Aids: formação e orientação para barrar o preconceito e o medo
O tempo ainda não conseguiu romper o preconceito e o medo quando se trata da Aids. Para uma boa parte da população brasileira, ainda persiste a falta de informação e de conhecimento. E também entre nós, educadores, há sentimentos enraizados que podem provocar uma discriminação involuntária. Essa minha convicção nasceu quando matriculei uma garotinha de 3 anos na creche onde trabalhei.
Na época, eu tinha poucas referências sobre o assunto e lembro-me, vividamente, quando a mãe veio falar comigo, contou da adoção da menina e me mostrou o relatório médico com orientações do setor de epidemiologia. As informações foram esclarecedoras e mostraram, por exemplo, que o sigilo precisava ser garantido.
Fiquei preocupada ao lembrar dos auxiliares de Educação, que permanecem oito horas diárias com os alunos e não tinham preparo para lidar com essa situação. Procurei mais orientações com a Vigilância Sanitária e Epidemiológica do município para poder orientar a equipe.
Solidários à minha preocupação, me disseram para atender essa menina como as demais, promovendo na escola orientações sobre acidentes que podem machucar seriamente qualquer criança. Como a garota passaria a frequentar as aulas na semana seguinte, reuni os auxiliares de Educação e os professores. Mostrei dados sobre os acidentes dentro da escola e, mantendo o sigilo, aproveitei para dar ênfase à nova matrícula e lembrar que a criança tinha uma saúde debilitada e não poderia ter machucados sérios. Conjuntamente traçamos algumas metas para evitar os acidentes e iniciamos o nosso trabalho.
Passados alguns meses, a Secretaria Municipal de Educação notou o número crescente de crianças com HIV na rede e promoveu uma formação em parceria com a Secretaria Municipal de Saúde. Médicos, enfermeiros e agentes de saúde especialistas no assunto participaram e explicaram sobre o vírus e os cuidados necessários. Promotores públicos expuseram a legislação que ampara o portador de HIV e a sanção aplicada para quem promover discriminação.
Passamos a receber luvas descartáveis para dar os primeiros atendimentos na escola, tudo sem expor a condição da aluna. Parece que tudo ficou acertado, não é mesmo? Tenho consciência de que resolvemos uma pequena parte e ainda há profissionais cheios de dúvidas que pensam, por exemplo, que um beijo no rosto seria suficiente para se contaminar.
Por isso, o assunto continua presente no nosso planejamento. Na escola em que trabalho agora, estamos sempre atentos e marcamos para o início de agosto mais uma palestra para pais, professores, alunos e funcionários sobre o assunto. Assim, compartilhamos nossas dúvidas e buscamos resolvê-las.
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