11 respostas para as
questões mais comuns sobre recuperação
Nesta reportagem respondemos às maiores dúvidas de
quem enfrenta o desafio de garantir a aprendizagem de todos os alunos, sem
exceção
1 Como verificar o que de fato os alunos ainda
não aprenderam?
Diagnóstico inicial, provas, observações de
atividades realizadas em sala de aula, exercícios de sondagem,
situações-problema, trabalhos em grupo, tarefas de casa - em conjunto, esses e
outros instrumentos de avaliação ajudam a enxergar os diferentes saberes de
cada um. Olhar apenas a nota das provas é absolutamente insuficiente para
averiguar o que foi aprendido. Ainda mais quando sabemos que esse tipo de
avaliação nem sempre é preparado de uma forma que permita checar se cada
conteúdo trabalhado foi de fato aprendido. "Avaliação bem feita e válida é
aquela que está relacionada aos objetivos de ensino e traz perguntas que
abordam tudo o que foi ensinado. Ela permite que o aluno descreva o que aprendeu
ou deixou de aprender", afirma Luckesi. "Sem ter clareza sobre as
dificuldades de cada um, o professor pensa que terá de trabalhar com muito mais
conteúdos do que o necessário e acaba desistindo da recuperação."
2 Como analisar os
resultados das estratégias de avaliação?
O QUE
FOI APRENDIDO Um bom diagnóstico das aprendizagens mostra o que a
criança já sabe e o que falta aprender. Você vai ver que, dentro de um
conteúdo, as dúvidas não são tão diferentes.
Em relação
especificamente às provas, uma boa dica é ler de uma vez a resposta de todos a
uma mesma questão. É importante fazer anotações sobre as dificuldades
encontradas: quem errou, por quê, como, as ideias apresentadas sobre o assunto,
quais os equívocos mais comuns etc. Tabular esses dados ajuda a definir em que
investir mais força, o que retomar coletivamente e o que trabalhar em pequenos
grupos (leia mais no quadro abaixo). Ao analisar cadernos, portfólios e
trabalhos de casa, você tem um retrato dos diferentes momentos de avanço da
turma - o que é fundamental para enxergar exatamente onde está a dificuldade de
cada um em compreender o conteúdo e para eleger as estratégias que ajudarão
todos a superar os problemas.
Nas situações do dia a dia na sala de aula e nas tarefas de casa, é possível checar se problemas detectados no desempenho em provas se confirmam. "É comum as crianças não saberem utilizar nos testes o conhecimento que têm", ressalta Rosa Maria Antunes de Barros, coordenadora pedagógica da Escola Castanheiras, em Santana de Parnaíba, na Grande São Paulo, e autora de um estudo sobre grupos de apoio em escolas. Se numa atividade um aluno soube fazer algo e nas outras não, é indicativo de que ele domina parte do conteúdo, mas não está seguro disso. É imprescindível falar com ele, escutar quais são suas hipóteses, verificar até onde chegou e quanto avançou desde a última atividade.
Nas situações do dia a dia na sala de aula e nas tarefas de casa, é possível checar se problemas detectados no desempenho em provas se confirmam. "É comum as crianças não saberem utilizar nos testes o conhecimento que têm", ressalta Rosa Maria Antunes de Barros, coordenadora pedagógica da Escola Castanheiras, em Santana de Parnaíba, na Grande São Paulo, e autora de um estudo sobre grupos de apoio em escolas. Se numa atividade um aluno soube fazer algo e nas outras não, é indicativo de que ele domina parte do conteúdo, mas não está seguro disso. É imprescindível falar com ele, escutar quais são suas hipóteses, verificar até onde chegou e quanto avançou desde a última atividade.
3 Concluí
que meus alunos têm dificuldades diferentes. Como lido com isso?
"Fazer
agrupamentos é o grande pulo do gato para recuperar as aprendizagens de
todos", acredita Rosa Maria. Tendo um diagnóstico bem feito, que aponte
exatamente os problemas de cada um em relação aos conteúdos trabalhados em sala
até o momento, é possível dividir a classe. Um grupo será constituído pelos que
não apresentam problemas e precisam continuar avançando. Os demais devem ser
divididos em no máximo três agrupamentos, com dificuldades comuns entre os
integrantes. Afinal, em determinado tema abordado em aula, não há tantas coisas
diferentes que possam gerar dúvidas entre a garotada. Porém, se você detectou
que um problema de aprendizagem é comum a grande parte da turma, cabe uma
reflexão: será que a metodologia e a estratégia utilizadas foram coerentes com
o objetivo pedagógico? Em seguida, retome o conteúdo com urgência e sobre novas
bases. Lembre-se de que avaliar também é checar a qualidade e a eficácia do
próprio trabalho.
