Plano de convivência: uma alternativa para a autonomia dos alunos
Depois de um feriado prolongado, com as energias repostas, voltamos aos nossos afazeres! Em nossos últimos posts, falamos sobre as diferentes manifestações que comprometem a convivência escolar.
É fundamental termos clareza de que nossa postura – tanto frente ao trabalho com o conhecimento, quanto junto aos alunos e aos colegas da equipe – é também responsável pela qualidade do ambiente de nossas aulas. Sendo assim, ao menos dois princípios morais fundamentais devem sustentar nossa prática diária: o do respeito mútuo e o da justiça. Portanto, colocar-se no lugar do outro e considerar as diferentes perspectivas são posturas imprescindíveis ao educador.
Quando compreendemos que as manifestações de desordem e perturbação, tão presentes no contexto escolar, são também manifestações que denunciam algo muitas vezes invisível para o professor, precisamos garantir espaços seguros em nossas aulas para que sejam compartilhados sentimentos, dúvidas e opiniões. Existem estratégias formativas que garantem aos alunos – desde os pequenos da Educação Infantil até os adolescentes dos anos finais do Fundamental e Médio – espaços para falar e pensar sobre si e sobre o outro. São momentos destinados ao diálogo, à escuta, em que o professor garante o direito de todos se posicionarem sem o risco de críticas e constrangimento. No livro A Formação da Personalidade Ética*, a pesquisadora de Psicologia Moral Luciene Tognetta sugere um trabalho valioso para as escolas, contemplando as relações consigo mesmo, com o outro e com a autoridade. Assim, as assembleias de sala, as avaliações do dia, as discussões de dilemas ou de situações de conflitos hipotéticos são algumas práticas em que é dado ao aluno o espaço de reflexão e exercício da criatividade moral, ou seja, oportunidades de pensar em formas construtivas e respeitosas para a resolução de situações conflituosas. Tais práticas, porém, devem ser planejadas e utilizadas sistematicamente e não somente quando o professor sente a necessidade de resolver algum problema específico. Estou falando, então, de garantir no currículo da escola um plano de convivência.
O plano de convivência organiza espaços e tempos destinados ao pleno exercício do diálogo, do respeito, das trocas, enfim, da cidadania. O objetivo principal desse documento é atuar preventivamente quanto às situações de violência, de injustiças e de bullying e seu foco é o protagonismo dos alunos, ou seja, delegar aos estudantes a corresponsabilidade pelos possíveis problemas de convivência. Nessa perspectiva, ao contrário do usual, o professor, autoridade da relação, não é o único responsável pela resolução dos conflitos, mas sim o mediador das situações. Dar protagonismo aos alunos significa confiar que eles são capazes de pensar e agir de maneira respeitosa e construtiva e erradicar a solução de conflitos de forma improvisada e impulsiva.
O primeiro passo, portanto, é dar voz aos estudantes eles. Planejar e garantir espaços de troca entre os pares, por meio de atividades em grupo, elaboração coletiva de regras e de práticas solidárias são alguns exemplos de ações que engajam os alunos, favorecendo o sentimento de pertencimento. Sentir-se pertencente a um grupo, ao processo e à escola é fundamental para uma boa convivência.
No período de 1 a 13 de abril, tive a oportunidade de conhecer algumas escolas da Espanha em que a convivência é considerada conteúdo prioritário do currículo escolar. Nosso grupo constatou o compromisso com o diagnóstico dos maiores problemas e o investimento em estratégias cujo foco principal é a formação integral do aluno. Testemunhamos um trabalho em que não há espaço para o preconceito, o fracasso, o desrespeito, o desprezo. Todos os alunos são importantes e inseridos verdadeiramente no processo.
É fato que há na legislação do país a obrigatoriedade de planejar a convivência, assim como se planejam as diversas áreas de conhecimento. Mas sabemos que somente uma legislação não garante um trabalho efetivo. Tanto é que no Brasil os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) trazem, dentre outros, a ética como tema transversal. Porém, ao considerar a ética como tema a ser abordado transversalmente, ou seja, por todos os profissionais da Educação, o resultado é a inexistência de um trabalho de fato voltado para a orientação ética. O que deveria ser de responsabilidade de todos infelizmente acaba sendo de ninguém.
É determinante para um trabalho construtivo da convivência escolar a mudança de paradigmas: nós, profissionais da Educação, devemos assumir nossas dificuldades como disparadores de uma revisão de nossas práticas, buscando novos estudos e novos caminhos.
E você? Conte como tem trabalhado as questões de convivência com seus alunos. Tem usado estratégias interessantes? Compartilhe conosco.
E antes de me despedir, compartilho meu respeito e reconhecimento pelas inúmeras contribuições dadas pela revista Gestão Escolar, que nessa semana completa 5 anos de existência. Parabéns a toda a equipe que acredita e viabiliza ações para uma educação de qualidade em nosso país.