segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Polícia na escola: sim ou não?



Ao longo do ano, trouxemos para reflexão temas referentes à violência e aos conflitos vivenciados pela e na escola. Paralelo a essas discussões, surge outra, um tanto polêmica, que merece espaço para ser debatida: Devemos ou não chamar a polícia na escola? Quando fazê-lo?
Muitas equipes gestoras têm recorrido à parceria com a polícia ou a guarda municipal para o trabalho de combate à violência, convidando representantes de tais instituições para palestras e, até mesmo, para rondas sistemáticas durante os recreios e horários de entrada e saída. Pensemos a respeito!
Vamos começar pelas situações em que as rondas são solicitadas. Contar com a presença dos policiais do lado externo da escola, quando o entorno oferece riscos à segurança da comunidade, é essencial. Denota um trabalho em rede cada vez mais indicado e necessário para combater a insegurança. Porém, ao pedir que aconteçam visitas de profissionais fardados durante o horário dos intervalos temos, no mínimo, uma tentativa de intimidar os alunos mais baderneiros. E, como toda regulação externa, a coerção gerada com essa presença pode ter efeito contrário ao que se desejava e, assim, intensificar os atos deliberados de rebeldia, principalmente quando a polícia não está na escola.
E, nessa história, onde ficam os objetivos definidos no projeto político-pedagógico (PPP) de promover a autonomia dos estudantes? Autonomia jamais se vincula à coerção e à intimidação. Inúmeras vezes ouvi de gestores e professores que a presença do palestrante da corporação militar nas escolas trazia tranquilidade para o ambiente. Segundo eles, “as crianças ficam mais calmas”. Que grande equívoco! Acreditar que a mudança de comportamento provocada por uma figura fardada é algo positivo é, realmente, se distanciar do conhecimento sobre desenvolvimento moral. E isso para a Educação é uma lástima!
Quero afirmar que delegar a outras instâncias – Polícia Militar, Guarda Municipal, Promotoria Pública etc. – a responsabilidade de um trabalho orientado para os possíveis conflitos da escola é correr o risco de perder o comando e quase assinar o atestado de incompetência. Você pode pensar que estou defendendo a ideia de que também caberá à equipe gestora lidar com atos infracionais, ou seja, com a violência que fere a lei. De forma nenhuma! Quando há episódios de caráter violento, cujo teor é regulado pelo Código Penal, certamente outras instituições devem ser acionadas para fazer o encaminhamento do caso e garantir a segurança da comunidade interna. Porém, o foco dessa reflexão não são as situações extremas. Quero me concentrar em como está se naturalizando nas escolas esse processo de confiar exclusivamente a outros profissionais a responsabilidade de discutir questões que comprometem e incomodam a convivência em seu próprio espaço, como acontece, por exemplo, com o uso de drogas e de álcool, os furtos e a indisciplina.
É à escola que cabe, sempre que necessário, oferecer aos alunos diferentes perspectivas de um mesmo tema, buscando, assim, desenvolver e aguçar o pensamento crítico deles. Só ela é capaz de agregar todos os equipamentos públicos de seu entorno em benefício de um trabalho coeso e com objetivos comuns. Similar à figura do maestro, a escola deve reger todas as instâncias que possa reunir, para cada vez mais, ampliar o repertório sociocultural de sua comunidade. Mas prestem atenção: é para reger e não passar a batuta.
Outro ponto bem comum sermos surpreendidos por palestras ou apresentações doutrinadoras e ameaçadoras, feitas por profissionais extremamente bem intencionados. Mas, como sempre gosto de lembrar, Educação não se faz só com boas intenções. É importante que os gestores tenham acesso, com antecedência, a todo o material que será trabalhado com os estudantes e que garantam espaços de discussão sobre o teor das explanações independente do tema que elas abordam. Porque, afinal de contas, é nosso papel como educador levar nossos alunos a questionar, a duvidar e a querer constatar (ou não) as verdades defendidas pelos diferentes atores da sociedade.

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