor e famílias. o primeiro passo, Ênia, é substituir a avaliação genérica "não sabem ler e escrever" por uma mais minuciosa, mostrando o que eles sabem e o que podem aprender. Identifique os estudantes que não escrevem convencionalmente, os que estão alfabéticos, mas não conseguem realizar tarefas simples que envolvem a leitura de palavras e frases, e aqueles que já localizam informações explícitas em textos curtos e familiares. o plano de apoio pedagógico deve ter em vista ampliar esses níveis de alfabetização. o segundo passo é planejar um conjunto de ações voltadas a tempos didáticos distintos: intervenção na sala de aula, com a realização de atividades diferenciadas; e ações no contraturno, com ampliação do tempo de ensino. Grupos de alunos de diferentes turmas com demandas comuns são uma boa estratégia. Neles, podem-se abordar a leitura e a escrita como práticas sociais, articuladas a propósitos didáticos - a publicação de um jornal mural, por exemplo. Além disso, é preciso discutir a formação de leitores e escritores com toda a equipe. A leitura e a escrita são ferramentas essenciais para a aprendizagem e todos os docentes são responsáveis por formar leitores, com base nas especificidades de cada área. essa discussão é tematizada por Telma Weisz no livro O Diálogo entre o Ensino e a Aprendizagem(133 págs., ed. Ática, tel. 4003-3061, 49,90 reais).

O que querem os jovens

As manifestações populares trouxeram uma oportunidade imperdível para a escola entender melhor os anseios da nova geração

Este ano certamente ficará marcado na história do Brasil. Em diversas cidades, a população ocupou os espaços públicos exigindo mudanças na política, no transporte, na saúde e na Educação. Por meio de diferentes veículos de comunicação, presenciamos jornalistas, cientistas políticos e economistas, em sua maioria, atônitos. Ninguém entendia o que estava acontecendo nem conseguia explicar como e por que, de um dia para o outro, as pessoas resolveram sair da zona de conforto dos sofás e das redes sociais e ir às ruas reivindicar uma sociedade mais justa. 

Grande parte dos manifestantes era de jovens, que estão - ou, até há pouco tempo, estavam - na escola. A mídia parece ter esquecido de perguntar a opinião de professores e gestores sobre as atitudes e os comportamentos deles. Se isso tivesse acontecido, teríamos algo a dizer? Pergunto se realmente conhecemos nossos alunos: quais são suas crenças, seus interesses e seus medos? Como eles entendem o mundo em que estão inseridos? 

Há muitas maneiras de se aproximar deles. Relato aqui uma experiência que tive com uma turma do 1º ano do Ensino Médio, com o objetivo de debater as representações culturais sobre a juventude na contemporaneidade e provocar o posicionamento crítico diante delas. Na primeira etapa, o grupo leu e analisou entrevistas com especialistas, reportagens e pesquisas que traçavam o perfil do adolescente. Um dos materiais de domínio público acessados foi oDossiê Universo Jovem MTV, que mapeou o consumo de mídia - o uso do celular, as atividades realizadas na internet, os hábitos de leitura etc. - de brasileiros de 12 a 30 anos. Foi exibido também o vídeo We All Want to Be Young (Todos queremos ser jovens, em tradução livre), disponível em versão legendada na internet. Produzido por uma empresa norte-americana de pesquisa especializada em tendências de comportamento, o curta busca definir a geração Y - pessoas de 18 a 24 anos que nasceram e cresceram em um ambiente de independência e de intenso contato social. As reflexões foram riquíssimas. 

Na última etapa, os estudantes escolheram cinco produções culturais - entre letras de música, imagens fotográficas, vídeos, poemas, grafite, pinturas etc. - que retratassem algum aspecto do universo adolescente. O resultado foi surpreendente: ao compartilharem as escolhas, alguns reafirmaram os conceitos apresentados pelos materiais estudados, enquanto outros os desconstruíram. Um rapaz disse não ter encontrado uma produção que o representasse e perguntou se poderia criar uma própria. Intrigados com os diferentes tratamentos dados a temas como consumo, redes sociais, trabalho, drogas e sexualidade, os alunos concluíram que há muitas maneiras de viver a juventude, refutando, assim, os estereótipos. 

