Conflito de valores entre a escola e a comunidade
Na escola onde eu sou diretora, trabalhamos com alunos do Ensino Fundamental I, a partir dos 6 anos. Entre os responsáveis por essas crianças, é comum encontrarmos pais de primeira viagem que trazem para dentro da instituição sua superproteção. Então, eles acompanham de muito perto tudo o que acontece com os filhos, inclusive qual foi o lápis que perderam, com quem se desentenderam e para quem emprestaram a borracha.
Numa manhã de quinta-feira, uma dessas mães chegou à escola muito zangada, dizendo que nós, funcionários da escola, éramos responsáveis pelo que tinha acontecido a seu filho. Sem entender o que ela estava falando, pedi que, calmamente, ela se sentasse na minha sala para conversar sobre o assunto. Diante da negativa, me coloquei de pé e comecei a ouvi-la. Ela despejou tudo que estava contido: sua indignação com a conduta da escola e a falta de confiança nas pessoas que trabalhavam com seu filho. “Ninguém viu um absurdo desses acontecer? O que essas pessoas fazem nessa escola?”, ela questionava.
Ainda sem entender direito o que se passava, pedi a ela que contasse o que havia ocorrido para que ficasse tão zangada. Ela me disse, então, que percebeu que o filho havia trocado o cadarço do sapato com um dos colegas. Nessa hora, confesso que tive de contar até mil para controlar minha indignação. Perguntei qual era o problema dessa troca e por que ela pensava que isso era algo tão grave. Comentei também sobre a confiança que as crianças constroem entre si e como é comum que elas troquem brinquedos e objetos nessa idade.
Mais que depressa, a mãe rebateu dizendo que isso era um absurdo, pois a escola deveria respeitar as regras que a família estabelece com os filhos. Ela havia ensinado ao menino que os pertences jamais deveriam ser emprestados, doados ou trocados.
Sob ameaças, ela me intimou a tomar providências em relação a o que aconteceu e disse que havia anotado o nome completo da professora e o meu também para emitir um boletim de ocorrência na delegacia. Pedi mais uma vez que ela se sentasse para conversar sobre o assunto e disse que gostaria de saber mais sobre esses valores. Assim, eu poderia ajudá-la no que fosse preciso.
Chamei uma funcionária e solicitei que trouxesse um suco para nós. Pedi também à secretária da escola que dissesse às demais pessoas que queriam conversar comigo para retornar um pouco mais tarde, pois o atendimento àquela mãe se alongaria.
A mulher me contou todos os acordos que havia estabelecido com o filho e disse que fora criada acreditando que tudo o que tinha era resultado de muito trabalho, muito suor. Essa criação era reproduzida com o menino. Concordei que é custoso adquirir bens materiais e trabalhoso educar nossos filhos para respeitar esse conceito, mas a indaguei quanto à solidariedade. A escola é um espaço onde tudo é de todos. O bom estado das carteiras da sala de aula, por exemplo, deve ser zelado por todos, pois a turma do período seguinte utilizará o mesmo material. O mesmo acontece com os livros, pratos, talheres, mesas, bolas e brinquedos.
Ela ficou pensativa, mas insistiu que a troca de cadarços entre seu filho e um colega não poderia mais acontecer, porque, hoje, era um caderno e, amanhã, poderia ser outra coisa qualquer. A mulher também pediu para conversar com a professora da turma, que escutou o que ela tinha a dizer e se comprometeu a conversar com o grupo sobre o assunto.
Pedi à mãe que repensasse essas atitudes com carinho e falei que contaria com a ajuda dela para construir um relacionamento melhor com a escola. Deixei claro que entendia que essas mudanças não aconteciam do dia para a noite, mas não há impasse que uma boa conversa não resolva. Ela sorriu e também me pediu para compreender sua formação.
Depois desse episódio, não pensei duas vezes antes de transformar o assunto em tema de uma reunião de formação com os professores para socializar as providências tomadas. Claro que, inicialmente, eles também se mostraram indignados com o ocorrido, mas logo começaram a compreender a ação da mãe. Após a reflexão, combinamos que o assunto também seria pauta de uma reunião de pais. Para isso, convidamos uma psicóloga para abordar valores e ética. Na ocasião, também retomamos a missão da escola e entregamos para cada pai os nossos combinados com as turmas.
