quinta-feira, 28 de agosto de 2014

A família diz “esse tema é contra minha religião”. E agora?

Pai e diretor escolar conversam sobre problemas entre religião e conteúdos da escola
Quando surgem embates entre a família e a escola, a saída é, mais uma vez, o diálogo. Imagem: Montagem/Editoria de Arte
Nesta semana, trago para o nosso espaço uma reflexão sobre o relato de uma educadora com quem conversei recentemente. Infelizmente, há muitos casos semelhantes ao dela em escolas de todo o país. Ela conta que, no início do segundo semestre letivo, recebeu a matrícula de três irmãos cujos pais são bastante religiosos. E essa família buscou a escola para reclamar de algumas atividades propostas, como a apresentação de músicas e contos de fada (trabalhadas na sala da criança de 4 anos) e mitos e lendas do Brasil (conteúdo bastante presente em todos os anos/séries do Ensino Fundamental). As falas dos pais são incisivas: “a religião de nossa família não permite tais conteúdos.”

O que fazer diante de uma situação tão delicada e difícil?

Mais uma vez nos deparamos com um cenário em que a confusão dos papéis da família e da escola pode interferir no bom andamento do processo educacional. Cabe à escola, então, conversar com os pais sobre o espaço de atuação de cada um na formação das crianças. Obviamente, devemos respeitar as crenças seguidas por uma família. A escola é laica e nosso objetivo é sempre esclarecer o papel da instituição como responsável por trabalhar oconhecimento construído e acumulado ao longo da história da humanidade.
Não cabe discutir as atitudes que pais como os da história acima possam ter. A ênfase está em esclarecer nosso território de trabalho escolar, de responsabilidade com a cultura – tanto popular quanto erudita.
Isso precisa ser feito por meio do diálogo com as famílias e com o oferecimento de informação. É importante destacar o propósito pedagógico de cada atividade, esclarecer os motivos que levaram à seleção de tais conteúdos e justificar a importância disso para a formação das crianças. Devemos mostrar que não permitir a participação dos alunos em atividades curriculares é negar-lhes o direito a uma vida escolar saudável e o acesso a conhecimentos a que todos têm direito.
O trabalho da escola trata da dimensão do que é público e, portanto, de interesse para a vida em sociedade.  Não é nosso papel nem nossa vontade interferir nos comportamentos de ordem privada, como a escolha ou a prática de uma religião.

quarta-feira, 27 de agosto de 2014


As relações interpessoais com os professores


Para criar um ambiente de trabalho agradável, é necessário conviver bem com as pessoas (Foto: Gabriela Portilho)
Para criar um ambiente de trabalho agradável, é necessário conviver bem com as pessoas (Foto: Gabriela Portilho)
Conviver bem com as pessoas é uma das condições necessárias para criar um ambiente de trabalho agradável em todas as áreas de atuação, inclusive na Educação, não é mesmo? Mas como será que o estabelecimento de relações harmônicas impacta nos afazeres do coordenador pedagógico?
Acredito que impacta muito, porque o grupo de professores precisa confiar e encarar o coordenador como um parceiro que está ali para ajudá-lo na empreitada de assegurar as aprendizagens das crianças. Se não houver essa ponte, com quem o docente vai compartilhar as dúvidas e pedir auxílio quando precisar? Por isso, faz toda a diferença cultivar um bom relacionamento com a equipe para ser eficaz no trabalho.
Como criar um bom relacionamento com a equipe
A responsabilidade de criar e manter o clima de cooperação é do próprio coordenador, que tem o papel de líder dos processos de planejamentos e de formação. Abaixo, fiz uma lista do que acredito ser essencial para atingir esse objetivo.
Seja atencioso com pequenas atitudes no dia a dia. Quando convivemos muito com as pessoas, sabemos um pouco sobre suas preocupações e necessidades. Portanto, é sempre válido cumprimentá-las, perguntar a elas como estão, se precisam de alguma coisa, se a febre do filho pequeno já passou, etc. É a empatia em ação!
Valorize os encaminhamentos. Elogiar as atividades ou a participação ativa na formação mostra que estamos ali para apoiar e reconhecer também.
Tenha bom humor. Encarar os desafios e adversidades do cotidiano com leveza é fundamental. Nada mais chato que conviver com quem só reclama ou fica de cara feia.  De que adianta?  Problemas e desafios são intrínsecos à função de coordenar ou atuar em sala de aula. É mais gostoso se  a encararmos com disposição e sabermos que é preciso resolver os problemas da melhor maneira possível, sem se desgastar demais.
Ofereça ajuda. O professor pode precisar, por exemplo, de auxílio sobre como ensinar uma brincadeira nova para a turma.
Respeite os diferentes saberes. Isso é fundamental! Já coordenei professor que tinha uma prática muito boa, mas tinha uma dificuldade imensa de compreender a teoria quando líamos um texto. O contrário também acontecia: o professor é ótimo nas análises e discussões de textos, mas tinha muita dificuldade na sala de aula.  Respeitar não é ignorar, mas saber no que e como ajudar cada um.
Aja com ética. Isso significa não admitir a fofoca.  Falar ou ouvir comentários sobre outras pessoas só vale se for elogio ou críticas construtivas. Comentários maldosos precisam ser cortados. Deixe bem claro que nesse jogo o coordenador não entra.
Se conseguirmos manter um bom clima de trabalho e conquistar a confiança e o respeito dos professores, poderemos investir na melhoria constante dos processos de ensino e de aprendizagem.

terça-feira, 26 de agosto de 2014


A aprendizagem do controle da ejaculação.