O trabalho teve continuidade e os subtemas foram desenvolvidos ao longo do ano letivo por meio de uma parceria entre a Orientação Educacional e a equipe de professores. A realização de iniciativas como essa pode nos ajudar a melhorar a relação com os jovens e a intervir de forma reflexiva na construção das identidades deles. Afinal, um dos grandes desafios que os protestos de rua evidenciaram é compreender e responder de forma ética às novas demandas da sociedade.

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Acolhendo os novos professores

No meu primeiro dia na escola, me senti acuada. No entanto, essa experiência me ajudou a entender o valor do acolhimento dos novatos
No meu primeiro dia na escola, me senti acuada. No entanto, essa experiência me ajudou a entender o valor do acolhimento dos novatos
Lembro-me do meu primeiro dia na sala dos professores, como professora eventual, em uma das escolas mais tradicionais da rede estadual do município de Itapetininga, em São Paulo. Aquela foi a primeira vez em que me senti acuada em um lugar. Senti-me deslocada com os mil olhares dos professores efetivos e, por isso, não consegui demonstrar toda a minha alegria. Terminei deixando esse sentimento em segundo plano.
Entre os olhares, busquei o do diretor. Quando o encontrei, me senti despida de conhecimentos frente à arrogância e à prepotência que estavam estampados em seus gestos e palavras. Nessa hora, eu pensei: “E agora? Vou ter que aguentar tudo isso por um semestre letivo inteiro?”. Acreditem, foram os 120 dias mais sofríveis que passei na minha vida profissional! Aliás, devo dizer que foram apenas 118, porque, nos dois últimos, os mesmos professores que me olharam feio perceberam que aquela novata de 18 anos havia lhes ensinado uma fórmula mais rápida e precisa para se corrigir avaliações.
E qual de nós, professores, já não passou por isso? Mas sou a prova de que foi difícil, mas não impossível!
Com essa experiência, aprendi que, para fazer as pessoas se sentirem bem, abrir as portas da escola deve ser como abrir as portas da nossa casa quando recebemos visitas. É lá onde a gente prepara o ambiente colocando a melhor toalha de mesa, as xícaras, os copos e os pratos mais bonitos e comidas gostosas acompanhadas de um suco fresquinho. Depois, convida o novo visitante para se sentar, comer e conversar.
Penso que toda acolhida deveria se inspirar nesse exemplo, independente da função e do local em questão. Por isso, transporto esses sentimentos para a escola durante a chegada de professores novos. Faço questão de recepcioná-los para que se sintam acolhidos e com boas impressões do local onde vão trabalhar. Mas esse trabalho eu não faço sozinha. Conto com a parceria da equipe escolar, que oferece seus préstimos no que for necessário.
Após lancharmos, coloco os novatos a par de todo o sistema educacional da escola, falo sobre a comunidade local, explicito os horários de funcionamento, mostro as salas de informática, música e vídeo e a biblioteca, apresento os demais funcionários e os levo para sua sala receptora: a sala dos professores. Devo dizer que se não há uma sala, a gente improvisa um cantinho no refeitório ou outro espaço com uma mesa e com cadeiras. Lembre-se de que é nesse espaço que surgem todas as conversas e angústias sobre o desempenho do professor e do aluno, desabafos de problemas pessoais e discussões sobre a faixa salarial e a qualificação docente.
Acredito que, enquanto aguardamos a revalorização fora da escola de todos os educadores do nosso país com bons salários, condições de trabalho e formação de qualidade, vale lembrar que resgatar esses valores já dentro da instituição transforma nossa espera em resultados significativos. E é com um bom acolhimento e com a vivência de um clima de trabalho legal que se consegue isso.

Prêmios e castigos: usá-los ou não, eis a questão!

