Apesar de pouco presente nas salas de aula, o estímulo à tomada de notas é imprescindível. A melhor maneira de ensinar esse procedimento é inseri-lo em um projeto, de forma contextualizada, ou seja, com a finalidade de anotar conteúdos que depois serão retomados. "Essa aprendizagem não é adquirida de forma imediata ou automática, por isso o professor precisa trabalhar intencionalmente para desenvolvê-la", explica a pesquisadora argentina Mirta Castedo. Foi exatamente o que fez Tenessi Lopes Ramos Leite, professora do 3º ano da EE Professor Jorge Rodini Luiz, em Ribeirão Preto, a 315 quilômetros de São Paulo. Num projeto sobre animais de jardim, as notas produzidas foram usadas para preparar uma apresentação e apoiar a fala da garotada, além de servirem na redação de painéis sobre os bichos estudados.
Para começar, Tenessi apresentou à turma um texto introdutório sobre o assunto que seria estudado. Na aula seguinte, todos leram o mesmo texto em duplas, grifando as partes mais importantes e elaboraram as primeiras notas, com os pontos principais. Elas foram feitas no caderno de anotações que cada um manteve durante o projeto. Como já tinham noção do que eram verbetes, os alunos começaram a separar as informações mais importantes, que seriam usadas nos painéis sobre os animais expostos durante a apresentação. Em seguida, veio a parte mais importante da sequência: a tomada de notas com base na exposição oral da professora. Visando fazer a classe entender que registrar os conteúdos era importante para poder consultar as informações e estudar, Tenessi planejou oferecer, durante as aulas expositivas, informações às quais as crianças ainda não tinham tido acesso. Como esses conhecimentos foram passados oralmente, elas tinham como única opção fazer apontamentos no caderno, individualmente.
Anotando com autonomia
Nesse tipo de atividade, o desafio é capturar o que é pertinente e anotar de forma legível para rever depois. "A tomada de notas é uma forma particular de escrita, na qual não se põe tudo, e sim se destacam algumas palavras que aludem a ideias ou conceitos", diz Mirta. Para estimular a garotada a fazer isso, Tenessi usou várias estratégias. No começo, ela direcionava os apontamentos lembrando que os estudantes precisavam escrever e perguntando a eles o que achavam que devia ser registrado sobre uma explicação. "Eu falava normalmente até que eles se acostumassem com o fato de que a velocidade da fala era maior do que a da escrita. Ou seja, que eles teriam de selecionar somente algumas partes para anotar." Questões como "O que parece importante disso que estou falando?" podem ajudar nesse momento. Outra dica é registrar termos específicos no quadro para favorecer a tomada de notas.
A professora se preocupou também em lembrar as crianças de que aquela não era uma atividade de ditado, pois elas deveriam registrar os conteúdos de forma independente. Com intervenções como essa, a garotada entendeu a tarefa. "O mais legal é que a gente podia inventar as palavras. Não tínhamos de escrever igualzinho ao que a professora dizia", diz Gabriel Orlandini, 8 anos. Durante a exposição oral, é preciso também ser claro, objetivo e evitar digressões, que podem dispersar a criançada.
Ao fim de cada uma das seis aulas expositivas, Tenessi convidava a garotada a ler suas notas em voz alta. Todos discutiam a respeito do que haviam escrito. "Esse momento foi muito rico. Eles ficavam atentos para complementar os registros com base no compartilhamento feito pelos colegas", afirma a professora. Além disso, os apontamentos são um excelente material para a avaliação. "O professor pode conferir neles se realmente ensinou o que gostaria e da forma que gostaria", diz Denise Guilherme, formadora de professores e curadora do Leitura em Rede, grupo sobre literatura infantojuvenil.
A turma ainda observou que algumas formas de registro deixavam o conteúdo mais claro, facilitando a compreensão. As notas "as borboletas se-alimentam de plantas por que elas são herbívoros" e "a borboleta se-alimenta de plantas polém", por exemplo, fazem referência ao mesmo conteúdo, mas a segunda tem mais detalhes. Outro exemplo semelhante: "a borboleta vive na cidade grande" e "Borboletas urbanas é borboletas que vive em cidades, jardins de ruas."(leia mais notas na página seguinte). "Essa situação permite à classe voltar aos conhecimentos, identificar lacunas e contradições, comparar informações e refletir sobre elas", diz Renata Frauendorf, formadora do Instituto Avisa Lá.