Shutterstock
Trabalhar a ejaculação precoce com a turma também é uma estratégia para prevenção de gravidez e DSTs, pois permite aos alunos lidar de forma mais saudável com o sexo
Outro dia uma professora me confidenciou o seu desânimo com o trabalho de prevenção de DST/Aids na escola. Ela me disse, muito triste, que teve vontade de desistir quando um aluno lhe contou que, quando vai transar, a vontade de ejacular chega tão rápido que nem dá tempo de pensar em colocar a camisinha.
Na hora, eu me lembrei do quanto já vivi esse tipo de frustração ao longo da minha carreira como educadora sexual. De fato, por mais que a nossa aula promova o conhecimento sobre a importância da prevenção e ensine nossos alunos sobre as doenças sexualmente transmissíveis, suas formas de contágio e como colocar corretamente a camisinha, nem sempre isso é suficiente para que eles tenham uma postura responsável com relação a sua sexualidade. Há muitos fatores que podem interferir nesta conduta, como a ejaculação precoce. No entanto isso não pode ser um motivo para desistir desse trabalho.
Eu respondi a ela que a estratégia que transformou o meu desânimo em encanto por meu trabalho foi inserir na educação sexual temas que possam neutralizar fatores de vulnerabilidade dos jovens. Se uma das dificuldades de usar a camisinha é o controle da ejaculação, eu procuro trabalhar esse tema como uma nova forma de tocar os jovens para a prevenção de gravidez e DST/Aids. Por mais que o uso da camisinha seja recomendado desde o início da relação sexual e não somente quando o homem sente que vai ejacular, é importante trabalhar o tema da ejaculação precoce com os alunos, sempre reiterando que o uso da camisinha é fundamental, independentemente de qualquer coisa.
A relação sexual é o ato no qual a prevenção precisa acontecer. Entretanto, isso pode gerar insegurança e, consequentemente, ansiedade que, por sua vez, é a principal causa de ejaculação precoce. Esse é um fator, portanto, que o professor pode ajudar a eliminar se levar para a sala de aula esses temas, como a ejaculação e orgasmo masculino.
Isso pode ajudar tanto os meninos como as meninas a compreenderem melhor o processo e o funcionamento do corpo do garoto durante o ato sexual, além de ser um bom momento para ensinar a eles como podem controlar a ejaculação. Mais confiantes, poderão então abrir espaço mental para se concentrarem no uso da camisinha.
A ejaculação e o orgasmo masculino
Embora a ejaculação e o orgasmo sejam controlados por sistemas neurológicos diferentes (parassimpático e simpático, respectivamente), é comum que eles aconteçam ao mesmo tempo. É por isso que para muita gente, o sinal de que o homem teve orgasmo é a ejaculação. Isso é tão difundido que o sêmen é também chamado de gozo.
Um bom momento para falar na sala de aula da ejaculação e do orgasmo masculino é durante a aula sobre o aparelho reprodutor masculino. Depois de explicar sobre o funcionamento dos órgãos sexuais, o professor pode abrir um roda de conversa e perguntar para os alunos como se faz para que esses órgãos entrem em ação e cumpram a sua função reprodutiva? Quando eles responderem – receber estímulo sexual – Dê continuidade ao debate, voltando a questionar se sabem como ocorre a ejaculação.
Para dar essa explicação, faça com os alunos um levantamento sobre alguns estímulos sexuais que eles conhecem e em seguida explique que eles causam uma reação no corpo provocando a excitação, que é  responsável por ativar o processo ejaculatório. É muito importante que eles saibam que a ejaculação tem dois momentos. O primeiro vai do início da excitação até a fase de emissão, quando se dá a contração dos órgãos reprodutores internos: canal deferente, próstata, vesículas seminais. Eles lançam o sêmen no início da uretra. Este momento é chamado de inevitabilidade ejaculatória: o pênis está ereto e o sistema nervoso se encarrega de reter e acumular o sêmen na entrada da uretra. Imediatamente após, o homem entra na segunda fase, que é a ejaculação propriamente dita: consiste numa série de contração ritmadas da uretra e musculatura da base do pênis, que provocam a expulsão do sêmen pelo canal uretral.
Como controlar a ejaculação?
A ejaculação é um tipo de reflexo que pode ser controlado, de uma forma muito parecida com o controle do ato de urinar. Quando criança, as pessoas aprendem a identificar quando sua bexiga está cheia e os dois momentos que antecedem à eliminação da urina: aquele em que “dá para segurar” e o outro, quando a urina chega a um ponto em que é inevitável a sua saída. Na adolescência, quando o garoto começa a ejacular, ele precisa treinar segurar a saída do sêmen durante o tempo que ele julgar ser mais prazeroso. O segredo é desenvolver a capacidade de perceber que está a ponto de ejacular.
Basicamente, essa aprendizagem acontece por meio do treino do garoto em perceber as sensações e saber identificar o ponto da sua excitação, que antecede o momento dainevitabilidade ejaculatória. A aproximação deste momento é descrito pelos homens como uma sensação de que o pênis “está cheio” e desejoso de ser empurrado para frente para liberar a ejaculação. Diga aos alunos que a excitação sexual do homem pode ser controlada por ele até exatamente este ponto. Se ele não deseja ou não deve ejacular neste momento, a alternativa é interromper por alguns segundos a estimulação sexual direta, aquela que toca no corpo dele, principalmente no pênis ou em outro local muito sensível.
Se ele continuar a ser acariciado, a excitação vai aumentar ainda mais e, independente de sua vontade, o gatilho da ejaculação é acionado. Ele passa a ter as contrações que vão pressionar o pênis e a uretra e, então, expulsar o sêmen em jatos. Este movimento gera a ejaculação e provoca uma sensação sexual muito intensa levando o garoto ao orgasmo.
Para saber mais sobre ejaculação e outras formas de aprendizagem de seu controle acesse o meu artigo “O controle da ejaculação começa nas primeiras práticas sexuais”.

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Letramento científico: o Ensino Médio faz diferença?


Aplicação de conhecimentos científicos no dia a dia: será que alunos conseguem entender por que a interrupção de tratamento com antibiótico pode tornar as bactérias mais resistentes? Foto: Shutterstock
Em um post anterior, comentei os principais resultados do Indicador de Letramento Científico, publicados recentemente por uma parceria formada pela Abramundo, Ação Educativa, Ibope e Instituto Paulo Montenegro. A pesquisa analisou as respostas de cerca de duas mil pessoas entre 15 e 40 anos que tivessem ao menos 4 anos de estudo e residissem em uma das 9 regiões metropolitanas brasileiras.
O ILC classificou os entrevistados em quatro grupos, sendo que o nível 1 representa o letramento não-científico (pessoas que sabem ler, mas não usam procedimentos científicos) e o nível 4 representa o letramento científico proficiente (pessoas que dominam conceitos e procedimentos típicos da ciência). Na tabela a seguir, esses grupos estão separados de acordo com o grau de instrução completo dos entrevistados (o que corresponde a apenas parte da amostra total).
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Em um primeiro exame, essa tabela mostra que, quanto mais tempo uma pessoa tem de ensino formal, maior a chance de que tenha um letramento científico mais avançado. Até aí, tudo conforme o esperado: é o chamado efeito-escola.
Contudo, uma análise mais atenta mostra que o único grupo em que temos a maioria da amostra localizada nos níveis 3 e 4  é o do ensino superior completo (65%). Ou seja, a escola básica não é suficiente para que a maioria atinja os níveis de letramento científico considerados acima do básico!
Dados interessantes aparecem quando comparamos os entrevistados com Ensino Fundamental completo versus Médio completo. Dos que completaram o Ensino Fundamental, 75% se incluem nos níveis mínimos (1 e 2), já para quem tem o Médio completo essa porcentagem cai para 63%. As cifras insinuam que o Ensino Médio insere apenas 12% dos entrevistados na condição de letramento científico básico.
Esse é um dado alarmante, já que no Ensino Médio as ciências da natureza ocupam um espaço maior na grade curricular, envolvem professores especialistas em Física, Química e Biologia, utilizam livros didáticos específicos; entretanto, todo esse esforço aparentemente influi pouco na formação científica das pessoas.
Vale lembrar que as perguntas feitas para construir o ILC não foram do tipo “o que é atrito” ou “quais as características das bactérias”, e sim mais próximas a “por que um pneu com estrias é mais seguro” ou “por que algumas bactérias sobrevivem mesmo na presença de um antibiótico”.
(Clique aqui para ver algumas das questões da prova utilizada na pesquisa).
Isso nos leva a uma reflexão: será que nosso ensino de Ciências forma alunos capazes de responder a esse segundo tipo de perguntas? Eles usam algo do que aprendem em Ciências para resolver seus problemas cotidianos?

sexta-feira, 22 de agosto de 2014


Critérios de seleção dos alunos para o grupo de apoio.


