A família diz “esse tema é contra minha religião”. E agora?
Nesta semana, trago para o nosso espaço uma reflexão sobre o relato de uma educadora com quem conversei recentemente. Infelizmente, há muitos casos semelhantes ao dela em escolas de todo o país. Ela conta que, no início do segundo semestre letivo, recebeu a matrícula de três irmãos cujos pais são bastante religiosos. E essa família buscou a escola para reclamar de algumas atividades propostas, como a apresentação de músicas e contos de fada (trabalhadas na sala da criança de 4 anos) e mitos e lendas do Brasil (conteúdo bastante presente em todos os anos/séries do Ensino Fundamental). As falas dos pais são incisivas: “a religião de nossa família não permite tais conteúdos.”
O que fazer diante de uma situação tão delicada e difícil?
Mais uma vez nos deparamos com um cenário em que a confusão dos papéis da família e da escola pode interferir no bom andamento do processo educacional. Cabe à escola, então, conversar com os pais sobre o espaço de atuação de cada um na formação das crianças. Obviamente, devemos respeitar as crenças seguidas por uma família. A escola é laica e nosso objetivo é sempre esclarecer o papel da instituição como responsável por trabalhar oconhecimento construído e acumulado ao longo da história da humanidade.
Não cabe discutir as atitudes que pais como os da história acima possam ter. A ênfase está em esclarecer nosso território de trabalho escolar, de responsabilidade com a cultura – tanto popular quanto erudita.
Isso precisa ser feito por meio do diálogo com as famílias e com o oferecimento de informação. É importante destacar o propósito pedagógico de cada atividade, esclarecer os motivos que levaram à seleção de tais conteúdos e justificar a importância disso para a formação das crianças. Devemos mostrar que não permitir a participação dos alunos em atividades curriculares é negar-lhes o direito a uma vida escolar saudável e o acesso a conhecimentos a que todos têm direito.
O trabalho da escola trata da dimensão do que é público e, portanto, de interesse para a vida em sociedade. Não é nosso papel nem nossa vontade interferir nos comportamentos de ordem privada, como a escolha ou a prática de uma religião.
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