segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Letramento científico: o Ensino Médio faz diferença?


Aplicação de conhecimentos científicos no dia a dia: será que alunos conseguem entender por que a interrupção de tratamento com antibiótico pode tornar as bactérias mais resistentes? Foto: Shutterstock
Em um post anterior, comentei os principais resultados do Indicador de Letramento Científico, publicados recentemente por uma parceria formada pela Abramundo, Ação Educativa, Ibope e Instituto Paulo Montenegro. A pesquisa analisou as respostas de cerca de duas mil pessoas entre 15 e 40 anos que tivessem ao menos 4 anos de estudo e residissem em uma das 9 regiões metropolitanas brasileiras.
O ILC classificou os entrevistados em quatro grupos, sendo que o nível 1 representa o letramento não-científico (pessoas que sabem ler, mas não usam procedimentos científicos) e o nível 4 representa o letramento científico proficiente (pessoas que dominam conceitos e procedimentos típicos da ciência). Na tabela a seguir, esses grupos estão separados de acordo com o grau de instrução completo dos entrevistados (o que corresponde a apenas parte da amostra total).
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Em um primeiro exame, essa tabela mostra que, quanto mais tempo uma pessoa tem de ensino formal, maior a chance de que tenha um letramento científico mais avançado. Até aí, tudo conforme o esperado: é o chamado efeito-escola.
Contudo, uma análise mais atenta mostra que o único grupo em que temos a maioria da amostra localizada nos níveis 3 e 4  é o do ensino superior completo (65%). Ou seja, a escola básica não é suficiente para que a maioria atinja os níveis de letramento científico considerados acima do básico!
Dados interessantes aparecem quando comparamos os entrevistados com Ensino Fundamental completo versus Médio completo. Dos que completaram o Ensino Fundamental, 75% se incluem nos níveis mínimos (1 e 2), já para quem tem o Médio completo essa porcentagem cai para 63%. As cifras insinuam que o Ensino Médio insere apenas 12% dos entrevistados na condição de letramento científico básico.
Esse é um dado alarmante, já que no Ensino Médio as ciências da natureza ocupam um espaço maior na grade curricular, envolvem professores especialistas em Física, Química e Biologia, utilizam livros didáticos específicos; entretanto, todo esse esforço aparentemente influi pouco na formação científica das pessoas.
Vale lembrar que as perguntas feitas para construir o ILC não foram do tipo “o que é atrito” ou “quais as características das bactérias”, e sim mais próximas a “por que um pneu com estrias é mais seguro” ou “por que algumas bactérias sobrevivem mesmo na presença de um antibiótico”.
(Clique aqui para ver algumas das questões da prova utilizada na pesquisa).
Isso nos leva a uma reflexão: será que nosso ensino de Ciências forma alunos capazes de responder a esse segundo tipo de perguntas? Eles usam algo do que aprendem em Ciências para resolver seus problemas cotidianos?

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