Ao definir, no plano de intervenção pedagógica, que é necessária a formação de grupos de apoio, torna-se primordial, também, organizar um plano de ação para o funcionamento deles. Esse plano precisa contemplar desde a seleção dos alunos integrantes e dos professores que trabalharão nos grupos, até as reuniões preparatórias e a seleção dos conteúdos e das atividades que serão desenvolvidas.
Hoje, proponho a reflexão sobre a seleção e a identificação de alunos que necessitam de ajuda para que continuem avançando e que, portanto, farão parte dos grupos de apoio. Já me deparei com seleções em que mais da metade da turma foi indicada para participar dos grupos e as justificativas para isso eram baseadas, geralmente, em relatos orais. Como resolver essa situação? Um das estratégias que podem e devem ser utilizadas é o estabelecimento de critérios para o encaminhamento dos estudantes, baseados em dados reais e em registros consolidados.
Dentre os critérios para esta seleção destaco:
  • análise das produções dos alunos;
  • análise de dados das séries, como gráficos e tabelas, sobre o índice de alfabetização;
  • análise dos resultados das crianças com base em registros das atividades realizadas em sala de aula;
  • identificação  dos conteúdos em que os alunos apresentam mais dificuldades, como problemas de leitura, de interpretação de texto, de produção de texto e ortografia, e também de resolução de problemas ou memorização de conteúdo dos fatos fundamentais.
Ao solicitar que os professores selecionem os alunos, devemos pedir também que justifiquem os motivos das indicações. Assim, podemos identificar os critérios utilizados por cada docente e comparar com as normas citadas acima, estabelecidas para todo o conjunto. Muitas vezes, são indicados alunos com problemas de disciplina, concentração e atenção ou alunos com necessidades educacionais especiais (NEE). Para muitos desses, o grupo de apoio pode não ser a estratégia mais indicada.
Após os professores finalizarem a seleção, cabe a nós, coordenadores, questionar: Como organizar esses alunos de forma a atender as necessidades de aprendizagem que eles possuem? Como saber se eles realmente precisam da ajuda do grupo de apoio?
Neste momento, novamente é preciso ouvir os professores e discutir com eles o nível de aprendizado de cada estudante, oferecendo condições para que os docentes percebam que se tratam de necessidades de aprendizagem diferentes e, por isso, os grupos deverão ser divididos de acordo com tais características e não por série ou faixa etária. Isso pode ser realizado, por exemplo, em grupos de alfabetização, de ampliação das práticas de leitura e escrita, de desenvolvimento e de resolução de problemas matemáticos.
É importante criar instrumentos de avaliação que colaborem com todo esse processo. Logo no início da organização dos grupos, é preciso realizar uma avaliação diagnóstica para detectar quais são, de fato, as necessidades de aprendizagens e, com base nisso, levantar as  habilidades e os conteúdos que serão trabalhados. Outro foco é identificar se os estudantes realmente apresentam as dificuldades que os docentes indicaram.
Todo esse processo deve ser discutido com o diretor e apresentado para os pais. Eles devem ser informados sobre os motivos da formação dos grupos, o processo de seleção dos alunos e o plano de trabalho do professor que trabalhará com as crianças, além de detalhes como periodicidade, carga horária, local e quantidade de estudantes. Com tudo organizado e todas as partes de acordo, é partir para a ação!

quinta-feira, 21 de agosto de 2014


Formação em Música? Sempre preciso estudar muito!


Alunos do professor de música Roberto Schkolnick ouvindo Adoniran Barbosa, na Escola Jacarandá (Foto: Marina Piedade)
Alunos do professor de música Roberto Schkolnick ouvindo Adoniran Barbosa, na Escola Jacarandá (Foto: Marina Piedade)
O professor de escola de Educação Infantil e do primeiro ciclo do Ensino Fundamental é chamado de polivalente. Ou seja, esse profissional precisa conhecer os conteúdos de Língua Portuguesa, de Ciências, de História, de Geografia, de Matemática, de Artes Visuais, de Educação Física, de Movimento e de Música. Mas isso não é só. Além dos conteúdos, ele também precisa conhecer a didática de cada área para poder elaborar boas situações de aprendizagem e ser uma fonte para as crianças.
É claro que, com tanta coisa, sempre tem uma área que temos menos conhecimento e mais dificuldades para compreender. O meu desafio é a Música! Como é difícil quando eu preciso refletir, abordar e ajudar os professores nos planejamentos e encaminhamentos desse eixo. Por mais que eu tente, minha dificuldade é enorme e deixo muito a desejar!
E olha que eu adoro ouvir música quando estou no carro ou em casa. Estou sempre curtindo MPB , bossa nova, rock ou samba de raiz.  Meu marido é envolvido com essa área, meus filhos têm ótimo ouvido e entendem do assunto e, na minha casa, temos até um piano. Além disso, tenho formação em Arte e tive aula de Música na faculdade!
Quando eu atuava em sala de aula, cantava diariamente com as crianças. Eu tinha um amplo repertório infantil e os pequenos gostavam muito. Hoje, penso que outras professoras que me ouviam cantar deviam ficar preocupadas com tamanha desafinação. Ainda bem que as crianças, muito espertas e com muito mais ritmo do que eu, logo assumiam a cantoria. Eu também colocava músicas clássicas orquestradas nos momentos de arte ou de relaxamento para que pudessem apreciar outros estilos, bem diferentes dos que são mais veiculados na TV e no rádio.
Preciso fazer formação nesse eixo. E agora?
Já atuo há algum tempo como formadora de professores, mas, apesar da dificuldade, nunca me furtei a planejar as formações em Música. Sempre pedia ajuda para os professores com mais conhecimento nesse eixo, assumindo tranquilamente toda a minha dificuldade.  Ainda bem que, nos grupos de professores, sempre tem um ou dois que são dessa área e sempre me ajudaram.
Nos últimos anos, também participei de vários cursos e oficinas. Apreciei muito as aulas, mas, visivelmente, eu tinha mais dificuldade que outros colegas.
O último curso que fiz foi com uma profissional muito competente, chamada Gabriela Vasconcelos Abdalla. Ela é uma professora de Música com muita experiência na Educação Infantil. Aprendemos várias brincadeiras utilizando elementos constituintes do som (altura, duração, timbre e intensidade) com canções infantis do nosso folclore. Foi muito bom! É claro que anotei e gravei tudo para depois, junto com as professoras sabidas em Música, poder planejar as formações.
Outro material que vale a pena ter é o livro Música na educação infantil: propostas para a formação integral da criança (204 págs., Ed. Peirópolis tel. 11/3816-0699, 49 reais), da Teca Alencar de Brito. De uma maneira muito convidativa, a autora nos sugere várias atividades de interpretação e criação de canções, jogos que reúnem som, movimento e dança, jogos de improvisação e escuta sonora e musical, entre outros. O livro é repleto de boas orientações didáticas para o trabalho com o som na Educação Infantil, possibilitando a elaboração de sequências e projetos bem bacanas.

quarta-feira, 20 de agosto de 2014


Vale a pena organizar os alunos em grupos? Sim!