Escrever várias vezes a mesma frase está entre os castigos mais comuns impostos pelos professores. Mas, afinal, esse tipo de sanção resulta em algum aprendizado?
Crédito: Montagem produzida no site www.addletters.com | “Os Simpsons” ©FOX
Na semana passada, ouvi de uma professora o relato de uma situação vivida em uma das escolas onde dá aulas. Ela estava passando pelo pátio em direção à sala dos professores, na hora do recreio, quando foi atingida no rosto por uma fatia de melancia (infelizmente, conhecemos bem esse tipo de cena!). Sentindo-se atordoada com a pancada, a professora percebeu que a “fatia voadora” viera da direção em que estavam alguns de seus alunos. Ao ser indagada pela diretora sobre o que havia acontecido, ela relata o fato e presencia a intervenção da direção com o grupo de alunos:
– Quero saber quem atirou a fruta!
Em resposta, o silêncio.
– Não sairemos daqui sem que o responsável apareça! Se não aparecer, a turma toda será suspensa! – comunica a diretora.
Foi, então, que um dos meninos se apresenta como o responsável, já explicando à diretora e à professora que não havia nenhuma intenção em acertá-la. Tratava-se apenas de uma “brincadeira” com o colega que tinha tomado o rumo errado. Tenho certeza de que você já ouviu justificativas parecidas, não é mesmo?
De posse da confissão, a diretora, em alto e bom tom, comunica que o aluno seria suspenso. A professora, conhecendo formas mais construtivas de resolver situações de conflito, conversa em particular com a diretora, refletindo acerca do fato de o aluno ter assumido sua responsabilidade e falado a “verdade”. Ela argumenta que suspender o aluno mesmo depois de ele ter contado o que havia acontecido significaria não reconhecer a verdade como um valor necessário e importante para as relações sociais. Além, evidentemente, de ensinar que esse tipo de postura não vale a pena.
Seria essa a intenção da diretora? É evidente que não, como mostra o desfecho da história… Após ponderar a consideração da professora, a diretora volta atrás e “suspende a suspensão”. Mas, ainda sim, insiste:
– Você falou a verdade, portanto, não será suspenso das aulas. Mas quero sua mãe aqui na escola, amanhã.
Aí entra a pergunta que não quer calar: por que chamar essa mãe?
O que eu penso sobre isso
Se realmente temos o objetivo de “contribuir para a formação de sujeitos autônomos”, as sanções dadas merecem nossa atenção especial. Acredito que o relato acima nos ajuda a refletir sobre o tema, então, vamos lá!
Quando usamos sanções que não estão associadas ao fato ocorrido – como a suspensão de todas as aulas, do recreio, do parque, ou, quando em casa, da televisão, do computador, enfim, de algo que seja do gosto do sujeito –, estamos diante do famoso “castigo”. Ou, nas palavras de Piaget*, da sanção expiatória. Nesses casos está presente a necessidade ou o desejo de fazer sofrer quem ultrapassou quaisquer limites. As consequências dessas punições são várias:
