Vale a pena organizar os alunos em grupos? Sim!
Conversando com professores, noto certa polêmica sobre a adequação dos trabalhos em grupo. Ao mesmo tempo em que muitos docentes reconhecem a importância da organização das turmas em equipes, é comum que as dificuldades os desestimulem a usar esse tipo de estratégia.
Por um lado, os contrários ou, no mínimo, resistentes ao trabalho em grupo argumentam que essa prática acarreta desperdício de tempo, brigas e rejeições de alunos ou que apenas alguns cumprem as tarefas. Do outro, é comum que as opiniões favoráveis defendam a importância do trabalho em grupo para o futuro dos alunos no mercado de trabalho, para o relacionamento com os colegas e também, é claro, apontam como positivo o fato de a quantidade final de trabalhos ser menor.
Ao meu ver, ambos os grupos apresentam visões reducionistas e simplistas acerca de um tema de tamanha relevância. Já nos anos 30, o biólogo suíço Jean Piaget desenvolveu algumas pesquisas em que apresentava as observações psicológicas sobre o trabalho em grupo (*) em salas cuja prática se dava sistematicamente. Suas conclusões podem ser resumidas em três observações, que eu explico melhor abaixo.
O aluno como protagonistaQuando prevalece nas aulas o método do verbalismo, ou seja, a transmissão oral dos conteúdos pelo professor, é maior a dificuldade para que alunos e professores se compreendam. A organização em grupos privilegia a participação do estudante como sujeito ativo no processo de aprendizagem. Diversas pesquisas mostram que a ação e o envolvimento do aluno, por meio de suas próprias investigações e descobertas, contribuem efetivamente para a construção do conhecimento. É claro que as ideias de Piaget não suprimem as lições e aulas dadas pelo professor, mas sugere que elas deem espaço para as questões que partem dos alunos e para mais colaboração e intercâmbio entre os pares.
A priorização do raciocínioA segunda observação feita pelo pesquisador é a de que a tarefa primordial da Educação deve ser a de favorecer a construção e o desenvolvimento do pensamento e doraciocínio e não a de ocupar e sobrecarregar a memória. Em outras palavras, ele afirma que o pensamento lógico é desenvolvido ao longo da vida pela experimentação e a dedução. Sendo assim, somente a autoridade do professor não basta para impor raciocínios cada vez mais elaborados. Há a necessidade do esforço livre, próprio de cada sujeito, que se concretiza prioritariamente com a colaboração e o auxílio mútuos. A troca equilibrada entre o aluno e seus colegas é um efetivo exercício cognitivo, para que o estudante tenha contato com questionamentos e visões diferentes das próprias e das do docente.
A formação moralA terceira observação de Piaget complementa as anteriores: “A razão implica um elemento social de cooperação”. O que ele quer dizer com isso é que o trabalho em grupo não deve ter um papel secundário no planejamento porque é, de fato, um instrumento para a formação do pensamento racional e da personalidade. Aprendemos a nos conhecer pela oposição das vontades e das opiniões com as quais nos deparamos, pela troca e pelo diálogo, pelos conflitos e pela compreensão mútua.
Portanto, analisando os argumentos de resistência ao trabalho em grupo, olhar somente para o desperdício de tempo dos alunos é não enxergar o exercício de regulação moral provindo das relações sociais; olhar somente para os alunos que não participam é não enxergar que entre pares o compromisso social é forte o suficiente para regular atitudes não produtivas, ou seja, o grupo inspira o esforço pessoal.. É pela possibilidade das trocas mútuas que a convivência se torna refinada.
Com toda certeza incluir o trabalho em grupo sistematicamente é trabalhar na direção do desenvolvimento de nossos alunos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário