Batata frita, salgadinho, hambúrguer e refrigerante. Quer apostar que se você perguntar aos alunos quais os alimentos que eles preferem essas serão as respostas mais comuns? A alimentação inadequada e a pouca atividade física estão fazendo com que a obesidade torne-se uma das doenças mais preocupantes em todo o mundo (leia quadro). O problema traz sérios comprometimentos à saúde e tem reflexos na aprendizagem. Alunos que estão acima do peso recebem apelidos pejorativos, o que afeta seu auto-conceito, prejudica a integração com o grupo e a produção escolar.
O projeto Peso Saudável parceria entre a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e a Força-Tarefa de Controle de Peso e Atividade Física do International Life Science Institute aponta que 33% dos alunos entre 7 e 10 anos e 30% dos adolescentes até 15 anos apresentam muitos quilos a mais do que o ideal. Indica ainda que a obesidade incide mais em estudantes de escolas privadas (uso da cantina) e em jovens entre 10 e 12 anos (autonomia para decidir o que comer). "Os casos de obesidade infantil aumentam quando a criança entra na escola, onde tem mais acesso a produtos industrializados", explica o nutrólogo Mauro Fisberg, organizador do projeto.
Por outro lado, é na escola que esse quadro pode se reverter. "Lá as crianças se alimentam, fazem exercícios, adquirem conhecimentos e hábitos saudáveis", ressalta Nataniel Viuniski, coordenador do Departamento de Obesidade Infantil da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade (Abeso). A educação alimentar é conteúdo previsto nos Parâmetros Curriculares Nacionais e é trabalhada como tema transversal ou nas aulas de Ciências. A escola pode ainda reformular suas cantinas e orientar as famílias sobre a melhor maneira de preparar o lanche dos filhos.
Educação alimentar em casa
O trânsito de informações entre a escola e a família é importante para que o processo de reeducação alimentar seja completo. As crianças aprendem e levam as informações para casa.
"Lá, as refeições também mudam", aposta Thaís Cristina Mantovani Santana, nutricionista da rede de ensino do Distrito Federal. Os professores da Escola Classe 1 de Brazlândia, cidade satélite do Distrito Federal, foram a várias palestras de nutrólogos ligados ao projeto A Escola Promovendo Hábitos Alimentares Saudáveis, da Universidade de Brasília, há dois anos. De lá trouxeram idéias e materiais para trabalhar com os alunos: jogos pedagógicos, um CD-ROM com sugestões de atividades, planos de aulas e textos de apoio. A equipe achou fundamental também passar aos pais conceitos de uma alimentação saudável. Convidaram Shirlene Barreira, especialista em nutrição, para alguns encontros que terminam em degustação de pães, chás e outros alimentos feitos com grãos e verduras. "Mesmo famílias de baixa renda podem ter uma alimentação saudável, desde que optem corretamente na hora da compra dos produtos", alerta Shirlene.
Comida e exercícios no currículo
O Centro Educacional Novo Horizonte, de São Paulo, escolheu a alimentação como tema do projeto de leitura depois que um aluno do Jardim 2 (4 anos) foi diagnosticado como diabético. Em conjunto, os professores decidiram os conteúdos a ser estudados em cada faixa etária. Baseadas em pesquisas com os pais, na internet e em livros e revistas, cada turma produziu um livro: os alunos da pré-escola, por exemplo, estudaram as vitaminas presentes nas frutas e criaram uma história em que elas eram os personagens. Os de 4ª série elaboraram um manual com dicas para evitar a obesidade infantil. No final do projeto, durante uma tarde de autógrafos, os pais comentavam as mudanças nos hábitos alimentares dos filhos. A prática de atividades físicas também é fundamental para evitar o problema.
No Colégio Adventista, de Itapecerica da Serra (SP), o professor de Educação Física José David Cavalcante de Aguiar pesa e mede seus alunos uma vez por ano. Detectado o sobrepeso (cerca de 12%), os pais são comunicados e aconselhados a consultar um endocrinologista. Mas a escola procura fazer um trabalho preventivo, ao colocar no currículo aulas de Educação Física três vezes por semana. As atividades prioritárias são as que envolvem todos os alunos pega-pega, queimada, barra-manteiga e pular corda e não somente os que têm facilidade para a prática esportiva.
Obesidade é epidemia
A obesidade é a doença nutricional que mais cresce no mundo. Pesquisa do Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos mostrou que, na última década, as mortes decorrentes de excesso de peso (causa de diabetes, hipertensão e doenças cardiovasculares) aumentaram quatro vezes mais do que as motivadas pelo fumo. Por isso, o sobrepeso vem sendo tratado como epidemia pelos americanos. Dados da Abeso indicam que o número de obesos no país dobrou nos últimos dez anos. Até os anos 1970, havia no Brasil duas pessoas desnutridas para cada obeso. Hoje os dados apontam três indivíduos obesos para cada desnutrido. A pesquisa mostra que 50% das crianças obesas tornam-se adultos com o mesmo problema, podendo chegar a 80% quanto se trata de adolescentes. A obesidade é causada por uma combinação de fatores genéticos, alimentação inadequada, falta de atividades físicas (95% dos casos) e também por problemas emocionais, psicológicos ou outras doenças (5%). Para avaliar se uma criança está ou não com o peso acima do ideal, a melhor maneira é calcular o Índice de Massa Corpórea (IMC): divide-se o peso do aluno por sua altura ao quadrado. Os resultados obtidos devem ser comparados com os valores de referência específicos para a idade e o sexo da criança, conforme a tabela abaixo.
Educação alimentar em casa
O trânsito de informações entre a escola e a família é importante para que o processo de reeducação alimentar seja completo. As crianças aprendem e levam as informações para casa.
"Lá, as refeições também mudam", aposta Thaís Cristina Mantovani Santana, nutricionista da rede de ensino do Distrito Federal. Os professores da Escola Classe 1 de Brazlândia, cidade satélite do Distrito Federal, foram a várias palestras de nutrólogos ligados ao projeto A Escola Promovendo Hábitos Alimentares Saudáveis, da Universidade de Brasília, há dois anos. De lá trouxeram idéias e materiais para trabalhar com os alunos: jogos pedagógicos, um CD-ROM com sugestões de atividades, planos de aulas e textos de apoio. A equipe achou fundamental também passar aos pais conceitos de uma alimentação saudável. Convidaram Shirlene Barreira, especialista em nutrição, para alguns encontros que terminam em degustação de pães, chás e outros alimentos feitos com grãos e verduras. "Mesmo famílias de baixa renda podem ter uma alimentação saudável, desde que optem corretamente na hora da compra dos produtos", alerta Shirlene.
Comida e exercícios no currículo
O Centro Educacional Novo Horizonte, de São Paulo, escolheu a alimentação como tema do projeto de leitura depois que um aluno do Jardim 2 (4 anos) foi diagnosticado como diabético. Em conjunto, os professores decidiram os conteúdos a ser estudados em cada faixa etária. Baseadas em pesquisas com os pais, na internet e em livros e revistas, cada turma produziu um livro: os alunos da pré-escola, por exemplo, estudaram as vitaminas presentes nas frutas e criaram uma história em que elas eram os personagens. Os de 4ª série elaboraram um manual com dicas para evitar a obesidade infantil. No final do projeto, durante uma tarde de autógrafos, os pais comentavam as mudanças nos hábitos alimentares dos filhos. A prática de atividades físicas também é fundamental para evitar o problema.
No Colégio Adventista, de Itapecerica da Serra (SP), o professor de Educação Física José David Cavalcante de Aguiar pesa e mede seus alunos uma vez por ano. Detectado o sobrepeso (cerca de 12%), os pais são comunicados e aconselhados a consultar um endocrinologista. Mas a escola procura fazer um trabalho preventivo, ao colocar no currículo aulas de Educação Física três vezes por semana. As atividades prioritárias são as que envolvem todos os alunos pega-pega, queimada, barra-manteiga e pular corda e não somente os que têm facilidade para a prática esportiva.
Obesidade é epidemia
A obesidade é a doença nutricional que mais cresce no mundo. Pesquisa do Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos mostrou que, na última década, as mortes decorrentes de excesso de peso (causa de diabetes, hipertensão e doenças cardiovasculares) aumentaram quatro vezes mais do que as motivadas pelo fumo. Por isso, o sobrepeso vem sendo tratado como epidemia pelos americanos. Dados da Abeso indicam que o número de obesos no país dobrou nos últimos dez anos. Até os anos 1970, havia no Brasil duas pessoas desnutridas para cada obeso. Hoje os dados apontam três indivíduos obesos para cada desnutrido. A pesquisa mostra que 50% das crianças obesas tornam-se adultos com o mesmo problema, podendo chegar a 80% quanto se trata de adolescentes. A obesidade é causada por uma combinação de fatores genéticos, alimentação inadequada, falta de atividades físicas (95% dos casos) e também por problemas emocionais, psicológicos ou outras doenças (5%). Para avaliar se uma criança está ou não com o peso acima do ideal, a melhor maneira é calcular o Índice de Massa Corpórea (IMC): divide-se o peso do aluno por sua altura ao quadrado. Os resultados obtidos devem ser comparados com os valores de referência específicos para a idade e o sexo da criança, conforme a tabela abaixo.
ACIMA DO PESO
|
OBESO
| |||
idade | meninos | meninas | meninos | meninas |
2 | 18.4 | 18 | 20.1 | 20.1 |
3 | 17.9 | 17.6 | 19.6 | 19.4 |
4 | 17.6 | 17.3 | 19.3 | 19.1 |
5 | 17.4 | 17.1 | 19.3 | 19.2 |
6 | 17.6 | 17.3 | 19.8 | 19.7 |
7 | 17.9 | 17.8 | 20.6 | 20.5 |
8 | 18.4 | 18.3 | 21.6 | 21.6 |
9 | 19.1 | 19.1 | 22.8 | 22.8 |
10 | 19.8 | 19.9 | 24 | 24.1 |
11 | 20.6 | 20.7 | 25.1 | 25.4 |
12 | 21.2 | 21.7 | 26 | 26.7 |
13 | 21.9 | 22.6 | 26.8 | 27.8 |
14 | 22.6 | 23.3 | 27.6 | 28.6 |
15 | 23.3 | 23.9 | 28.3 | 29.1 |
16 | 23.9 | 24.4 | 28.9 | 29.4 |
17 | 24.5 | 24.7 | 29.4 | 29.7 |
18 | 25 | 25 | 30 | 30 |
Por uma cantina saudável
As crianças que comem a merenda escolar têm uma alimentação mais balanceada. "Isso porque a maioria das secretarias de educação têm a orientação de nutricionistas", afirma Mauro Fisberg. Algumas ainda complementam a merenda com verduras e legumes cultivados na própria horta, como a Escola Classe 49, de Taguatinga Norte, também no Distrito Federal. Lá os pais ajudam no cultivo de hortaliças, respondem sobrea alimentação da família no diário de classe e recebem textos sobre o valor nutritivo dos alimentos. De vezem quando as próprias crianças participam da elaboração da merenda, como a salada de frutas.
As cantinas e lanchonetes terceirizadas que não recebem orientação da equipe pedagógica contribuem muito para o aumento da obesidade em crianças. O motivo é a oferta de bobagens em suas vitrines. Alguns estados, como Rio de Janeiro e Santa Catarina, proibiram a venda de biscoitos recheados, salgados fritos e outros alimentos pouco nutritivos nas dependências das escolas. "A medida é emergencial. Mas o aconselhável é ensinar a criança a fazer suas escolhas e saber o quanto comer", alerta Nataniel Viuniski.
O Colégio Dante Alighieri, em São Paulo, tem uma cantina considerada exemplar pelos especialistas. Desde 1999 a nutricionista Martha Fonseca Paschoa vem fazendo a substituição dos produtos ali vendidos: salgados fritos foram trocados por assados; os recheios ganharam ingredientes menos calóricos, como queijo branco, peito de peru e vegetais; chocolates e doces, em tamanhos pequenos, vêm perdendo espaço para frutas lavadas e cortadas. Salgadinhos de pacote não há. Sucos naturais e água-de-coco são colocados sobre o balcão, enquanto os refrigerantes ficam escondidos. Além dessas medidas, Martha Fonseca sugere outras que podem ajudar a cantina a se tornar um espaço saudável: inserir saladas no cardápio; colocar nas paredes cartazes com fotos de atletas e de alimentos naturais; reduzir o preço dos produtos saudáveis; fazer sanduíches pequenos, sem maionese ou outro condimento gorduroso; e oferecer iogurtes e bebidas lácteas. O lanche que a escola providencia para os alunos menores é balanceado e tem a aprovação da Sociedade Brasileira de Cardiologia.
Levando a educação alimentar aos alunos e familiares e tendo atenção aos produtos servidos em suas dependências, a escola estará contribuindo para a diminuição da obesidade infantil e fazendo com que os estudantes fiquem mais dispostos para a aprendizagem.
As crianças que comem a merenda escolar têm uma alimentação mais balanceada. "Isso porque a maioria das secretarias de educação têm a orientação de nutricionistas", afirma Mauro Fisberg. Algumas ainda complementam a merenda com verduras e legumes cultivados na própria horta, como a Escola Classe 49, de Taguatinga Norte, também no Distrito Federal. Lá os pais ajudam no cultivo de hortaliças, respondem sobrea alimentação da família no diário de classe e recebem textos sobre o valor nutritivo dos alimentos. De vezem quando as próprias crianças participam da elaboração da merenda, como a salada de frutas.
As cantinas e lanchonetes terceirizadas que não recebem orientação da equipe pedagógica contribuem muito para o aumento da obesidade em crianças. O motivo é a oferta de bobagens em suas vitrines. Alguns estados, como Rio de Janeiro e Santa Catarina, proibiram a venda de biscoitos recheados, salgados fritos e outros alimentos pouco nutritivos nas dependências das escolas. "A medida é emergencial. Mas o aconselhável é ensinar a criança a fazer suas escolhas e saber o quanto comer", alerta Nataniel Viuniski.
O Colégio Dante Alighieri, em São Paulo, tem uma cantina considerada exemplar pelos especialistas. Desde 1999 a nutricionista Martha Fonseca Paschoa vem fazendo a substituição dos produtos ali vendidos: salgados fritos foram trocados por assados; os recheios ganharam ingredientes menos calóricos, como queijo branco, peito de peru e vegetais; chocolates e doces, em tamanhos pequenos, vêm perdendo espaço para frutas lavadas e cortadas. Salgadinhos de pacote não há. Sucos naturais e água-de-coco são colocados sobre o balcão, enquanto os refrigerantes ficam escondidos. Além dessas medidas, Martha Fonseca sugere outras que podem ajudar a cantina a se tornar um espaço saudável: inserir saladas no cardápio; colocar nas paredes cartazes com fotos de atletas e de alimentos naturais; reduzir o preço dos produtos saudáveis; fazer sanduíches pequenos, sem maionese ou outro condimento gorduroso; e oferecer iogurtes e bebidas lácteas. O lanche que a escola providencia para os alunos menores é balanceado e tem a aprovação da Sociedade Brasileira de Cardiologia.
Levando a educação alimentar aos alunos e familiares e tendo atenção aos produtos servidos em suas dependências, a escola estará contribuindo para a diminuição da obesidade infantil e fazendo com que os estudantes fiquem mais dispostos para a aprendizagem.
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