Nas aulas seguintes, a classe foi convidada a levar materiais para complementar a pesquisa, como jornais e revistas. A própria professora já tinha separado fontes de consulta. Todos trocaram ideias e informações com base nas notas tomadas sobre os conteúdos e, principalmente, sobre as aulas expositivas. Cada um contava o que havia registrado e, juntos, destacavam quais eram as informações mais importantes. Com o material, os alunos montaram um roteiro dos conteúdos que seriam expostos por cada grupo, além dos textos informativos sobre os animais. Eles também participaram de atividades preparatórias para o dia da apresentação: simularam a situação em sala, lembrando uns aos outros de informações que anotaram, mas não foram contempladas pela explicação do grupo. No dia do evento para a comunidade escolar, inicialmente se apoiaram no caderno e no painel, mas logo depois ficaram confiantes para falarem sozinhos.
No fim do projeto, a garotada tinha adquirido o hábito de tomar notas espontaneamente. No início deste ano, Tenessi recebeu uma boa noticia: a professora do 4° ano, Mislene Nascimento Almeida, comentou que a classe estava fazendo anotações muito ricas sobre os conteúdos que ela ensinava e que a prática estava sendo essencial para a confecção de resumos.
Nesse tipo de atividade, o desafio é capturar o que é pertinente e anotar de forma legível para rever depois. "A tomada de notas é uma forma particular de escrita, na qual não se põe tudo, e sim se destacam algumas palavras que aludem a ideias ou conceitos", diz Mirta. Para estimular a garotada a fazer isso, Tenessi usou várias estratégias. No começo, ela direcionava os apontamentos lembrando que os estudantes precisavam escrever e perguntando a eles o que achavam que devia ser registrado sobre uma explicação. "Eu falava normalmente até que eles se acostumassem com o fato de que a velocidade da fala era maior do que a da escrita. Ou seja, que eles teriam de selecionar somente algumas partes para anotar." Questões como "O que parece importante disso que estou falando?" podem ajudar nesse momento. Outra dica é registrar termos específicos no quadro para favorecer a tomada de notas.
A professora se preocupou também em lembrar as crianças de que aquela não era uma atividade de ditado, pois elas deveriam registrar os conteúdos de forma independente. Com intervenções como essa, a garotada entendeu a tarefa. "O mais legal é que a gente podia inventar as palavras. Não tínhamos de escrever igualzinho ao que a professora dizia", diz Gabriel Orlandini, 8 anos. Durante a exposição oral, é preciso também ser claro, objetivo e evitar digressões, que podem dispersar a criançada.
Ao fim de cada uma das seis aulas expositivas, Tenessi convidava a garotada a ler suas notas em voz alta. Todos discutiam a respeito do que haviam escrito. "Esse momento foi muito rico. Eles ficavam atentos para complementar os registros com base no compartilhamento feito pelos colegas", afirma a professora. Além disso, os apontamentos são um excelente material para a avaliação. "O professor pode conferir neles se realmente ensinou o que gostaria e da forma que gostaria", diz Denise Guilherme, formadora de professores e curadora do Leitura em Rede, grupo sobre literatura infantojuvenil.
A turma ainda observou que algumas formas de registro deixavam o conteúdo mais claro, facilitando a compreensão. As notas "as borboletas se-alimentam de plantas por que elas são herbívoros" e "a borboleta se-alimenta de plantas polém", por exemplo, fazem referência ao mesmo conteúdo, mas a segunda tem mais detalhes. Outro exemplo semelhante: "a borboleta vive na cidade grande" e "Borboletas urbanas é borboletas que vive em cidades, jardins de ruas."(leia mais notas na página seguinte). "Essa situação permite à classe voltar aos conhecimentos, identificar lacunas e contradições, comparar informações e refletir sobre elas", diz Renata Frauendorf, formadora do Instituto Avisa Lá.
Nas aulas seguintes, a classe foi convidada a levar materiais para complementar a pesquisa, como jornais e revistas. A própria professora já tinha separado fontes de consulta. Todos trocaram ideias e informações com base nas notas tomadas sobre os conteúdos e, principalmente, sobre as aulas expositivas. Cada um contava o que havia registrado e, juntos, destacavam quais eram as informações mais importantes. Com o material, os alunos montaram um roteiro dos conteúdos que seriam expostos por cada grupo, além dos textos informativos sobre os animais. Eles também participaram de atividades preparatórias para o dia da apresentação: simularam a situação em sala, lembrando uns aos outros de informações que anotaram, mas não foram contempladas pela explicação do grupo. No dia do evento para a comunidade escolar, inicialmente se apoiaram no caderno e no painel, mas logo depois ficaram confiantes para falarem sozinhos.
No fim do projeto, a garotada tinha adquirido o hábito de tomar notas espontaneamente. No início deste ano, Tenessi recebeu uma boa noticia: a professora do 4° ano, Mislene Nascimento Almeida, comentou que a classe estava fazendo anotações muito ricas sobre os conteúdos que ela ensinava e que a prática estava sendo essencial para a confecção de resumos.
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