Alunos trabalham em grupo na EMEF Desembargador Manoel Carlos de Figueiredo Ferraz, em São Paulo. Foto: MARINA PIEDADE
Alunos trabalham em grupo na EMEF Desembargador Manoel Carlos de Figueiredo Ferraz, em São Paulo. Foto: MARINA PIEDADE
Conversando com professores, noto certa polêmica sobre a adequação dos trabalhos em grupo. Ao mesmo tempo em que muitos docentes reconhecem a importância da organização das turmas em equipes, é comum que as dificuldades os desestimulem a usar esse tipo de estratégia.
Por um lado, os contrários ou, no mínimo, resistentes ao trabalho em grupo argumentam que essa prática acarreta desperdício de tempo, brigas e rejeições de alunos ou que apenas alguns cumprem as tarefas. Do outro, é comum que as opiniões favoráveis defendam a importância do trabalho em grupo para o futuro dos alunos no mercado de trabalho, para o relacionamento com os colegas e também, é claro, apontam como positivo o fato de a quantidade final de trabalhos ser menor.
Ao meu ver, ambos os grupos apresentam visões reducionistas e simplistas acerca de um tema de tamanha relevância. Já nos anos 30, o biólogo suíço Jean Piaget desenvolveu algumas pesquisas em que apresentava as observações psicológicas sobre o trabalho em grupo (*) em salas cuja prática se dava sistematicamente. Suas conclusões podem ser resumidas em três observações, que eu explico melhor abaixo.
O aluno como protagonistaQuando prevalece nas aulas o método do verbalismo, ou seja, a transmissão oral dos conteúdos pelo professor, é maior a dificuldade para que alunos e professores se compreendam. A organização em grupos privilegia a participação do estudante como sujeito ativo no processo de aprendizagem. Diversas pesquisas mostram que a ação e o envolvimento do aluno, por meio de suas próprias investigações e descobertas, contribuem efetivamente para a construção do conhecimento. É claro que as ideias de Piaget não suprimem as lições e aulas dadas pelo professor, mas sugere que elas deem espaço para as questões que partem dos alunos e para mais colaboração e intercâmbio entre os pares.
A priorização do raciocínioA segunda observação feita pelo pesquisador é a de que a tarefa primordial da Educação deve ser a de favorecer a construção e o desenvolvimento do pensamento e doraciocínio e não a de ocupar e sobrecarregar a memória. Em outras palavras, ele afirma que o pensamento lógico é desenvolvido ao longo da vida pela experimentação e a dedução. Sendo assim, somente a autoridade do professor não basta para impor raciocínios cada vez mais elaborados. Há a necessidade do esforço livre, próprio de cada sujeito, que se concretiza prioritariamente com a colaboração e o auxílio mútuos. A troca equilibrada entre o aluno e seus colegas é um efetivo exercício cognitivo, para que o estudante tenha contato com questionamentos e visões diferentes das próprias e das do docente.
A formação moralA terceira observação de Piaget complementa as anteriores: “A razão implica um elemento social de cooperação”. O que ele quer dizer com isso é que o trabalho em grupo não deve ter um papel secundário no planejamento porque é, de fato, um instrumento para a formação do pensamento racional e da personalidade. Aprendemos a nos conhecer pela oposição das vontades e das opiniões com as quais nos deparamos, pela troca e pelo diálogo, pelos conflitos e pela compreensão mútua.
Portanto, analisando os argumentos de resistência ao trabalho em grupo,  olhar somente para o desperdício de  tempo dos alunos é não enxergar exercício de regulação moral provindo das relações sociaisolhar somente para os alunos que não participam é não enxergar que entre pares o compromisso social é forte o suficiente para regular atitudes não produtivas, ou seja, o grupo inspira o esforço pessoal.É pela possibilidade das trocas mútuas que a convivência se torna refinada.
Com toda certeza incluir o trabalho em grupo sistematicamente é trabalhar na direção do desenvolvimento de nossos alunos.

terça-feira, 19 de agosto de 2014


Unesco lança publicação para ajudar na Educação sexual nas escolas brasileiras.

Material foi adaptado à realidade brasileira e traz diretrizes para o planejamento do trabalho em sala de aula
Esta semana, ao refletir sobre o trabalho de Educação sexual nas escolas, percebi que progredimos muito nos últimos 30 anos. Mesmo assim, o tema ainda é abordado de forma tímida nas escolas, com o foco quase exclusivo na prevenção da gravidez e das DSTs/Aids, privilegiando aspectos biológicos e informações científicas. Isso é muito importante, mas acredito que as escolas podem dar um passo maior e mais eficaz nesse trabalho.
Para isso, é necessário abordar a Educação sexual de forma mais abrangente, incluindo outras temáticas que envolvem a sexualidade, como a relação de gênero, a diversidade sexual, os relacionamentos e, principalmente, a relação sexual em si, que é a situação em que os conhecimentos sobre prevenção são aplicados.
Nesse sentido é de grande valia a publicação recente, pela Unesco, das Orientações Técnicas de Educação para o Cenário Brasileiro: Tópicos e objetivos de aprendizagem. O material é resultado de uma adequação do material internacional desenvolvido pela entidade para o cenário brasileiro. Ele traz informações sobre os programas e atividades desenvolvidos pelo MEC, diretrizes para o trabalho em sexualidade e apresenta os objetivos de aprendizagem de acordo com conceitos-chave para nortear o trabalho em sala de aula.
Como usar o material 
Com um viés bem prático e objetivo, a publicação aborda a Educação sexual baseada em princípios pedagógicos, com uma lista de tópicos ou temas para serem trabalhados de acordo com os objetivos de cada proposta. São sugeridas ainda uma série de ideias-chave para que cada escola possa selecionar o que interessa trabalhar com os seus alunos. As propostas são voltadas para alunos entre 5 e 18 anos, divididos em quatro níveis:
  • Nível I (5 a 8 anos)
  • Nível II (9 a 12 anos)
  • Nível III (12 a 15 anos)
  • Nível IV (15 a 18 anos)
Esse material pode ser um importante aliado para pensar o planejamento de atividades de Educação sexual articulada ao currículo escolar ou mesmo em uma proposta complementar às ações de prevenção já existentes na escola. Além disso, o relatório trás diretrizes que podem auxiliar na implantação, execução e avaliação do trabalho em Educação Sexual.

segunda-feira, 18 de agosto de 2014


Quatro aplicativos para registrar suas aulas


Registrar as aulas é uma boa ferramenta para rever sua prática, compartilhar experiências, e manter um arquivo de suas atividades. Esse é o tema de capa da revista NOVA ESCOLA desse mês, mas não para por aí! Separamos 4 dicas de sites e aplicativos que podem te ajudar a organizar seus registros!

