Como quebrar o silêncio dos alunos em casos de abuso sexual?
Durante um período de minha atividade profissional como educadora sexual, mantive no instituto em que trabalho um serviço de orientação sexual por telefone (saiba mais aqui). Certo dia, atendo a uma das ligações e, do outro lado, está um garoto profundamente triste, decepcionado e magoado com a postura de sua mãe.
Ele me contou que, por várias vezes, acordava no meio da noite com a sensação de estar sendo observado e percebia que sua mãe havia baixado seu pijama para olhar seu pênis. Segundo ele, ela o observava por um bom tempo e ele, constrangido e amedrontado, fingia continuar dormindo.
Esse garoto foi profundamente violentado, não fisicamente, mas de forma psicoemocional. Como imaginar que uma mãe seja capaz de uma atitude como essa? Como um garoto pode lidar com tamanho constrangimento?
Fiz questão de trazer este exemplo para desmistificar algumas ideias sobre abuso sexual e provocar uma reflexão sobre as formas de violência vividas por nossas crianças e adolescentes. Algumas dessas ideias equivocadas são preconceituosas, e podem contaminar a percepção do educador, fazendo com que ele não dê ouvidos a um aluno por confundir o relato de uma agressão com fantasias próprias da idade. Isso dificulta o enfrentamento da questão e a atenção às vítimas ao mesmo tempo que aumenta a vulnerabilidade da criança e encobre o agressor.
Principais mitos sobre o abuso sexual
- Meninos não sofrem abuso sexual;
- Quem abusa sexualmente é sempre o padrasto;
- Mulheres não cometem abuso sexual, muito menos mães;
- Crianças pequenas não sofrem abuso sexual;
- Casos de abuso sexual só ocorrem em classes sociais pobres.
- Meninos não sofrem abuso sexual;
- Quem abusa sexualmente é sempre o padrasto;
- Mulheres não cometem abuso sexual, muito menos mães;
- Crianças pequenas não sofrem abuso sexual;
- Casos de abuso sexual só ocorrem em classes sociais pobres.
O que pode ser considerado abuso sexual?
Qualquer forma de exposição da criança ou do adolescente a estímulos sexuais que ultrapassem os direitos humanos ou o respeito ao seu desenvolvimento físico, emocional e psicossexual pode ser considerado abuso sexual.
Qualquer forma de exposição da criança ou do adolescente a estímulos sexuais que ultrapassem os direitos humanos ou o respeito ao seu desenvolvimento físico, emocional e psicossexual pode ser considerado abuso sexual.
O abuso sexual ocorre quando uma pessoa subjuga outra por meio da violência, do abuso de poder, da autoridade ou da diferença de idade para obter prazer sexual. O abuso pode incluir carícias, manipulação dos órgãos genitais, voyeurismo, pornografia e atividade sexual com ou sem penetração vaginal, anal ou oral, com ou sem uso de violência.
As vítimas de abuso sexual se sentem aterrorizadas, confusas e muito temerosas e, não raro, têm muita dificuldade em contar para alguém que foram vítimas desse tipo de violência, mesmo para pessoas de sua completa confiança. Em geral, elas se calam por não quererem prejudicar o abusador ou provocar uma discórdia familiar. Ou pior: temem ser consideradas culpadas ou castigadas pelo agressor.
O bem-estar da criança ou do adolescente deve ser sempre a nossa prioridade. Portanto, a escuta ativa (quando se ouve de fato o que o outro diz), o acolhimento e a proteção do aluno são muito importantes. O professor pode ser, em muitos casos, o único adulto com quem ele ou ela podem contar.
Como conduzir uma conversa sobre casos de abuso?
Converse com o aluno num ambiente tranquilo e sem interrupções, incentivando-o a falar abertamente. Não emita opiniões ou faça julgamentos. Depois de ouvir todo o relato, manifeste seu apoio fazendo o aluno perceber que o que aconteceu não foi culpa dele. Esse fortalecimento é muito importante para ele conseguir falar sobre o incidente com a família e diminuir seu sofrimento emocional.
O próximo passo é entrar em contato com a família, mas, antes de fazer isso, pergunte ao aluno quais são as pessoas com quem ele aceita conversar sobre o assunto e chame esse familiar para ir à escola. Como esta não é uma conversa fácil, se você sentir necessidade, peça ajuda à equipe gestora ou o acompanhamento de uma psicóloga, caso a escola tenha acesso a esse profissional. Como disse no post anterior (confira aqui), às vezes, a reação do familiar pode ser a de negar o ocorrido. Nesses casos, a decisão mais sábia é não criar conflito e encaminhar a questão diretamente às autoridades (veja no final deste post onde fazer a denúncia).
Assegure o sigilo absoluto em relação ao assunto dentro da escola. É fundamental respeitar a privacidade do aluno e respeitar o tempo dessa criança ou adolescente para que ele se sinta capaz de continuar na escola e interagir normalmente com seus colegas.
É importante também deixar claro para os alunos, durante o trabalho de Educação sexual, que o corpo é propriedade de cada indivíduo e que qualquer tentativa de contato indesejado ou exposição a situações em que o aluno sinta sua privacidade invadida deve ser rechaçada e comunicada para um adulto de confiança. E vale sempre lembrar que a escola é um lugar onde eles poderão encontrar pessoas de confiança.
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