4 Quais
os critérios mais indicados para formar grupos em sala de aula?
São
duas as variáveis que determinam os agrupamentos: as necessidades de
aprendizagem e o objetivo da própria atividade. Além disso, é importante
considerar as características pessoais e os vínculos afetivos da turma.
Dependendo da tarefa, a garotada fica livre para escolher os parceiros.
"Em qualquer dessas situações, é importante deixar claro para todos no que
se baseou a organização e os seus objetivos com ela. Eles têm de estar seguros
e saber o que é esperado deles", ressalta Maria Celina Melchior.
Os erros mais comuns
- Determinar quem
será reprovado antes do fim do ano letivo.
Os alunos com mais dificuldade não devem ser abandonados. Ao contrário, eles
são os que mais precisam de atenção.
- Separar os que têm dificuldade em uma sala para os "fracos". Essa estratégia estigmatiza quem está de recuperação e não ajuda no processo de aprendizagem.
- Deixar a recuperação para a última semana do ano letivo. Se para a criança está sendo árduo avançar, uma revisão rápida do programa do ano não funcionará.
- Repetir na recuperação as estratégias já usadas. É preciso proporcionar outras formas de ensino para que todos aprendam o conteúdo.
- Separar os que têm dificuldade em uma sala para os "fracos". Essa estratégia estigmatiza quem está de recuperação e não ajuda no processo de aprendizagem.
- Deixar a recuperação para a última semana do ano letivo. Se para a criança está sendo árduo avançar, uma revisão rápida do programa do ano não funcionará.
- Repetir na recuperação as estratégias já usadas. É preciso proporcionar outras formas de ensino para que todos aprendam o conteúdo.
5 De
que forma posso organizar o trabalho dentro dos agrupamentos?
Em
cada um deles, o estudo pode se dar em subgrupos, duplas ou individualmente, de
acordo com as necessidades de aprendizagem e os objetivos de ensino. Em
agrupamentos maiores, são ricas as discussões de estratégias para resolver uma
questão ou a reflexão sobre o tema estudado. Nas duplas, é válido colocar alguém
que tenha maior dificuldade para realizar uma atividade com um colega que
entendeu melhor. As dúvidas do primeiro podem ser fundamentais para que o outro
avance no conteúdo. Além disso, quem está enfrentando problemas aprende com a
ajuda do colega. "Isso, no entanto, não deve ocorrer sempre. É preciso
lembrar que quem sabe também precisa continuar aprendendo", explica Maria
Celina. Já as atividades individuais ajudam o aluno a se sentir seguro sobre as
aprendizagens, já que tem de colocar em jogo todo o conhecimento adquirido. Não
esqueça: na maior parte do tempo, todos estarão juntos e vão seguir aprendendo
ou revendo os mesmos conteúdos.
6 Como dar conta
das diferentes demandas dos grupos sendo uma pessoa só?
O segredo é planejar em
detalhes cada aula de recuperação, prevendo tarefas para todas as equipes (leia
mais no quadro abaixo). O ideal é propor sequências didáticas bem ajustadas às
necessidades de aprendizagem de cada uma delas. Na hora de determinar o que
fazer e quando, considere os critérios didáticos a seguir:
Atividades Trabalhar com foco nas necessidades dos alunos não significa a toda aula propor algo diferente para cada um. É claro que no reforço não adianta repetir o que já foi realizado pela turma, mas propondo diferentes atividades você contempla mais alunos. Para os que já compreenderam a matéria, apresente tarefas com complexidade um pouco maior. À medida que aqueles que estão com dificuldades caminham, é possível propor a eles o que os avançados fizeram nas aulas anteriores. Construa um banco de atividades, se possível, com colegas da escola. Guarde os arquivos de propostas que surtiram bom efeito em aula para sempre adaptá-las e melhorá-las.
