Qual é a função da orientação educacional?
“Não volto mais para aquela sala. Não estou aqui para educar e sim para ensinar!”, diz um professor visivelmente nervoso ao sair da minha sala.
“Vou tirar meu filho dessa escola. Aqui todos o perseguem. A culpa de tudo o que acontece na sala é sempre dele!”, desabafa, com voz alterada, a mãe de um aluno de 7º ano.
“De verdade, Flávia! A professora, além de nos desrespeitar, gritando e não explicando o que a gente pede, escreve errado um monte de palavras. Tem certeza que ela é professora?”, reclamam alguns alunos de 9º ano.
“Fui procurado por uma mãe reclamando que você não alterou o cronograma das avaliações. Disse que o filho estará viajando para a Disney e não estará presente durante as provas. Perguntou-me o que custava mudar as datas?”, relata o diretor/mantenedor da escola.
Esses são apenas alguns exemplos de situações recorrentes na prática do orientador/coordenador pedagógico. Mas, afinal, quem é essa figura na escola? No que consiste sua função? É relevante para a instituição?
Ao recordar as situações acima, e em plena Copa do Mundo, não pude deixar de pensar na analogia com a função do técnico das seleções. O que se espera de um técnico? No mínimo, que tenha experiência suficiente fpara contribuir e enriquecer a performance de cada um dos jogadores, certo? Mas essa é uma conclusão simplista demais!
Assim como a expectativa que se tem de um técnico é que ele tenha clareza de onde quer chegar, ou seja, dos objetivos, espera-se ainda que ele saiba definir como alcançá-los,isto é, que utilize boas estratégias. Pois são essas também as expectativas que envolvem o trabalho do orientador pedagógico. Ter clareza das metas implica considerar todo o contexto: o da equipe docente, das famílias, da gestão e principalmente do aluno, sempre o nosso foco. Para a equipe docente, a orientação pedagógica deve agregar conhecimento, experiência e companheirismo.
O conhecimento não é necessariamente sobre o conteúdo a ser trabalhado, mas principalmente sobre as diferentes maneiras de fazê-lo, já que na realidade esses são os maiores desafio para o professor. O conhecimento aqui se refere ao desenvolvimento humano e às implicações pedagógicas implícitas nesse processo – que definitivamente é uma das deficiências na formação dos educadores.
A experiência da orientação deve abranger também um período de docência. Não há nada mais rico para um orientador do que sua experiência como docente, o chão da sala de aula. Há por trás desse requisito a possibilidade da reciprocidade, de se colocar no lugar do outro, além da maior empatia que isso causa aos professores. Não raro ouvimos deles frases do tipo: “Pra ele (a) – orientador – é fácil falar. Nunca entrou numa sala de aula. Não sabe como funciona”. E, de fato, faz toda a diferença você ter acumulado em sua bagagem diversos papéis na Educação. Se analisarmos bem, a experiência de orientação pedagógica começa na docência. O educador que se envolve verdadeiramente com a vida escolar de seus alunos atua, muitas vezes, como seu orientador.
E, finalmente, o companheirismo. Deve haver na figura do orientador uma postura acolhedora às inúmeras angústias vindas dos professores, famílias e alunos. Acolhimento não significa ser conivente, tampouco omisso, mas sim aliviar as dúvidas e anseios por meio do conhecimento sobre o ser humano. Afinal, a legitimação do nosso papel se dá por aquilo que podemos oferecer a mais do que os demais educadores já têm: o refinamento da psicologia do desenvolvimento humano. Estar ao lado e disponível, buscando junto com os envolvidos as soluções e melhores estratégias para os desafios, é, claramente, demonstrar o companheirismo necessário à função.
Quando me recordo da época em que atuava como professora, percebo que não tive em minhas orientadoras a referência para o que hoje é minha prática. Havia sempre uma sensação de que a relação com os professores não passava de questões burocráticas – bilhetes a serem entregues aos alunos, comunicados da direção e planejamentos de festas e eventos. Ou seja, uma função protocolar, repleta de lacunas às necessidades reais da equipe docente. Talvez essa realidade tenha, de certa forma, me inspirado a compor minha função e atuação como orientadora pedagógica, buscando perceber o que há de positivo em cada um e contribuir com o que pode ser melhorado. Ser corresponsável tanto pelos êxitos quanto pelas falhas que certamente ocorrem durante nosso trabalho. Incentivar e promover a formação continuada dos educadores e, finalmente, ser uma figura de autoridade (e não autoritária) para as diversas instâncias da escola: professores, famílias, gestores e, principalmente, alunos.
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