segunda-feira, 17 de março de 2014

Por que ainda existem as figuras do “menino pegador” e da “menina galinha”?

Você já parou para pensar por que, diante de um mesmo tipo de comportamento, meninos e meninas são rotulados de maneiras tão diferentes? Para os garotos, essa fama é motivo de orgulho. Já para as meninas, de vergonha. O que há por trás destas interpretações?
Nossa herança cultural admite e admira a promiscuidade masculina como sinal de virilidade. Mas quando esse comportamento é exercido pelas garotas, elas são condenadas e rebaixadas em sua feminilidade. Quem nunca ouviu o conselho de que existem garotas para ficar e garotas para namorar?
A escola é fundamental para contribuir com uma relação de gênero mais apropriada, que desconstrua esse tipo de estereótipo tão nocivo para as relações sociais. Para isso, os alunos precisam entender de onde vem este comportamento e por que ele não cabe mais nos dias de hoje.
Macho que é macho não nega fogo!
Está aí uma frase que muitos meninos se habituam a ouvir desde cedo. A mensagem por trás dela é clara: o garoto não tem opção. Mesmo que não deseje uma garota, ele não deve dizer não. Caso o faça, isso pode ser interpretado pelos amigos como um sinal de que ele é gay.
É importante desconstruir esse conceito machista e sem fundamento. Querer ou não querer ficar com alguém não tem nada a ver com ser hétero ou homossexual, mas com respeito aos limites, valores e desejos. O professor tem papel significativo na vida de seus alunos e pode, por meio de um olhar diferente, mostrar a eles que os meninos têm o direito de fazer suas escolhas ao seu tempo.
Quando, por qualquer outro motivo – insegurança, autoafirmação ou por valores arraigados -, o garoto se orgulha de ser um “pegador”, cabe ao professor questioná-lo para entender se se trata apenas da reprodução irrefletida de um modelo socialmente concebido ou se esse comportamento faz parte da descoberta e do exercício da sedução – e do clima de “curtição” próprio da idade.
O professor deve debater com os garotos que, tão ou mais importante que a quantidade de aventuras, são os momentos de felicidade e de satisfação construídos com alguém. A intensidade de envolvimento afetivo e a qualidade das experiências sexuais são fundamentais para o garoto adquirir confiança em sua virilidade e viver o relacionamento sexual de forma espontânea e prazerosa.
Meninas têm que “se dar ao respeito”Para as meninas, o rótulo de “galinha” vem carregado de julgamento e desprezo. Desde a infância, a ideia de “se dar ao respeito” pressupõe uma série de restrições à conduta feminina, segundo um determinado padrão que orienta diversos comportamentos sociais das garotas, do vestuário aos hábitos sexuais. Em relação a este último, a orientação era clara: só era digna de respeito – e, portanto, adequada para o casamento – a menina que se mantivesse casta. As mulheres não deveriam ter interesse sexual. E se tivessem, a atitude correta era reprimi-lo.
Como manter este mesmo julgamento hoje, em que a mulher não é mais apenas dona de casa, esposa e mãe? A mudança de paradigma na construção da identidade feminina passou por sua emancipação social, econômica e afetiva. Atualmente, as mulheres não dependem mais dos homens em nenhum aspecto. Isso também vale para a escolha dos parceiros. Ficar com quem e quantos desejar é um direito sexual da mulher.
Ocorre que esse comportamento independente ainda assusta as pessoas mais conservadoras, que traduzem sua incompreensão em preconceitos. Uma boa estratégia para desconstruir essa impressão é promover uma roda de conversa com meninos e meninas, separadamente, para que eles debatam sobre os papeis sociais e a visão sobre o sexo oposto e depois reunir toda a turma para que eles dividam suas impressões e entendam melhor a visão do outro. Aí, eles poderão entender a complexidade presente nas relações humanas sem reduzi-las a estereótipos.
Em busca do equilíbrio
Muitas vezes, garotos e garotas ganham fama por ainda não terem conseguido concluir uma etapa do processo de desenvolvimento afetivo – é a “pegação sem noção”, como eles dizem. Eles ficam com uma pessoa, com outra, com quem aparecer sem o menor critério. O que importa não é a pessoa com quem se fica, mas o fato de ficar. Encaram o outro como se fosse um objeto. Ambos estão treinando o papel sexual e ainda não conseguem lidar com o indivíduo, mas apenas com o fato.
Mais tarde, quando estão seguros de si, é que conseguem olhar para a pessoa. Quando isso acontece, em geral, ambos passam a estabelecer de fato um relacionamento onde o amor acontece e o interesse e o respeito pelo outro se sobrepõem às tentações de um encontro fortuito. Mas, para isso, é preciso que se tenha convicção de que este comportamento vale a pena! E isto se adquire por meio do valores e modelos que cada um traz de sua história, experiências afetivas e confirmação social.

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