Recursos Invista em diversos materiais (vídeos, músicas, revistas, jornais, sites, jogos, mapas, atlas etc.) e estratégias (aulas expositivas, visitas a locais históricos etc.) como ferramentas de ensino. Mesmo em tarefas coletivas, é possível escolher recursos diferentes para cada grupo, sempre pensando no que melhor se encaixa em seu objetivo e nas necessidades de cada um.
Tempo Quem acompanha a turma de perto identifica os que precisam de um período maior para entender um conteúdo e já considera isso no planejamento. Às vezes, a criança tem de ficar mais tempo num mesmo ponto e contar com uma atenção redobrada, enquanto o restante realiza mais de uma atividade. O segredo é destacar essa flexibilização de tempo no planejamento e garantir que nas aulas coletivas ela siga avançando.
Atividades Trabalhar com foco nas necessidades dos alunos não significa a toda aula propor algo diferente para cada um. É claro que no reforço não adianta repetir o que já foi realizado pela turma, mas propondo diferentes atividades você contempla mais alunos. Para os que já compreenderam a matéria, apresente tarefas com complexidade um pouco maior. À medida que aqueles que estão com dificuldades caminham, é possível propor a eles o que os avançados fizeram nas aulas anteriores. Construa um banco de atividades, se possível, com colegas da escola. Guarde os arquivos de propostas que surtiram bom efeito em aula para sempre adaptá-las e melhorá-las.
Recursos Invista em diversos materiais (vídeos, músicas, revistas, jornais, sites, jogos, mapas, atlas etc.) e estratégias (aulas expositivas, visitas a locais históricos etc.) como ferramentas de ensino. Mesmo em tarefas coletivas, é possível escolher recursos diferentes para cada grupo, sempre pensando no que melhor se encaixa em seu objetivo e nas necessidades de cada um.
Tempo Quem acompanha a turma de perto identifica os que precisam de um período maior para entender um conteúdo e já considera isso no planejamento. Às vezes, a criança tem de ficar mais tempo num mesmo ponto e contar com uma atenção redobrada, enquanto o restante realiza mais de uma atividade. O segredo é destacar essa flexibilização de tempo no planejamento e garantir que nas aulas coletivas ela siga avançando.
7 Como retomar
conteúdos não aprendidos sem deixar de cumprir o programa?
TRABALHO
FOCADO Atividades em grupo permitem que os saberes dos alunos se
completem. A informação trazida por um colega muitas vezes é o que
falta para acompreensão do conceito.
Distribuindo algumas
aulas de reforço ao longo da semana de forma que você possa propor desafios
para os que não têm dificuldades e também atividades para a turma completa.
Reserve cerca de uma hora por dia ou um período de sua carga horária para dar
atenção aos agrupamentos. Determinar os objetivos e as metas para cada um deles
é fundamental para não desperdiçar tempo. No restante do seu horário, siga com
todos os alunos o programa normal.
8 Como ajudar cada
um de acordo com suas necessidades de aprendizagem?
PRONTO
PARA AVANÇAR Quando o seu trabalho é baseado na avaliação constante e
na intervenção imediata nos problemas, o aluno consegue superar as dificuldades
e aprender.
Uma alternativa é
reorganizar a sala, colocando os mais adiantados no fundo, os que estão com
dúvidas pontuais no centro e os que apresentam mais problemas próximo a você.
Assim, é possível passar entre as carteiras, observar todos atentamente e
intervir com afinco no trabalho dos que mais precisam. Verifique como eles
fizeram a atividade, peça explicações sobre a resolução, proponha a discussão
entre pares, mostre o que precisam rever etc. "Dessa forma, assim que as
dúvidas aparecem, elas são sanadas. Uma pequena intervenção, em certos
momentos, é essencial para a compreensão do conteúdo", recomenda Maria
Celina.
9 Mandar
tarefa de casa como reforço é uma boa estratégia?
Como
atividade única e isolada, não. Mas, como complemento do trabalho realizado em
classe, sim, funciona e muito bem. Nesse caso, a ideia é sistematizar um
conhecimento adquirido. "É preciso selecionar desafios que o aluno tenha
autonomia para enfrentar. Ele tem de ter visto o conteúdo em sala, tirado todas
as dúvidas e feito exercícios similares com o apoio do professor. A tarefa será
apenas para sistematizar ou refletir sobre o que aprendeu", explica Rosa
Maria. De nada adianta preparar atividades para fazer em casa sem orientação.
Dificilmente, ele sozinho conseguirá avançar.
10 Qual
o papel do titular da turma quando o reforço é no contraturno?
