Um aquário malcuidado, nas dependências da EMEB Octávio Edgard de Oliveira, em São Bernardo do Campo, região metropolitana de São Paulo, foi o ponto de partida para a garotada do 4º ano pesquisar sobre seres vivos. "O trabalho não se restringiu à questão de salvar o tanque da escola. Ele focou no conceito de sistema, com atividades para as crianças pensarem sobre como as coisas estão organizadas para garantir a vida dos peixes", diz Luciana Hubner, consultora pedagógica da Abramundo. Essa abordagem é defendida pela pesquisadora argentina Ana Espinoza no livro Ciências na Escola - Novas Perspectivas para a Formação dos Alunos (168 págs., Ed. Ática, tel. 4003-3061, 31,50 reais). Ela enfatiza que os ecossistemas são compostos de uma rede complexa de relações. "Um sistema não é apenas um conjunto de elementos, mas, sim, uma distribuição particular destes que permite a criação de interações específicas."
Inicialmente, o professor Roberto Leandro dos Santos propôs a observação do tanque. A garotada o desenhou, além de fazer uma lista dos itens vistos ali: água suja, apenas um peixe, cascalho e alguns objetos de decoração. Depois, as crianças estudaram sobre a água - que consideraram ser a casa natural dos peixes - e seu ciclo por meio de um livro didático e de um vídeo. Todas se surpreenderam ao concluir que a água do planeta é sempre a mesma.
O educador, então, voltou a atenção da classe para o aquário. O grupo recolheu uma amostra da água e a observou. "Ela era turva, tinha cheiro e provavelmente gosto", diz Santos. Várias hipóteses surgiram: "Essa cor deve ser por causa do xixi do peixe", disse Gabriela Aparecida Fernandes da Cruz, 9 anos. Os alunos lembraram, de acordo com o que viram sobre o ciclo da água, que nos rios e mares ela está em constante movimento, no tanque, não. "Eles concluíram que os peixes produzem sujeira, que na natureza é limpa por outros animais. O aquário deve ser mantido por alguém", diz Santos.
O docente comentou, então, que toda água tem propriedades, como nível de acidez e temperatura, que podem ser medidas. Ele recolheu amostras da água do aquário e da torneira da escola e, com material apropriado (à venda em casas especializadas), checou as duas características, além do nível de amônia e de cloro. Depois, todos pesquisaram na internet sobre o hábitat dos peixes. Descobriram que as características da água determinam as espécies que podem viver nela. "Destaquei que esses indicadores mudam e nem todos os peixes conseguem viver no mar ou no rio, por exemplo."
Santos levou um aluno de Biologia da Universidade de São Paulo (USP) para conversar com a meninada. O convidado trouxe um peixe já morto para explicar a função de cada parte de seu organismo. Assim, todos observaram que o animal respira embaixo dágua por meio das brânquias.
As crianças também pesquisaram na internet sobre tipos de aquário. Santos aproveitou esses momentos para ajudá-las a usar as ferramentas de busca, orientando sobre as palavras-chave e a comparação de resultados. Com a prática, elas foram criando uma lista de sites confiáveis.
Para reproduzir o fundo de um rio, os alunos escolheram pedras, plantas e o cascalho de água doce. Surgiram muitas dúvidas: "Qualquer planta pode ser colocada num aquário? Como elas respiram embaixo dágua? Elas têm brânquias, como os peixes?". A classe levantou algumas hipóteses e foi pesquisar mais, pois não sabia como era a respiração e a nutrição dos vegetais. Um dos alunos, então, referiu-se à fotossíntese, e Santos pediu que todos buscassem informações sobre o tema. De volta à classe, tudo foi sistematizado pelo professor. Para ajudar os estudantes a concluir como a planta puxa água do solo, Santos fez duas experiências: colocou rolos de papel mergulhados num copo dágua e crisântemos brancos em vasos com água colorida.
Todos voltaram ao laboratório de informática para pesquisar as espécies de plantas aquáticas mais adequadas para o ecossistema que estavam criando. O processo se assemelhou ao realizado na hora de escolher os peixes: os resultados foram levados à sala de aula e as informações, registradas em forma de tabela no quadro. "Se a planta precisa de luz para se alimentar e dar oxigênio para os peixes, então o aquário também vai precisar de iluminação", sugeriu Mary Victoria Araújo Evaristo Luna, 9 anos.
A turma colocou a vegetação e a decoração no aquário e, depois, a água, que foi estabilizada. Por fim, entraram os animais. Paralelamente à pesquisa e à montagem, a garotada produziu fichas informativas sobre as espécie usadas, assim como explicações sobre o aquário. Os textos vinham acompanhados de fotografias das crianças fazendo a linguagem de sinais - um dos estudantes, surdo, tinha intérprete e era acompanhado pelo professor do Atendimento Educacional Especializado (AEE), que antecipava os assuntos que seriam debatidos nas aulas seguintes.
Ao fim do projeto, com o aquário revitalizado, os estudantes comemoraram: a escola tinha ganho um bonito ambiente e eles tinham aprendido muita coisa sobre ecossistemas.
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