Filmes para estimular debates com jovens e adultos
Aproveito a chegada desse mês de julho, em que muitos de nós estamos em recesso ou férias, para indicar alguns filmes nacionais que podem gerar discussões interessantes com os alunos. A seguir, algumas sugestões de filmes que já usei em sala de aula e acho bem adequados para a EJA:
Tapete Vermelho (Direção: Luiz Alberto Pereira | 2006 | 102 minutos | Brasil): É a história divertida de um caipira paulista que resolve, nos dias atuais, levar o filho para assistir a um filme do grande comediante Mazzaroppi no cinema. As aventuras e desventuras dessa família que sai do isolamento da roça em busca do cinema na cidade são emocionantes e engraçadas. É um bom filme para discutir as diferenças de costumes no meio rural e urbano, o choque cultural que os migrantes sofrem e as dificuldades na vida na cidade. Um aspecto que rendeu bastante discussão com meus alunos foi o papel que as curandeiras têm no mundo rural, em contraposição aos remédios industrializados do mundo urbano.
Besouro (Direção: João Daniel Tikhomiroff | 2009 | 95 minutos | Brasil): Narra os feitos do lendário capoeirista Besouro Mangangá, na Bahia do início do século 20. O filme expõe a triste realidade dos negros que continuavam sendo tratados como escravos mesmo após a abolição. É uma ótima maneira para iniciar discussões sobre a situação do negro no passado e no presente, além de alguns aspectos da cultura afro-brasileira, como a religião e a própria capoeira. O aspecto religioso foi um ponto de muita discussão entre meus alunos, o que acabou revelando preconceitos sobre as religiões de matriz africana, mesmo entre estudantes negros. O filme também abre possibilidades para conversar sobre a produção de açúcar, que até hoje é uma atividade econômica importante no Brasil.
Lixo extraordinário (Direção: Lucy Walker e outros | 2010 | 99 minutos | Brasil): Documentário sobre a intervenção que o artista Vik Muniz, reconhecido internacionalmente, fez juntamente com os catadores de material reciclável no aterro do Jardim Gramacho (RJ), um dos maiores do mundo. O artista propõe a realização de obras em conjunto com os catadores, que não conhecem nada do mundo artístico. O filme abre portas para várias discussões interessantes: o consumo exagerado que dá origem ao imenso acúmulo de lixo que se vê no Jardim Gramacho; as discrepâncias entre dois mundos, o do artista e o dos catadores; o cotidiano e a organização dos catadores em uma associação profissional; o preconceito com o trabalho dos catadores; a questão do descarte de lixo e da reciclagem de materiais; a transformação na visão de mundo das pessoas por conta do contato com a arte. Há vários trechos em inglês, com legendas, o que pode requerer alguma mediação do professor.
Anjos do sol (Direção: Rudi Lagemann | 2006 | 92 minutos | Brasil): Conta a história de uma garota do interior do Brasil que é vendida pelos pais para um agenciador de prostitutas. É um filme que trata de temáticas delicadas e com enredo triste. É um bom iniciador de discussões sobre gênero e sexualidade e pode ser usado para abordar questões como gravidez indesejada, exploração sexual infantil, tráfico de pessoas e violência contra as mulheres. Também trata das condições precárias de vida em certos locais do país, como nos garimpos. Apesar de gostarem do filme, meus alunos sentiram-se chocados e muitos se emocionaram; não é um filme que deixa as pessoas alegres. Não podemos esquecer que as várias situações de violência retratadas são comuns na vida de muitos brasileiros.
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