Em
escolas que oferecem horários especiais para a recuperação, o papel de quem
está diariamente com a turma é fornecer as informações possíveis ao colega que
ficará responsável pelas aulas extras, providenciar as atividades que serão
propostas e acompanhar o avanço da garotada. Afinal, é ele quem conhece as
crianças e sabe quais conteúdos elas precisam rever, as estratégias de ensino
já usadas e que se mostraram insuficientes. "Esse tipo de organização não
muda em nada a função do regente de sala", ressalta Maria Celina. Há
apenas uma exceção a essa regra: crianças não alfabéticas que já estão em
séries avançadas do Ensino Fundamental demandam uma ajuda mais efetiva por
parte do educador de reforço. Além de essa não ser a área do especialista, a
tarefa exige mais tempo e dedicação do que ele tem disponível. Quando essa
situação se apresenta, cabe aos gestores da escola ou da rede encaminhar o
caso.
11 Como saber se a
recuperação funcionou e todos aprenderam?
Com novas avaliações e
análises dos resultados (leia mais no quadro abaixo). "É preciso
acompanhar o avanço de cada um de perto e registrar todos os passos", recomenda
Luckesi. Analise se os estudantes superaram obstáculos e sanaram as dúvidas, se
participam das discussões com bons argumentos e se têm segurança e destreza
para realizar os exercícios. Para se certificar das aprendizagens, você pode
apresentar questões semelhantes às das avaliações anteriores e pedir que eles
resolvam individualmente. Retome o diagnóstico inicial e as anotações feitas
antes da recuperação e compare o desempenho de todos. Aqueles que superaram as
dificuldades devem ser transferidos para o grupo dos que precisam de novos
desafios. Com aqueles que ainda não superaram todos os problemas detectados, o
trabalho continua, assim como a avaliação da aprendizagem de novos conteúdos
trabalhados, que é contínua.
Quer saber mais?
CONTATOS
Cipriano Luckesi
Jussara Hoffmann
Maria Celina Melchior
Rosa Maria Antunes de Barros
BIBLIOGRAFIA
Avaliação da Aprendizagem na Escola: Reelaborando Conceitos e Recriando a Prática, Cipriano Luckesi, 115 págs., Ed. Malabares, tel. (71) 3356-3261, 32,70 reais
Avaliar para Promover - As Setas do Caminho, Jussara Hoffmann, 144 págs., Ed. Mediação, tel. (51) 3330-8105, 37 reais
Da Avaliação dos Saberes à Construção de Competências, Maria Celina Melchior, 180 págs., Ed. Premier, tel. (51) 3061-2452, 23 reais
O Diálogo Entre o Ensino e a Aprendizagem, Telma Weisz e Ana Sanches, 133 págs. Ed. Ática, tel. (11) 3990-1775, 36,90 reais
Por que Avaliar? Como Avaliar? - Critérios e Instrumentos, Ilza Martins Santana, 136 págs., Ed. Vozes, tel. (24) 2233-9000, 24,10 reais
Sucesso Escolar Através da Avaliação e da Recuperação, Maria Celina Melchior, 104 págs., Ed. Premier, 12 reais
Cipriano Luckesi
Jussara Hoffmann
Maria Celina Melchior
Rosa Maria Antunes de Barros
BIBLIOGRAFIA
Avaliação da Aprendizagem na Escola: Reelaborando Conceitos e Recriando a Prática, Cipriano Luckesi, 115 págs., Ed. Malabares, tel. (71) 3356-3261, 32,70 reais
Avaliar para Promover - As Setas do Caminho, Jussara Hoffmann, 144 págs., Ed. Mediação, tel. (51) 3330-8105, 37 reais
Da Avaliação dos Saberes à Construção de Competências, Maria Celina Melchior, 180 págs., Ed. Premier, tel. (51) 3061-2452, 23 reais
O Diálogo Entre o Ensino e a Aprendizagem, Telma Weisz e Ana Sanches, 133 págs. Ed. Ática, tel. (11) 3990-1775, 36,90 reais
Por que Avaliar? Como Avaliar? - Critérios e Instrumentos, Ilza Martins Santana, 136 págs., Ed. Vozes, tel. (24) 2233-9000, 24,10 reais
Sucesso Escolar Através da Avaliação e da Recuperação, Maria Celina Melchior, 104 págs., Ed. Premier, 12 reais
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