terça-feira, 14 de outubro de 2014

A música do mundo ao alcance de cada um


Ao explorar diferentes sons, a meninada tomou consciência da paisagem ao redor


O som do vento e das folhas caindo no pátio, o burburinho das crianças no parquinho, o batuque agitado das panelas durante o preparo da merenda. Esses sons, tão presentes no cotidiano escolar, foram o ponto de partida do projeto Paisagem Sonora e Exploração Musical, realizado em 2012 por Lidiane Cristina Loiola Souza, na EMEI Papa João Paulo II, em São Paulo. 

Formada em Artes Visuais, a docente começou a se interessar pelo ensino de Música graças a três atividades formativas. Em um curso da Secretaria Municipal de Educação, teve contato com os estudos do compositor canadense Murray Schafer, criador do conceito de paisagem sonora. O especialista defende que é preciso estar atento ao conjunto de sons ouvidos num determinado lugar. "Somente por meio da audição, seremos capazes de solucionar o problema da poluição sonora", diz ele no livro O Ouvido Pensante (408 págs., Ed. Unesp, tel. 11/3242-7171, 50 reais). No mesmo período, Lidiane estudou Educação Musical na pós-graduação em Linguagens da Arte do Centro Universitário Maria Antônia, na Universidade de São Paulo (USP), e participou de um encontro sobre o tema na Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho" (Unesp). "Vi que tinha de levar a música com mais ênfase para a turma", diz. 

Sua proposta era audaciosa: proporcionar às 35 crianças de 5 e 6 anos para as quais lecionava na época o desenvolvimento de uma escuta mais atenta, promovendo a sensibilização musical. Para tanto, dividiu o projeto em etapas. As atividades começaram com o desafio de caminhar pelos espaços da escola em busca de diferentes sons e, em seguida, desenhar o que ouviram. Divididos em grupos, no pátio externo, os pequenos foram convidados a parar, ficar em silêncio e prestar atenção. A pequena Dandara Gabrieli Lima Sobrinho logo notou algo diferente. "Tem barulho das crianças correndo. Ouvi os pés delas batendo no chão", disse, animada. "E tem som de moto, carro e caminhão", completou o colega Diego da Silva Pereira de Sousa. Assim, um a um, todos foram percebendo os sons que compunham aquela paisagem. A investigação continuou pelos corredores da escola. "Dá para ouvir as mochilas de rodinha batendo na escada e alguém lá fora abrindo o portão", alertou Carlos Henrique Vasconcelos Barros. 

De volta à sala, os sons ganharam registros. Lidiane pediu que cada grupo desenhasse o que ouviu. Em seguida, propôs que socializassem as descobertas e criassem um mapa sonoro da escola. "A percepção, a discriminação e a interpretação de eventos sonoros têm grande importância no que diz respeito à formação e à transformação da consciência de espaço e tempo, um dos aspectos prioritários da consciência humana", defende Teca Alencar de Brito no livroMúsica na Educação Infantil - Propostas para a Formação Integral da Criança (204 págs., Ed. Peirópolis, tel. 11/3816-0699, 49 reais).

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