Evernote

Você pode encontrar no post “Chega de papelada! Conheça um aplicativo para ajudar você a se organizar” todas as informações sobre essa ferramenta, uma das mais famosas no ramo do arquivo digital. Além de reunir diversos tipos de materiais, como textos, links, imagens, gravações de áudio, ele ainda separa os temas por tags. Assim, você tem a opção tanto de buscar por uma aula específica quanto por registros sobre o mesmo assunto, permitindo compará-los e manter um arquivo. O sistema tem outra ferramenta interessante: ele reconhece palavras em imagens. Você pode tirar uma foto da lousa e salvar no programa. Quando precisar dela, ele vai reconhecê-la pela busca de palavras que estão dentro da imagem. É mágico!
Disponível em português? Sim.
Há possibilidade de compartilhamento? Só na versão business.
Quanto custa? Gratuito para versão básica. A versão premium custa R$ 10,00 por mês, permitindo também o uso offline; e a business, R$ 20,00 por mês, possibilitando também o compartilhamento dos registros com outro usuário business.
É compatível com que tipos de softwares? iPhone, Android e Smartphones com o sistema operacional da Microsoft, o WP7

Google Keep

O Google Keep, como outros aplicativos da Google, é bem fácil de usar e você pode entrar com sua conta do Google (Gmail, Youtube etc). Logo na página inicial, ficam disponíveis as anotações, os arquivos e as checklists que você criou. Ele disponibiliza também a função de lembretes, com avisos automáticos. Se você não precisar usar mais alguma nota da mesa, é só jogá-la para o arquivo. Caso você tenha um smartphone com o sistema Android, o programa sincroniza os arquivos que você fez pelo aplicativo móvel com a versão desktop (acessada pelo seu navegador). Apesar de ser interessante por ser muito intuitivo de usar e por ter a novidade da ferramenta de reconhecimento de palavras em imagens, ele não tem todas as ferramentas do Evernote, como o registro de áudios, por exemplo.
Disponível em português? Não, somente a página de “ajuda” é em português, mas é bem intuitivo.
Há possibilidade de compartilhamento? Não.
Quanto custa? Gratuito.
É compatível com que tipos de softwares? Windows, iOS, iPhone, Android e Smartphones  com o sistema operacional da Microsoft, o WP7.

Padlet

O Padlet é bem parecido com o Google Keep, mas tem ferramentas extras. Ele dá a  possibilidade de criar murais com suas anotações, o que pode ser bastante útil para levar em reuniões de avaliação e planejamento. As peças colocadas no mural são móveis e fáceis de criar, é só arrastar. Ele é fácil também para compartilhar com outros professores, pelo Facebook, Twitter, e-mail ou outras redes sociais e plataformas. Além disso, ele funciona como o Google Drive, em que várias pessoas podem editar o conteúdo ao mesmo tempo, basta entrar no item “privacidade” e compartilhar com os amigos que quiser. Outra ferramenta interessante é que o Padlet permite que seus murais sejam incorporados e compartilhados em páginas de outros sites e blogs. Você vai poder manter seu blog, com um toque a mais.
Disponível em português? Sim.
Há possibilidade de compartilhamento? Sim.
Quanto custa? Gratuito.
É compatível com que tipos de softwares? É um dos mais adaptáveis. O site do aplicativo explica, brincando: “Seu telefone, seu tablet, sua TV, sua geladeira – o Padlet funciona em tudo (Nota: ele pode não funcionar na geladeira)”

Zoho Creator

O Zoho é muito usado em ambientes corporativos, mas pode ser um aplicativo interessante para registro de aulas e outros arquivos. O diferencial dele é que você pode criar formulários para preenchimento dos seus registros de forma padronizada e é você mesmo que escolhe quais informações deseja para seu modelo. Ele tem todas as opções do Evernote e também do Google Keep, como checklists e lembretes, e muitas outras, como agendamento de pagamentos – muito utilizado em empresas. Apesar disso, o programa tem algumas opções em formato de programação, com códigos que podem ser complicados para quem não tem proximidade com essa linguagem.
Disponível em português? Não, somente o suporte técnico fica disponível em outras línguas e somente no modo empresarial.
Há possibilidade de compartilhamento? Sim, somente na versão para empresas.
Quanto custa? A versão básica custa $ 5 por mês (cerca de R$ 12); a profissional, com a possibilidade de acesso móvel, custa $ 10 por mês (cerca de R$ 24); e a empresarial, que permite o compartilhamento de arquivos, custa $ 15 por mês (cerca de R$ 36).
É compatível com que tipos de softwares? Windows, iOS, iPhone, Android.

sexta-feira, 15 de agosto de 2014


A polivalência de um diretor de escola

Ao caminhar pela escola, podemos sentir e visualizar o que ela realmente necessita. (Foto: Gabriela Portilho)
Muitas vezes, o trabalho dos diretores escolares é bastante solitário. Quando a equipe escolar está desfalcada, a sensação de que concentramos muitas funções é ainda pior.
Nesta semana, recebi uma colega aqui na escola. Ela se queixou justamente da falta de funcionários onde ela trabalha. O estresse que ela tem passado a levou a desenvolver cálculos renais e ter palpitações no coração. Ouvi o desabafo e tentei ajudá-la contando como lido com esses problemas.
Documento minhas ações (as que competem a mim e as que não competem) e intranquilidades quanto ao meu próprio desempenho, causadas pela falta de funcionários. Esses registros são enviados ao Secretário Municipal de Educação. É importante que conste no documento os motivos pelos quais determinadas ações foram priorizadas e desenvolvidas na escola. Listar o que deixou de ser feito e as consequências disso também é fundamental.
Depois de deixar a Secretaria ciente da situação, não fico apenas esperando as soluções chegarem. Passo a colocar em primeiro plano o que realmente move uma instituição escolar: a boa qualidade de ensino. Por isso, deixo as atividades burocráticas para o fim do dia e, enquanto as crianças estão na escola, cuido da parte pedagógica. Eu acredito que só podemos sentir e visualizar o que a escola realmente necessita se percorremos o espaço.
O que eu observo
Nessas andanças, visito as salas de aula, vejo a pauta dos professores e os conteúdos programáticos do dia, converso com os alunos e pergunto a eles sobre as aulas oferecidas pelo docente. Aproveito para dar uma geral nas salas quanto aos cartazes, armários, carteiras, limpeza, cortinas e a organização do material do professor.
Também pergunto às crianças se estão gostando da merenda escolar, se todos comem na escola. Investigo as causas do desperdício de alimentos, vou até a cozinha para dar uma olhadinha no preparo da comida e verifico se o cardápio está sendo devidamente seguido. Depois, saio à procura dos responsáveis para conversar sobre a limpeza e a organização da escola.
Claro que não consigo fazer isso todos os dias, mas semanalmente aponto na minha agenda quais as próximas salas e setores, nem que seja um, serão visitados por mim.