- O cálculo de risco: em que se ensina à criança ou ao jovem que a má ação deve ser cometida de modo a não ser descoberta.
- A conformidade cega: o medo da punição e, portanto, do adulto, passa a orientar as ações.
- A revolta: em que se somam a rebeldia contra a autoridade de pais e professores com a negação das regras impostas, sem, contudo, que a criança e o jovem tenham antes construído internamente suas próprias regras.
Assim como os prêmios e recompensas por “bons comportamentos”, as sanções expiatórias são verdadeiras “âncoras” para a permanência na heteronomia. (Para saber mais sobre heteronomia, leia este post antigo.)
Ao contrário, quando as sanções são coerentes e se relacionam com as infrações, elas se orientam para a reparação, seja material ou afetiva, havendo a possibilidade de se (re)pensar sobre as próprias atitudes. Nesse caso, incentiva-se a construção de regras morais próprias. Estamos falando, então, das sanções por reciprocidade, ou seja, permitir ao sujeito a compreensão da falta cometida, bem como de seus efeitos.
Bons exemplos são:
- A exclusão momentânea do grupo como consequência do descumprimento das regras anteriormente construídas e necessárias para a boa convivência.
- A reparação material dos atos – ou seja, repor ou consertar objetos, limpar o que foi sujo, ou ainda, nos casos em que houve ferimento, auxiliar no curativo –, pode também ser aplicada.
- Em algumas situações também é possível empregar a privação de algo do qual abusa, como no caso, por exemplo, para a criança que insisti em rasgar o livro da biblioteca. Ela será privada de pegá-lo emprestado até que se sinta capaz de devolvê-lo sem danos.
- E, por último, a simples repreensão, ou seja, levar à compreensão de que se rompeu o elo social da confiança sem imposição pelo autoritarismo. Aqui, a sanção torna-se uma consequência natural da falta cometida.
Minha sugestão para a “fatia voadora”
Voltando ao relato inicial, a repreensão seria a reflexão com o aluno sobre seu ato: o risco de machucar alguém (como de fato ocorreu), o desperdício do alimento, o ato de sujar o ambiente, desrespeitando o trabalho de quem limpa, etc. A reparação seria, além de limpar o que foi sujo, buscar restabelecer junto à professora a confiança de que ele não mais agirá dessa maneira.
Portanto, nesse caso há a necessidade de se chamar a mãe? Respondo com outra pergunta: em que isso ajuda?
Formar para autonomia implica incluir em nossa prática um tipo de sanção que incida de forma significativa na formação dos alunos. Isto é, que contribua para uma mudança de atitude por tomada de consciência e por respeito ao próximo, e não somente pelo medo.
Fomos educados dessa maneira? Infelizmente não. Daí, talvez, a dificuldade de agirmos de modo construtivo.
Mas, o que você pensa sobre o tema? Vamos lá, comente! Concordando ou não, este é nosso espaço de trocas.

