terça-feira, 30 de setembro de 2014

Como tornar o recreio um momento cooperativo e livre de violência.

Intervalo em escola de São Bernardo do Campo (SP), com jogos propostos pela gestão da escola. Foto: Luis Gomes
Imagina a hora do recreio com todos os 200 alunos dos anos iniciais do Ensino Fundamental na maior algazarra e somente a diretora da escola, Maria Vanderléia Oliveira, a coordenadora pedagógica e a equipe da cantina para cuidar de tanta gente! Essa era a rotina da EEF Alba Laranjeira de Albuquerque, em Pacajus, no Ceará, com muitas brigas e confusões entre as crianças. “Elas se machucavam com muita frequência, pois era o momento de soltar a energia fora da sala de aula”, relatou Vanderléia durante um monitoramento que fizemos lá.
Então, as gestoras tiveram a ideia de pedir ajuda aos estudantes mais velhos, que já haviam passado por aquela experiência e frequentavam o turno da tarde. Chamados para uma conversa, os alunos criaram, junto com a direção, o “Recreio recreativo”: a monitoria e diversão dos menores feita pelos alunos maiores, que frequentavam da 5ª à 8ª série. Cada “amigo do recreio”, um estudante voluntário, ficou responsável por atividades como cuidar da área do parque ou da quadra, orientar o jogo de dominó etc. Uma aluna que gostava de interpretar, se oferecer para contar histórias.
A proposta foi levada aos professores e comunicada aos pais para pedir autorização. O sucesso foi tanto, que ao passar nas salas de aula fazendo o convite, muitos se interessaram, precisou até de seleção. Com a experiência colocada em prática, houve a necessidade de reavaliação, e novos combinados foram realizados para não atrapalhar os estudos e outras tarefas dos adolescentes. Tudo foi resolvido com a organização de uma escala de revezamento.
Como numa verdadeira teia de cooperação, gestores, alunos e pais se uniram, de forma bem comprometida. Os pais contaram que isso aumentou a responsabilidade dos filhos, a noção da importância de cuidar do outro e eles cresceram com valores de boa convivência. Boa parte dos pequenos aderiu às opções de diversão e a confusão diminuiu consideravelmente.
Aproveito essa experiência do Ceará para finalizar o post com uma importante reflexão: asustentabilidade, na escola e na vida, só é conquistada com o desenvolvimento de valores e com a percepção sobre o cuidar, com afetividade. Mas, diferente do que eu vejo em muitas ações de Educação ambiental, quando o foco é sempre cuidar do meio ambiente, cuidar do planeta deveria ser uma consequência, mais do que uma causa.
Na lógica do cuidar, precisamos seguir os passos de cuidar de si, cuidar do outro, cuidar da coletividade e, então, como resultado de todos esses cuidados, cuidar do meio ambiente! Esse é o resumo da metodologia dos quatro cuidados, desenvolvida junto com o Instituto Ayrton Senna.

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