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

      O quanto os brasileiros sabem de Ciências?

De acordo com pesquisa, mais de metade da população com pelo menos quatro anos de estudo tem conhecimentos insuficientes em ciências
Uma pesquisa inédita acaba de ser divulgada com dados muito interessantes para todos que trabalham com Educação, especialmente na área de Ciências.
O resultado dessa investigação é o Indicador de Letramento Científico (ILC), um parâmetro que tem o objetivo de aferir o quanto os brasileiros dominam conhecimentos e habilidades relacionados às Ciências Naturais. O levantamento, que ouviu mais de 2 mil pessoas nas nove principais regiões metropolitanas do país, foi realizado pela Abramundo, em parceira com o Ibope, o Instituto Paulo Montenegro e a ONG Ação Educativa.
O aspecto mais interessante do ILC é que ele buscou abordar conhecimentos científicos em um contexto cotidiano. Nesse sentido, ele difere do PISA (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes – veja aqui mais detalhes), do SAEB (Sistema de Avaliação da Educação Básica) e de outras avaliações, pois não aborda estritamente conhecimentos escolares. Além disso, ao contrário desses exames que se destinam apenas aos estudantes, o ILC incluiu pessoas de 15 até 40 anos na amostra.
Em linhas gerais, o objetivo do ILC é descobrir se os respondentes dominam a linguagem científica, se possuem saberes práticos relacionados a ciências e em que medida esses saberes contribuem para a visão de mundo que possuem.
A análise das respostas classificou os respondentes em quatro grupos:
16% deles possui letramento não-científico. Conseguiram localizar informações em textos breves e que tenham relações com o cotidiano (ex.: contas de luz, bulas de remédio simplificadas), mas não demonstraram habilidades científicas.
O segundo e maior grupo é o de letramento científico rudimentar, com 48% dos entrevistados. São pessoas capazes de ler e comparar textos com informações científicas básicas, também relacionadas a temáticas do cotidiano.
O terceiro grupo é o de letramento científico básico, que abarca 31% da amostra. Conseguiram resolver problemas de maior complexidade usando procedimentos científicos e informações presentes em textos técnicos, manuais, infográficos e tabelas.
O último grupo é o de letramento científico proficiente, que engloba apenas 5% da amostra. Esse pequeno contingente é formado por pessoas que resolvem problemas que exigem saberes científicos em contextos não necessariamente cotidianos (ex.: genética ou astronomia). Além de possuírem domínio de procedimentos, operam com conceitos científicos.
Chama a atenção o fato de que 64% de todos os entrevistados estão nos dois primeiros grupos. Veja, por exemplo, a questão a seguir, indicativa do nível rudimentar:
Se analisarmos com cuidado, essa questão exige apenas uma leitura atenta do texto. Se o entrevistado respondesse que “as estrias aumentam a aderência”, “permitem o escoamento de água” ou “aumentam o atrito”, ele acertaria. Mas 50% de todos que responderam erraram essa questão.
Portanto, 64% dos respondentes dominam apenas leitura e, no máximo, conhecimentos muito básicos de Ciências. Ou seja: segundo a pesquisa, a maioria dos brasileiros possui um conhecimento muito incipiente de Ciências Naturais e não o utiliza para resolver problemas em suas vidas.
Isso nos leva a uma reflexão. Todas as duas mil pessoas entrevistadas frequentaram a escola por pelo menos quatro anos. O que aprenderam de Ciências? O que supostamente foi ensinado sobre Ciências? O que deveríamos mudar em nossas escolas para que isso não se repetisse?

quarta-feira, 13 de agosto de 2014

 

Como tornar as avaliações externas aliadas ao processo de aprendizagem.


Ao olhar com mais atenção para esses dados, buscamos outras medidas para a melhoria da qualidade do ensino na escola. (Foto: Gabriela Portilho)
Ao olhar com mais atenção para esses dados, buscamos outras medidas para a melhoria da qualidade do ensino na escola. (Foto: Gabriela Portilho)
Sou gestora escolar há 20 anos e passei boa parte da minha carreira trabalhando na Educação Infantil. Em 2004, fui chamada para ser diretora na EMEF Professora Hilda Weiss Trench, de Ensino Fundamental, em Itapetininga. Estava entrando em um mundo novo e não me envergonho em dizer que eu e os demais professores desconhecíamos o funcionamento do Saeb e da Prova Brasil – as duas são ferramentas avaliativas focadas nos alunos dos 3ºs e 5ºs anos das escolas públicas do país.
Estávamos cientes de que não seria fácil atingir os resultados esperados, mas buscávamos referências sobre esses processos. As assessoras pedagógicas da rede nos auxiliaram bastante naquele momento.



Da primeira vez, não tiramos uma nota muito boa. Mas, ao longo dos anos, passamos a analisar as provas mais de perto e percebemos como poderíamos melhorar algumas ações da escola com base nos resultados obtidos.
Como aproveitamos os dados das avaliações
Ao recebermos os dados do MEC, fazemos uma comparação com os resultados dos anos anteriores. Dessa forma, avaliamos a evolução das notas da escola e também verificamos como estamos em relação a outras instituições do país, de São Paulo e de Itapetininga (essas informações estão disponíveis no documento enviado para nós). Realizamos também análises conjuntas com os exames internos e os socializamos com a comunidade escolar.
Olhando com mais atenção para esses dados, buscamos outras medidas para a melhoria da qualidade do ensino na escola. Para isso, revemos nossos conteúdos programáticos e criamos alguns projetos. Há algum tempo, por exemplo, elaboramos a Quarta Poética e os campeonatos que envolvem as áreas de conhecimento de Língua Portuguesa e de Matemática. Agora, eles são realizados todos os anos. Também instituímos uma oficina de jogos de estratégia no contraturno, como parte do programa Mais Educação.
Nesta semana mesmo tivemos uma reunião de pais durante a qual eu apresentei os dados para os familiares. Este ano, nosso Ideb ficou em 4,9, mas, para o ano que vem, já temos a meta de chegar ao 5,2! Apresentei aos presentes nossas melhorias em Matemática e Língua Portuguesa e avisei que já estamos fazendo algumas mudanças, como reformular o projeto de leitura e aumentar a pasta de texto.
É dessa forma ajustamos nossos processos, sempre pensando em com fazer com que os alunos aprendam mais e melhor.
E você, diretor e ou diretora, de que forma utilizam as avaliações externas para qualificar o processo de ensino e aprendizagem da sua escola?