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Lição de casa exige concentração: como orientar a garotada sobre a hora do dever

Aluna se concentra durante realização de tarefa de casa. Crédito: Pedro Motta
É possível fazer duas, três ou quatro coisas ao mesmo tempo? Sem dúvida que sim, afinal desempenhamos várias ações de maneira simultânea todos os dias: andamos e falamos, corremos e ouvimos música, entre outras. Mas não podemos nos enganar: é impossível dedicar atenção a todas elas.
Se ouvimos música e balançamos a cabeça ao mesmo tempo em que escrevemos um texto, temos quase sempre nossa atenção focada na produção da redação. Caso contrário, não conseguiríamos encadear as ideias em nossa produção. Assim sendo, a música de fundo não é o foco de nossa atenção, e o balanço da cabeça é automático, não exigindo concentração.
É comum que crianças e jovens façam as tarefas de casa enquanto assistem televisão, checam o Facebook e comem bolacha. Nesses casos, há a iminência do fracasso em algumas das ações, ou pior, em todas. Como não é possível estar atento a duas atividades ao mesmo tempo, o que ocorre é alternância da concentração: da lição para a TV, da TV para o Facebook, do Facebook para a bolacha, da bolacha para a tarefa, e assim por diante.  A consequência disso é a bolacha parecer sem sabor (já que se come automaticamente), o programa de televisão não ser visto na íntegra, o Facebook ser lido sem atenção ou respondido sem reflexão (o que pode levar a pequenos ou grandes desastres) e a lição de casa ser feita, na melhor das hipóteses, sem a qualidade que deveria.
O que falar para os alunos?
Professores e pais precisam orientar as crianças sobre as melhores maneiras de gerir o tempo fora da escola, permitindo que elas tenham certa autonomia para se organizar, mas sem deixar tarefas importantes de lado. Mais uma vez, o diálogo é a melhor maneira de fazê-lo.
Ao conversar com as crianças, explique diversas questões relacionadas a um gerenciamento eficiente da rotina – habilidades mais do que necessárias na vida adulta – e também sobre a importância das horas de estudo fora da escola. Alguns tópicos que podem ser abordados:
1. Dificuldades em organizar o tempo são comunsDeixe claro que todos – inclusive os adultos – têm problemas com a gestão do tempo. A organização é importante para facilitá-la e, assim, evitar situações ruins (como perder a data de entrega de um trabalho, por exemplo).
2. A concentração em uma única atividade diminui o tempo para fazê-laA simultaneidade das atividades leva a maior morosidade. Ao separar um tempo específico para fazer a lição de casa, as crianças conseguem concluí-la mais rapidamente. Assim, uma boa proposta é que os alunos preencham uma tabela com todas as atividades diárias e especifiquem o horário de estudo.
3. A organização do espaço é tão importante quanto a do tempoPara conseguir se concentrar em uma única tarefa, é importante limpar as distrações do ambiente. Por isso, momentos de estudo precisam ser feitos em um local silencioso e longe de objetos de distração, como o celular e, quando possível, o computador. Além disso, é importante que esse ambiente esteja limpo e tenha claridade.
4. As tarefas são importantes para a aprendizagemÉ muito difícil que os alunos – principalmente os adolescentes – façam a lição só porque o professor solicitou. É preciso que percebam seu objetivo: relacionar o conteúdo novo com o que já se aprendeu, treinar algum conteúdo, levantar dúvidas sobre um assunto, ler para buscar uma determinada informação, ler para fruição… Enfim, seja qual for o objetivo, é essencial que o aluno compreenda porque está gastando seu tempo com aquela atividade.
Uma lição de casa com sentido complementa o que foi feito na sala de aula, ajudando na construção do conhecimento. Ela é, portanto, um presente para os alunos (embora às vezes pareça um “presente de grego”).
5. As lições apresentam desafiosOs deveres passados para casa apresentam desafios para os alunos. Por isso, é tão importante a concentração e o esforço na hora de fazê-los. Algumas estratégias que podem ajudá-los a resolver a tarefa: anotar o que não entendeu, ligar para amigos, pedir a ajuda dos adultos e comparar com as tarefas feitas em classe.
Sem dúvida nenhuma para fazer as lições de casa é preciso uma boa dose de esforço para não se entregar ao Facebook, coragem para lutar contra a letargia da televisão, perseverança para resistir às bolachas, dor perante as dificuldades (aprender dói!) e, por fim, acreditar nos adultos, que já perceberam que não dá para fazer muitas coisas simultaneamente.

Família e Escola: adversários ou parceiros?

