Como escolher o que ensinar?
Todos têm um palpite sobre o que deve ser ensinado na escola. Como escrevi no post anterior, são muitas as pressões sobre o professor, que acabam gerando inquietações, insegurança e podem atrapalhar o bom andamento do trabalho docente.
Professor, é preciso enfrentar essas inquietações com serenidade e tirar certos fardos das nossas costas. Um primeiro recado vindo diretamente do mundo real: quando escolhemos decidir ensinar alguma coisa, obrigatoriamente estamos escolhendo não ensinar outra. O nosso tempo é finito e, no caso da EJA, bem curto. Isso significa que sempre sobrarão assuntos importantes que não serão ensinados.
Se isso já acontece no ensino regular, que dirá na EJA, onde o tempo é bem mais escasso? Nem tudo que gostaríamos será tratado em aula! Temos que ter consciência e tranquilidade a esse respeito.
Por outro lado, essa realidade nos obriga a escolher a dedo os assuntos a ser abordados. Eles devem ser importantes para a sua área de atuação, interessantes de serem estudados e adequados para fazer os alunos avançarem o máximo possível no curto período em que passam conosco.
“Ok”, você dirá. “Que assuntos são esses, então?”
Seria impossível montar uma lista de tópicos que servisse a todos os cursos de EJA do Brasil. No entanto, descrevo a seguir alguns critérios que julgo importantes para escolher e montar um currículo, a partir do olhar da minha área (Ciências):
- Assuntos que favoreçam o aprendizado de habilidades fundamentais para compreender como se constrói conhecimento. Em Ciências, registrar dados e propor hipóteses são exemplos desse tipo de habilidades. Portanto, ao escolher o que ensinar, prefiro assuntos que me permitam propor atividades em que os alunos pratiquem esses procedimentos.
- Assuntos que abordem os conceitos estruturantes da área. No caso de Ciências, as ideias de energia, ambiente e transformação, por exemplo, são absolutamente essenciais e devem aparecer de um jeito ou de outro. Tanto faz se a ideia de energia é discutida quando se trata dos alimentos (as calorias são uma medida da energia contida na comida) ou quando se analisa o consumo de diferentes eletrodomésticos; o importante é que o conceito de energia, que é essencial, seja apresentado e discutido.
- Assuntos que tenham relevância social. Os temas abordados em sala devem de preferência relacionar-se a problemas e situações que os alunos e sua comunidade efetivamente vivenciam. O estudo desses temas deve ajudá-los a enfrentar essas situações de maneira mais embasada. Se você considera que um certo tema que ensina só tem relevância dentro da sala de aula, sugiro que repense a presença dele no seu planejamento!
- Assuntos que toquem no conhecimento que os alunos já possuem. Alunos da EJA têm uma grande vivência fora da escola e, ao escolher o que vou ensinar, privilegio temas que permitam colocar seus conhecimentos-prévios lado a lado com os saberes escolares. Comparando-os, os alunos podem refletir como cada tipo de saber é produzido, seus alcances, suas belezas e seus limites. Esse aspecto foi valorizado nos estudos que fizemos sobre a Lua. Esses são os principais aspectos que levo em conta na difícil tarefa de escolher o que ensinar (e de decidir o que não ensinar!). Ter clareza sobre eles me ajuda a responder a inquietante pergunta: será que o que ensino é importante para os alunos? E você, que critérios usa na hora de escolher os assuntos das aulas?
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