segunda-feira, 11 de agosto de 2014


Trabalho de campo: como coletar e utilizar dados sobre o ensino


O foco da observação precisa ser planejado e organizado numa planilha para registro. (Foto: Manuela Novais)
Somente quando paramos para refletir sobre nossa própria rotina é que percebemos o quanto trabalhamos para melhorar a prática dos professores em sala de aula, vocês não acham? Já mencionei em um texto anterior que utilizo a análise de cadernos como ferramenta pedagógica para diagnosticar o que vem sendo desenvolvido pelo docente em sala de aula e identificar possíveis conteúdos que vão fazer parte do plano de formação. Na verdade, essa análise faz parte de um trabalho de campo um pouco mais amplo, realizado por mim e por muitos outros coordenadores na escola regularmente.
O que é o trabalho de campo?
Ele é uma ação que engloba a coleta e/ou registro de dados, obtém informações relativas ao fenômeno observado ou ao objeto de estudo. Na função de coordenador, esse mecanismo é utilizado quando surge a necessidade de observar, num período determinado de tempo, o cotidiano e a rotina da escola, a prática e a gestão da sala de aula, o planejamento do professor e a comparação entre o conteúdo que deve ser ensinado e o que está sendo ensinado. Enfim, são fatores que demonstram qual é o objeto de ensino e o que as crianças estão, de fato, aprendendo.
Ao observar tudo isso, posso diagnosticar como está sendo desenvolvido o trabalho pedagógico da escola, identificar o que está sendo trabalhado pelo professor, quais são as estratégias utilizadas e se o que está sendo discutido em reuniões pedagógicas está chegando à sala de aula.
O que é preciso para realizar o trabalho de campo?
  • Definir o espaço de tempo em que o trabalho de campo será realizado;
  • Listar os objetos de análise (cadernos, espaço da sala de aula, planejamento do professor,  o registro do docente em sala);
  • Levantar que aspectos serão observados (pauta de observação e tabulação)
  • Comunicar ao professor que o trabalho será realizado e que o resultado terá uma devolutiva individual. Caso mais de um profissional tenha a mesma necessidade, o conteúdo vira tema de formação;
  • Registrar o documento com fotos e reflexões;
  • Socializar com a gestão da escola o trabalho pronto;
  • Fazer uma devolutiva para o professor apresentado os tópicos observados;
  • Ouvir do docente o que ele pensa sobre o foco de análise e quais serão as possíveis ações de intervenção;
  • Elencar os indicadores de aprendizagens dos professores e ter clareza sobre quais intervenções podem ser realizadas de imediato e quais precisam estar num plano de formação.
O resultado desse trabalho me permite acompanhar e monitorar o percurso pessoal da prática de cada docente, de acordo com os conteúdos discutidos ao longo do processo de formação. Dessa forma, consigo levantar os indicadores de aprendizagem dos professores e planejar as intervenções.

sexta-feira, 8 de agosto de 2014


Como seus alunos usam a tecnologia?


Estudo Digital Kids e Tweens 2014/ Click Jogos
Música, vídeos e jogos sempre fizeram parte do dia a dia de crianças e jovens. E a forma como eles se relacionam com as mídias digitais costuma ser objeto de análise de especialistas de marketing e de publicidade. Se os seus alunos têm entre 8 e 14 anos, com certeza boa parte de seus costumes estará listada na 3ª edição do estudo Digital Kids e Tweens, que todos os anos investiga a relação de crianças e pré-adolescentes com tecnologia, mídia e entretenimento.
A pesquisa foi realizada no início de 2014 pelo site Click Jogos em parceria com o Instituto de Pesquisa Catapani e Associados. As respostas de mais de 700 entrevistados em todo o Brasil levaram a conclusões organizadas em uma visualização rápida, permitindo entender melhor como é a rotina dessa geração. Três especialistas orientaram a parte qualitativa do estudo: uma psicóloga que dirige a Divisão de Creches da USP, o vice-diretor de uma escola e um economista, gerente de projetos da Fundação Lemann.
A maioria das crianças e jovens acessa a internet de casa (98%) e ainda usa prioritariamente o computador (88%), sendo que 84% deles compartilha o equipamento com outras pessoas da família. Os site mais acessados são o Facebook, o YouTube e o Google. Um dado que merece atenção é como os entrevistados dividem seu tempo usando as tecnologias (atividade/média diária):
Jogar – 1 hora e 56 minutos
Trocar mensagens – 1 hora e 40 minutos
Ouvir música – 1 hora e 22 minutos
Ver vídeos – 1 hora e 4 minutos
Estudar – 59 minutos
Veja como esse quadro mudou ao longo do tempo:
Estudo Digital Kids e Tweens 2014/ Click Jogos
Meninas de 13 e 14 anos são as que mais gastam tempo por dia nas redes sociais (3 horas, contra 2 horas dispendidas pelas meninas de 11 e 12). E os meninos de 11 e 12 anos são os que mais se dedicam a jogos (2 horas e 11 minutos diários). Os garotos de 13 e 14 anos jogam, em média, durante 2 horas, quase o mesmo tempo dedicado às redes sociais.
Estudo Digital Kids e Tweens 2014/ Click Jogos
Não é à toa que a atração dos games já não pode mais ser desprezada por quem trabalha com tecnologia educacional e a pesquisa aponta que ainda existe um universo a ser descoberto nos aplicativos para tablet. Se bem utilizados, os jogos educativos contribuem muito para a aprendizagem das crianças, como ressaltou o especialista Lino de Macedo em entrevista à Nova Escola.
“Não há como negar a importância da tecnologia na vida desses jovens. Ser contra isso é fechar os olhos para o que esta por vir”, resume um educador participante das conversas captadas para a Digital Kids e Tweens. Esse cotidiano digital modificou o mundo do jovem, que hoje é dinâmico, móvel e multidispositivo (usa computador, tablet, smartphone…). Em uma idade de buscas constantes, a tecnologia torna tudo mais rápido, aponta uma das conclusões do estudo. A consequência negativa dessa velocidade de informação é uma dose de impaciência e de imediatismo nas atitudes. No cotidiano dessas crianças e adolescentes, uma característica ainda não mudou: a principal referência deles ainda são os amigos. Além de se relacionar por contato real, na escola, na rua, na família, também o contato virtual tomou conta de sua vida, ampliando a rede de conhecidos e as interações.
A pesquisa termina com uma sentença que pode ser vista como ameaça ou oportunidade: “Nativos digitais não se permitem ficar entediados.” Ela pode ser ameaça se o professor tiver receio de se reinventar e de repensar suas aulas em função dos novos comportamentos de crianças e jovens, mas uma oportunidade para quem se dispõem a compreender melhor essas novas tecnologias e utilizá-las a favor do ensino.

quarta-feira, 6 de agosto de 2014


Na hora do recreio acontece de tudo!