Maria Fernanda Martins Ferreira, diretora da EE Dona Brasília Castanho de Oliveira, durante reunião com os funcionários da escola e APM. Foto: Raoni Maddalena
Sem dúvida nenhuma, a construção de uma relação entre a escola e a família é um dos desafios atuais quando o assunto é Educação. O que devemos fazer quando essas duas instituições possuem visões diferentes sobre quais são as regras e os limites que devem ser impostos aos jovens e crianças? Como se diz na minha terra: “êta perguntinha danada!”.
Antes de qualquer coisa, precisamos ter clareza sobre o papel que cada uma das instituições, família e escola, desempenha na formação dos alunos, e sobretudo compreender as transformações pelas quais elas vêm passando, para atuarmos de forma construtiva nesse contexto.
Segundo o filósofo espanhol contemporâneo Fernando Savater, a família é a primeira instituição responsável pela socialização das crianças. Ou seja: é dentro desse núcleo que são adquiridos os primeiros valores, costumes e ideias. Esses aspectos, entretanto, são particulares a cada família, e podem ser muito diferentes de uma para outra. Logo, o convívio com pais, irmãos e primos se torna o “alicerce” do sujeito, que necessariamente irá ampliar suas relações em outros meios sociais. É nesse contexto que será vivenciado o espaço privado, em que as relações são assimétricas. Afinal, os pais têm mais autoridade e poder que os filhos.
Na família as relações são estáveis, ou seja, a mãe não deixa de ser mãe embora o filho tenha se comportado mal, tenha desobedecido ou brigado com o irmão. Pensando no contexto da atualidade, é preciso considerar ainda as diferentes configurações familiares em que o papel do pai ou da mãe é desempenhado por outros adultos a quem são delegadas todas as responsabilidades. Além disso, houve uma sensível redução na quantidade de filhos, impedindo a criança de conviver com os pares antes de ingressar na escola e ampliando muito suas possibilidades de alcançar “todos os seus desejos”, sem se confrontar com a realidade das disputas por atenção, por lugar, por objetos…
Já na escola, a criança irá experimentar a igualdade e aprender a lidar com a diversidade característica do espaço público. A socialização secundária, que consiste no ensino dos conhecimentos e da aprendizagem dos valores sociais, é, portanto, uma responsabilidade dessa instituição. É lá que as crianças e os jovens têm a oportunidade de aprender a viver em uma sociedade democrática, ouvindo uns aos outros, administrando conflitos e pontos de vista, estabelecendo relações respeitosas e percebendo a necessidade das regras e valores para se viver bem. Em suma, a manutenção da qualidade das relações dependerá das atitudes de todos os envolvidos. Ao contrário da mãe que sempre será mãe, o colega ou o amigo podem escolher conviver (ou não) com aqueles que melhor se afinam e se sentem bem.
Essa diferença já é suficiente para a conclusão de que, na escola, nem sempre haverá espaço para que a criança faça somente o que quer ou o que está acostumada a fazer em sua casa. Esse encontro da criança com as frustrações inevitáveis ao convívio em grupo muitas vezes gera um tremendo mal estar para toda a família. Por outro lado, são extremamente necessárias e importantes para a construção psicológica. O que fazer então?
Não há fórmulas mágicas. O caminho seguro é compartilhar com a família o conhecimento que temos sobre o desenvolvimento do ser humano. Não se iludam: nada do que trouxemos até aqui acerca dos universos família/escola é de conhecimento dos pais e responsáveis. Se não desempenharmos nosso papel enquanto educadores, compartilhando nossos conhecimentos e, portanto, assumindo uma postura profissional, abrimos espaço para que qualquer um dê seus pitacos. No futebol, por exemplo, não é verdade que muita gente se acha mais capaz de coordenar um time do que os próprios técnicos? Na escola não é diferente: sempre surgem os “pais pedagogos”, apontando o que a escola deve ou não fazer…
Retomando a questão inicial, o que fazer quando escola e família pensam de maneira diferente sobre regras e limites? Concluímos que a solução pode não ser tão difícil assim.
No primeiro momento, devemos acolher as dúvidas, queixas e angústias, e compartilhar nosso conhecimento, buscando enfatizar a função da escola como instituição responsável pelo que é público. Em seguida, esclarecer os prejuízos e/ou benefícios gerados para as crianças, dependendo da qualidade de relação estabelecida entre a família e a escola.
Quando os argumentos que apresentamos aos pais se distanciam do senso comum, sendo fundamentados e embasados teoricamente, ocupamos nosso espaço e tranquilizamos aqueles que, por algum motivo, duvidaram da nossa competência como agentes também responsáveis pela formação das crianças e jovens.
É recorrer ao nosso conhecimento para, acima de tudo, construirmos laços de confiança e respeito mútuo.

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Coordenador pedagógico também faz plano anual de trabalho

