terça-feira, 10 de junho de 2014


Generosidade se aprende e se pratica na escola


Às vésperas do início da Copa do Mundo de Futebol em nosso país, paira no ar uma sensação de aliança verdadeira e visceral entre o povo brasileiro. Algo parecido com um sentimento de irmandade. Assistimos e vivemos situações durante os jogos da nossa seleção em que uma multidão de estranhos se une em afeto: sofremos e comemoramos juntos! Afinal, não há necessidade de conhecer a identidade de cada um. Basta o sentimento comum.
E é justamente nessa semana, em que nossa sensibilidade está à flor da pele, que trazemos para o blog uma campanha de conscientização sobre a Aids. Fora de contexto? Absolutamente não!
Pensando no nosso universo profissional e em nosso maior foco, o aluno, o que a escola, responsável direta pelo trabalho com o conhecimento, pode fazer de fato para combater e erradicar o preconceito em relação aos soropositivos?
Não há dúvidas de que o primeiro passo é garantir espaços permanentes de formação para os professores e demais profissionais da instituição. É por meio do conhecimento que são “derrubados” os mitos que assombram e comprometem os relacionamentos com pessoas contaminadas pelo vírus HIV. Há no grifo anterior a intenção de ressaltar que os espaços de formação sejam realmente permanentes, e não somente organizados pelos calendários de campanhas e datas em que surgem propostas de novos projetos a serem desenvolvidos pela escola. Por quê? Porque é na formação continuada, responsabilidade da equipe de coordenação/orientação pedagógica, que se constrói coletivamente uma proposta de trabalho. Proposta essa que garanta aos alunos qualidade não só em relação ao trabalho com o conhecimento, mas, e principalmente, a prática de valores e virtudes necessárias à convivência. Ou você acredita que somente ter o conhecimento de que não se “pega Aids fazendo trabalho em grupo com um soropositivo” é suficiente para que nossos alunos acolham generosamente aqueles que se sentem inferiores e rejeitados pela vida? Saber é indispensável, mas não suficiente para garantir atitudes generosas, justas e, enfim, morais.
O trabalho contra o preconceito de qualquer natureza implica também o exercício constante da generosidade. A definição de tal virtude difere da justiça porque, na explicação de Yves de La Taille (2006, p.10)“dá-se a outrem, não o que lhe cabe de direito, mas sim o que corresponde a uma necessidade singular”(*). Assim, não basta o professor somente garantir ao aluno soropositivo a sua inclusão e seu direito de trabalho em grupo. É mais do que isso. Trata-se de um esforço permanente que aguce o olhar de professores e alunos para o reconhecimento da generosidade em pequenas atitudes, como o empréstimo voluntário de um material ou a ajuda voluntária em uma tarefa. Muitas vezes, tais atitudes são impedidas pelo professor com a justificativa de que os alunos estão “atrapalhando a aula”. O que acaba, ainda que de maneira não intencional, passando a mensagem de que a ajuda voluntária não é importante, ao contrário, fere regras pré-estabelecidas, como a do silêncio, por exemplo. O trabalho com virtudes deve ultrapassar a postura discursiva e envolver os alunos em práticas com causas sociais. Conhecer, viver e se envolver com a realidade que nem sempre é “cor-de-rosa”. Portanto, a abordagem de questões que envolvam principalmente a visão humanitária deve estar viva no currículo da escola.
Estudos demonstram que a generosidade está presente no início da construção da moralidade. Ou seja: crianças bem pequenas já reconhecem esse valor e apresentam atitudes generosas. Ora, por que então no mundo de hoje atitudes generosas são consideradas como exceções nas relações? Uma das hipóteses que nos parece lógica é a de que como a escola e a família muitas vezes não reconhecem, não incentivam ou não valorizam tal virtude, ela se “enfraquece” e não se torna presente nas relações. Faz sentido? Pois então, é hora de invertermos essa lógica!
Espero que a comoção que sentimos com a execução do Hino Nacional no início de cada jogo da Copa do Mundo nos inspire para um trabalho que ajude nosso aluno a se comover ainda mais com a fragilidade e dor do outro. E que ao se comover, ele sinta a necessidade de ser generoso e que sua generosidade o faça sentir-se bem!

Nenhum comentário:

Postar um comentário