Uma boa organização da hora do intervalo pode reduzir significativamente o número de acidentes (Foto: Gabriela Portilho)
Uma boa organização da hora do intervalo pode reduzir significativamente o número de acidentes (Foto: Gabriela Portilho)
Por mais que a gente tente prever e planejar o dia a dia na escola, alguns incidentes acabam acontecendo e nos fazem repensar e modificar a nossa rotina. Há algum tempo, por exemplo, aconteceu um episódio durante o recreio que movimentou toda a equipe escolar e resultou em uma nova organização dos intervalos na instituição.
Foi assim… Na hora do intervalo, uma aluna sofreu uma queda, dessas que sempre ocorre em lugares onde tem muitas crianças brincando. O fato é que o pai dessa menina ficou muito bravo e, todo preocupado, solicitou que o tempo de recreio fosse extinto da escola. Para acalmar os ânimos, expliquei a ele a importância desse momento e disse que estudaríamos fazer ajustes para melhorar o atendimento aos alunos em caso de acidentes.
Levei o caso ao conhecimento dos professores para que chegássemos a uma resolução. Com base em nossas conversas, instituímos um sistema que até hoje desempenhamos nos 30 minutos de intervalo. Ela funciona da seguinte maneira: os primeiros 20 minutos são reservados para as refeições. Os alunos se servem no balcão, sob orientação das merendeiras e auxiliares de Educação, para que não haja desperdício de alimentos e a refeição seja tranquila. Os minutos restantes são reservados para as brincadeiras no pátio.
Divisão das tarefas durante o recreio
No tempo destinado ao intervalo das turmas, sempre temos a preocupação em dividir os grupos de alunos por faixa etária, visto que cada uma tem suas características ao brincar. Portanto, na hora do pátio, o professor fica responsável por monitorar e orientar os alunos. Na maioria das vezes, as brincadeiras são acordadas em sala de aula, antes do recreio. Assim, os professores têm tempo de separar e levar as caixas dos jogos escolhidos, os brinquedos e organizar as atividades coletivas.
Os auxiliares de Educação ficam encarregados de oferecer as refeições, incentivando os alunos a comer. A organização das filas para pegar a comida e usar os banheiros para escovar os dentes e fazer as necessidades é feita em parceria entre auxiliares e professores.
As merendeiras deixam o cardápio sempre exposto em uma lousa que fica ao lado do balcão onde os lanches são servidos. Ainda contamos com a participação dos alunos monitores dos 5º anos, que, durante a semana, passam nas salas de aula comunicando o que será servido no dia. Semanalmente há revezamento desses monitores, escolhidos por seus pares. A dupla é sempre composta por uma menina e um menino por turma; assim, garantimos a participação de todos.
Com essa prática, a redução de quedas e acidentes foi significativa. A nova organização foi informada aos pais, que respiraram mais aliviados e puderam perceber que a escola leva muito em consideração as críticas que recebe.

terça-feira, 5 de agosto de 2014

Cronograma de ações do coordenador pedagógico


O estabelecimento de um cronograma com metas objetivas, de curto e médio prazos, ajuda o coordenador a aproveitar melhor o tempo na escola (Foto: Manuela Novais)
O estabelecimento de um cronograma com metas objetivas, de curto e médio prazos, ajuda o coordenador a aproveitar melhor o tempo na escola (Foto: Manuela Novais)
No dia a dia da escola, vão surgindo inúmeras situações que acabam alterando o planejamento previsto. São pais que aparecem na escola sem marcar horário, problemas que o professor não conseguiu administrar sozinho na sala de aula, docentes que tiveram de se ausentar por algum motivo, materiais pedidos que não ficaram prontos… No fim da jornada, sempre tenho aquele sentimento de algo que ficou para trás.
Dentro da minha rotina, uma das minhas reflexões cotidianas é como eu poderia lidar melhor com o tempo para poder atender a todas as demandas.  O meu período de trabalho na escola é de 24 horas semanais e eu coordeno uma equipe de dez docentes, além de ter de cumprir outras funções, como fazer observação de sala de aula e fazer reuniões com a minha diretora. Como dar conta de todas essas responsabilidades em tão pouco tempo?
Uma das estratégias que utilizo é o estabelecimento de um cronograma com as ações semanais e mensais que devo realizar em busca das minhas metas estabelecidas no bimestre que estão  de acordo com o plano de intervenção pedagógica e o plano de formação dos professores. Em um dos textos que escrevi aqui no blog (clique aqui para ler), sobre esse último plano, mencionei que organizo um cronograma para cumpri-lo. Hoje, vou fornecer mais detalhes sobre ele.
Como organizo o cronograma
O meu cronograma é bem simples e construído depois de levantar os conteúdos e determinar o plano de formação. Nesse documento consta como e quando vou cumprir tudo, assim, evito me perder com as tarefas imprevistas.
Como exemplo, gostaria de compartilhar o meu cronograma do início deste bimestre (clique aqui para vê-lo). Ele possui as seguintes metas:  avaliação do primeiro semestre, replanejamento,  apoio aos professores no levantamento dos conteúdos do bimestre, cumprimento do  plano de formação,  organização da rotina dos docentes  e previsão de avaliações internas. Muita coisa para apenas dois meses, não? A saída é realmente a organização.
Como formato esse documento
  •  Organizo uma tabela e a preencho com as ações que devo realizar, quais serão as estratégias usadas, as funções dos envolvidos e quais materiais serão utilizados;
  • Coloco o que e quem deverá cumprir a ação/atividade naquela semana ou dia para que, no prazo estabelecido, eu consiga identificar o que eu devo fazer e o que os professores  precisam me entregar. Por exemplo, se tenho uma reunião de análise de dados da escola, começo a pensar na duração desse encontro e em quais condições deverão ser garantidas para conseguir chegar ao meu objetivo. Para isso, muitas vezes antecipo também o cronograma dos professores, que preparam os materiais que vamos usar com antecedência;
  • Costumo utilizar cores para poder identificar bem rapidamente o que é minha tarefa e qual é a dos professores;
  • Ao determinar um conteúdo no plano de formação dos docentes, planejo quais materiais vou utilizar e de que forma. Por exemplo, se vou discutir o conteúdo “pontuação” na formação dos professores, peço a eles que planejem uma atividade com o conteúdo e faço previsão de uma observação de sala. Tudo isso para colher subsídios e escrever adequadamente a pauta da reunião, também já determinada no cronograma;
  • Comunico e compartilho com os professores o documento, pois eles devem saber quais são as ações previstas para aquele bimestre e poder enxergar o processo formativo.
Ao comparecer na supervisão semanal comigo, após o conhecimento do cronograma, o professor já tem em mente o que vamos planejar ou qual será nossa reflexão para o período.