Meu plano anual de trabalho me ajuda a construir minha identidade como coordenadora pedagógica e dar legitimidade a minha função
Meu plano anual de trabalho me ajuda a construir minha identidade como coordenadora pedagógica e dar legitimidade a minha função
Considero muito importante o coordenador ter um plano de trabalho para direcionar suas ações durante o ano. Em 2008, por exemplo, apresentei um planejamento para a escola em que hoje sou coordenadora e, todo início de ano, eu o uso como modelo e o refaço de acordo com a nova realidade.
Depois desse trabalho, é essencial apresentá-lo para a direção e para os professores na reunião de planejamento, porque é ele que direciona minhas ações no dia a dia escolar. Com ele, não perco o foco das minhas funções.
Abaixo, descrevo para vocês a estrutura que elaborei para escrever o plano. Para acessar o modelo do documento, clique aqui.
  • Identificação: nesse espaço, coloco os meus dados, como nome, endereço, telefone e e-mail.
  • Introdução: faço referência à legislação que embasa as atribuições do coordenador
  • Diagnóstico do corpo docente: neste item, eu elaboro um quadro com alguns dados dos professores (por exemplo, formação, tempo no magistério, se trabalha em outra escola, se fez opção por horas de estudos de Matemática, entre outros). Dessa forma, consigo levantar um pouquinho da realidade dos professores com os quais vou trabalhar durante o ano letivo.
  • Diagnóstico do corpo discente: faço a análise geral do ano anterior quanto ao total de alunos, número de alunos evadidos, taxa de retenção e de aprovados e a quantidade de alunos em cada hipótese de escrita. Conhecer a realidade das crianças me ajuda a direcionar o meu trabalho.
  • Reunião de pais: retomo a participação dos pais às reuniões do ano anterior para propor novas metas.
  • Avaliações externas: é importante que o coordenador conheça os índices da escola em que trabalha. Então, sempre atualizo alguns dados no meu plano, por exemplo: Índice de Desenvolvimento da Educação do Estado de São Paulo (IDESP) e Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB).
  • Metas para o ano: além dos objetivos que proponho atingir com o meu trabalho, quantifico o que pretendo. Por isso, estabeleço metas. Por exemplo, aproveitamento de 100% do tempo destinado às reuniões de aulas de trabalho pedagógico coletivo (ATPC); trabalhar para que 100% dos alunos dos 2º anos cheguem alfabéticos ao final do ano; acompanhar o desempenho de todas as crianças do 2º ao 5º anos; acompanhar os registros de sondagens e diagnósticos de todos os professores; entre outras metas.
  • Ações e estratégias adotadas frente à realidade: este item é o eixo central do meu plano, porque, a partir das minhas funções e da realidade que tenho em mãos, aponto ações para realizar com a equipe gestora, com os docentes e com os discentes.
  • Aulas de Trabalho Pedagógico Coletivo (ATPC): planejo temas gerais para serem trabalhados nas reuniões durante o ano.
  • Avaliação do plano: tudo o que é planejado e executado precisa ser avaliado. Assim, é possível saber o que é preciso melhorar.
Ao final do semestre ou do ano letivo, proponho aos professores, em reunião de ATPC, a avaliação do meu trabalho. O portfólio que organizo durante o ano também é um subsídio para essa análise.
Acredito que essa prática de pensar a realidade da escola, propor ações e metas, registrar e avaliar tem ajudado na construção da minha identidade de coordenadora pedagógica e da legitimidade da minha função.

Como agir com as brincadeiras de namoro entre as crianças?

