terça-feira, 24 de junho de 2014

Qual é a função da orientação educacional?


“Não volto mais para aquela sala. Não estou aqui para educar e sim para ensinar!”, diz um professor visivelmente nervoso ao sair da minha sala.
“Vou tirar meu filho dessa escola. Aqui todos o perseguem. A culpa de tudo o que acontece na sala é sempre dele!”, desabafa, com voz alterada, a mãe de um aluno de 7º ano.
“De verdade, Flávia! A professora, além de nos desrespeitar, gritando e não explicando o que a gente pede, escreve errado um monte de palavras. Tem certeza que ela é professora?”, reclamam alguns alunos de 9º ano.
“Fui procurado por uma mãe reclamando que você não alterou o cronograma das avaliações. Disse que o filho estará viajando para a Disney e não estará presente durante as provas. Perguntou-me o que custava mudar as datas?”, relata o diretor/mantenedor da escola.
Esses são apenas alguns exemplos de situações recorrentes na prática do orientador/coordenador pedagógico. Mas, afinal, quem é essa figura na escola? No que consiste sua função? É relevante para a instituição?
Ao recordar as situações acima, e em plena Copa do Mundo, não pude deixar de pensar na analogia com a função do técnico das seleções. O que se espera de um técnico? No mínimo, que tenha experiência suficiente fpara contribuir e enriquecer a performance de cada um dos jogadores, certo? Mas essa é uma conclusão simplista demais!
Assim como a expectativa que se tem de um técnico é que ele tenha clareza de onde quer chegar, ou seja, dos objetivos, espera-se ainda que ele saiba definir como alcançá-los,isto é, que utilize boas estratégias. Pois são essas também as expectativas que envolvem o trabalho do orientador pedagógico. Ter clareza das metas implica considerar todo o contexto: o da equipe docente, das famílias, da gestão e principalmente do aluno, sempre o nosso foco. Para a equipe docente, a orientação pedagógica deve agregar conhecimento, experiência e companheirismo.
conhecimento não é necessariamente sobre o conteúdo a ser trabalhado, mas principalmente sobre as diferentes maneiras de fazê-lo, já que na realidade esses são os maiores desafio para o professor. O conhecimento aqui se refere ao desenvolvimento humano e às implicações pedagógicas implícitas  nesse processo – que definitivamente é uma das deficiências na formação dos educadores.
experiência da orientação deve abranger também um período de docência. Não há nada mais rico para um orientador do que sua experiência como docente, o chão da sala de aula. Há por trás desse requisito a possibilidade da reciprocidade, de se colocar no lugar do outro, além da maior empatia que isso causa aos professores. Não raro ouvimos deles frases do tipo: “Pra ele (a) – orientador – é fácil falar. Nunca entrou numa sala de aula. Não sabe como funciona”. E, de fato, faz toda a diferença você ter acumulado em sua bagagem diversos papéis na Educação. Se analisarmos bem, a experiência de orientação pedagógica começa na docência. O educador que se envolve verdadeiramente com a vida escolar de seus alunos atua, muitas vezes, como seu orientador.
E, finalmente, o companheirismo. Deve haver na figura do orientador uma postura acolhedora às inúmeras angústias vindas dos professores, famílias e alunos. Acolhimento não significa ser conivente, tampouco omisso, mas sim aliviar as dúvidas e anseios por meio do conhecimento sobre o ser humano. Afinal, a legitimação do nosso papel se dá por aquilo que podemos oferecer a mais do que os demais educadores já têm: o refinamento da psicologia do desenvolvimento humano. Estar ao lado e disponível, buscando junto com os envolvidos as soluções e melhores estratégias para os desafios, é, claramente, demonstrar o companheirismo necessário à função.
Quando me recordo da época em que atuava como professora, percebo que não tive em minhas orientadoras a referência para o que hoje é minha prática. Havia sempre uma sensação de que a relação com os professores não passava de questões burocráticas – bilhetes a serem entregues aos alunos, comunicados da direção e planejamentos de festas e eventos. Ou seja, uma função protocolar, repleta de lacunas às necessidades reais da equipe docente. Talvez essa realidade tenha, de certa forma, me inspirado a compor minha função e atuação como orientadora pedagógica, buscando perceber o que há de positivo em cada um contribuir com o que pode ser melhorado. Ser corresponsável tanto pelos êxitos quanto pelas falhas que certamente ocorrem durante nosso trabalho. Incentivar e promover a formação continuada dos educadores e, finalmente, ser uma figura de autoridade (e não autoritária) para as diversas instâncias da escola: professores, famílias, gestores e, principalmente, alunos.

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