segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Acolhendo os novos professores

No meu primeiro dia na escola, me senti acuada. No entanto, essa experiência me ajudou a entender o valor do acolhimento dos novatos
No meu primeiro dia na escola, me senti acuada. No entanto, essa experiência me ajudou a entender o valor do acolhimento dos novatos
Lembro-me do meu primeiro dia na sala dos professores, como professora eventual, em uma das escolas mais tradicionais da rede estadual do município de Itapetininga, em São Paulo. Aquela foi a primeira vez em que me senti acuada em um lugar. Senti-me deslocada com os mil olhares dos professores efetivos e, por isso, não consegui demonstrar toda a minha alegria. Terminei deixando esse sentimento em segundo plano.
Entre os olhares, busquei o do diretor. Quando o encontrei, me senti despida de conhecimentos frente à arrogância e à prepotência que estavam estampados em seus gestos e palavras. Nessa hora, eu pensei: “E agora? Vou ter que aguentar tudo isso por um semestre letivo inteiro?”. Acreditem, foram os 120 dias mais sofríveis que passei na minha vida profissional! Aliás, devo dizer que foram apenas 118, porque, nos dois últimos, os mesmos professores que me olharam feio perceberam que aquela novata de 18 anos havia lhes ensinado uma fórmula mais rápida e precisa para se corrigir avaliações.
E qual de nós, professores, já não passou por isso? Mas sou a prova de que foi difícil, mas não impossível!
Com essa experiência, aprendi que, para fazer as pessoas se sentirem bem, abrir as portas da escola deve ser como abrir as portas da nossa casa quando recebemos visitas. É lá onde a gente prepara o ambiente colocando a melhor toalha de mesa, as xícaras, os copos e os pratos mais bonitos e comidas gostosas acompanhadas de um suco fresquinho. Depois, convida o novo visitante para se sentar, comer e conversar.
Penso que toda acolhida deveria se inspirar nesse exemplo, independente da função e do local em questão. Por isso, transporto esses sentimentos para a escola durante a chegada de professores novos. Faço questão de recepcioná-los para que se sintam acolhidos e com boas impressões do local onde vão trabalhar. Mas esse trabalho eu não faço sozinha. Conto com a parceria da equipe escolar, que oferece seus préstimos no que for necessário.
Após lancharmos, coloco os novatos a par de todo o sistema educacional da escola, falo sobre a comunidade local, explicito os horários de funcionamento, mostro as salas de informática, música e vídeo e a biblioteca, apresento os demais funcionários e os levo para sua sala receptora: a sala dos professores. Devo dizer que se não há uma sala, a gente improvisa um cantinho no refeitório ou outro espaço com uma mesa e com cadeiras. Lembre-se de que é nesse espaço que surgem todas as conversas e angústias sobre o desempenho do professor e do aluno, desabafos de problemas pessoais e discussões sobre a faixa salarial e a qualificação docente.
Acredito que, enquanto aguardamos a revalorização fora da escola de todos os educadores do nosso país com bons salários, condições de trabalho e formação de qualidade, vale lembrar que resgatar esses valores já dentro da instituição transforma nossa espera em resultados significativos. E é com um bom acolhimento e com a vivência de um clima de trabalho legal que se consegue isso.

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