Crianças de mãos dadas. Blog de Educação Sexual. Richard Stephenson/Crative Commons http://creativecommons.org/licenses/by/2.0/
Muitos pais e professores ficam preocupados quando os pequenos brincam com o próprio corpo ou descobrem o prazer de tocar os genitais – comportamentos comuns na infância. No entanto, em uma postura contraditória, eles estimulam a criança a namorar quando ouvem o filho ou aluno se referindo ao amigo como namorado.
Namoro não é natural na infância. As criança pequenas ainda não têm condições biológicas, emocionais, e muito menos maturidade para realizar o relacionamento afetivo-sexual indispensável ao namoro.
Crianças não namoram, elas se relacionam. Para os pequenos, o outro ainda não tem a importância que o adulto dá. Uma criança não gosta de outra porque sente vontade de beijá-la, abraçá-la ou ser a única companheira de suas brincadeiras.  Os pequenos gostam dos outros porque eles demonstram prazer em brincar junto, devolvem seus brinquedos, inventam uma brincadeira divertida, emprestam lápis de cores…
Por que, então, algumas crianças dizem ter namorados?
Normalmente, porque algum adulto falou isso antes. Em geral, é a partir dos três anos que as crianças passam a brincar de namoro e de papai e mamãe. Nesse momento, eles já incorporaram o conceito de gênero e começam a imitar os adultos. As brincadeiras revelam como os pequenos estão percebendo os papéis de gênero assumidos pelo mais velhos. Não indicam o desejo de ser pai, mãe ou mesmo de namorar.
Além disso, a criança constrói seu imaginário com base nas mensagens transmitidas pela família e pela sociedade. Para ela, ser namorado de alguém é gostar de estar junto. E, em geral, quem se encaixa neste perfil, é o(a) amiguinho(a) do momento.
É por isso que uma menina pode imitar os mais velhos e até dizer que o seu namorado é o Felipe. Mas, se isso não for reforçado pelo adulto, amanhã ela poderá dizer que é o Flávio, depois a Marina, a Carla…
Li na internet um depoimento de uma mãe que exemplifica bem o tema deste post.  A filha de cinco anos pegou um anel de brinquedo e avisou: “Vou levar para o Felipe, posso?”.  A mãe respondeu cheia de expectativas: “É um anel de compromisso?” “O que é um anel de compromisso?”, questionou a menina. “Nada, nada. Pode levar, filha.”  A criança então complementou: “Não sei se vou dar pra ele ou para a Letícia.”
Uma vez, um pai me procurou muito preocupado com a possibilidade de seu filho ser gay. Ele havia perguntado ao seu filho de 4 anos quem era a namorada do menino. A resposta veio de pronto: “Ora, o Rafael!”.  Apesar da ansiedade do pai, é claro que a resposta da criança não sinaliza qual será a sua orientação sexual.
As confusões acontecem porque as pessoas entendem a palavra namorado sob o ponto de vista do adulto. E têm dificuldade em diferenciar sua visão de mundo da visão dos pequenos. Deveriam lidar com os comentários de acordo com o contexto e com a capacidade das crianças. Mesmo porque, logo, logo, quando chegarem aos 7 anos, os meninos dirão que as meninas são chatas e mimadas. Já as garotas vão dizer que eles só conversam bobagens e não entendem de meninas. É por volta dos 13 anos que as crianças passam a ter interesse afetivo e sexual por alguém e de fato, namorar.
O que fazer quando o aluno diz estar namorando
Durante a infância, é importante que a criança tenha tranquilidade para fazer amigos e brincar de acordo com o seu desenvolvimento. Portanto, o professor ajuda muito ao evitarcomentários sobre namoro. Também não é bom sugerir que o aluno sente ao lado de seu suposto namoradinho ou lhe dê um beijo.  Atitudes como essas inibem os pequenos. O que era para ser uma amizade leve, descontraída, divertida e companheira… vira um constrangimento e tolhe o desenvolvimento e a aproximação entre eles.
A atitude da escola  com os pais
Uma professora de Educação Infantil me perguntou como proceder com o aluno cuja mãe compra presentes para sua filha dar ao “namoradinho” na escola. “A mãe já trouxe até jóias, como um anel simbolizando compromisso!”, explicou.
Meu conselho? Não estimule esse comportamento na escola. Há crianças que pegam birra e nem chegam mais perto do amigo que insistem em dizer ser seu namorado.
Em casos como esses, a escola pode conversar com os pais sobre o assunto.  Essa tarefa pode ficar com o coordenador ou o professor da criança. Caso o profissional se sinta inseguro, pode levar para o bate-papo a pessoa na escola que entenda de sexualidade infantil, como a psicóloga. Quem lidera essa conversa preciso conquistar a confiança e o respeito desses pais. Isso porque irá tocar em questões delicadas, como as expectativas e valores dos responsáveis pela criança.
A escola também pode promover palestras ou cursos sobre sexualidade infantil e desenvolvimento afetivo-sexual. Essas atividades para a comunidade costumam surtir um efeito positivo na compreensão dos adultos.