Diretor
Espaço para a sensibilidade
Ao incentivar a presença da estética, o gestor alia alegria e fruição a um trabalho sério e dinamiza as relações interpessoais
Há muitos anos, em Belo Horizonte, trabalhei numa escola em que a equipe de direção resolveu substituir os sinais de entrada e saída das aulas por músicas variadas. Ainda me lembro de apertar o passo quando me aproximava da escola e Marcos e Paulo Sérgio Vale já estavam no meio da canção Viola Enluarada ou Milton Nascimento já ia longe na suaTravessia. E também dos meninos e meninas parados na porta da sala aproveitando os últimos versos de A Banda, de Chico Buarque, antes de entrarem para as atividades.
Anos depois, em Santos, cidade do litoral paulista, fui fazer uma palestra numa escola que estava promovendo uma exposição de trabalhos de familiares dos alunos. Ali estavam fotografias feitas pelo pai de um, arranjos de flores da mãe de outro, esculturas de um avô, bordados delicados de uma tia. A diretora estava orgulhosa da alegria das crianças e dos jovens ao mostrar para os colegas e professores aquelas produções.
Uma escola de São Paulo, para comemorar o Dia do Índio, em vez de pintar o rosto dos pequenos ou colocar penas na cabeça deles, organizou um encontro com indígenas de uma tribo próxima. Eles contaram fatos de sua história e ensinaram a fazer algumas peças típicas do artesanato deles. Dava gosto ver as meninas se enfeitarem com as tornozeleiras feitas por elas mesmas e os garotos escolherem lascas para fazer um pente.
A arte pode entrar na escola por muitas portas, diferentes das que já se encontram estabelecidas. Essas, porém, nem sempre estão abertas para o que não é considerado curricular. Por isso, vale pensar na possibilidade de trazer a arte e estimular a sensibilidade não apenas em momentos já previstos - em aulas de disciplinas específicas, em eventos incluídos nos programas, em visitas a museus ou na realização de shows musicais. Abrir um espaço no recreio para que alunos e professores cantem ou toquem, exibir um vídeo curto feito por um grupo, ouvir alguém ler um poema ou uma crônica que estava guardada numa prateleira da biblioteca ou numa gaveta da sala dos professores - tudo isso amplia a vida. Nesse espaço, se estabelece uma conexão profunda entre a ética e a estética como dimensões do trabalho educativo.
Philippe Meirieu, educador francês, aponta que "a escola não é apenas um lugar de acolhimento ou de passagem" e que "uma sala de aula não é um grupo de pessoas escolhidas em razão de suas afinidades. (...) É um espaço e um tempo estruturados por um projeto específico que alia, ao mesmo tempo e indissociavelmente, a transmissão de conhecimentos e a formação de cidadãos". Por isso, cabem nela - e se conectam - fazeres, saberes, quereres e sentires.
A presença da sensibilidade no trabalho realizado pelos gestores amplia as possibilidades de dinamizar as relações no contexto escolar, de aliar a seriedade e o rigor à alegria e à fruição. O pensador alemão Ernst Fischer (1899-1972), em seu livro A Necessidade da Arte, faz referência à função que tem a experiência estética para os seres humanos: expressão, comunicação e transcendência. Isso tem a ver com os princípios da ética, com o que torna a vida mais plena, em qualquer lugar em que ela se manifeste. Especialmente no espaço escolar.
Anos depois, em Santos, cidade do litoral paulista, fui fazer uma palestra numa escola que estava promovendo uma exposição de trabalhos de familiares dos alunos. Ali estavam fotografias feitas pelo pai de um, arranjos de flores da mãe de outro, esculturas de um avô, bordados delicados de uma tia. A diretora estava orgulhosa da alegria das crianças e dos jovens ao mostrar para os colegas e professores aquelas produções.
Uma escola de São Paulo, para comemorar o Dia do Índio, em vez de pintar o rosto dos pequenos ou colocar penas na cabeça deles, organizou um encontro com indígenas de uma tribo próxima. Eles contaram fatos de sua história e ensinaram a fazer algumas peças típicas do artesanato deles. Dava gosto ver as meninas se enfeitarem com as tornozeleiras feitas por elas mesmas e os garotos escolherem lascas para fazer um pente.
A arte pode entrar na escola por muitas portas, diferentes das que já se encontram estabelecidas. Essas, porém, nem sempre estão abertas para o que não é considerado curricular. Por isso, vale pensar na possibilidade de trazer a arte e estimular a sensibilidade não apenas em momentos já previstos - em aulas de disciplinas específicas, em eventos incluídos nos programas, em visitas a museus ou na realização de shows musicais. Abrir um espaço no recreio para que alunos e professores cantem ou toquem, exibir um vídeo curto feito por um grupo, ouvir alguém ler um poema ou uma crônica que estava guardada numa prateleira da biblioteca ou numa gaveta da sala dos professores - tudo isso amplia a vida. Nesse espaço, se estabelece uma conexão profunda entre a ética e a estética como dimensões do trabalho educativo.
Philippe Meirieu, educador francês, aponta que "a escola não é apenas um lugar de acolhimento ou de passagem" e que "uma sala de aula não é um grupo de pessoas escolhidas em razão de suas afinidades. (...) É um espaço e um tempo estruturados por um projeto específico que alia, ao mesmo tempo e indissociavelmente, a transmissão de conhecimentos e a formação de cidadãos". Por isso, cabem nela - e se conectam - fazeres, saberes, quereres e sentires.
A presença da sensibilidade no trabalho realizado pelos gestores amplia as possibilidades de dinamizar as relações no contexto escolar, de aliar a seriedade e o rigor à alegria e à fruição. O pensador alemão Ernst Fischer (1899-1972), em seu livro A Necessidade da Arte, faz referência à função que tem a experiência estética para os seres humanos: expressão, comunicação e transcendência. Isso tem a ver com os princípios da ética, com o que torna a vida mais plena, em qualquer lugar em que ela se manifeste. Especialmente no espaço escolar.
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