Escola também é lugar de tecnologia
Há poucos dias, um aluno recém-chegado à universidade, mais especificamente em um curso da área de Ciências Humanas, me contou um caso bastante sintomático sobre a maneira como a tecnologia ainda é encarada na sala de aula.
Ele me descreveu sua primeira semana na faculdade, aquele momento em que somos apresentados aos professores e às disciplinas que iremos cursar ao longo do semestre. O primeiro impacto sentido por ele foi a maneira como a coordenadora do curso se apresentou, informando logo de cara à todos:
– Quero que saibam que não estou aqui para ser amiga de ninguém. Presto um serviço para a universidade e não confundo, nem gosto que confundam, o meu papel. Não gosto de brincadeiras e não sou muito de risadas. Espero que me procurem somente quando houver um assunto de muita importância. Estamos combinados?
Ainda impactado pela falta de humanidade da coordenadora, e suspeitando tratar-se de uma aula trote, esse rapaz logo foi confrontado por outro anacronismo.
Durante as aulas que se seguiram, ele me contou que cada professor apresentou em Power Point o que chamaram de contrato de sala (popularmente conhecido como regras ou combinados da turma). Todos os contratos estavam prontos e sacramentados somente por um dos envolvidos: o professor. Claro que não se considerou o significado da palavra contrato, isto é, trato entre pessoas. Caso contrário, ele teria sido construído com o envolvimento, ainda que parcial, de todas as partes.
Pois bem, nesses contratos, duas das professoras do curso se posicionaram radicalmente contra o uso de computadores, tablets e afins. Uma delas não se deu ao trabalho de argumentar. A outra apresentou a seguinte justificativa:
– Sou da velha guarda e não aceito computador ou outro equipamento similar nas minhas aulas. O aluno, quando escreve, presta mais atenção porque tem que ler o que escreveu. Além do mais, ele pode se distrair usando a internet durante a aula…
Ai! Haja paciência! É ou não é subestimar muito o ser humano aluno que está ali?
Esse exemplo de rejeição ao uso da tecnologia em sala de aula confirma a dificuldade de muitos profissionais em conceber que a educação não pode se voltar contra uma realidade global. Ao se declarar como sendo da “velha guarda”, a professora assume que não sabe lidar com as inovações trazidas pela contemporaneidade para o dia a dia do profissional da educação. A situação fica ainda mais comprometida quando justifica que escrevendo o aluno terá mais atenção. Ora, isso significa que digitar não exige a leitura? Então todos os textos que produzimos no computador não são relidos, corrigidos ou modificados?
O receio de que a internet seja mais atraente do que sua explanação demonstra ainda a ausência de um planejamento que inclua pesquisas na internet durante a aula. E, finalmente, acreditar que a proibição da tecnologia garantirá a atenção e envolvimento dos alunos é, no mínimo, uma ingenuidade do professor.
Há bem pouco tempo, no 26º Encontro Nacional de Professores do Proepre – Neurociências e Educação, tive a oportunidade de ouvir dois respeitáveis neurologistas que afirmaram em suas palestras a impossibilidade de a escola atual impedir ou inviabilizar o trabalho com as novas tecnologias. Demonstraram cientificamente que a evolução no córtex cerebral humano possibilita às novas gerações consideráveis avanços em suas habilidades quanto ao mundo virtual e que, portanto, a Educação deve usar isso a seu favor.
Sendo assim, nosso foco deve estar nas diferentes maneiras de se utilizar as novas tecnologias como ferramentas pedagógicas e não em combatê-las. Na próxima semana, nos contrapondo aos relatos que serviram de exemplos quanto à postura ineficiente do educador frente aos combinados e utilização da tecnologia, trarei práticas e posturas favoráveis à construção da autonomia de nossos alunos.
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