quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Apresentações orais, provas e trabalhos: situações que estressam os alunos da EJA

A maioria dos meus alunos tem grande apreço pela escola e gosta de frequentá-la. Muitos se empolgam com os novos aprendizados e valorizam não só as aulas, como também os eventos culturais e o fato de a instituição ser um espaço de socialização. Alguns deles, por exemplo, não têm oportunidade de conversar com a família ou com pessoas no trabalho, portanto os colegas de sala acabam sendo os únicos amigos. Contudo, apesar de prazerosa, a escola pode ser também estressante em determinados momentos.
Tradicionalmente, o final do semestre é um tempo de avaliações, finalização de tarefas e apresentações de fim de curso em grande parte das escolas. E há vários estudantes que não lidam bem com essas situações na Educação de Jovens e Adultos. Já vi casos de pessoas que ficam extremamente nervosas em dias de prova ou de apresentações de trabalhos. Particularmente, quando eu era estudante, não me sentia à vontade em participar de seminários, mas acabava encarando a dificuldade, como todos os meus colegas. Na EJA, no entanto, por se tratar de adultos, essas circunstâncias podem tornar-se muito delicadas.
Mencionei as apresentações orais em outro post e como elas são um grande desafio para as classes da EJA. Desde que comecei a lecionar nesse segmento, fiz esse tipo de proposta e, rapidamente, percebi que eram difíceis para alguns alunos. Apesar disso, sempre as mantive por considerar que os aprendizados eram maiores que os desconfortos. Até hoje, penso que os ganhos são, de fato, significativos, mas aprendi a ter mais cuidado com os receios, as vergonhas e até o pânico que acometem os estudantes.
Vivi muitas situações que evidenciaram esse receio por parte da turma, como alunos que faltavam em dia de apresentações ou de trabalho em grupo e que ficavam absolutamente travados ao fazer provas. Os dias que antecedem a explanação oral estão entre os mais estressantes para eles. Na véspera do seminário, aparecem alergias na pele, crises de pressão alta, dores de barriga, infecções urinárias, nervosismo excessivo, entre outros sintomas. É normal ficar doente de vez em quando, mas metade da classe adoecer na mesma semana supera toda a chance de acaso estatístico.

Preocupado com o efeito que essas atividades têm nos alunos, há alguns anos tenho tomado cada vez mais cuidado (leia aqui sobre a sensibilidade de alguns estudantes da EJA). Busco discutir com eles se vale a pena realizar essas tarefas. Será que os ganhos superam todo o estresse que aparece? A quase totalidade dos alunos diz que sim. Mesmo aqueles mais retraídos e que passam por mais obstáculos afirmam que o percurso é cheio de aprendizados.
Entretanto, já me deparei com alunos que desistem da escola por não suportarem tarefas em grupo e apresentações em público. Aparentemente, tomar a palavra pode ser penoso demais para algumas pessoas, que estão dispostas a jogar para o alto todos os benefícios da escola por conta dessas dificuldades. Há consequências ainda piores que a evasão. Recentemente, soube de um estudante que tentava abandonar o alcoolismo, mas teve recaídas justamente nos momentos em que tinha de falar em público na escola.
Por conta de episódios como esses, temos uma noção do tamanho da nossa responsabilidade ao propor atividades na EJA. Acredito que não se trata, obviamente, de abandonar um trabalho que é importante para a maioria dos alunos. Porém, é preciso traçar um caminho que seja menos árduo, com mais etapas intermediárias e mais acompanhamento para esses casos.
Você já vivenciou algo parecido em suas turmas? O que fazer?

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