Vídeo contra o bullying
Com a produção e a exibição de filmes, estudantes
de Pernambuco começam a mudar a realidade de conflito e desrespeito na escola
Marcelo Volpato (novaescola@atleitor.com.br)
O caso real
A EE Madre Lucila Magalhães, de Vitória de Santo Antão, a 53 quilômetros de Recife, em Pernambuco, não é a mesma de quatro anos atrás. Na época, o desrespeito entre alunos era generalizado. “Os alunos se xingavam muito, o que acabava gerando agressões físicas também. Existia muito racismo e uma disputa entre estudantes de diferentes comunidades. Até o patrimônio da escola sofria ações de vandalismo”, conta João Francisco da Silva, professor de História.
A EE Madre Lucila Magalhães, de Vitória de Santo Antão, a 53 quilômetros de Recife, em Pernambuco, não é a mesma de quatro anos atrás. Na época, o desrespeito entre alunos era generalizado. “Os alunos se xingavam muito, o que acabava gerando agressões físicas também. Existia muito racismo e uma disputa entre estudantes de diferentes comunidades. Até o patrimônio da escola sofria ações de vandalismo”, conta João Francisco da Silva, professor de História.
Mas o “Stop Bullying”, um projeto de produção e
exibição de filmes, liderado por Silva, trouxe novos ares para toda a escola, que
atende 1100 alunos.
“Quando resolvi trabalhar assuntos ligados aos
Direitos Humanos, em 2008, busquei fazer com que os alunos vivenciassem algumas
situações na prática para que percebessem que as ações de violência precisavam
ser erradicadas da escola porque comprometiam os laços de uma boa convivência”,
explica Silva, que convidou seus alunos para produzir filmes sobre os problemas
cotidianos de suas vidas, como drogas, violência, rivalidade e falta de
respeito.
Primeiramente, o grupo escolhe o tema a ser
trabalhado. Faz-se uma pesquisa sobre ele e só então se inicia a redação do
roteiro. Depois vêm os ensaios e, por fim, a gravação e edição. A encenação
torna possível problematizar temas difíceis de tratar por meio de debates
reais. “A ficção transformou a realidade de nossos alunos”, analisa.
A participação dos alunos é garantida por meio de
um revezamento das funções: roteiro, iluminação, manutenção, atuação. “Nunca
deixo que ninguém fique de fora”, comenta o professor.
De 20 integrantes iniciais, hoje o projeto já conta com 120 alunos do Ensino Fundamental e Médio que participam dos encontros semanais no contraturno. Além de exibir os filmes nos espaços da escola, o grupo organiza apresentações em locais públicos da comunidade do entorno.
De 20 integrantes iniciais, hoje o projeto já conta com 120 alunos do Ensino Fundamental e Médio que participam dos encontros semanais no contraturno. Além de exibir os filmes nos espaços da escola, o grupo organiza apresentações em locais públicos da comunidade do entorno.
Aos poucos, o professor conseguiu mobilizar os
alunos para uma discussão em torno dos problemas mais recorrentes na vida
escolar e sobre a necessidade de mudança de comportamento. O problema não foi
completamente extinto, mas uma iniciativa importante já foi tomada. “Antes, os
alunos resolviam tudo por meio da violência. Hoje, eles procuram alternativas,
principalmente, o diálogo para mediar conflitos dentro e fora do espaço
escolar”.
Palavra de especialista
Casos de bullying sempre existiram no ambiente escolar. O que tem mudado, ao longo do tempo, é a forma como estes profissionais estão lidando com ele. “O problema não é ter conflitos na escola e sim como os educadores podem intervir de forma mais construtiva”, explica Adriana de Melo Ramos, pedagoga e doutoranda em Educação pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Palavra de especialista
Casos de bullying sempre existiram no ambiente escolar. O que tem mudado, ao longo do tempo, é a forma como estes profissionais estão lidando com ele. “O problema não é ter conflitos na escola e sim como os educadores podem intervir de forma mais construtiva”, explica Adriana de Melo Ramos, pedagoga e doutoranda em Educação pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
O primeiro passo para se combater o bullying é
identificá-lo e aceitá-lo. Para a pesquisadora, cabe aos professores e gestores
estudar e debater o tema, planejar intervenções diretas com os alunos, levar a
discussão às famílias e trabalhar com os espectadores. “Só existe bullying
porque existe plateia. E é nesse público que os educadores devem focar ações
mais específicas”.
Na avaliação de Adriana, o projeto “Stop Bullying”
teve a sensibilidade de discutir temas de interesse dos próprios alunos por
meio de histórias fictícias, o que contribuiu para que o grupo não se sentisse
ameaçado. “É muito mais fácil para as crianças refletirem sobre situações
hipotéticas para depois pensar em situações reais porque gera um envolvimento
maior”, explica.
Mas a pedagoga chama a atenção para a necessidade
de se desenvolver um trabalho de formação continuada com todos os educadores da
escola, para que contribuam com a construção de um ambiente mais cooperativo e
respeitoso. “Isso não pode acontecer apenas nas aulas do professor João, mas
nas diversas aulas que os alunos frequentam, assim como na relação com a equipe
gestora”, alerta.
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