Na escola onde eu sou diretora, trabalhamos com alunos do Ensino Fundamental I, a partir dos 6 anos. Entre os responsáveis por essas crianças, é comum encontrarmos pais de primeira viagem que trazem para dentro da instituição sua superproteção. Então, eles acompanham de muito perto tudo o que acontece com os filhos, inclusive qual foi o lápis que perderam, com quem se desentenderam e para quem emprestaram a borracha.
Numa manhã de quinta-feira, uma dessas mães chegou à escola muito zangada, dizendo que nós, funcionários da escola, éramos responsáveis pelo que tinha acontecido a seu filho. Sem entender o que ela estava falando, pedi que, calmamente, ela se sentasse na minha sala para conversar sobre o assunto. Diante da negativa, me coloquei de pé e comecei a ouvi-la. Ela despejou tudo que estava contido: sua indignação com a conduta da escola e a falta de confiança nas pessoas que trabalhavam com seu filho. “Ninguém viu um absurdo desses acontecer? O que essas pessoas fazem nessa escola?”, ela questionava.
Ainda sem entender direito o que se passava, pedi a ela que contasse o que havia ocorrido para que ficasse tão zangada. Ela me disse, então, que percebeu que o filho havia trocado o cadarço do sapato com um dos colegas. Nessa hora, confesso que tive de contar até mil para controlar minha indignação. Perguntei qual era o problema dessa troca e por que ela pensava que isso era algo tão grave. Comentei também sobre a confiança que as crianças constroem entre si e como é comum que elas troquem brinquedos e objetos nessa idade.
Mais que depressa, a mãe rebateu dizendo que isso era um absurdo, pois a escola deveria respeitar as regras que a família estabelece com os filhos. Ela havia ensinado ao menino que os pertences jamais deveriam ser emprestados, doados ou trocados.
Sob ameaças, ela me intimou a tomar providências em relação a o que aconteceu e disse que havia anotado o nome completo da professora e o meu também para emitir um boletim de ocorrência na delegacia. Pedi mais uma vez que ela se sentasse para conversar sobre o assunto e disse que gostaria de saber mais sobre esses valores. Assim, eu poderia ajudá-la no que fosse preciso.
Chamei uma funcionária e solicitei que trouxesse um suco para nós. Pedi também à secretária da escola que dissesse às demais pessoas que queriam conversar comigo para retornar um pouco mais tarde, pois o atendimento àquela mãe se alongaria.
A mulher me contou todos os acordos que havia estabelecido com o filho e disse que fora criada acreditando que tudo o que tinha era resultado de muito trabalho, muito suor. Essa criação era reproduzida com o menino. Concordei que é custoso adquirir bens materiais e trabalhoso educar nossos filhos para respeitar esse conceito, mas a indaguei quanto à solidariedade. A escola é um espaço onde tudo é de todos. O bom estado das carteiras da sala de aula, por exemplo, deve ser zelado por todos, pois a turma do período seguinte utilizará o mesmo material. O mesmo acontece com os livros, pratos, talheres, mesas, bolas e brinquedos.
Ela ficou pensativa, mas insistiu que a troca de cadarços entre seu filho e um colega não poderia mais acontecer, porque, hoje, era um caderno e, amanhã, poderia ser outra coisa qualquer. A mulher também pediu para conversar com a professora da turma, que escutou o que ela tinha a dizer e se comprometeu a conversar com o grupo sobre o assunto.
Pedi à mãe que repensasse essas atitudes com carinho e falei que contaria com a ajuda dela para construir um relacionamento melhor com a escola. Deixei claro que entendia que essas mudanças não aconteciam do dia para a noite, mas não há impasse que uma boa conversa não resolva. Ela sorriu e também me pediu para compreender sua formação.
Depois desse episódio, não pensei duas vezes antes de transformar o assunto em tema de uma reunião de formação com os professores para socializar as providências tomadas. Claro que, inicialmente, eles também se mostraram indignados com o ocorrido, mas logo começaram a compreender a ação da mãe. Após a reflexão, combinamos que o assunto também seria pauta de uma reunião de pais. Para isso, convidamos uma psicóloga para abordar valores e ética. Na ocasião, também retomamos a missão da escola e entregamos para cada pai os nossos combinados com as turmas.
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